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Where the world comes to study the Bible

25. Descobrindo a Vontade de Deus, do jeito "encantado" que puder (I Samuel 28:1-25)

Introdução

Recentemente, milhões de pessoas ficaram furiosas com a AOL (American On Line). Bem na época do Natal eles iniciaram um novo programa. Por US$ 19.95 ao mês (aproximadamente R$ 40,00), uma pessoa poderia ter acesso ilimitado à Internet através da AOL. O problema foi que todo mundo achou que esse era um “negócio da China”. As pessoas que já assinavam a AOL, começaram a usar ainda mais seus serviços - afinal, usar o provedor durante 15 horas por mês não custaria mais do que usá-lo por 5 horas. E muitas outras pessoas, ouvindo a respeito desse “negócio da China”, se tornaram novos assinantes. O resultado foi desastroso para quase todo mundo. Simplesmente havia gente demais tentando usar a AOL ao mesmo tempo.

Um dos computadores lá de casa está conectado pela AOL e, durante algumas semanas, por diversas vezes não conseguimos acessar o sistema. Não conseguíamos sequer checar nossos e-mails. Durante várias semanas houve uma porção de clientes descontentes, alguns dos quais ficaram bem mais do que descontentes. Eles se asseguraram de que a AOL soubesse disso. Ameaças foram feitas e ações foram ajuizadas; de modo geral, a coisa ficou bem feia durante algumas semanas, e tudo porque as pessoas não podiam fazer rapidamente, ou tão bem, aquilo que vinham fazendo poucos meses antes. Poucos pareciam se lembrar de que há alguns anos atrás ninguém sequer sonhava que poderia fazer tais coisas.

Se uma falha parcial de um provedor da Internet levantou tamanho furor, imagine o que seria perder a conexão com Deus. É exatamente isto o que acontece ao rei Saul. Em nosso texto ocorre uma série de acontecimentos que deixam Saul morto de medo. Ele tem um caso agudo de ”religião de trincheira” (quando os soldados começam a rezar ao ouvir o zunido das balas sobre suas cabeças). Ele procura “consultar o Senhor” para saber o que deve fazer para sair da confusão em que se meteu. Apesar de inúmeras tentativas, fracassam todos os seus esforços de consultar o Senhor. Deus está ali, mas está em silêncio. Em termos contemporâneos, Saul tenta desesperadamente se “conectar”, mas todos os “provedores” estão fora do ar. Saul está com sérios problemas e mesmo assim não consegue orientação divina que seja a chave para a vitória. O que ele fará? Resposta: fará algo que jamais fez antes, e que nem fará outra vez.

De longe, estes são os dias mais negros da vida de Saul. Logo veremos o quanto são negros e por que ele se encontra nesse dilema. Vamos procurar discernir as lições que encontramos aqui, tanto para os antigos israelitas, quanto para nós também. Prepare-se, pois este é um dos capítulos mais difíceis de I Samuel. Não é uma história de “final feliz”; na verdade, é justamente o contrário. Vamos ouvir e aprender, para que não venhamos nós mesmos a seguir os passos de Saul.

Deus Está Lá, Mas Está Em Silêncio
(28:1-7)

“Sucedeu, naqueles dias, que, juntando os filisteus os seus exércitos para a peleja, para fazer guerra contra Israel, disse Aquis a Davi: Fica sabendo que comigo sairás à peleja, tu e os teus homens. Então, disse Davi a Aquis: Assim saberás quanto pode o teu servo fazer. Disse Aquis a Davi: Por isso, te farei minha guarda pessoal para sempre. Já Samuel era morto, e todo o Israel o tinha chorado e o tinha sepultado em Ramá, que era a sua cidade; Saul havia desterrado os médiuns e os adivinhos. Ajuntaram-se os filisteus e vieram acampar-se em Suném; ajuntou Saul a todo o Israel, e se acamparam em Gilboa. Vendo Saul o acampamento dos filisteus, foi tomado de medo, e muito se estremeceu o seu coração. Consultou Saul ao SENHOR, porém o SENHOR não lhe respondeu, nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas. Então, disse Saul aos seus servos: Apontai-me uma mulher que seja médium, para que me encontre com ela e a consulte. Disseram-lhe os seus servos: Há uma mulher em En-Dor que é médium.”

Todos nós temos um daqueles dias em que absolutamente tudo dá errado. Este é um desses dias para Saul (por acaso, o dia de Davi também não vai bem). Os problemas de Saul são incríveis. Primeiro, os filisteus estão guerreando contra os israelitas e, desta vez, estão levando a sério. Os filisteus sempre atormentaram os israelitas durante o reinado de Saul. Mas, desta vez, parece que os reis filisteus estão determinados a destruir o poderio militar de Israel de uma vez por todas. É isto o que eles pretendem ao reunir suas forças armadas em Afeca (29:1). Dali eles marcharão para o norte, através da planície de Esdraelon até Suném (28:3-5). Sua estratégia parece ser separar e conquistar Israel, dividindo a nação ao meio e depois operando na região norte e na região sul independentemente. Enquanto os filisteus lutarão com força total, os israelitas não. Os batedores de Saul o informam sobre a localização e o tamanho das forças filistéias. Os números são incríveis. Além de tudo, eles estão acampados em território mais baixo, a fim de fazer uso total de seus carros. Até posso ouvir Saul murmurando baixinho a gente já era.

Segundo, Saul pode muito bem ter ouvido que Davi está entre os filisteus que se reuniram para atacar Israel. Se Saul teme um confronto direto com o exército filisteu, talvez também esteja abalado por saber que Davi está entre eles. Nosso capítulo começa com a narrativa de Aquis, o rei filisteu, informando a Davi que ele e seus homens irão consigo para a batalha contra os israelitas. Davi lhe garante que se mostrará um aliado valioso, ao que Aquis responde informando que ele será seu guarda pessoal para sempre. Sabemos, pelo capítulo 29, que Davi e seus homens estão com Aquis em Afeca, e é aqui que eles serão instruídos a voltar para casa em Ziclague. Talvez os batedores de Saul tenham localizado Davi e seus homens entre os filisteus reunidos em Afeca. Você pode imaginar como Saul se sente levantando-se contra Davi, principalmente depois do que ele mesmo lhe disse?

Agora, pois, tenho certeza de que serás rei e de que o reino de Israel há de ser firme na tua mão. (I Sam. 24:20)

Então, Saul disse a Davi: Bendito sejas tu, meu filho Davi; pois grandes coisas farás e, de fato, prevalecerás. Então, Davi continuou o seu caminho, e Saul voltou para o seu lugar. (I Sam. 26:25)

Terceiro, Saul está ciente do que perigo que corre e está apavorado. Lembra-se que Saul parece ter sido um medroso (ou, no mínimo, retraído) desde o princípio? Ele queria abandonar a procura pelas jumentas de seu pai (9:5). Ele não contou a seu tio (Abner?) o que Samuel lhe dissera (10:14-16). Ele se escondeu entre a bagagem quando a sorte foi lançada para identificar o rei (10:22). Pelo que lemos em I Samuel, ele jamais toma a iniciativa de atacar os filisteus, mesmo que a libertação de Israel de sua oposição seja uma parte importante de seu chamado como rei (9:16). Depois que o espírito maligno da parte do Senhor se apossou dele, ele ficou medroso, e às vezes apavorado (ver 16:14; 17:11; 18:12). Este ataque maciço e em larga escala dos filisteus tem todos os sinais de uma derrota devastadora para Saul e seu exército, e assim o autor nos informa que ele está morto de medo (verso 5).

Quarto, embora agora Saul procure desesperadamente consultar o Senhor, ele não consegue obter nenhuma resposta de Deus. Saul não é muito experiente em buscar a vontade de Deus, como nosso texto tem mostrado até este ponto. Diferentemente de Davi (ver I Sam. 22:10, 15), ele não está acostumado a procurar orientação divina. Não foi idéia sua procurar um vidente para saber onde estariam as jumentas perdidas de seu pai (I Sam. 9:5-9). No lançamento de sortes, para saber quem Deus escolhera como rei de Israel, ele não tomou parte do processo; estava escondido (10:22). Ele não procurava orientação divina para saber quando lutar com os filisteus. Não havia necessidade, pois geralmente era Jônatas quem tomava a iniciativa, atacando-os (tal como quando atacou sua guarnição em Geba - 13:3). Mais tarde, no capítulo 13, Saul se obrigou a ir prosseguir e oferecer o holocausto, em vez que de continuar esperando por Samuel. Ao fazer isto ele desobedeceu a ordem que ele lhe dera no capítulo 10, uma ordem relacionada à orientação divina:

Tu, porém, descerás adiante de mim a Gilgal, e eis que eu descerei a ti, para sacrificar holocausto e para apresentar ofertas pacíficas; sete dias esperarás, até que eu venha ter contigo e te declare o que hás de fazer. (I Sam. 10:8, ênfase minha)

Saul é instruído a esperar por Samuel para obter orientação divina, mas ele não espera.

No capítulo 14, o ataque secreto de Jônatas provocou um terremoto e uma grande confusão entre os guerreiros filisteus. Saul vê tudo a distância e depois pede que a arca de Deus seja trazida a ele (14:18). Quando o sacerdote está consultando o Senhor, Saul observa que os filisteus estão fugindo, e assim interrompe o sacerdote no meio da consulta e começa a persegui-los (14:19 ss). Uma ordem insensata de sua parte atrapalha muito esta perseguição, fazendo com que muitos soldados israelitas pequem ao comer o sangue dos animais que devoram devido à sua fome (14:24-35). Depois que os homens se alimentam, Saul está pronto para começar a perseguição aos filisteus, mas o sacerdote insiste em que eles se cheguem a Deus (14:37). Quando não há respostas naquele dia, Saul conclui que é devido a pecado (de Jônatas) e ordena que a sorte seja lançada entre os israelitas de um lado, e ele e Jônatas de outro. Saul e seu filho são indicados. A sorte é lançada novamente entre ele e Jônatas. Jônatas é indicado; Saul pretende usar o lançamento de sortes para justificar a condenação de seu próprio filho à morte, e o teria feito se o povo não tivesse se recusado a permitir que isto acontecesse. Saul está bem longe de ser modelo de alguém que busca orientação divina.

Aqui também não parece que os motivos de Saul sejam puros em seu empenho para consultar o Senhor. Não parece que ele esteja realmente consultando o Senhor, no sentido de estar procurando conhecer Sua vontade para cumpri-la. Parece que esta é também a conclusão do autor de I Crônicas:

Assim, morreu Saul por causa da sua transgressão cometida contra o SENHOR, por causa da palavra do SENHOR, que ele não guardara; e também porque interrogara e consultara uma necromante e não ao SENHOR, que, por isso, o matou e transferiu o reino a Davi, filho de Jessé. (I Cr. 10:13-14)

Está escrito que Saul consultou o Senhor (28:6), mas esta não é uma verdadeira consulta. Pelo contrário, é antes uma tentativa desesperada de conseguir que Deus o livre dos problemas em que ele mesmo se meteu. Encontramos no livro de Jeremias a descrição de uma tentativa semelhante de consultar o Senhor:

Palavra que veio a Jeremias da parte do SENHOR, quando o rei Zedequias lhe enviou Pasur, filho de Malquias, e o sacerdote Sofonias, filho de Maaséias, dizendo: Pergunta agora por nós ao SENHOR, por que Nabucodonosor, rei da Babilônia, guerreia contra nós; bem pode ser que o SENHOR nos trate segundo todas as suas maravilhas e o faça retirar-se de nós. (Jr. 21:12, ênfase minha)

A inquietação de Saul passa do medo para o terror e do terror para pânico absoluto. Ele precisa fazer alguma coisa drástica, já! É como se ele estivesse revivendo os acontecimentos do capítulo 13, só que desta vez a sensação de tragédia iminente é ainda maior. Os filisteus estão acampados em Suném, e Saul e seu exército em Gilboa (verso 4). Os filisteus estão posicionados para o ataque, e Saul sabe que não tem nenhuma chance. Ele precisa agir, e rápido - ou assim ele supõe. Portanto, ele toma uma decisão desesperada e muito perigosa. Uma vez que parece não conseguir a atenção de Deus de nenhuma forma convencional, ele decide que deve consultar uma médium.

Uma Voz do Além
(28:7-14)

“Então, disse Saul aos seus servos: Apontai-me uma mulher que seja médium, para que me encontre com ela e a consulte. Disseram-lhe os seus servos: Há uma mulher em En-Dor que é médium. Saul disfarçou-se, vestiu outras roupas e se foi, e com ele, dois homens, e, de noite, chegaram à mulher; e lhe disse: Peço-te que me adivinhes pela necromancia e me faças subir aquele que eu te disser. Respondeu-lhe a mulher: Bem sabes o que fez Saul, como eliminou da terra os médiuns e adivinhos; por que, pois, me armas cilada à minha vida, para me matares? Então, Saul lhe jurou pelo SENHOR, dizendo: Tão certo como vive o SENHOR, nenhum castigo te sobrevirá por isso. Então, lhe disse a mulher: Quem te farei subir? Respondeu ele: Faze-me subir Samuel. Vendo a mulher a Samuel, gritou em alta voz; e a mulher disse a Saul: Por que me enganaste? Pois tu mesmo és Saul. Respondeu-lhe o rei: Não temas; que vês? Então, a mulher respondeu a Saul: Vejo um deus que sobe da terra. Perguntou ele: Como é a sua figura? Respondeu ela: Vem subindo um ancião e está envolto numa capa. Entendendo Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra e se prostrou.”

Como não é capaz de se conectar com Deus de maneira convencional, Saul decide procurar uma forma bem diferente. Samuel é o único profeta que conhecemos que lhe dava instruções de Deus. Havia muitos outros profetas, mas eles não são mencionados no texto. Samuel está morto (verso 3), mas Saul tem uma idéia. Talvez ainda possa conversar com ele. Talvez possa persuadir uma médium a invocá-lo, para que possa falar lhe falar. Saul instrui seus servos a encontrarem uma mulher que seja médium. Eles conhecem uma que vive em En-Dor.

Esse negócio de consultar uma médium tem uma porção de problemas, os quais podemos ver em nosso texto.

Primeiro, Deus proibiu estritamente o uso de médiuns. Uma porção de textos do Velho Testamento proíbem a presença de médiuns e outros espíritas no território de Israel e também proíbem os israelitas de consultarem tais pessoas. Considere estas proibições na lei de Moisés:

Não vos voltareis para os necromantes, nem para os adivinhos; não os procureis para serdes contaminados por eles. Eu sou o SENHOR, vosso Deus. (Lv. 19:31)

Quando alguém se virar para os necromantes e feiticeiros, para se prostituir com eles, eu me voltarei contra ele e o eliminarei do meio do seu povo. (Lv. 20:6)

O homem ou mulher que sejam necromantes ou sejam feiticeiros serão mortos; serão apedrejados; o seu sangue cairá sobre eles. (Lv. 20:27)

Não se achará entre ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; nem encantador, nem necromante, nem mágico, nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao SENHOR; e por estas abominações o SENHOR, teu Deus, os lança de diante de ti. Perfeito serás para com o SENHOR, teu Deus. Porque estas nações que hás de possuir ouvem os prognosticadores e os adivinhadores; porém a ti o SENHOR, teu Deus, não permitiu tal coisa. (Dt. 18:10-14)

O segundo problema é que, pelo menos uma vez, Saul fez a coisa certa: Saul havia desterrado os médiuns e os adivinhos. (verso 3b) Isto é realmente espantoso. Pelo menos uma vez, ao que parece, Saul realmente fez alguma coisa certa. Agora, na iminência de um ataque filisteu, ele deseja localizar uma médium e fazer aquilo que a lei do Velho Testamento proibia. O maior obstáculo a isto é sua própria obediência, que havia desterrado essas pessoas. Entenda: Saul agora lamenta uma das poucas coisas que parece ter feito direito.

Há ainda um terceiro problema, um problema logístico. Os filisteus estão acampados em Suném; Saul e os israelitas estão acampados em Gilboa. En-dor fica aproximadamente oito milhas ao norte de Gilboa, e para ir até lá, Saul tem que rodear os filisteus.

Há um quarto problema: Saul não pode se dar ao luxo de ser identificado. Saul não ousa ser identificado por qualquer um que encontre pelo caminho. Matar um rei oponente é meio caminho andado para vencer o inimigo, portanto, o rei é o alvo principal. Um rei poderia, como precaução, se disfarçar (ver I Re. 22:29-36). Além disto, Saul não deseja ser reconhecido pela médium. Se ela souber quem ele é certamente não concordará em invocar um morto, sabendo que foi Saul quem expulsou os médiuns e espíritas de Israel (ver verso 9). Sua solução é viajar à noite, disfarçando suas roupas. Ele não usará suas vestes reais nesta missão.

Quando Saul chega à casa da médium, ele vai direto ao assunto. Primeiro procura fazer com que ela se comprometa a invocar qualquer um que ele chame. Ela resiste, temendo que esta possa ser uma das ciladas de Saul. Ela não quer ser pega desobedecendo diretamente as ordens do rei. Afinal, estes homens são estrangeiros, ou ela pensa que sejam. Ironicamente, Saul jura pelo nome do Senhor que ela não será punida por fazer o que ele lhe pede (verso 10). Assim, ele pede que ela invoque Samuel. Ela não precisa pedir maiores esclarecimentos. Ela dá um berro quando vê Samuel. Ela não só o reconhece, mas agora também reconhece que aquele que lhe pede para invocá-lo é nenhum outro senão o próprio Saul. Quase posso ouvi-la exclamando eu já era.

Saul uma vez mais garante que não lhe fará mal, e depois pede que ela descreva a pessoa que vê diante de si. Sua reação ao ver Samuel, bem como sua descrição dele, parecem indicar que esta não é uma invocação comum. Ela diz a Saul que vê um ser divino (a versão ARA traduz por deus). O texto hebraico usa a palavra elohim (deus), e a Septuaginta usa a palavra grega theous (deus). O que ela vê não é exatamente um espírito, mas um ser divino. Não é de admirar que ela esteja apavorada. Ela descreve este ser divino para Saul como alguém que se parece com um ancião, envolto numa capa. Pela sua descrição deste ser divino Saul o identifica como Samuel. E assim Saul se prosta com o rosto em terra fazendo reverência a ele (verso 14).

Palavras do Túmulo
(28:15-19)

Samuel disse a Saul: Por que me inquietaste, fazendo-me subir? Então, disse Saul: Mui angustiado estou, porque os filisteus guerreiam contra mim, e Deus se desviou de mim e já não me responde, nem pelo ministério dos profetas, nem por sonhos; por isso, te chamei para que me reveles o que devo fazer. Então, disse Samuel: Por que, pois, a mim me perguntas, visto que o SENHOR te desamparou e se fez teu inimigo? Porque o SENHOR fez para contigo como, por meu intermédio, ele te dissera; tirou o reino da tua mão e o deu ao teu companheiro Davi. Como tu não deste ouvidos à voz do SENHOR e não executaste o que ele, no furor da sua ira, ordenou contra Amaleque, por isso, o SENHOR te fez, hoje, isto. O SENHOR entregará também a Israel contigo nas mãos dos filisteus, e, amanhã, tu e teus filhos estareis comigo; e o acampamento de Israel o SENHOR entregará nas mãos dos filisteus.

Na época em que Saul e Samuel estavam vivos, Samuel falava diretamente com Saul por Deus. Samuel não lhe dizia o que ele queria ouvir. Na verdade, Samuel às vezes temia por sua vida quando fazia aquilo que sabia que enfureceria Saul (ver 16:2). Nos capítulos 13 e 15, Samuel repreendeu Saul por seus pecados e lhe disse que ele estava prestes a perder seu reino. À luz destas coisas, o que é que Saul espera que Samuel lhe diga agora? Se ele espera qualquer coisa diferente só porque uma médium invocara Samuel dos mortos, ele vai cair do cavalo.

Tenho cinco filhas, e algumas delas não são o que eu chamaria de “madrugadoras” (francamente, também não sou nenhum “madrugador”). Saul sabe que invocar Samuel dos mortos é como acordar uma de minhas filhas de manhã cedo. Pode ser como acordar uma ursa. Costumo brincar dizendo que para entrar no quarto é preciso cutucar a dorminhoca com uma varinha, sem chegar muito perto. De qualquer forma, Samuel parece um tanto “irritado”, se é que esta é a maneira correta de descrevê-lo: “Por que me inquietaste, fazendo-me subir?” Ele poderia ter dito isto porque não gostou de ser perturbado por Saul. (Por acaso, ele parece se sentir mais livre para “dar uma bronca” em Saul agora do que quando estava vivo. Agora não é preciso temer que ele o mate!) Ou, ele poderia ter dito isto como uma reprimenda a Saul, por fazer algo que não deveria ter feito - invocar o espírito de alguém que está morto. De qualquer forma, a desaprovação de Samuel é clara.

Saul soa como um colegial que acabou de ser pego com a mão no pote de biscoitos e ficou com os dedos presos. Ele procura justificar sua atitude dizendo a Samuel que está muito angustiado. Ele acrescenta que a razão é que os filisteus estão guerreando contra ele e que Deus se afastou e não responde mais suas consultas. É como se ele dissesse “Eu tinha que chamar você, Samuel. Você tem que me dizer o que fazer. Sei que é contra as regras, mas é uma emergência.”

Samuel não fica impressionado. Ele não diz a Saul o que fazer. Na verdade, ele repreende Saul por lhe pedir para fazer o que é impossível. Pedir a Samuel para falar por Deus, quando Deus o deixou, é como pedir a Balaão para amaldiçoar o povo de Deus, quando Deus escolhera abençoá-los. Samuel não pode e não dirá a Saul o que fazer. Saul está sozinho. Mas, uma vez que Saul se esforçou para invocá-lo, Samuel lhe dirá como as coisas estão entre ele e Deus, e o que o amanhã lhe reserva. A situação em que ele se encontra agora é exatamente aquela que Samuel lhe revelou quando falou por Deus nos capítulos 13 e 15. Saul agora vive o cumprimento das profecias de Samuel.

Em poucas palavras Samuel diz a Saul o que lhe acontecerá e por que. Conforme indicara anteriormente, Deus tirou o reino de suas mãos. Ele está dando esse reino a Davi, o companheiro” de Saul. Isto é devido à desobediência de Saul ao falhar em cumprir totalmente as instruções de Deus a respeito de Amaleque. Samuel diz ao rei que as palavras de sua profecia, ditas no capítulo 15, agora estão sendo cumpridas. No dia seguinte, Deus entregará Israel, Saul e seus filhos aos filisteus. Saul e seus filhos serão mortos. Samuel diz sem rodeios “Amanhã, você e seus filhos estarão comigo”. Estas notícias são inquietantes. Certamente não é o que Saul esperava ouvir. Ele invoca um profeta, e consegue um. Mesmo do túmulo, Samuel não muda o tom.

A Última Ceia de Saul
(28:20-25)

De súbito, caiu Saul estendido por terra e foi tomado de grande medo por causa das palavras de Samuel; e faltavam-lhe as forças, porque não comera pão todo aquele dia e toda aquela noite. Aproximou-se de Saul a mulher e, vendo-o assaz perturbado, disse-lhe: Eis que a tua serva deu ouvidos à tua voz, e, arriscando a minha vida, atendi às palavras que me falaste. Agora, pois, ouve também tu as palavras da tua serva e permite que eu ponha um bocado de pão diante de ti; come, para que tenhas forças e te ponhas a caminho. Porém ele o recusou e disse: Não comerei. Mas os seus servos e a mulher o constrangeram; e atendeu. Levantou-se do chão e se assentou no leito. Tinha a mulher em casa um bezerro cevado; apressou-se e matou-o, e, tomando farinha, a amassou, e a cozeu em bolos asmos. E os trouxe diante de Saul e de seus servos, e comeram. Depois, se levantaram e se foram naquela mesma noite.

O que acontece a seguir não é uma visão muito bonita. Quando Saul chegou à casa da médium em En-Dor naquela noite ele estava com muito medo. Depois do que acaba de acontecer, literalmente ele tem um colapso. Seus joelhos se dobram ante as palavras de Samuel. Ele cai no chão como se tivesse sido fulminado por um raio paralizante. Em parte, é conseqüência dele não ter se alimentado. Além disto, ele está cansado da viagem de oito milhas ou mais desde o acampamento em Gilboa até En-dor. No entanto, a maior parte é por puro terror. Até posso imaginar que, a esta altura, a médium esteja começando a ficar preocupada e bastante ansiosa para que ele parta.

A mulher apela para Saul ouvi-la e aceitar seu conselho. Afinal, isto é o mínimo que ele pode fazer depois que ela arriscou a vida por sua causa. Ela implora ao rei que a deixe arranjar-lhe algo para comer, algo que lhe dê força suficiente para ir embora. Ele se recusa. Seu apetite se foi. Tanto a mulher, quanto os homens de Saul o persuadem a comer, não porque ele esteja com fome, mas porque deve ganhar forças para retornar ao acampamento. Como o pai do filho pródigo, a médium de En-dor mata e prepara um bezerro cevado (ver Lucas 15:22-24, 29), mas não é para nenhuma comemoração, ou porque o pródigo tenha se arrependido e voltado. É mais como um velório. Ela abate o bezerro e o prepara, junto com alguns pães. O rei come e depois parte noite a fora. Este é, até agora, o dia mais negro da vida de Saul; mas um dia ainda mais negro está por vir - o dia seguinte - quando as profecias de Samuel serão cumpridas.

Conclusão

Temos uma expressão que diz: “Tudo vai bem quando termina bem”. Se isto é verdade, tudo não vai bem, pelo menos no que se refere a Saul. Dale Ralph Davis intitula o capítulo de seu comentário deste texto das Escrituras “E Era Noite. Este título certamente foi propiciado pela dupla referência em nosso texto a acontecimentos que tiveram lugar na escuridão da noite (28:8, 25). Também parece ser um jogo com as palavras de João 13:30, onde é dito que Judas deixou nosso Senhor e os discípulos para consumar sua traição. Ali João nos diz veladamente: “e era noite”.

Sem dúvida, este é o dia mais negro da vida de Saul - até agora. O dia seguinte (e último) será ainda mais negro. Eis o rei de Israel, tão debilitado pela fome e pelo terror que mal consegue ficar em pé. Suas roupas são uma tentativa patética de disfarce, mas isto também falhou. Ele está na casa de uma médium, procurando consultá-la. E quando consegue falar com Samuel, o profeta só lhe diz uma antiga versão do “eu te disse”. E ainda diz mais: que Saul e seus filhos morrerão em batalha no dia seguinte. Ele não dá a Saul nenhum incentivo, nenhuma esperança, nenhuma chance para arrependimento. Simplesmente é tarde demais. Que trágico retrato de Saul vemos aqui.

Quarenta anos antes, Saul era um jovem governante promissor e um maravilhoso espécime físico que sobressaía dos ombros para cima a seus compatriotas israelitas (9:1-2). Ele iniciou sua carreira militar libertando o povo de Jabes-Gileade, com uma vitória estrondosa sobre os amonitas (capítulo 11). Como é que, então, as coisas ficaram tão ruins a ponto dele terminar como uma massa trêmula no chão de uma médium proibida? De acordo com Samuel, a resposta é muito simples - desobediência. A primeira grande falha de Saul (pelo que o texto nos diz) foi em Gilgal, quando ele não espera por Samuel para oferecer o sacrifício, como havia sido instruído (ver 10:7-8). Ao invés de esperar por Samuel para oferecer o sacrifício e lhe dizer o que devia fazer (por orientação divina), Saul foi em frente e ofereceu ele mesmo o sacrifício.

Sua segunda maior falha é quase insignificante, mas, como dizemos, é a gota d´água. Samuel lhe dá uma orientação muito clara da parte de Deus. Como rei de Israel, é dever de Saul aniquilar os amalequitas pela forma com que eles trataram Israel na época do êxodo. Todos os amalequitas devem ser mortos, incluindo o rei. Na verdade, Samuel deixa claro que o rei não deve ser poupado (15:1-3). Nem as crianças e o gado devem ser poupados também. A despeito desta ordem, Saul e povo poupam o rei Agague e melhor do gado. Samuel pressiona Saul para assumir a responsabilidade pessoal por seu pecado. Quando Saul procura minimizar seu pecado afirmando que estava poupando o melhor do gado amalequita para sacrificar ao Senhor, Samuel estabelece um princípío que ecoará pelo resto do Velho e do Novo Testamento:

Porém Samuel disse: Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar. Visto que rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei.” (I Sam. 15:22-23)

Saul parece pensar que os sacrifícios dos homens são as coisas que Deus mais valoriza, mesmo que isto signifique desobedecê-Lo. Samuel entende exatamente o contrário. Deus Se deleita na obediência do homem, mais do que em seus sacrifícios. A obediência a Deus é a melhor coisa. Portanto, a desobediência, é a pior. Será que Saul supõe que Deus verá com bons olhos a desobediência que tornou tal sacrifício possível? Não verá. Na verdade, Deus considera tal rebelião da mesma forma que considera o pecado de advinhação, e a insubordinação da mesma forma que a iniqüidade e a idolatria. Saul pensa que Deus verá com prazer aquilo que ele e os israelitas fizeram. Samuel lhe diz que Deus considera suas ações como se fossem a coisa mais vil que ele pudesse fazer.

Embora não tenha pensado nisto antes, agora estou inclinado a ver I Samuel 15:22-23 à luz de I Samuel 28:3. Aqui o Autor nos diz que Saul já tinha livrado Israel dos médiuns e espíritas. Agora, relembrando o capítulo 15, estou inclinado a entendê-lo como a seguir. Saul já havia removido os médiuns e espíritas de Israel. Provavelmente ele se sente muito bem a este respeito, uma vez que fez o que a lei de Moisés ordenava. No entanto, algum tempo depois, ele é ordenado a livrar a terra dos amalequitas. Ele o faz pela metade, e, como lembrado anteriormente, obediência parcial, na verdade, é desobediência. Quando Deus o repreende por meio de Samuel, Ele diz ao rei que a desobediência dele é tão ofensiva quanto a idolatria e a feitiçaria. Será que Saul se sente satisfeito por ter removido os médiuns e espíritas? Será que ele concorda que essas pessoas e suas práticas são abomináveis? Sua desobediência é vista no mesmo nível que tais práticas. A magnitude de seu pecado de obedecer parcialmente a Deus, com relação à remoção dos amalequitas, é a mesma do pecado de feitiçaria.

Acho que as palavras de censura de Samuel no capítulo 15 vão ainda mais além. Ele insinua que, se Saul não se arrepender de sua desobediência e de sua rebelião, elas o levarão à idolatria e à feitiçaria. Em outras palavras, Samuel está profetizando que se Saul não se arrepender de seu pecado relativo aos amalequitas, ele será culpado dos mesmos “pecados” que acaba de condenar ao remover os médiuns e espíritas.

Os acontecimentos do capítulo 28 sucedem com a estranha sensação de que Saul falha em levar a sério o seu próprio pecado e a repreensão de Samuel. Vejo uma importante similaridade entre os capítulos 13 e 15. Nos dois capítulos Saul peca por desobedecer deliberadamente a ordem de Deus. Em ambos os casos, quando Samuel o confronta, ele tenta colocar a culpa (ou pelo menos parte dela) em alguém mais. No capítulo 13, ele se desculpa dizendo que Samuel está atrasado (a culpa é dele), e que o povo está indo embora (a culpa é deles). No capítulo 15 novamente ele procura se eximir da responsabilidade. Primeiro ele afirma ter obedecido totalmente a Deus; Samuel encerra rapidamente o assunto. Então ele culpa o povo, como se eles tivessem retido o melhor do gado sozinhos. Por fim ele admite ter ficado com medo do povo, mas, ainda assim não assume a responsabilidade que é sua como rei. Em ambos os capítulos Saul vê suas ações como exigidas por uma situação emergencial. Ele declarou mentalmente um “estado de emergência”, onde sua própria forma de “lei marcial” põe de lado as leis de Deus. Finalmente, depois que todas as suas desculpas esfarrapadas são descartadas, seu “arrependimento” mal chega à forma de “lamento”.

Assim, vemos o porquê das coisas acontecerem como no capítulo 28. Saul começou bem, mas bem depressa se tornou descuidado em obedecer aos mandamentos de Deus. Mesmo quando repreendido por seus pecados, ele não se arrepende totalmente, e, assim, a repetição desses pecados é inevitável. Considerando a declaração profética de Samuel no capítulo 15, é difícil nos surpreendermos por encontrar Saul em busca de orientação divina por meio de uma médium. Se uma pessoa acha que os mandamentos de Deus são repulsivos, também acha fácil rejeitá-los. Será estranho que ela se volte para os médiuns e feiticeiras (ou qualquer outro meio de direção), sendo que tais pessoas a “encaminham” da forma como sempre quis andar (compare II Tm. 4:3-4)? Vemos que o fim da vida de Saul é trágico, mas isto não deveria ser nenhuma surpresa. É a conseqüência lógica do caminho que ele escolheu.

Enquanto lemos esta história humilhante de Saul na casa da médium de En-dor, gostaríamos de nos consolar pensando que é uma situação estranha, bizarra, um caso fortuito. Insisto em que não é um caso fortuito. De fato, creio que o que vemos aqui é a regra. Saul é uma demonstração viva da “regra” e não da “exceção”. Saul é uma espécie de tipo da nação de Israel. Vemos em sua vida (e morte) um microcosmo, uma versão em miniatura da história de Israel. Israel, como Saul, não foi escolhido por sua posição, mas a despeito de não ter uma nobre descendência (compare Dt. 7:7-8, I Sam. 9:21, 10:22. 15:17). Como a nação de Israel, Deus levantou Saul para “destruir completamente os cananeus (comparece Dt. 7:12; I Sam. 15:1-3). Saul, como a nação de Israel, devia confiar em Deus e guardar Seus mandamentos, e não imitar os gentios (compare Dt. 7:2-5, 9:16; I Sam. 15:20-23). E, como Israel, Deus destruiria Saul por sua flagrante e persistente rebelião (compare Dt. 7:4; I Cr. 10:13-14). Repare como estes dois assuntos estão entremeados no capítulo 12:

Se temerdes ao SENHOR, e o servirdes, e lhe atenderdes à voz, e não lhe fordes rebeldes ao mandado, e seguirdes o SENHOR, vosso Deus, tanto vós como o vosso rei que governa sobre vós, bem será. Se, porém, não derdes ouvidos à voz do SENHOR, mas, antes, fordes rebeldes ao seu mandado, a mão do SENHOR será contra vós outros, como o foi contra vossos pais. Ponde-vos também, agora, aqui e vede esta grande coisa que o SENHOR fará diante dos vossos olhos. Não é, agora, o tempo da sega do trigo? Clamarei, pois, ao SENHOR, e dará trovões e chuva; e sabereis e vereis que é grande a vossa maldade, que tendes praticado perante o SENHOR, pedindo para vós outros um rei. Então, invocou Samuel ao SENHOR, e o SENHOR deu trovões e chuva naquele dia; pelo que todo o povo temeu em grande maneira ao SENHOR e a Samuel. Todo o povo disse a Samuel: Roga pelos teus servos ao SENHOR, teu Deus, para que não venhamos a morrer; porque a todos os nossos pecados acrescentamos o mal de pedir para nós um rei. Então, disse Samuel ao povo: Não temais; tendes cometido todo este mal; no entanto, não vos desvieis de seguir o SENHOR, mas servi ao SENHOR de todo o vosso coração. Não vos desvieis; pois seguiríeis coisas vãs, que nada aproveitam e tampouco vos podem livrar, porque vaidade são. Pois o SENHOR, por causa do seu grande nome, não desamparará o seu povo, porque aprouve ao SENHOR fazer-vos o seu povo. Quanto a mim, longe de mim que eu peque contra o SENHOR, deixando de orar por vós; antes, vos ensinarei o caminho bom e direito. Tão-somente, pois, temei ao SENHOR e servi-o fielmente de todo o vosso coração; pois vede quão grandiosas coisas vos fez. Se, porém, perseverardes em fazer o mal, perecereis, tanto vós como o vosso rei.

Finalmente, a nação de Israel foi escolhida por Deus para ser reino de sacerdotes (Ex. 19:6), mas seu governo como filhos de Deus não durou muito, devido à sua desobediência (ver Ex. 4:23). Depois foram os reis de Israel que deviam ser os filhos de Deus, governando a nação (ver II Sam. 7:14; Sl. 2:4-9). Enfim, há apenas um rei bom e perfeito, o único Filho de Deus, no qual podemos ser salvos de nossos pecados, e no qual podemos reinar (João 1:12, Rm. 8:14-25).

Saul não é apenas um tipo da nação de Israel, ele é um trágico exemplo do que pode acontecer a cada um e a todos nós. Aqueles que desejam conhecer e fazer a vontade de Deus a conhecerão, pois Deus lhes revelará (ver João 7:17). Mas, se nos rebelarmos obstinadamente contra Deus, Ele não ouvirá nossas orações e cessará Sua manifestação e a revelação de Sua vontade a nós (Ele não “lançará pérolas aos porcos”; ver também o Sl. 18:8; João 2:23-25; Marcos 4:20-25). Finalmente, aqueles que resistem e desobedecem a vontade de Deus e Sua Palavra (que apenas pode ser distinguida) acabam procurando em outros lugares o ensino dito “cristão”, ainda que não seja (ver II Tm. 3:1-13; 4:14).

Creio que haja um “ponto sem retorno” na vida de uma pessoa. Há uma determinada época em que Deus cessa de convencer o pecador de seus pecados, e em vez disso endurece seu coração, devido à persistente rejeição ao evangelho. Há uma determinada época em que, humanamente falando, é tarde demais. Aqueles que tolamente supõem que podem continuar a viver em pecado e rejeitar o evangelho, achando que Deus sempre “estará lá para ajudá-los”, estão errados.

E nós, na qualidade de cooperadores com ele, também vos exortamos a que não recebais em vão a graça de Deus (porque ele diz: EU TE OUVI NO TEMPO DA OPORTUNIDADE E TE SOCORRI NO DIA DA SALVAçãO; eis, agora, O TEMPO SOBREMODO OPORTUNO, eis, agora, O DIA DA SALVAçãO)” (II Co. 6:1-2)

Também creio que haja um “ponto sem retorno” para um cristão que vive em constante e deliberada rebelião. Não é que esta pessoa vá perder sua salvação, mas ela perderá a “alegria” da salvação. Ela pode muito bem perder a segurança da salvação. Com toda a certeza perderá a sensação de intimidade e companheirismo que poderia e deveria ter com Cristo e Sua igreja. Talvez ele até perca sua vida, tal como Saul (ver I Co. 5:1-5: I Tm. 1:18-20; I Jo. 5:13-17).

Embora este não seja um pensamento reconfortante, somos mais parecidos com Saul do que gostaríamos de crer. Há muito de “Saul” em cada um de nós. É por isso que devemos habitar em Cristo e em Sua Palavra. É por isso que devemos orar para ter forças e não cair em tentação. É por isso que precisamos “não deixar de nos congregar” e admoestar os irmãos e irmãs crentes, e nos acautelar do pecado persistente e deliberado (Hb. 10:19-31).

Fica claro que nosso texto não é um conto de fadas. Saul não vive “um final feliz”, como as pessoas dos contos de fadas vivem. Nem qualquer um que falhe em confiar e obedecer a Deus. Sejamos humilhados e abatidos por Saul, reconheçamos nossas fraquezas, e dependamos exclusivamente da Sua força.

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