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22. A Eira de Araúna, Cristianismo de Ocasião? (2 Samuel 24)

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Davi Faz o Censo

Introdução1

Nos primeiros anos da nossa igreja, nós não tínhamos escritório. A razão era porque o prédio da igreja ainda não tinha sido construído (no início, nós nos reuníamos em uma escola primária e depois no Hotel North Dallas). Por esta e outras razões, meu gabinete ficava num conjunto de salas comerciais. Minha sala era pequena, e uma jovem, dona de uma prestadora de serviços de secretaria, ficava numa saleta do lado de fora, onde ganhava a vida datilografando e tirando cópias para quem alugava os escritórios das proximidades. Certo dia, quando eu passava pela sua mesa, ela me parou e disse que um dos outros locatários tinha conversado com ela sobre os seus preços. Ele a convenceu de que, por ter um “ministério cristão”, deveria receber um desconto. Assim, uma vez que dava desconto ao ministério dele, ela achava justo fazer o mesmo com a nossa igreja.

Não me senti muito bem com essa oferta e disse-lhe que gostaria de pensar no assunto e conversar com o conselho da nossa igreja. Nós discutimos e concluímos que ela não tinha nenhuma obrigação ou responsabilidade de beneficiar-nos, reduzindo seu lucro. Por isso, voltei a falar com ela e disse-lhe que iríamos pagar o preço normal, pois não achávamos que ela devesse sacrificar seus ganhos em nosso benefício quando nem mesmo era membro da igreja.

Em nosso texto, Davi tem uma oportunidade de ouro para aquilo que eu chamaria de um “ministério de ocasião”. Deus lhe disse pelo profeta (ou “vidente”) Gade para levantar um altar na eira de Araúna. Para tanto, Davi tinha de comprar essa propriedade. Quando ele foi conversar com Araúna e lhe dizer que precisava do local para erigir um altar e oferecer sacrifícios a Deus, Araúna quis lhe dar a propriedade, os bois que estava utilizando e os trilhos puxados por eles. Em outras palavras, ele se propôs a dar a Davi tudo o que era necessário para oferecer um sacrifício a Deus de graça. Que negócio! Qualquer um poderia pensar que Davi ficaria encantado com a oferta. Ele poderia adorar a Deus sem nenhuma despesa, às custas de Araúna. Mas ele a recusou. Vamos tentar aprender porque e quais as implicações disso para nós.

É evidente que 2 Samuel 24 é o capítulo final de 1 e 2 Samuel (você deve se lembrar de que, originalmente, ambos formavam apenas um livro no Antigo Testamento hebraico). Aqui, o autor está se aproximando do fim. Ele faz suas últimas considerações enquanto atingimos o clímax do livro. Há muitas lições a serem aprendidas nesta passagem; portanto, vamos prestar atenção e esperar que o Espírito de Deus as torne claras para nós, assim como trabalhe em nós e por meio de nós conforme a Sua vontade.

Davi Faz as Coisas do Seu Jeito (24:1-9)2

Tornou a ira do SENHOR a acender-se contra os israelitas, e ele incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai, levanta o censo de Israel e de Judá. Disse, pois, o rei a Joabe, comandante do seu exército: Percorre todas as tribos de Israel, de Dã até Berseba, e levanta o censo do povo, para que eu saiba o seu número. Então, disse Joabe ao rei: Ora, multiplique o SENHOR, teu Deus, a este povo cem vezes mais, e o rei, meu senhor, o veja; mas por que tem prazer nisto o rei, meu senhor? Porém a palavra do rei prevaleceu contra Joabe e contra os chefes do exército; saiu, pois, Joabe com os chefes do exército da presença do rei, a levantar o censo do povo de Israel. Tendo eles passado o Jordão, acamparam-se em Aroer, à direita da cidade que está no meio do vale de Gade, e foram a Jazer. Daqui foram a Gileade e chegaram até Cades, na terra dos heteus; seguiram a Dã-Jaã e viraram-se para Sidom; chegaram à fortaleza de Tiro e a todas as cidades dos heveus e dos cananeus, donde saíram para o Neguebe de Judá, a Berseba. Assim, percorreram toda a terra e, ao cabo de nove meses e vinte dias, chegaram a Jerusalém. Deu Joabe ao rei o recenseamento do povo: havia em Israel oitocentos mil homens de guerra, que puxavam da espada; e em Judá eram quinhentos mil.

Por alguma razão não indicada, Deus estava furioso com Israel. O texto literalmente diz que a ira de Deus estava acesa. Deus estava “pegando fogo” por causa do pecado de Israel. A expressão “acendeu-se a ira de Deus” é empregada muitas vezes no Antigo Testamento3. Em todos os casos, foi um pecado muito grave que inflamou a justa ira de Deus. Mais uma vez, Deus está irado com Israel e está determinado a disciplinar esse povo de dura cerviz. Para isso, Ele usa o pecado de Davi. De alguma forma, esse pecado induz tanto à culpa quanto ao castigo do povo. Ao voltar nossa atenção para Davi e seu pecado, não vamos nos esquecer de que o incidente ocorre por causa do pecado de Israel.

Divinamente incitado4, Davi decide contar os soldados de Israel e Judá. Essa contagem não é, necessariamente, errada. Moisés fez o censo dos soldados israelitas ao se preparar para a batalha (Números 1:1-4). Ele também fez a contagem dos coatitas (Números 4:2) e gersonitas para o serviço sacerdotal. Saul contou os israelitas para defender o povo de Jabes-Gileade na luta contra os amonitas (1 Samuel 11:8). Davi contou os homens leais a ele para se defender do ataque de seu filho, Absalão (2 Samuel 18:1)5. Em nenhum desses casos o censo foi errado.

É preciso ressaltar que o censo exigido por Davi nesta passagem não parece uma mera enumeração dos guerreiros israelitas, uma simples contagem de cabeças. O censo levou quase dez meses para ser concluído e, de alguma forma, exigiu a participação dos próprios comandantes militares. Minha interpretação é que, quando os soldados foram contados, eles também foram classificados. Em outras palavras, a contagem dos soldados implicou na sua organização e classificação, a fim de que estivessem prontos para lutar.

No livro de Êxodo vemos uma palavra de advertência sobre recenseamento:

“Quando fizeres recenseamento dos filhos de Israel, cada um deles dará ao SENHOR o resgate de si próprio, quando os contares; para que não haja entre eles praga nenhuma, quando os arrolares. Todo aquele que passar ao arrolamento dará isto: metade de um siclo, segundo o siclo do santuário (este siclo é de vinte geras); a metade de um siclo é a oferta ao SENHOR. Qualquer que entrar no arrolamento, de vinte anos para cima, dará a oferta ao SENHOR. O rico não dará mais de meio siclo, nem o pobre, menos, quando derem a oferta ao SENHOR, para fazerdes expiação pela vossa alma.  Tomarás o dinheiro das expiações dos filhos de Israel e o darás ao serviço da tenda da congregação; e será para memória aos filhos de Israel diante do SENHOR, para fazerdes expiação pela vossa alma”. (Êxodo 30:12-16)

Esse texto deixa claro que o recenseamento militar não era uma coisa muito espiritual. Era um mal que precisava ser expiado e, se não fosse, a nação seria assolada por alguma praga.

Tenho me esforçado para entendê-lo, principalmente para compreender o que há de tão errado com a contagem dos israelitas. Parece não haver nenhuma razão clara para isso. Então, pensei que, se não há nenhuma razão explícita para o desagrado de Deus em relação à atitude de Davi, também não há nenhuma explicação sobre os motivos de Davi. Praticamente em todos os casos em que houve a contagem de algum grupo, a razão era óbvia. Quando os soldados eram recenseados, era em preparação para a guerra. Mas nenhuma guerra é mencionada neste texto ou nos textos próximos. Parece que o único motivo de Davi era satisfazer a sua própria curiosidade e encher-se de orgulho. Ele aparenta estar interessado demais no seu poder, na sua habilidade de lutar. Ele parece ter perdido o senso de dependência de Deus. Talvez ele estivesse muito parecido com o rei Nabucodonosor em Daniel 4, super impressionado consigo mesmo, com seu poder e posição.

Há uma “sensação” nesse texto que me faz lembrar da queda de Adão e Eva em Gênesis 3. O censo de Israel parece ter produzido em Davi um “conhecimento” que ele não podia ter, o conhecimento do seu poder e da sua potência militar (compare com Deuteronômio 17:14-20). Ele queria “ver” a sua força e o seu poder e, embora isso fosse proibido, era o desejo do seu coração.

Mesmo ficando confusos a respeito da “pecaminosidade” da atitude de Davi, não parece que isso era algo difícil de ser reconhecido por aqueles que conduziam as suas forças armadas. Joabe (verso 3 e também 1 Crônicas 21:6) e os chefes do exército (verso 4) se opuseram ao recenseamento dos soldados. No fim, o próprio Davi acabou tomando consciência do seu erro (verso 10), mesmo sem o profeta Gade ter de confrontá-lo ou censurá-lo (como fizera Natã no caso de Bate-Seba e Urias — 2 Samuel 12). O levantamento do censo era errado e, naquele dia,  ninguém parecia ter algum problema em reconhecê-lo.

Joabe protestou o quanto pôde, sem colocar em risco sua segurança e sua posição. Todavia, Davi prevaleceu sobre ele e os outros comandantes, insistindo para que o censo fosse levantado. Com relutância e meio a contragosto (ver 1 Crônicas 21:6), Joabe foi fazer sua abominável tarefa. Foi realmente uma grande empreitada. Eles atravessaram o Jordão, seguiram para o norte, depois para oeste e então para o sul, viajando por toda a nação em sentido anti-horário. Quando a missão foi concluída, os números foram apresentados a Davi. Havia 800.000 valentes em Israel e 500.000 combatentes experientes em Judá (verso 9)6.

Davi Recupera o Senso (24:10-14)

Sentiu Davi bater-lhe o coração, depois de haver recenseado o povo, e disse ao SENHOR: Muito pequei no que fiz; porém, agora, ó SENHOR, peço-te que perdoes a iniquidade do teu servo; porque procedi mui loucamente. Ao levantar-se Davi pela manhã, veio a palavra do SENHOR ao profeta Gade, vidente de Davi, dizendo: Vai e dize a Davi: Assim diz o SENHOR: Três coisas te ofereço; escolhe uma delas, para que ta faça. Veio, pois, Gade a Davi e lho fez saber, dizendo: Queres que sete anos de fome te venham à tua terra? Ou que, por três meses, fujas diante de teus inimigos, e eles te persigam? Ou que, por três dias, haja peste na tua terra? Delibera, agora, e vê que resposta hei de dar ao que me enviou.   Então, disse Davi a Gade: Estou em grande angústia; porém caiamos nas mãos do SENHOR, porque muitas são as suas misericórdias; mas, nas mãos dos homens, não caia eu.

Mesmo sem ter sido repreendido, Davi reconhece ter errado ao fazer o recenseamento dos combatentes da nação. Sentindo o coração bater, ele se arrepende. Ele confessa a enormidade do seu pecado e reconhece a loucura das suas ações (verso 10). Esse sentimento de culpa e a confissão parecem ter ocorrido durante a noite, pois, quando ele acorda, o profeta Gade7 vai ter com ele com uma palavra do Senhor. Não há debate nem discussão sobre se Davi pecou ou não. Isso é certo. A única coisa que precisa ser decidida é qual castigo ele prefere. Ele recebe três opções, todas mencionadas em Deuteronômio 28 como castigo para as falhas de Israel em guardar a aliança com Deus8.

O que difere nas opções de Davi é a extensão da pena: três anos de fome9, três meses de fuga dos inimigos ou três dias de peste enviada por Deus. Davi escolhe a terceira opção, não porque o tempo de sofrimento seja menor, mas porque a penalidade é administrada diretamente por Deus. Davi prefere sofrer na mão do Senhor a sofrer na mão dos homens.

Mas, por quê? Por que Davi prefere sofrer na mão de um Deus santo e justo a sofrer na mão dos homens? Creio que seja porque ele sabe que não vai sofrer a ira de Deus como um descrente, mas como um filho. A ira é um pensamento aterrorizante:

Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode suster-se? (Apocalipse 6:15-17)

Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros. Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o além entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um, segundo as suas obras. Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo. (Apocalipse 20:12-15)

Davi não precisa temer a ira de Deus que recai sobre os ímpios. A disciplina que ele vai experimentar não deve e não vai ser fácil, mas é a disciplina de um pai amoroso, disciplina que tem o propósito de aproximá-lo de Deus:

É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige?  Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos. Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne, que nos corrigiam, e os respeitávamos; não havemos de estar em muito maior submissão ao Pai espiritual e, então, viveremos? Pois eles nos corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade. Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça. Por isso, restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos; e fazei caminhos retos para os pés, para que não se extravie o que é manco; antes, seja curado. (Hebreus 12:7-13)

Por mais paradoxal que possa parecer, o Deus que é santo e justo é também misericordioso e bondoso:

E, passando o SENHOR por diante dele, clamou: SENHOR, SENHOR Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniquidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até à terceira e quarta geração! (Êxodo 34:6-7)

É sobre esse tipo de bondade que Davi se lança em nosso texto. Ele sabe que é culpado diante de Deus e merece sofrer em Suas mãos. Mas ele também sabe que a mão de Deus é mais bondosa que a mão dos homens. Pense nisso por um instante. Davi não apenas crê em Deus para a sua salvação e para o livramento dos seus inimigos, mas também para ser corrigido por Ele. Não existe área em nossa vida na qual devamos confiar nos homens e não em Deus.

Calamidade e Compaixão (24:15-17)

Então, enviou o SENHOR a peste a Israel, desde a manhã até ao tempo que determinou; e, de Dã até Berseba, morreram setenta mil homens do povo. Estendendo, pois, o Anjo do SENHOR a mão sobre Jerusalém, para a destruir, arrependeu-se o SENHOR do mal e disse ao Anjo que fazia a destruição entre o povo: Basta, retira a mão. O Anjo estava junto à eira de Araúna, o jebuseu. Vendo Davi ao Anjo que feria o povo, falou ao SENHOR e disse: Eu é que pequei, eu é que procedi perversamente; porém estas ovelhas que fizeram? Seja, pois, a tua mão contra mim e contra a casa de meu pai.

O Senhor estava furioso com Israel e a peste lançada sobre Seu povo era totalmente merecida, não só devido ao pecado de Davi, mas também devido ao pecado de Israel. Que ironia Davi querer saber quantos guerreiros israelitas estavam à sua disposição e, em consequência disso, os números baixarem para apenas 70.000 homens. A praga desce sobre cada parte da nação. O anjo destruidor do Senhor parece quase refazer os passos daqueles que fizeram o recenseamento. Agora, ele se aproxima de Jerusalém, pronto para lançar a calamidade sobre ela também. Davi é capaz de ver o anjo do Senhor, com a espada erguida, prestes a destruir muitas pessoas na cidade. Já fomos informados, no entanto, de que Deus não quer causar mais calamidade. A fé depositada por Davi no julgamento de Deus era bem fundada. Deus derramou a Sua ira sobre o povo, mas agora Ele tem compaixão deles. O anjo do Senhor está parado junto à eira de Araúna, o jebuseu10, quando recebe a ordem para parar.

Davi ainda não conhece o propósito de Deus, por isso, faz uma petição a Ele na tentativa de acabar com a praga. Ele pede que o furor de Deus seja satisfeito com o derramamento da Sua ira sobre ele e a casa de seu pai (não muito diferente do que tinha ocorrido com a casa de Saul no capítulo 21). Mas Deus tem um plano melhor, o qual Ele dirá a Davi pelo profeta Gade nos últimos versos deste livro maravilhoso.

Um Lugar de Sacrifício e Expiação (24:18-25)

Naquele mesmo dia, veio Gade ter com Davi e lhe disse: Sobe, levanta ao SENHOR um altar na eira de Araúna, o jebuseu. Davi subiu segundo a palavra de Gade, como o SENHOR lhe havia ordenado. Olhou Araúna do alto e, vendo que vinham para ele o rei e os seus homens, saiu e se inclinou diante do rei, com o rosto em terra. E perguntou: Por que vem o rei, meu senhor, ao seu servo? Respondeu Davi: Para comprar de ti esta eira, a fim de edificar nela um altar ao SENHOR, para que cesse a praga de sobre o povo. Então, disse Araúna a Davi: Tome e ofereça o rei, meu senhor, o que bem lhe parecer; eis aí os bois para o holocausto, e os trilhos, e a apeiragem dos bois para a lenha. Tudo isto, ó rei, Araúna oferece ao rei; e ajuntou: Que o SENHOR, teu Deus, te seja propício. Porém o rei disse a Araúna: Não, mas eu to comprarei pelo devido preço, porque não oferecerei ao SENHOR, meu Deus, holocaustos que não me custem nada. Assim, Davi comprou a eira e pelos bois pagou cinquenta siclos de prata. Edificou ali Davi ao SENHOR um altar e apresentou holocaustos e ofertas pacíficas. Assim, o SENHOR se tornou favorável para com a terra, e a praga cessou de sobre Israel.

Gade vai ter com Davi com outra solução — sacrifício. Davi devia erigir um altar ao Senhor bem ali na eira de Araúna. Na mesma hora, ao que parece, Davi vai ao lugar onde o anjo do Senhor recebeu a ordem de parar. Araúna e seus quatro filhos estão na eira, debulhando trigo. Ele olha para o alto e vê o anjo do Senhor e Davi e seus servos indo em sua direção (1 Crônicas 21:20-21). Deve ter sido um momento terrível para Araúna (chamado de Ornã em 1 Crônicas).

Ao fazer um retrato mental do nosso texto, lembro-me de um colega de quarto da faculdade. Ele tinha um Ford 1953 que, literalmente, estava caindo aos pedaços. Na mesma época, um outro amigo tinha uma concessionária de carros novos, mas que também vendia carros usados. Jerry, o meu amigo, dirigiu seu Ford 53 até Auburn, Washington, para ver um Chevrolet 1959. Ele ficou interessado, mas não queria dar na vista. Após o vendedor cotar seu “melhor preço” (o qual incluía o Ford 53 como parte da transação), Jerry disse que ia pensar no assunto e voltaria depois. Ele entrou no Ford e deu a partida; nada. Com toda calma, ele saiu do carro, foi até o vendedor e lhe disse: — Fico com ele. — Não era hora pra barganhar. Jerry não tinha saída.

Araúna também não estava em posição de fazer um grande negócio. Ali estava o anjo do Senhor, ainda à vista, e Davi chegando com uma porção de servos. Araúna era um estrangeiro que teve a sorte de continuar vivo, sem falar em ter uma propriedade tão perto de Davi e da cidade de Jerusalém. Ele era dono de um excelente pedaço de terra e Davi acabara de saber que devia possuí-la. Davi pediu que ele desse seu preço. Araúna achou que era uma boa hora para lhe fazer uma oferta irrecusável. Ele queria doar não somente a terra, mas também os bois, os trilhos e a apeiragem dos bois, a fim de que Davi pudesse oferecer o sacrifício ao Senhor.

Para mim, a oferta teria sido tentadora. Ali estava a oportunidade de ter um ministério de “ocasião” — um ministério excelente com ótimo custo-benefício (zero). Araúna deve ter ficado em choque com a resposta de Davi. Davi não quis aceitar a generosa doação de um excelente pedaço de terra. Se ele tivesse aceitado, o sacrifício não teria lhe custado um tostão. Mas como se pode oferecer “sacrifício” sem fazer algum sacrifício? Davi comprou a terra (não tenho certeza se ele também comprou os bois e os trilhos) pelo preço integral, e em seguida ofereceu o sacrifício. Quando o sacrifício foi feito, o Senhor ouviu as súplicas do Seu povo e cessou a praga.

Conclusão

Este capítulo é parte da conclusão dos livros de 1 e 2 Samuel. Podemos dizer que é a conclusão da conclusão. Em certo sentido, o livro termina no capítulo 20. Os capítulos 21 a 24 servem como epílogo do livro, esclarecendo os pontos mais importantes que o autor deseja que compreendamos. A melhor maneira de entender esse epílogo e sua mensagem talvez seja com um gráfico, como mostrado a seguir.

A parte central do epílogo é composta pelos dois salmos de Davi, sendo que o primeiro evoca seus livramentos das mãos de Saul e seus inimigos e depois seu governo como rei, enquanto o segundo rememora seu reinado diante da proximidade do momento da sua partida (22:1-51; 23:1-7). O tema dos dois cânticos é “Deus é a minha salvação”. A despeito dos grandes perigos e de todas as adversidades que lhe sobrevieram, Deus o livrou da morte e cumpriu a promessa de que ele seria rei de Israel. Além disso, Davi vê Deus como seu futuro libertador, quando Ele enviar o grande rei, o Messias, para realizar sua plena e derradeira salvação.

O segundo e quinto segmentos do epílogo têm a ver com os “valentes” de Davi. No capítulo 21, de 15 a 22, Davi já perdeu o vigor e um descendente de Golias quase o domina na batalha. Abisai sai em seu socorro e mata o gigante Isbi-Benobe. Mais três gigantes são mencionados e, em cada caso, um dos valentes de Davi mata o “Golias” (na verdade, descendente de Golias). No capítulo 23, de 8 a 39, dois grupos distintos de valentes são relacionados: os “três” e os “trinta”. Esses homens confiaram em Deus e foram providenciais nas vitórias impressionantes sobre os inimigos de Israel, apesar das chances incríveis contra eles. Foi por meio deles que Deus muitas vezes deu a vitória a Davi e a Israel.

O primeiro e o último segmentos do epílogo têm a ver com os pecados dos dois primeiros reis de Israel. No capítulo 21, de 1 a 14, o pecado cometido por Saul ao tentar aniquilar os gibeonitas foi expiado, pois aqueles eram protegidos por uma aliança feita com os israelitas. Sete dos “filhos” de Saul foram executados pelos gibeonitas e só então a fome foi removida em resposta às súplicas do povo de Deus. No capítulo 24, de 1 a 25 (nosso texto), vemos o pecado de Davi, que também levou a nação a estar sob a disciplina divina. Só depois da aquisição da eira de Araúna, da construção do altar e da oferta de sacrifícios, Deus cessou a praga lançada sobre Israel devido aos seus pecados e ao pecado de Davi.

Esses três pares de parágrafos servem como a conclusão do livro e ressaltam algumas lições muito importantes que o autor deseja deixar conosco. Permitam-me resumi-las.

Primeiro, mais uma vez somos relembrados da fidelidade de Deus como Salvador do Seu povo. O livro de 1 Samuel começou com o sofrimento de Ana, que não podia ter filhos. Deus a salvou da esterilidade e lhe deu não apenas Samuel, mas também outros cinco filhos. O cântico de Ana é um “cântico de salvação” (1 Samuel 2). Começando por Moisés e Arão, e durante todo o período dos juízes, Deus salvou o Seu povo quando eles clamaram a Ele (1 Samuel 12:6-11). Depois Deus salvou Israel por intermédio de Saul e Davi, quando eles conduziram a nação na guerra contra os inimigos, principalmente contra os filisteus. Deus serviu como Salvador de Davi muitas e muitas vezes durante a sua vida, e Davi espera o “filho de Davi” como seu derradeiro Salvador. Samuel tem muito a nos dizer sobre a fidelidade de Deus como Salvador do Seu povo, mesmo quando esse povo falha. Não é de admirar que Davi resuma sua vida louvando a Deus como sua fortaleza e salvação.

Segundo, vemos que Deus, embora seja um Salvador fiel, frequentemente usa homens de fé e coragem. Davi foi preparado para reinar em Israel quando pastoreava o pequeno rebanho de ovelhas de seu pai. Nessa época, ele aprendeu a confiar em Deus e a agir com coragem para salvar seu rebanho dos ursos e leões. Sua carreira militar teve início com o confronto com Golias no campo de batalha, quando Davi estava em incrível desvantagem. Enquanto Saul não inspirava tal coragem em seus homens, a coragem de Davi inspirou muitos outros soldados a lutar com fé e ousadia, mesmo quando todas as chances estavam contra eles. Esses homens tornaram possível que Davi pudesse parar de lutar quando suas forças começaram a falhar. Mesmo sendo Deus um Salvador fiel, muitas vezes Ele livrou Israel por meio de homens de fé e coragem, os quais confiaram nEle ao lutar contra Seus inimigos. A soberania de Deus na salvação dos homens não os impediu de ter fé e iniciativa; ela os inspirou.

Terceiro, vemos que, embora o homem seja pecaminoso, seu pecado nunca impede Deus de realizar a Sua obra salvífica. Se Davi é o melhor exemplo oferecido pela história a nós, é óbvio que ele não é o Salvador da humanidade. A salvação prometida por Deus através da sua descendência teria de vir por intermédio de alguém maior do que ele. Davi pecou, não há dúvida quanto a isso. Seus pecados podem ter sido uma exceção, mas com certeza o desqualificaram para ser o Messias de Israel. O mais incrível em 1 e 2 Samuel é que, embora Davi tenha pecado e muitos tenham sofrido por causa disso, Deus soberanamente escolheu derramar grandes bênçãos por meio de seus erros. Duas das maiores bênçãos de Israel ocorreram em consequência dos maiores pecados de Davi. Seu pecado com Bate-Seba resultou na linhagem messiânica por meio dela e no casamento que gerou o próximo rei de Israel — Salomão. O pecado referente ao recenseamento dos guerreiros israelitas resultou na aquisição da eira de Araúna, local onde devia ser construído o templo por Salomão. A salvação dos gentios, em parte, foi devido à rejeição de Jesus Cristo como Messias pelos judeus (ver Romanos 11). O nosso pecado, embora ofenda um Deus justo, não O impede de agir. Deus pode até usar o nosso pecado para realizar Seus propósitos e cumprir Suas promessas. E não é só isso, Ele até mesmo utiliza Satanás para alcançar Seus objetivos (1 Crônicas 21:1 e ss).

Quarto, vemos por esse epílogo que nenhum rei humano jamais seria capaz de cumprir a promessa de salvação feita por Deus. Era preciso vir alguém maior do que Davi. Em 1 Samuel 8, Israel rejeitou a Deus como seu rei ao exigir um rei para “salvá-los” de seus inimigos. Mas Deus nunca realmente abdicou do Seu lugar como rei de Israel, como Salvador de Israel. Através da linhagem de Davi, um dia Ele iria providenciar um rei para o Seu povo, O qual os salvaria dos seus pecados. Ele seria mais do que Davi, mais do que um homem, e seria alguém sem pecado. Ele seria o Senhor Jesus Cristo, O qual viria como “O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29). Ele viveria uma vida sem pecado e teria uma morte sacrificial em lugar do pecador. Ele seria “livrado da morte” por  Deus Pai ao ser ressuscitado dentre os mortos. Ele voltaria como Rei de Israel, triunfante sobre os Seus inimigos. Samuel simplesmente aguça o nosso apetite quanto ao futuro “Rei”, que viria para salvar o Seu povo dos seus pecados.

Ao deixarmos o livro de Samuel, nossos olhos estão fixos na pessoa de Jesus Cristo, que haveria de vir como o “Filho de Davi” para salvar o Seu povo, e que Se “assentaria no trono de seu pai, Davi”. Do mesmo modo, nossos olhos estão fixos em um lugar, um local plano no topo de uma montanha perto de Jerusalém. Quando vejo o anjo do Senhor parado ali, com o braço erguido, prestes a atingir Jerusalém com sua espada, não posso deixar de me lembrar de Abraão, o qual também levantou a mão, pronto para cravar a faca em seu amado filho, Isaque. Aconteceu exatamente no mesmo lugar, o monte Moriá. E, nas duas vezes, Deus impediu a mão de tirar a vida, pois Ele tinha um sacrifício muito melhor, Um que tiraria o pecado do mundo.

Sim, o templo foi construído exatamente no mesmo lugar, no monte Moriá. E foi lá que foram oferecidos os sacrifícios que fizeram parar o julgamento da mão de Deus. Mas o melhor de tudo estava num monte não muito longe dali, o monte Calvário, onde a mão de Deus desceu sobre o Seu próprio Filho amado e, devido a esse sacrifício, os homens não precisam sofrer a ira eterna de Deus por causa dos seus pecados. É pela morte sacrificial de Jesus na cruz, e Sua ressurreição dentre os mortos — salvo pelo Pai — que a salvação eterna é oferecida a nós. Você já tomou posse desse presente? Já teve um encontro com Deus como seu Salvador, seu Libertador, sua Fortaleza? Se não, eu lhe digo para aceitá-lo agora mesmo.

Nosso texto tem muitas outras lições a nos ensinar, mas só vou mencionar mais algumas para sua reflexão. É bom tomarmos cuidado para não nos orgulhar daquilo que Deus realizada em nós e por meio de nós. Parece que uma parte do problema de Davi nesta passagem é a questão do orgulho, orgulho pelo que ele tinha feito, não pelo que Ele (Deus) tinha feito. Não vamos tentar medir o nosso sucesso ou a nossa santidade em termos quantitativos. Aos olhos de Deus, o sucesso raramente é visto dessa forma. Precisamos saber também que podemos ser tentados (pelo orgulho) a cair naquelas áreas onde mais nos sentimos seguros.

Não vamos descansar nas glórias passadas, rememorando aquilo que fizemos, mas sigamos em frente para aquilo que Deus ainda tem a realizar em nós e por meio de nós, para Sua glória e louvor (ver Filipenses 3).

Finalmente, vamos aprender com Davi que não existe adoração sem sacrifício. É claro que, em última análise, a nossa adoração é fundamentada no sacrifício de nosso Senhor Jesus Cristo. Contudo, há um sentido também em que o nosso culto deve ser prestado por meio do nosso sacrifício pessoal.

Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um. Porque assim como num só corpo temos muitos membros, mas nem todos os membros têm a mesma função, assim também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros, tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada: se profecia, seja segundo a proporção da fé; se ministério, dediquemo-nos ao ministério; ou o que ensina esmere-se no fazê-lo; ou o que exorta faça-o com dedicação; o que contribui, com liberalidade; o que preside, com diligência; quem exerce misericórdia, com alegria. (Romanos 8:1-12)

Não vos deixeis envolver por doutrinas várias e estranhas, porquanto o que vale é estar o coração confirmado com graça e não com alimentos, pois nunca tiveram proveito os que com isto se preocuparam. Possuímos um altar do qual não têm direito de comer os que ministram no tabernáculo.  Pois aqueles animais cujo sangue é trazido para dentro do Santo dos Santos, pelo sumo sacerdote, como oblação pelo pecado, têm o corpo queimado fora do acampamento. Por isso, foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta. Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando o seu vitupério. Na verdade, não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que há de vir. Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome. Não negligencieis, igualmente, a prática do bem e a mútua cooperação; pois, com tais sacrifícios, Deus se compraz. Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros. (Hebreus 13:9-17)

Praticamente em todas as igrejas evangélicas que conheço (sem mencionar as demais), há uma minoria de crentes fiéis que trabalha e se doa com sacrifício, a qual sustenta os muitos que pouco ou nada fazem. Há quem nunca dê aula, nunca ajude ou nunca faça alguma coisa. Estes são os cristãos “oportunistas”, que procuram o máximo benefício pelo menor custo. Eu lhe digo que a sua adoração vale muito pouco se você não sacrifica seu tempo, sua energia e seu dinheiro.

Não digo isso para você se sentir culpado, embora deva se sentir assim e se arrepender se for um crente preguiçoso e negligente. Digo-o para o seu próprio bem. Se você não está fazendo nenhum sacrifício, sua adoração praticamente não vale nada. Se quer prestar um culto que valha a pena, não é frequentando uma igreja com uma equipe profissional de líderes e de louvor, é tomando a cruz que Deus lhe deu e se sacrificando a Seu serviço. Não estou zangado quando digo isso, mas tenho pena daqueles cuja adoração não lhes custa nada. Deixe-me terminar com as palavras da boca dAquele que é padrão para todos os sacrifícios:

Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos. (Marcos 10:45)

Cingido esteja o vosso corpo, e acesas, as vossas candeias. Sede vós semelhantes a homens que esperam pelo seu senhor, ao voltar ele das festas de casamento; para que, quando vier e bater à porta, logo lha abram. Bem-aventurados aqueles servos a quem o senhor, quando vier, os encontre vigilantes; em verdade vos afirmo que ele há de cingir-se, dar-lhes lugar à mesa e, aproximando-se, os servirá.  Quer ele venha na segunda vigília, quer na terceira, bem-aventurados serão eles, se assim os achar.  Sabei, porém, isto: se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o ladrão, [vigiaria e] não deixaria arrombar a sua casa. Ficai também vós apercebidos, porque, à hora em que não cuidais, o Filho do Homem virá. Então, Pedro perguntou: Senhor, proferes esta parábola para nós ou também para todos?  Disse o Senhor: Quem é, pois, o mordomo fiel e prudente, a quem o senhor confiará os seus conservos para dar-lhes o sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim. Verdadeiramente, vos digo que lhe confiará todos os seus bens. (Lucas 12:35-44)

Tradução: Mariza Regina de Souza


1 NT: O título dado pelo autor — Neiman Marcus Militar, Christianity Kmart? — é praticamente intraduzível para o português, uma vez que Neiman Marcus é uma luxuosa loja de departamentos norte-americana e kmart se refere a uma grande cadeia de lojas de descontos. O sentido geral do título é que a oferta feita por Araúna a Davi seria um “negócio de ocasião, uma oferta irrecusável”, contrastando o alto nível daquilo que é oferecido com uma oferta atraente.

2 O leitor deve verificar o texto paralelo de 2 Crônicas 21. Há uma porção de diferenças entre os dois textos. Elas até poderiam ser chamadas de contradições. Existe solução e explicação para cada uma delas, mas não vou me preocupar com isso nesta lição.

3 Essa expressão é usada com muita frequência na Bíblia e, quando aparece, é para descrever a ira de Deus devido a algum pecado muito grave. Veja, por exemplo, Êxodo 4:14, Números 12:9, Deuteronômio 29:27, Josué 7:1, Juízes 2:14, 20, 10:7, 2 Samuel 6:7, 2 Crônicas 25:15.

4 Poderíamos entrar numa longa discussão neste ponto, o que tentarei evitar. Aparentemente, poderíamos pensar que Deus fez Davi pecar fazendo o censo dos israelitas. Sabemos que Deus não tenta ninguém (Tiago 1:13-17), embora, com certeza, Ele nos prove (Deuteronômio 8:2). No entanto, o autor do texto quer que saibamos que Deus está por trás do pecado de Davi, no sentido de que isso realmente iria acontecer (como no caso da traição de Judas a nosso Senhor). Assim como Deus disse a Moisés que Ele iria endurecer o coração de faraó (Êxodo 4:21), a fim de poder usar sua rebelião para glorificar a Si mesmo (ver Romanos 9:14-18), Moisés também disse que faraó endureceu o seu próprio coração (Êxodo 8:32). O recenseamento feito por Davi fazia parte do propósito de Deus. Isso ia realmente acontecer, mas Deus não o forçou a pecar. Ele deu a Davi a oportunidade e a liberdade de fazer a escolha pecaminosa que Ele iria utilizar em Seu próprio intento (comparece com Gênesis 50:20).

5 Ver também 1 Reis 20:15, 26-27; 2 Reis 3:6; 2 Crônicas 25:5.

6 Como apontado praticamente por todos os estudiosos, esses números não batem exatamente com os números informados em 1 Crônicas 21. Existem várias explicações, mas, no final das contas, devemos confiar em Deus e esperar até a eternidade (com toda probabilidade) por uma solução satisfatória. Uma coisa em que tanto Samuel quanto Crônicas concordam é que, após o levantamento do censo, havia menos guerreiros do que antes, devido ao derramamento do juízo de Deus.

7 Repare que Gade também é chamado de “vidente”, o nome anterior para profeta (ver 1 Samuel 9:9).

8 Para a fome, ver Deuteronômio 28:48, 32:24; para fugir dos inimigos, ver Levítico 26:17, 36. As pragas eram consequência da quebra da aliança com Deus (Deuteronômio 28:21, cf. 1 Reis 8:31), mas estavam especialmente relacionadas a levantar o censo sem fazer expiação (Êxodo 30:12-16).

9 O texto hebraico de 2 Samuel 24:13 diz “sete anos de fome”, mas a tradução grega do texto (a Septuaginta) e o texto paralelo de 1 Crônicas 21:12 dizem “três anos de fome”. Sou mais propenso a aceitar a opção “três anos”, principalmente porque parece haver uma certa ênfase no número três: três anos de fome, três meses de derrota nas mãos do inimigo, três dias de peste enviada por Deus.

10 É fácil dizer que Araúna não era judeu, mas gentio. Há quem pense que, na verdade, ele era um antigo rei dos jebuseus, o qual, graciosamente, foi deixado com vida. É bem possível que isso tenha ocorrido por ele ter tido fé no Deus de Israel. Já que ele era estrangeiro, poderia vender sua propriedade, pois não era sua “herança”.

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