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Where the world comes to study the Bible

20. Um Amigo de Verdade (I Samuel 23:15-29)

Introdução

De todos os anos anteriores ao reinado de Davi sobre Israel, estes devem ter sido os mais negros de sua vida. Não parece ser exagero dizer que, a esta altura dos acontecimentos, o ânimo de Davi está muito abalado. A habilidade e coragem que lhe foram dadas por Deus lhe trazem grande sucesso, o que, por sua vez, lhe traz popularidade. A alegria e satisfação inicial de Saul logo se transformam em medo e suspeita e, finalmente, em tentativa de assassinato. Agora, Davi é o homem mais procurado de Israel, sem qualquer culpa além da de servir fielmente a Deus e ao seu rei. Davi foge para Aimeleque, o sumo sacerdote, o qual lhe dá do pão sagrado e a espada de Golias, e também consulta o Senhor para ele (21:1-9). Isto resulta no massacre de Aimeleque, dos sacerdotes e de suas famílias - tudo devido à conclusão errada de Saul de que eles haviam se unido a Davi numa conspiração (22:6-19).

Do quartel-general de Aimeleque em Nobe, Davi foge para Gate, procurando a proteção de Aquis, o rei filisteu. Os servos do rei Aquis vêem Davi como a mais perigosa das ameaças. Para salvar sua vida, ele se finge de louco, a fim de ser expulso de Gate (21:10-15). De lá, ele encontra um esconderijo na caverna de Adulão, onde sua família se junta a ele, junto com muitos outros homens que não estão em boa situação com Saul (22:1-2). Os seguidores de Davi agora são aproximadamente 400 homens (22:2), e ele os leva até Moabe, procurando um lugar de refúgio para seus pais (22:3-4), enquanto eles se escondem num lugar seguro das proximidades, mas ainda no território de Moabe.

É neste ponto que vou me aventurar a uma pequena especulação com base no texto. Devo admitir que fico perturbado por Davi buscar refúgio para seus pais em Moabe. Sei que Rute, a mulher da qual Davi é descendente, é moabita, e isto pode ter dado a ele um pequeno crédito junto ao rei daquele lugar. Mas, ainda assim, os moabitas são inimigos de Israel. Por que Davi deixa seus pais ali?

Uma possível explicação pode ser encontrada no Salmo 27, um salmo de Davi, onde lemos sobre sua confiança em Deus na época em que malfeitores estão atrás dele. Talvez este seja o período que estamos tratando em nosso texto. No verso 10 deste salmo, lemos:

“Porque, se meu pai e minha mãe me desampararem, o SENHOR me acolherá.”

Entendo estas palavras no sentido literal e, por isso, preciso fazer uma pergunta: “Quando seu pai e sua mãe o abandonaram?” Talvez tenha sido exatamente nessa época. Pergunto-me se os membros da família de Davi não foram os últimos a reconhecê-lo como rei, da mesma forma que os irmãos e irmãs de nosso Senhor também não O reconheceram como o Rei dos judeus (ver João 7:2-5). Sabemos que seu irmão mais velho, Eliabe, o repreende por sua atitude na frente de batalha (I Sam. 17:28). Quando sua família vai à caverna de Adulão (22:1), provavelmente, é porque agora entendem o perigo que correm como membros de sua família. Se Saul não poupa nem a família dos sacerdotes, que ele acha que conspiram com Davi, por que pouparia a família de Davi?

Creio que a família de Davi seja literalmente forçada a ir à caverna de Adulão e que isto não seja realmente o que querem. Talvez estejam ressentidos e achem que Davi seja o responsável por seu sofrimento. Quando fica claro que estar com Davi significa se esconder em lugares remotos e inacessíveis, seus pais podem tê-lo rejeitado e exigido que ele encontrasse um lugar de refúgio que não os obrigasse a ficar com ele. Se for isso mesmo, a rejeição de seus pais seria apenas um golpe a mais no seu estado de espírito. Uma coisa é ser rejeitado por seus inimigos, como os filisteus, ou até mesmo por Saul. Outra é ser rejeitado por seus irmãos israelitas, ou até mesmo pelos mais próximos, os judeus. Mas, ser rejeitado por seus pais seria um golpe fatal.

Além do mais, a chegada de Jônatas ao esconderijo de Davi cai bem no meio do capítulo 23, um fato importante em virtude daquilo que está no começo e no final do capítulo. A primeira parte é a narrativa do salvamento do povo de Queila por Davi. Ele deixa a segurança do denso bosque de Herete para descer à Queila, em campo aberto. Ele decide sair do esconderijo para enfrentar os filisteus e, talvez, até mesmo o próprio Saul. Em resposta ao abnegado salvamento daquela cidade, Davi descobre que eles o teriam entregado a Saul, caso ele tivesse vindo e sitiado a cidade. Nos versos finais do capítulo descobrimos que os zifeus, sem nenhuma ameaça por parte de Saul, vão até ele e se oferecem para trair Davi e ajudar na sua captura.

A esta altura dos acontecimentos, as coisas devem parecer terrivelmente negras e agourentas para Davi. Eis um homem com a cabeça a prêmio e que não pode confiar em ninguém. Em Nobe, Davi tem lá suas dúvidas sobre Doegue, o edomita; agora ele duvida até dos seus parentes. É possível também que seu pai e sua mãe tenham se distanciado dele. Parece que não há ninguém para quem se voltar. Há Jônatas, é claro, mas ele está um tanto distante e parece difícil que possa estar com Davi neste momento...

Quando Davi abraça o amigo querido, naquele esconderijo desolado, que visão Jônatas deve ter sido para aqueles olhos tristes. Grandes homens de Deus como Davi, Paulo e muitos outros, incluindo nosso Senhor, experimentaram períodos de desânimo e até mesmo de depressão. Parece que este é um desses momentos para Davi. Em Sua graça, Deus lhe manda uma visita, Jônatas, que muito o anima. Em meio à traição do povo de Queila e dos zifeus, existe a devoção e o amor leal de seu amigo mais chegado, Jônatas. Ele não apenas tem muito ânimo a trazer para Davi, ele também tem muito a nos ensinar sobre isso. Vamos examinar nosso texto para aprender os aspectos mais importantes de ministrar aos outros.

Davi Corre perigo
(23:15)

“Vendo, pois, Davi que Saul saíra a tirar-lhe a vida, deteve-se no deserto de Zife, em Horesa.”

Creio que o verso 15 pretende dizer bem mais do que o simples fato de Davi ter conhecimento de que Saul está atrás dele. O que há de novo nisso? Apenas que Saul está perto. Mas a expressão “ficou ciente que” literalmente significa “viu”. Davi viu que Saul saíra para lhe tirar a vida. A palavra para “viu” é tão parecida com a palavra para medo que alguns até sugerem que o autor queria dizer que Davi estava com medo. Prefiro não mudar o texto sem alguma base, mas o sentido é quase esse. Todo o peso da perseguição de Saul e suas implicações parecem recair sobre Davi. Talvez, abatido de corpo e alma, Davi se angustie ao ouvir que, uma vez mais Saul está por perto, totalmente decidido a matá-lo. Muitas evidências mostram que, se tiver chance, Saul o matará. Lembro-me de vários provérbios que podem nos dar uma idéia daquilo que está implícito no texto:

“O semblante alegre do rei significa vida, e a sua benevolência é como a nuvem que traz chuva serôdia.” (16:15)

“Como o bramido do leão, assim é a indignação do rei; mas seu favor é como o orvalho sobre a erva.” (19:12)

“Como o bramido do leão, é o terror do rei; o que lhe provoca a ira peca contra a sua própria vida.” (20:2)

“Como leão que ruge e urso que ataca, assim é o perverso que domina sobre um povo pobre.” (28:15)

Palavras Bem-vindas de Um Visitante Bem-vindo
(23:16-18)

“Então, se levantou Jônatas, filho de Saul, e foi para Davi, a Horesa, e lhe fortaleceu a confiança em Deus, e lhe disse: Não temas, porque a mão de Saul, meu pai, não te achará; porém tu reinarás sobre Israel, e eu serei contigo o segundo, o que também Saul, meu pai, bem sabe. E ambos fizeram aliança perante o SENHOR. Davi ficou em Horesa, e Jônatas voltou para sua casa.”

Enquanto leio estas palavras, lembro-me novamente de alguns provérbios:

“Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo.” (25:11)

“Como água fria para o sedento, tais são as boas-novas vindas de um país remoto.” (25:25)

Saul pode estar à procura de Davi, mas quem o encontra é Jônatas. Ele não poderia ter aparecido em ocasião mais oportuna, nem suas palavras poderiam ter sido mais bem escolhidas. O propósito de sua visita é fortalecer Davi em Deus. Seu encorajamento está resumido no verso 17, com os seguintes elementos:

(1) Jônatas diz para Davi não temer. Com todos os recursos de Saul, parece literalmente impossível que Davi escape de suas garras. Saul ordenou publicamente que Davi fosse detido e levado a ele, ou, pelo menos, que lhe fosse revelado o lugar de seu esconderijo. Saul tem poder e determinação para retaliar qualquer um que pareça apoiar Davi de alguma maneira. O número de mortos em Nobe é testemunho disto. Saul também recompensará qualquer um que lhe seja leal e o ajude a dar cabo de Davi. Os temores de Davi não são infundados; no entanto, Jônatas lhe diz para não temer.

(2) Jônatas assegura a Davi que, apesar de todos os esforços de Saul, ele não conseguirá encontrá-lo.

(3) A certeza de Jônatas parece ter base em sua confiança de que Deus designou a Davi como o futuro rei de Israel. Se Davi é o escolhido de Deus como o próximo rei de Israel, então, ninguém, incluindo Saul, será capaz de matá-lo e frustrar os intentos e as promessas de Deus. A segurança de Jônatas tem suas raízes na soberania do Deus a quem ele e Davi servem, e a quem Saul procura resistir.

(4) Jônatas procura encorajar Davi, garantindo-lhe sua submissão e lealdade a ele como o futuro rei de Israel. Jônatas sabe que Deus, de algum modo, removerá seu pai do trono e investirá Davi como o próximo rei de Israel. Jônatas não só aceita alegremente este fato, como também se propõe a ser o servo mais leal de Davi e seu maior defensor. Davi não só escapará das mãos de Saul e subirá ao trono, ele encontrará Jônatas assentado ao seu lado para lhe ajudar.

(5) Finalmente, a lealdade de Jônatas não é nenhum segredo. Saul, o pai de Jônatas, está totalmente ciente da lealdade de seu filho a Davi, embora não goste disso. Jônatas não mantém seu relacionamento com Davi em segredo. Certamente isto poderia encorajar outras pessoas a apoiarem Davi.

Jônatas é o Barnabé do Velho Testamento. Que grandes encorajadores são estes dois homens. No livro de Atos, Barnabé começa como um líder proeminente e Saulo (o apóstolo Paulo) nada mais é do que alguém a quem Barnabé toma sob seus cuidados. À medida que o tempo passa, fica claro que Deus escolheu Paulo para assumir o papel principal. Quando isto se torna evidente, Barnabé alegremente aceita este fato e se torna o defensor mais leal de Paulo.

O mesmo espírito é visto em Jônatas. Ele é o sucessor do trono, o descendente de Saul que todos esperam que governe em lugar de seu pai. Devido aos pecados de Saul, Deus o rejeita e designa Davi como o próximo rei. Jônatas percebe isto e, como Barnabé na época do Novo Testamento, se torna o defensor e amigo mais leal de Davi. Quando Davi está em perigo e seu ânimo parece arrefecer, Jônatas atravessa o deserto à sua procura para encorajá-lo. E é óbvio que ele consegue.

O resultado é outra aliança entre eles. De fato, é mais provável que esta seja repetição da aliança feita anteriormente, talvez com alguns detalhes a mais. A primeira aliança está em 18:1-4, onde os termos não são fornecidos, mas o significado é transmitido simbolicamente quando Jônatas tira sua armadura e a dá a Davi. No capítulo 20, Davi pede a ajuda de Jônatas com base na aliança que fizeram (verso 8), e depois Jônatas apela a Davi que poupe a sua vida e a de seus descendentes (verso 14 a 17). Novamente, nos versos 41 e 42 do capítulo 20, eles renovam sua aliança, como algo que permanecerá ao longo de sua descendência. Parece haver pouca dúvida quanto à natureza desta aliança no capítulo 23.

Antes de continuarmos com o restante do capítulo, vamos refletir sobre a natureza do ministério de Jônatas a Davi e como isto ilustra a natureza e a prática do encorajamento em todas as épocas, incluindo a nossa.

Primeiro, o encorajamento chega no momento certo e tem as palavras certas a dizer. Muitos teriam sido como um dos amigos de Jó neste momento da vida de Davi. Poderiam ter dito: “O que é que há com você, Davi? Não sabe que é pecado ficar com depressão? Leia a Bíblia e ore.” O livro de Provérbios tem muito a nos dizer sobre esta questão.

Segundo, o encorajamento afasta o medo e incentiva a coragem. Este é um elemento muito importante de minha definição de encorajamento. Ao longo dos anos, tenho ouvido uma porção de gente falar sobre o dom do encorajamento, ou o dom da exortação, como se ele lhes desse algum direito de intromissão na vida das outras pessoas por aconselhá-las. Receio que, mais comum ainda, seja a presunção de que o encorajamento está intimamente ligado à bajulação. Uma porção de “conselheiros” que tenho visto fazem disto uma prática para elogiar as pessoas por trabalhos bem feitos. Não sou contrário a dar uma palavra de elogio àqueles que fazem um bom trabalho, embora devamos ter cuidado para sermos honestos e não bajuladores. No fundo, encorajamento é ajudar a infundir coragem naqueles que estão amedrontados.

Considere esta passagem na epístola de Paulo aos Tessalonicenses:

“Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos.” (I Ts. 5:14)

Em nosso texto, Jônatas encoraja (literalmente, fortalece a mão de) Davi, dizendo-lhe para não temer. Encorajamento é a capacidade de sentir o medo ou o temor de outras pessoas e ministrar infundindo-lhes coragem.

Terceiro, o encorajamento dá coragem para agir. Já disse que o encorajamento afasta o medo e infunde a coragem. Mas o encorajamento que Jônatas ilustra é bem mais do que isto. O verdadeiro encorajamento não cuida das pessoas só para que elas se sintam melhor, cuida para que elas tenham coragem de fazer coisas difíceis, coisas que estão com receio de fazer. O encorajamento “fortalece a mão” daquele que é encorajado. É a “mão” que, então, trabalha, fazendo o serviço que foi dado por Deus.

Quarto, o encorajamento bíblico fortalece os desanimados fazendo seus olhos se voltarem para Deus. Jônatas encoraja Davi no Senhor. Ao que tudo indica Davi não viveria nem mais uma semana, quanto mais tempo suficiente para se tornar o rei de Israel. Mas Deus o ungiu pelas mãos de Samuel. Está nos planos e nos propósitos de Deus que Davi reine sobre Israel e, se é assim, os planos de Deus não podem ser frustrados. O único fundamento para a coragem de Davi é sua fé em Deus, em Sua Palavra, em Suas promessas, em Seu poder e em Sua fidelidade para completar aquilo que começou. Jônatas faz os olhos de Davi se voltarem para Deus, de onde vem a coragem. Em toda a Bíblia a mensagem é sempre a mesma: a coragem vem de Deus (Is. 35:4; 54:4; Jr. 30:10; Zc. 9:9; Jo. 12:15). A coragem vem pelo Espírito Santo (Mq. 3:7-8; Os. 2:3-5). A coragem vem de nosso Senhor (ver Mt. 9:2, 22; 14:27; Jo. 16:33; At. 23:11).

Quinto, o encorajamento é bem mais do que palavras; o encorajamento vem de pessoas que dão exemplos de coragem e não apenas falam sobre isso. É difícil encorajar os outros quando os nossos próprios joelhos estão tremendo. A coragem é contagiosa, assim como o medo. Saul é um homem cuja vida é caracterizada pelo medo ao invés de fé. Seria de se admirar que o exército de Saul se evapore quando “a coisa engrossa”? Claro que não! O medo de Saul toma conta de seu exército, por isso, seus soldados fogem (ver I Samuel 13:5-7; 17:11, 24, 32). Os covardes não encorajam os outros. São os corajosos que o fazem. Se o escritor de I Samuel quer nos dizer alguma coisa, é que Jônatas, diferentemente de seu pai, é um homem corajoso (ver I Sam. 13:3; 14:1-14). Ele deve ter tido muita coragem para procurar Davi na floresta, enquanto seu próprio pai está nas proximidades tentando matá-lo.

Quando vejo “encorajadores” no Novo Testamento, vejo homens de coragem. Barnabé é um dos grandes encorajadores do livro de Atos. Ele nos é apresentado no capítulo 4, onde é dito por Lucas que este homem vende um campo e coloca o rendimento aos pés dos apóstolos (4:36-37). Digo que Barnabé não é somente um homem generoso, mas um homem corajoso. Por que não dou mais aos outros? Se for honesto comigo mesmo, não dou mais porque tenho medo, medo de dar e não ter o suficiente para mim e para minha família. Será que não foi por isso que Ananias e Safira mentiram sobre o valor de sua oferta, retendo uma parte do dinheiro, talvez para os “momentos difíceis” (ver Atos 5)?

Com certeza, ir ao auxílio de Paulo, em Atos 9, foi um ato de coragem de Barnabé. Eis aqui um homem, Saulo, que prende cristãos e até mesmo os mata. Agora ele chega a Jerusalém, afirmando ter sido convertido ao cristianismo. Você pode culpar os cristãos por duvidarem de sua história e evitar o contato com ele? No entanto, Barnabé é um homem de fé e coragem. Ele crê que Deus pode salvar um homem como Saulo (a maioria dos crentes concordaria com isto), e vai mais além quando crê que Deus salvou Saulo (aqui é onde a maioria de nós pularia fora). Barnabé arrisca sua vida (agindo com coragem) e, desta forma, ele não só encoraja Saulo (Paulo), mas incentiva a igreja a ter coragem e a abraçar seu antigo inimigo como uma nova criatura em Cristo. É preciso coragem para encorajar.

Há muito tempo considero Barnabé um grande encorajador, mas agora sou forçado a reconhecer que grande encorajador Paulo veio a se tornar (em parte, graças a Barnabé). O encorajamento de Paulo se desenvolve a partir de sua própria coragem. Em Filipenses 1:14, Paulo escreve que muitos “ousam falar com mais desassombro a palavra de Deus” por causa de sua própria perseverança nos sofrimentos por amor do evangelho (ver 1:12-13). Repare como, em meio a uma incrível tormenta, a coragem de Paulo tem um impacto positivo até mesmo sobre aqueles que não são salvos:

“Havendo todos estado muito tempo sem comer, Paulo, pondo-se em pé no meio deles, disse: Senhores, na verdade, era preciso terem-me atendido e não partir de Creta, para evitar este dano e perda. Mas, já agora, vos aconselho bom ânimo, porque nenhuma vida se perderá de entre vós, mas somente o navio. Porque, esta mesma noite, um anjo de Deus, de quem eu sou e a quem sirvo, esteve comigo, dizendo: Paulo, não temas! É preciso que compareças perante César, e eis que Deus, por sua graça, te deu todos quantos navegam contigo. Portanto, senhores, tende bom ânimo! Pois eu confio em Deus que sucederá do modo por que me foi dito. Porém é necessário que vamos dar a uma ilha... Enquanto amanhecia, Paulo rogava a todos que se alimentassem, dizendo: Hoje, é o décimo quarto dia em que, esperando, estais sem comer, nada tendo provado. Eu vos rogo que comais alguma coisa; porque disto depende a vossa segurança; pois nenhum de vós perderá nem mesmo um fio de cabelo. Tendo dito isto, tomando um pão, deu graças a Deus na presença de todos e, depois de o partir, começou a comer. Todos cobraram ânimo e se puseram também a comer. Estávamos no navio duzentas e setenta e seis pessoas ao todo.” (Atos 27:21-26; 33-37)

Tudo leva a uma só coisa: aqueles que encorajam, antes de mais nada, o fazem por serem pessoas de coragem, e depois, para infundir coragem nos outros, apontando para Deus, de onde vem a santa coragem. Jônatas é um desses homens, tal como nosso Senhor, Barnabé e Paulo. Eles são modelos que devemos imitar.

Escapando Por Um Triz
(23:19-29)

“Então, subiram os zifeus a Saul, a Gibeá, dizendo: Não se escondeu Davi entre nós, nos lugares seguros de Horesa, no outeiro de Haquila, que está ao sul de Jesimom? Agora, pois, ó rei, desce conforme te impõe o coração; toca-nos a nós entregarmo-lo nas mãos do rei. Disse Saul: Benditos sejais vós do SENHOR, porque vos compadecestes de mim. Ide, pois, informai-vos ainda melhor, sabei e notai o lugar que freqüenta e quem o tenha visto ali; porque me foi dito que é astutíssimo. Pelo que atentai bem e informai-vos acerca de todos os esconderijos em que ele se oculta; então, voltai a ter comigo com seguras informações, e irei convosco; se ele estiver na terra, buscá-lo-ei entre todos os milhares de Judá. Então, se levantaram eles e se foram a Zife, adiante de Saul; Davi, porém, e os seus homens estavam no deserto de Maom, na planície, ao sul de Jesimom. Saul e os seus homens se foram ao encalço dele, e isto foi dito a Davi; pelo que desceu para a penha que está no deserto de Maom. Ouvindo-o Saul, perseguiu a Davi no deserto de Maom. Saul ia de um lado do monte, e Davi e os seus homens, da outra; apressou-se Davi em fugir para escapar de Saul; porém este e os seus homens cercaram Davi e os seus homens para os prender. Então, veio um mensageiro a Saul, dizendo: Apressa-te e vem, porque os filisteus invadiram a terra. Pelo que Saul desistiu de perseguir a Davi e se foi contra os filisteus. Por esta razão, aquele lugar se chamou Pedra de Escape. Subiu Davi daquele lugar e ficou nos lugares seguros de En-Gedi.”

Jônatas vai prá casa enquanto Davi permanece nos lugares seguros de Horesa (versos 18-19). A situação de Davi não mudou, mas temos boas razões para supor que sua visão das coisas tenha mudado significativamente. As pessoas desse lugar eram conhecidas como zifeus, o povo de Zife (verso 19 e seguintes). Como Davi, eles são da tribo de Judá. Apesar disto, eles vão até Saul, em Gibeá, fornecendo-lhe a localização de Davi, a fim de que ele seja capturado. Eles parecem ansiosos para obter o favor de Saul e, também, com toda a probabilidade, em evitar sua ira. Assim, eles estão dispostos a lhe entregar Davi.

A linguagem de Saul no verso 21 é trágica. Soa muito espiritual; no entanto, suas santas palavras são apenas um véu para encobrir a maldade de suas intenções. “Benditos sejais vós do SENHOR...” O que poderia soar mais espiritual do que isto? Este uso do nome de Deus é “vão”, vulgar e profano. É aquilo que Deus proíbe - usar Seu nome em vão, de maneira vulgar e desprezível (Deuteronômio 5:11). Saul não ousa abençoar em nome do Senhor aqueles que se rebelam contra ele, mas abençoa aqueles que o ajudam em sua rebelião contra Deus. Não é espiritual abençoar aqueles que amaldiçoariam o ungido de Deus. Não é espiritual trair alguém de sua própria parentela. Como é irônico que os zifeus se compadecessem de Saul, enquanto Jônatas, seu próprio filho, se compadece de Davi.

Saul está começando a ficar esperto. Ele não convoca de imediato suas tropas para outra tentativa de capturar Davi. Afinal, parece que ele acabou de retornar de sua última tentativa frustrada. Desta vez ele pretende ser mais cuidadoso, pois não seria bom voltar de mãos vazias. Ele diz aos zifeus para observarem cuidadosamente os movimentos de Davi, tomando nota de seus esconderijos e suas rotas de fuga, para, então, o avisarem quando souberem exatamente onde Davi está. Assim, Saul tem certeza de que capturará seu inimigo.

O verso 22 é digno de nota. Saul conta aos zifeus que dizem que Davi é astutíssimo. Por que ele não diz que ele mesmo pensa assim? Talvez seja porque grande parte de suas informações sobre Davi venham de segunda mão, daqueles em quem ele não deveria realmente confiar, homens como Doegue, o edomita. Veremos mais sobre isto quanto chegarmos ao verso 9 do capítulo 24. Informação de segunda mão, na verdade, é fofoca, e não deveria ser tomada como se fosse uma verdade suprema.

Os zifeus retornam à sua terra, prontos e dispostos a cumprir as ordens de Saul. Nesse meio tempo, Davi se move umas poucas milhas em direção ao território descampado (ou deserto) de Maom (verso 25). Saul e seus homens aparecem uma vez mais em árdua perseguição. Que lugar para uma caçada de helicóptero! Davi se apressa para escapar de Saul e seus homens, enquanto ladeia a montanha. Atrás, em seu encalço, estão Saul e seus homens. Eles continuam ganhando terreno, ou talvez venham na direção contrária, para encontrar Davi quase de frente. Pode até ser que Saul tenha tropas no encalço de Davi vindas de ambas as direções. De uma forma ou de outra, Davi e seus homens estão sendo cercados. É apenas uma questão de tempo antes que caiam nas garras de Saul. Podemos ver seus homens se aproximando cada vez mais. Também podemos ver que todas as rotas de fuga estão bloqueadas. Não há saída. Eles estão no fim da linha.

De repente, quando os homens de Saul estão quase sobre eles, ouve-se um grito. Um mensageiro chama por Saul, informando-o que Israel está sob ataque filisteu. Não deve ser em Queila, pois parece que Saul não se importa com os problemas dessa cidade com os filisteus. Seria perto de Gibeá, a cidade de Saul? A situação é vista como sendo tão séria que Saul desiste de sua perseguição, a apenas alguns instantes do sucesso. Ele ordena a seus homens que dêem meia volta e desçam a montanha, reunindo-se para marchar contra o exército filisteu.

O suspense é tão intenso, tão denso, que alguém poderia cortá-lo com uma faca. Davi e seus homens parecem perdidos, mas são poupados por Deus. A ironia é que, embora Saul seja inimigo de Davi, os filisteus, inconscientemente, viram seus aliados. Seu ataque é um meio de Deus para livrar Seu rei ungido, Davi, das garras do rei Saul.

Conclusão

Quem acreditaria nisso? Quem imaginaria que Saul pudesse chegar tão perto de Davi, e então fizesse meia volta no último minuto? Quem teria acreditado que um ataque hostil contra Israel pudesse ser um meio de Deus para preservar a vida do futuro rei? Aqueles que conhecem a Deus crêem nisso. Na verdade, quase deveríamos esperar por isso. Os recursos de Deus são tão infinitos, que Ele não é forçado a livrar Seus escolhidos sempre da mesma maneira enfadonha, repetindo infinitamente o mesmo milagre. Muitas vezes Deus salva quando toda esperança humana já se foi, e assim, de formas que jamais esperaríamos ou prediríamos. Ele faz assim porque é Deus, porque Seus recursos são ilimitados e porque Sua maneira de fazer as coisas está muito além das nossas mais loucas fantasias.

Deus não apenas livra Davi da forma mais extraordinária, Ele também o encoraja de uma forma única. Deus o encoraja com uma visita inesperada, num lugar ermo e difícil de ser encontrado. Este lugar não está no caminho de Jônatas. É um lugar onde Davi pretende não ser encontrado; no entanto, ele é. E aquele a quem Deus escolhe para encorajar Davi, arduamente perseguido pelo rei Saul, é nenhum outro, senão o filho do rei, Jônatas.

Devemos concluir esta lição com as palavras das Escrituras que expressam tudo isto muito melhor do que poderíamos:

“Buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao SENHOR, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar. Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos. Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra, e a fecundem, e a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei.” (Isaías 55:6-11)

“Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! QUEM, POIS, CONHECEU A MENTE DO SENHOR? OU QUEM FOI O SEU CONSELHEIRO? OU QUEM PRIMEIRO DEU A ELE PARA QUE LHE VENHA A SER RESTITUíDO? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Romanos 11:33-36)

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