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9. A Aliança de Deus com Noé — Um Novo Começo (Gênesis 8:20 - 9:17))

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Introdução

Vivemos numa época em que as pessoas não querem mais assumir compromissos a longo prazo. O contrato matrimonial com frequência é evitado e os votos carecem da firmeza e do compromisso de antigamente. As garantias têm pouca duração. Os contratos muitas vezes são vagos ou cheios de lacunas e letras miúdas.

Estranhamente, os cristãos parecem pensar que cláusulas contratuais bem definidas não sejam muito espirituais, especialmente entre crentes. Dizem que “se deve cumprir o que se promete”. E deve-se mesmo.

É interessante observar que o imutável, infinito e todo poderoso Deus do universo tenha escolhido Se relacionar com os homens por meio de alianças. A aliança com Noé, no capítulo 9 de Gênesis, é a primeira aliança bíblica da Bíblia. Embora a palavra “aliança” apareça em Gênesis 6:18, ela se refere à aliança do capítulo 9.

A aliança com Noé, por uma série de razões, é muito importante para nós. Enquanto estou preparando esta mensagem, está chovendo lá fora, e um pouco forte também. Se esta aliança ainda não estivesse em vigor, isso seria motivo de grande preocupação para você e para mim. A nossa tranquilidade é resultado direto da aliança feita por Deus com Noé séculos atrás.

A aliança com Noé, além do fato de ainda estar em vigor, também nos dá um padrão para as outras alianças bíblicas. Conforme viermos a entender esta aliança, iremos apreciar muito mais o significado das demais e, especialmente, o da nova aliança instituída por nosso Senhor Jesus Cristo.

Por fim, a aliança com Noé estabelece as bases para a existência do governo humano. Particularmente, ela trata da questão da pena de morte. E é aqui que nossas considerações sobre este tema tão debatido devem começar.

O Compromisso Divino (8:20-22)

Você irá perceber que os últimos versículos do capítulo oito de Gênesis já foram discutidos em minha última mensagem. Embora esses versículos não façam parte da aliança com Noé, certamente são uma introdução a ela. Por isso, devemos começar nosso estudo por eles.

Tecnicamente, Gênesis 8:20-22 não é uma promessa de Deus a Noé. Antes é um propósito assentado no coração de Deus.

E o Senhor aspirou o suave cheiro e disse consigo mesmo: Não tornarei a amaldiçoar a terra por causa do homem, porque é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade; nem tornarei a ferir todo vivente, como fiz. (Gênesis 8:21)

Essas palavras não foram ditas a Noé, elas são intentos reafirmados na mente de Deus. Os teólogos do pacto dão muita ênfase a dois ou três pactos teológicos: o pacto das obras, o pacto da graça e o pacto da redenção1. Todos eles, embora sejam “bíblicos” em essência, são mais implícitos do que explícitos. Os teólogos do pacto geralmente tendem a enfatizar os pactos implícitos às expensas dos pactos claramente bíblicos, como o pacto de Deus com Noé. Por outro lado, os teólogos dispensacionalistas muitas vezes dão muita importância aos pactos bíblicos e menosprezam os pactos teológicos.

Nos capítulos 8 e 9 de Gênesis, ambos os elementos são encontrados. O propósito eterno de Deus para salvar os homens foi estabelecido muito antes dos dias de Noé (cf. Efésios 1:4, 3:11; 2 Tessalonicenses 2:13; 2 Timóteo 1:9, etc). O que encontramos em Gênesis 8:20-22 não é a origem desse propósito, mas sua confirmação na história. Assim como Deus está reafirmando Seu propósito aqui, é sempre bom que os homens também ratifiquem seus compromissos (cf. Filipenses 3:8-16).

A aliança de Deus Consigo mesmo foi motivada pelo sacrifício oferecido por Noé (Gênesis 8:20). A resolução de Deus foi não destruir a terra novamente por um dilúvio (cf. 9:11). Entendo que as palavras “não tornarei a amaldiçoar a terra...” (versículo 21) são análogas à expressão “nem tornarei a ferir todo vivente, como fiz” (versículo 21).2

O que propiciou a resolução de Deus foi a natureza do homem: “porque é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade” (verso 21).

O justo Noé (6:9) logo seria encontrado nu em estado de embriaguez (9:21). Não importa o quanto o passado da terra seja lavado por um dilúvio, o problema sempre vai existir enquanto houver um só homem no mundo. O problema está dentro do homem — é a sua natureza pecaminosa. Sua predisposição ao pecado não é aprendida, é inata — ele é “mau desde a sua mocidade”. Por isso, uma restauração completa precisa começar com um novo homem. Isso é o que Deus propôs realizar historicamente.

Esse propósito é parcialmente expresso no versículo 22: “Enquanto durar a terra, não deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite”.

Um Novo Começo (9:1-7)

Ray Stedman chama estes versículos (e os versículos 8-17) de “As Regras do Jogo”3, e acho que ele realmente captou o significado desta seção. Um novo começo, com um novo conjunto de regras, é evidente pela similaridade destes versículos com Gênesis capítulo um.

Tanto aqui (Gênesis 9:1) como lá (Gênesis 1:28) Deus abençoou Suas criaturas e lhes disse para serem fecundas e se multiplicarem. Tanto aqui (Gênesis 9:3) como lá (Gênesis 1:29-30) Deus prescreveu o alimento que o homem poderia comer.

Contudo, existem algumas diferenças que indicam que o novo começo ia ser diferente do antigo. Deus avaliou a criação original como sendo “boa” (cf. 1:21, 31). O mundo dos dias de Noé não recebeu tal aprovação, pois o homem que o dominava era pecador (8:21).

Adão foi encarregado de dominar a terra e governar o reino animal (1:28). Noé não recebeu tal mandato. Em vez disso, Deus colocou medo do homem nos animais, pelo qual o homem poderia exercer certo controle sobre eles (a razão pela qual meu cachorro me obedece — quando obedece — é porque tem medo de mim).

Enquanto Adão e seus contemporâneos parecem ter sido vegetarianos (Gênesis 1:29-30, cf. 9:3), Noé e seus descendentes poderiam comer carne (9:3-4). Havia, no entanto, uma condição. Eles não poderiam comer o sangue dos animais, pois a vida do animal estava no seu sangue. Isso ia ensinar ao homem não só que Deus dá valor à vida, mas também que ela Lhe pertence. Deus permite aos homens tirar a vida dos animais para sobreviver, no entanto, eles não podem comer o sangue.

Algumas pessoas podem estranhar o fato de se poder comer carne depois do dilúvio, mas não antes (ou assim parece). Talvez as condições da terra tenham mudado tanto que agora a vida necessitasse da ingestão de proteínas. No entanto, o mais provável é que era preciso o homem perceber que, por causa do seu pecado, ele só poderia viver pela morte de outrem. O homem vive pela morte dos animais.

Mas, o mais importante é que o homem aprendeu a respeitar a vida. Depois da queda, os homens eram obviamente homens de violência (cf. Gênesis 6:11), os quais, como Caim (Gênesis 4:8) e Lameque (Gênesis 4:23-24), não tinham qualquer respeito pela vida humana. Isso é declarado com mais ênfase nos versículos 5 e 6 do capítulo 9:

Certamente requererei o vosso sangue, o sangue da vossa vida; de todo animal o requererei, como também da mão do homem, sim, da mão do próximo de cada um requererei a vida do homem. Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua imagem.

A vida do homem é preciosa e pertence a Deus. Ela foi dada por Deus e só Ele pode tomá-la. Os animais que derramassem o sangue de um homem deviam ser mortos (versículo 5, cf. Êxodo 21:28-29). Os homens que, deliberadamente, tirassem a vida de outro homem deviam morrer “pelo homem” (versículo 6, cf. Números 35:33).4

Nestes versículos, além do assassinato, o mandamento de Deus proíbe também o suicídio. A vida pertence a Deus — não só a vida dos animais e de outras pessoas, mas também a nossa própria vida. Precisamos entender que o suicídio é tomar a nossa vida em nossas próprias mãos quando Deus disse que ela Lhe pertence. Nas palavras de Jó: “o Senhor o deu e o Senhor o tomou” (Jó 1:21).

Esta passagem também parece lançar luz sobre a controvertida questão do aborto. O homem não pode derramar o sangue de outro homem. A vida do homem está no sangue (Gênesis 9:4, Levítico 17:11). Deixando de lado muitas outras considerações, não deveríamos concluir que, se um feto tem sangue, ele tem vida? Não deveríamos também reconhecer que derramar esse sangue, destruir esse feto, é violar o mandamento de Deus e ficar sujeito à pena de morte?5

O homem é criado à imagem de Deus (Gênesis 1:27, 9:6). Em vista disso, o assassinato é muito mais do que um ato de hostilidade contra o homem — é uma afronta contra Deus. Atacar o homem é atacar a Deus, à imagem de Quem ele foi criado.

Dissemos que matar é pecado porque a vida pertence a Deus. Mostramos também que o assassinato deve ser rigorosamente tratado, pois a vítima é uma pessoa criada à imagem divina. Uma outra razão para a aplicação da pena de morte nesta passagem é: o homem deve derramar o sangue do assassino porque ele também é parte da imagem divina. “Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua imagem” (versículo 6).

Deus não tirou a vida de Caim quando este matou seu irmão, Abel. Creio que Ele tenha permitido a Caim viver para podermos ver as consequências de se deixar um assassino à solta. Lameque matou um rapaz, provavelmente só por causa de um insulto, e se gabou disso (Gênesis 4:23-24). Os homens que morreram no dilúvio eram homens violentos (6:11). Deus de fato puniu o pecado, mas protelou sua execução até os dias do dilúvio para podermos aprender o alto preço de se deixar um assassino à solta.

Agora que toda a raça humana tinha perecido devido ao seu pecado, Deus podia requerer da sociedade a vida do assassino. Aplicando a pena de morte, o homem agiria no interesse de Deus — ele refletiria a imagem moral de Deus, ou seja, Sua indignação e Sua sentença sobre o assassino.

O homem (e com isso entendo que Moisés estivesse se referindo à sociedade e suas agências governamentais) devia executar o assassino a fim de refletir a pureza moral de seu Criador. Os atos governamentais em nome de Deus punem o malfeitor e respeitam aqueles que fazem o bem:

Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por Ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação. Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. (Romanos 13:1-4)

A “espada” mencionada por Paulo no versículo quatro é a espada usada pelo executor no cumprimento da pena de morte. O próprio Senhor deu testemunho de que a tarefa de executar os transgressores da lei foi dada ao Governo:

Então, Pilatos o advertiu: Não me respondes? Não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar? Respondeu Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada; por isso quem me entregou a ti maior pecado tem. (João 19:10-11)

Creio que o mandamento relativo à pena capital seja o alicerce para qualquer sociedade de homens pecaminosos. O reino animal é controlado, em grande parte, pelo medo que os animais sentem do homem (9:2). As tendências pecaminosas do homem também são mantidas sob controle pelo medo que ele tem das consequências. Qualquer sociedade que perca o respeito pela vida não pode durar muito tempo. Por esta razão, Deus instituiu a pena capital como uma restrição graciosa da tendência pecaminosa do homem para a violência. E, por isso, a humanidade pode viver em relativa paz e segurança até o Messias de Deus acabar de vez com o pecado.

E assim tem início uma nova época. Não uma época de otimismo ingênuo, mas de vida debaixo de leis muito claras. E, como veremos nos próximos versículos, uma época com esperança para o futuro.

A Aliança com Noé (9:8-17)

A aliança de Deus com Noé e seus descendentes revela muitas das características das alianças subsequentes feitas por Deus com o homem. Por isso, vamos destacar as mais relevantes.

(1) A aliança com Noé foi iniciada e ditada por Deus. A soberania de Deus é claramente vista nesta aliança. Embora algumas alianças do passado tenham sido resultado de negociações, esta não. Deus deu início a ela como expressão externa do Seu propósito revelado em Gênesis 3:20-22. Ele ditou os termos para Noé, e não houve discussão.

Um amigo meu tinha um carro que estava “no fim da picada”. Com meu apoio, ele foi a uma feira de carros usados em busca de algo mais confiável. Ele encontrou um veículo que parecia promissor, mas decidiu pensar um pouco mais no assunto. Quando entrou no carro velho para ir embora, não conseguiu dar a partida. Como dá para imaginar, meu amigo não estava em condições de barganhar. Ele comprou o outro carro sem negociar o preço. A situação de Noé era exatamente a mesma. E devo acrescentar: será que nós ousaríamos questionar os termos de Deus? Acho que não!

(2) A aliança com Noé foi feita com ele e todas as gerações subsequentes: “Disse Deus: Este é o sinal da minha aliança que faço entre mim e vós e entre todos os seres viventes que estão convosco, para perpétuas gerações” (9:12).

Esta aliança permanecerá em vigor até a época em que nosso Senhor retornar à terra para purificá-la pelo fogo (2 Pedro 3:10).

(3) Esta é uma aliança universal. Enquanto algumas alianças envolvem apenas um pequeno grupo de pessoas, esta aliança em particular abrange “toda carne”, isto é, todos os seres viventes, incluindo o homem e os animais:

Eis que estabeleço a minha aliança convosco, e com a vossa descendência, e com todos os seres viventes que estão convosco: assim as aves, os animais domésticos e os animais selváticos que saíram da arca, como todos os animais da terra. (Gênesis 9:9-10)

(4) A aliança com Noé é uma aliança incondicional. Algumas alianças eram condicionais, onde as partes deveriam cumprir determinadas condições. Esse foi o caso da aliança Mosaica. Se Israel guardasse os mandamentos de Deus, eles receberiam Suas bênçãos e teriam prosperidade. Se não, seriam expulsos da terra (Deuteronômio 28). As bênçãos da aliança com Noé não eram condicionais. Deus daria regularidade de estações e não destruiria novamente a terra por um dilúvio simplesmente porque disse que seria assim. Embora a raça humana tenha recebido certos mandamentos nos versículos 1 a 7, estes não devem ser vistos como condições da aliança. Tecnicamente, eles não fazem parte dela.

(5) Esta aliança foi uma promessa de Deus de nunca mais destruir a terra por um dilúvio: “então, me lembrarei da minha aliança firmada entre mim e vós e todos os seres viventes de toda carne; e as águas não mais se tornarão em dilúvio para destruir toda carne” (Gênesis 9:15).

Deus irá destruir a terra pelo fogo (2 Pedro 3:10), mas só após a salvação ser comprada pelo Messias e os eleitos serem levados, do mesmo modo que Noé foi protegido da ira de Deus.

(6) O sinal da aliança com Noé é o arco-íris:

Porei nas nuvens o meu arco; será para sinal da aliança entre mim e a terra. Sucederá que, quando eu trouxer nuvens sobre a terra, e nelas aparecer o meu arco, então, me lembrarei da minha aliança firmada entre mim e vós e todos os seres viventes de toda carne; e as águas não mais se tornarão em dilúvio para destruir toda carne. (Gênesis 9:13-15)

Toda aliança tem seu sinal correspondente. O sinal da aliança Abraâmica é a circuncisão (Gênesis 17:15-27); o da Mosaica, a observância do sábado (Êxodo 20:8-11; 31:12-17).

O arco-íris é um “sinal” bastante apropriado. Ele é constituído pelo reflexo dos raios solares nas partículas de água das nuvens. A mesma água que destruiu a terra forma o arco-íris. O arco-íris, também, aparece no fim de uma tempestade. Por isso, este sinal declara ao homem que a tempestade da ira de Deus (num dilúvio) já passou.

O mais interessante é que o arco-íris não foi planejado para o homem (pelo menos não neste texto), mas para Deus. Ele disse que o arco-íris O faria Se lembrar da Sua aliança com o homem. Que conforto saber que a fidelidade de Deus é a nossa garantia!

Conclusões e Aplicações

Para os antigos israelitas que primeiro receberam esta revelação de Deus, a aliança com Noé explicou o motivo de várias regras da lei Mosaica. As leis referentes à pena de morte, por exemplo, têm origem e explicação no capítulo 9 de Gênesis. A questão específica do sangue ganha ainda mais significado à luz deste capítulo.

Os antigos profetas também fizeram alusão à aliança de Deus com Noé. Isaías relembrou à nação, Israel, a fidelidade de Deus em manter esta aliança:

Porque isto é para mim como as águas de Noé; pois jurei que as águas de Noé não mais inundariam a terra, e assim jurei que não mais me iraria contra ti, nem te repreenderia. Porque os montes se retirarão, e os outeiros serão removidos; mas minha misericórdia não se apartará de ti, e a aliança da minha paz não será removida, diz o Senhor, que se compadece de ti. (Isaías 54:9-10)

Na época dos escritos de Isaías parecia haver poucos motivos de esperança para eles como nação. Isaías relembrou-lhes que sua esperança era tão segura quanto a Palavra de Deus. A promessa da redenção por vir deveria ser vista à luz da fidelidade de Deus em manter Sua aliança com Noé e seus descendentes.

A linguagem de Gênesis capítulo nove foi empregada por Oseias para garantir ao povo de Deus a sua restauração:

Naquele dia, farei a favor dela aliança com as bestas-feras do campo, e com as aves do céu, e com os répteis da terra; e tirarei desta o arco, e a espada, e a guerra, e farei o meu povo repousar em segurança. (Oséias 2:18)

Jeremias também falou das bênçãos futuras de Deus ao relembrar ao povo Sua fidelidade em manter a aliança com Noé:

Assim diz o Senhor, que dá o sol para a luz do dia e as leis fixas à luz e às estrelas para a luz da noite, que agita o mar e faz bramir as suas ondas; Senhor dos Exércitos é o seu nome. Se falharem estas leis fixas diante de mim, diz o Senhor, deixará também a descendência de Israel de ser uma nação diante de mim para sempre. Assim diz o Senhor: Se puderem ser medidos os céus lá em cima e sondados os fundamentos da terra cá embaixo, também eu rejeitarei a descendência de Israel, por tudo quanto fizeram, diz o Senhor. (Jeremias 31:35-37, cf. também 33:20-26, Salmo 89:30-37).

Os Israelitas podiam ansiar pela salvação que Deus lhes traria. E nós podemos olhar para o que Ele já fez por intermédio do Messias, o Senhor Jesus Cristo. Embora Israel ainda aguarde o pleno cumprimento da aliança de Deus no milênio, eles podem fazê-lo na confiança de que Deus mantém Seus compromissos. E nós também, como cristãos, podemos ter plena certeza da fidelidade de Deus.

A aliança com Noé, de diversas formas, prefigurava a nova aliança. Consequentemente, a nova aliança cumpriu muitas das coisas antecipadas pela aliança com Noé. O derramamento de sangue adquiriu novo significado na aliança com Noé. O derramamento do sangue de Cristo no Calvário subitamente trouxe à baila o capítulo 9 de Gênesis.

Tendo em vista que todas as alianças bíblicas têm seu ápice na nova aliança, que as deixa obscurecidas, vamos gastar alguns momentos para comparar as características da nova aliança com a aliança de Deus com Noé.

A nova aliança é prometida em Jeremias 31:30-34:

Cada um, porém, será morto pela sua iniqüidade; de todo homem que comer uvas verdes os dentes se embotarão. Eis aí vêm dias, diz o Senhor, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles anularam a minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o Senhor. Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas escreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece o Senhor, porque todos me conhecerão, desde o menor até o maior deles, diz o Senhor. Pois perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais me lembrarei.

Nosso Senhor instituiu esta aliança pela Sua morte na cruz do Calvário. O sinal da aliança é a ceia do Senhor:

Enquanto comiam, tomou Jesus um pão e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo. A seguir, tomou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados. E digo-vos que, desta hora em diante, não beberei deste fruto da videira, até aquele dia em que o hei de beber, novo, convosco no reino de meu Pai. (Mateus 26:26-29)

O escritor aos Hebreus salientou que a nova aliança substituiu a antiga (Mosaica) e é infinitamente superior a ela.

A nova aliança, assim como a aliança de Deus com Noé, foi iniciada por Deus e executada por Ele. Enquanto toda carne se beneficia da graça comum prometida por Deus na aliança com Noé, somente quem está “em Cristo” é beneficiado pelas bênçãos da nova aliança. É a nova aliança “no Seu sangue” que é experimentada por quem confia no sangue derramado de Cristo, o Cordeiro de Deus, para receber o perdão dos pecados e o dom da vida eterna. Nosso Senhor disse a Seus seguidores:

Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida. (João 6:53-55)

Com isto Ele quis dizer que não se deve somente reconhecer a divindade de Cristo e Sua morte pelo pecador, mas que isso precisa se tornar a parte mais importante da vida, crendo que somente em Cristo há salvação.

A única condição para participar das bênçãos da nova aliança é expressando uma fé pessoal em Cristo ao recebê-lo:

Mas a todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no Seu nome. (João 1:12)

E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida. (1 João 5:11-12)

Como na aliança com Noé, quem está debaixo da nova Aliança não precisa temer a futura explosão da ira de Deus. Embora a aliança com Noé garantisse a toda carne que Deus não iria destruir novamente a vida por um dilúvio, a nova aliança garante ao homem que ele não sofrerá o derramamento da ira divina por outros meios, tais como o fogo (2 Pedro 3:10).

... e a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão que fala cousas superiores ao que fala o próprio Abel. (Hebreus 12:24)

Como as alianças são reconfortantes! Elas permitem ao homem saber exatamente onde ele está com Deus. Não tente fazer seu próprio acordo com Ele, meu amigo. Você pode enfrentar a eterna ira de Deus por confiar em si mesmo, ou pode receber o perdão divino e a vida eterna pela fé em Cristo. Os termos que Deus estabelece para a paz são muito claros. Você já se rendeu a Ele? Que Deus o ajude a fazê-lo.

Tradução e Revisão: Mariza Regina de Souza


1 A teologia das Igrejas Reformadas, no que se refere às alianças, tem seu protótipo na teologia patrística, sistematizada por Agostinho de Hipona. Ela representa a totalidade das Escrituras como sendo coberta por duas alianças: 1) o pacto das obras e 2) o pacto da graça. As partes da primeira aliança eram Deus e Adão. A promessa da aliança era a Vida. A condição era a perfeita obediência de Adão. E o castigo para o fracasso era a morte. Para salvar o homem do castigo da sua desobediência, uma segunda aliança, feita desde a eternidade, entrou em vigor, chamada de aliança da graça. Ao longo do Antigo Testamento houve sucessivas proclamações dessa aliança”. A Teologia dos Pactos, Baker’s Dictionary of Theology (Grand Rapids: Baker Book House, 1960). p. 144.

2 Alguns poderiam esperar alguma referência à maldição sobre o solo referida em Gênesis 3:17 e 5:29. No entanto, tanto teologicamente quando na prática, sabemos que ela não foi removida. Qualquer jardineiro sabe disso por experiência própria.

A palavra para “maldição” em Gênesis é Qalal, embora em 3:17 e 5:29 a palavra seja Arur. É muito interessante que, em Gênesis 12:3, ambas sejam empregadas. A maldição do solo em Gênesis 8:21 é o dilúvio que destruiu toda coisa vivente, não a maldição de Gênesis 3:17.

3 Ray Stedman, The Beginnings (Waco: Word Books, 1978), pp. 116-130.

4 Outro trecho da Escritura deixa claro que somente o assassinato deliberado e premeditado está em foco. Deus estipulou as cidades de refúgio para aqueles que acidentalmente matassem uma outra pessoa (cf. Deuteronômio 19:1 e ss).

5 A morte de um feto, como em outros exemplos, pode ter circunstâncias atenuantes e, por isso, nem todos os abortos podem ser chamados de assassinato, assim como todas as mortes não podem ser assim definidas. Creio, no entanto, que, em geral, a destruição deliberada da vida de um feto seja assassinato.

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