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15. O Resgate de Ló (Gênesis 14:1-24)

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Introdução

Sofro de uma incurável fascinação por títulos de sermões. Lamento já ter escrito a mensagem de Gênesis capítulo 13, pois agora tenho um novo título para ela. Deveria ter sido “Abrão tinha muito a perder”1. O capítulo 14 então poderia ser “Abrão tinha muito a ganhar”. E quem sabe o capítulo 15 seria “Abrão tinha muito a aprender”. Mas chega de títulos.

Em nossa rádio cristã local há um programa que tenta dar “uma outra visão das notícias”. Aprecio esse esforço, pois os cristãos, com certeza, deveriam ver muito mais que os analistas seculares veem nas notícias da nossa época. Por exemplo, grandes catástrofes, tais como a erupção do monte Santa Helena e os terremotos da Califórnia, podem ser sinais do fim dos tempos (cf. Mateus 24:7). O rápido crescimento da criminalidade e da ilegalidade pode ser visto como consequência das condições morais dos últimos dias (cf. 2 Timóteo 3:1-7). Estouros e ameaças de guerra, o alinhamento das nações, tudo é muito importante para o alerta cristão (cf. Ezequiel 38, Daniel 12, Mateus 24:6-8).

Existe, é claro, o lado secular das notícias. Ele trata, principalmente, dos fatos e números, dos detalhes e da descrição daquilo que acontece. As explicações para esses eventos quase sempre são de natureza humanista e econômica.

Para os cristãos, no entanto, deve haver uma outra dimensão — o lado espiritual dos fatos. Se Deus é soberano na história, como a Bíblia afirma que Ele é (cf. Salmo 2, Provérbios 21:1, Daniel 2:21, Atos 4:23-31), então Sua mão deve ser vista como um guia para a realização dos Seus propósitos.

Esse é o caso em Gênesis 14. Ali, pela primeira vez nas Escrituras, a história patriarcal e a história secular se cruzam2. Aparentemente, o incidente é apenas um confronto internacional para garantir a supremacia econômica pelo controle de uma rota comercial importantíssima. O “outro lado da notícia” é que este acontecimento serve como comentário de Gênesis 13, assim como uma oportunidade de ensino tanto para Ló quanto para Abrão. Enquanto Ló parece ter aprendido muito pouco, Abrão está amadurecendo na fé.

O Saque de Sodoma e a Perda de Ló (14:1-12)

Os primeiros onze versículos do capítulo 14 podem confundir o leitor do século 20, pois são estranhamente seculares. Pior ainda, parecem longínquos, sem sentido e enfadonhos. Eles contêm o relato de um confronto entre duas coalizões de reinos opostos.

O primeiro bloco de nações era aquele formado pelos quatro reis mesopotâmios do oriente (14:1). Quedorlaomer, rei de Elão (atual Irã), parece ter sido o líder3. Sinar era a região da antiga Babilônia (cf. Gênesis 10:10). A segunda coligação era composta por cinco reis, incluindo os reis de Sodoma e Gomorra (14:2).

Depois de 12 anos como vassalos dos reis orientais, os cinco reis do sul tentaram se livrar de suas algemas. Os reis orientais não podiam permitir que tal rebelião ficasse impune. A revolta não tinha passado despercebida dos outros povos que se encontravam na mesma situação (cf. 14:5-7). O desastre econômico resultante de se ignorar a insurreição seria devastador demais para ser considerado. Os cinco reis do sul controlavam o território onde ficava “a estrada real”. Esta era a ligação terrestre por onde o comércio entre o Egito e os quatro reis orientais precisava passar. Quem tivesse o controle desse pedaço de terra teria o monopólio do comércio internacional.

A rota tomada pelos reis mesopotâmios tem sido objeto de muita crítica.

Ela revela um amplo movimento para o leste e sul, depois para sudoeste; e então do nordeste para o lado ocidental do Mar Morto; finalmente as tropas se juntam, deixando claro seu objetivo final, as cidades do Vale de Sidim4.

Duas explicações parecem satisfazer as objeções que são levantadas. Creio que as duas juntas mostram a sabedoria da estratégia de Quedorlaomer. Primeiro, a rota da conquista parece ser “a estrada real”, a rota comercial que os reis mesopotâmios procuravam garantir5. A rebelião dos cinco reis do sul pode muito bem ter suscitado atos semelhantes de outros reinos. Os quatro reis mesopotâmios, portanto, buscavam restaurar sua soberania sobre toda a extensão da rota comercial.

Segundo, os quatro reis procuraram lidar com os reinos rebeldes um de cada vez. Ao assegurar sua posição primeiramente com os outros reinos, o perigo de um ataque pela retaguarda foi removido. À medida que a narrativa avança, o laço sobre os rebeldes parece se estreitar6. Talvez se esperasse que, conforme as vitórias fossem se acumulando para os quatro reis, a rendição dos cinco reis do sul fosse preferível à derrota.

Contudo, os reis de Sodoma e Gomorra, com seus aliados, devem ter decidido que era mais nobre sofrer uma derrota a desistir e se render. As tropas se entrincheiraram no campo de batalha no vale de Sidim (14:8). Os reinos rebeldes devem ter oferecido pouca resistência à invasão. Ao fugir de seus inimigos, algumas pessoas caíram em poços de betume do vale, outras escaparam para os montes (14:10).

Sodoma e Gomorra foram saqueadas. Tudo e todos que podiam ser levados foram carregados. Este é o lado secular da notícia. No entanto, por que há tanta ênfase na descrição e nos detalhes deste episódio?

A resposta só pode ser encontrada no “outro lado da notícia”, a dimensão espiritual. Além dos fatos e números, estratégias e especulações do raciocínio humano, havia um propósito espiritual. Este incidente internacional não deve ser entendido apenas em termos de luta pelo poder e domínio econômico. Ele foi parte do programa do Deus soberano para a vida de duas pessoas do Seu povo, Ló e Abrão.

Uma observação, aparentemente casual e incidental a olhos não esclarecidos, é fundamental:

Tomaram também a Ló, filho do irmão de Abrão, que habitava em Sodoma, e os bens dele, e partiram. (Gênesis 14:12)

Que comentário sobre a decisão de Ló no capítulo 13! Ló preferiu agir com base em seus interesses econômicos, desprezando, desta forma, a aliança de Deus com Abrão (12:1-3). O que ele deveria ter aprendido é que “aquele que vive pela espada, pela espada morrerá”. Interesse econômico também era a motivação dos reis das duas coligações, a do sul e a dos mesopotâmios.

Tudo o que Ló parecia ter ganho ao tirar vantagem de Abrão foi perdido num instante, e aparentemente por acaso. Ele foi capturado em meio a um incidente internacional. Será possível imaginar os pensamentos que se passavam pela sua cabeça, quando ele e sua família, e todos os seus bens, estavam sendo levados para um lugar distante? Ele, que tinha sido tão esperto, agora era escravo, e tudo por causa da sua escolha interesseira.

Você reparou também que é dito que ele estava vivendo em Sodoma (versículo 12)? Quando o deixamos no capítulo 13, ele estava morando no vale do Jordão, dirigindo-se para o leste (13:11). Depois ele foi mudando suas tendas até Sodoma (13:12). E, finalmente, ele era um deles, pelo menos aos olhos dos vencedores.

Ló é Salvo pelo Tio Abrão (14:13-16)

Alguém que escapou de Quedorlaomer encontrou Abrão e lhe contou o destino de Ló.

Porém veio um, que escapara, e o contou a Abrão, o hebreu. Ora, este habitava junto dos carvalhais de Manre, o amorreu, irmão de Escol e de Aner; os quais eram aliados de Abrão. (Gênesis 14:13)

Digna de nota é a designação de Abrão como “o hebreu”7. Parece que ele estava começando a ser tornar conhecido dos moradores daquela região. Ele habitava junto aos carvalhais de Manre. Manre e seus dois irmãos, Escol e Aner, tinham se aliado a Abrão (versículo 13).

Juntando seus homens e os de seus aliados8, Abrão saiu rapidamente em perseguição aos captores de Ló.

Ouvindo Abrão que seu sobrinho estava preso, fez sair trezentos e dezoito homens dos mais capazes, nascidos em sua casa, e os perseguiu até Dã. (Gênesis 14:14)

Não se pode dizer com certeza se foi pela fé que Abrão se meteu nessa aventura tão arriscada, aparentemente, em grande desvantagem numérica. No mínimo, precisamos ser cautelosos em taxar sua atitude neste texto como decorrente da fé. Em lugar algum a motivação de Abrão é claramente afirmada.

Havia boas razões para ignorar completamente a informação do fugitivo. Como Sarai deve ter sugerido, as chances não estavam a favor de Abrão. Essa campanha podia ser suicida. Além do mais, Ló conseguiu exatamente o que queria. Ele escolheu viver em Sodoma — que aprendesse a lição em Elão ou na Babilônia. Deliberadamente, ele preferiu tirar vantagem de seu tio; que pagasse o preço, então.

Se a atitude de Abrão foi uma questão de fé ou de honra, não posso dizer com certeza (Pessoalmente acho que foi pela honra da família. Eu o vejo como uma espécie de Ben Cartwright, do seriado de TV “Bonanza”). Agora vemos que a mansidão demonstrada por ele ao lidar com Ló não foi fraqueza. Seja como for, ele foi atrás do sobrinho. Devido à promessa feita a Abrão (12:1-3), Deus o protegeu e o fez ter êxito.

E, repartidos contra eles de noite, ele e os seus homens, feriu-os e os perseguiu até Hobá, que fica à esquerda de Damasco. Trouxe de novo todos os bens, e também a Ló, seu sobrinho, os bens dele, e ainda as mulheres e o povo. (Gênesis 14:15-16)

Abrão, ao que parece, tinha uma poderosa mente militar. Ele empregou uma marcha forçada e realizou um ataque surpresa de várias posições. Ao que tudo indica, ele foi o comandante de seus próprios homens e também dos homens de seus aliados. A perseguição foi feroz e abrangente, até a vitória estar completa e os despojos inteiramente recuperados. Tudo foi retomado: os bens, as pessoas, e o pródigo — Ló.

O Rei de Sodoma e o Rei de Salém (14:17-24)

Talvez o maior teste enfrentado por uma pessoa seja o do sucesso:

Como o crisol prova a prata, e o forno o ouro, assim o homem é provado pelos louvores que recebe. (Provérbios 27:21)

É difícil compreender o quanto o retorno triunfal foi tentador para Abrão. Sua recepção deve ter sido uma versão antiga do desfile de honra de Nova York. Se até o rei de Sodoma foi ao seu encontro, imagine o resto da cidade, que ansiava pela volta de seus entes queridos.

Após voltar Abrão de ferir a Quedorlaomer e aos reis que estavam com ele, saiu-lhe ao encontro o rei de Sodoma no vale de Savé, que é o vale do Rei. (Gênesis 14:17)

Se o rei de Sodoma preparou algumas palavras para a ocasião, ele teve de esperar, pois, de algum lugar surgiu o rei de Salém com as palavras que Abrão mais precisava ouvir:

Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; era sacerdote do Deus Altíssimo; abençoou ele a Abrão, e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que possui os céus e a terra, e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos! E de tudo Abrão deu-lhe o dízimo. (Gênesis 14:18-20)

Creio que foi providencial a aparição de Melquisedeque interromper o encontro de Abrão com o rei de Sodoma. Quando ele terminou sua tarefa, aparentemente foi embora; e só então o rei de Sodoma falou.

Melquisedeque é uma figura crucial nesta narrativa, pois ele coloca a vitória de Abrão na perspectiva teológica correta9. Não houve tapinha nas costas ou politicagem. Melquisedeque era rei e sacerdote, não rei e político. Suas palavras tinham a intenção de relembrar a Abrão que a vitória era de Deus, e o sucesso, resultado da Sua bênção. Na verdade, as palavras de Melquisedeque foram um lembrete da aliança de Deus com Abrão ao chamá-lo em Ur para ir para Canaã:

Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela, da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei. De ti farei uma grande nação; e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção. Abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra. (Gênesis 12:1-3)

A resposta de Abrão foi um testemunho da sua fé no Deus único, adorado por ele e Melquisedeque. Seu dízimo foi uma evidência tangível de que era Deus quem merecia a glória.

Muita gente recorre ao versículo 20 como texto de prova para a entrega do dízimo: “... E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo”. Dizem que este foi o primeiro dízimo, e que ocorreu antes da lei ser outorgada. Por isso, sua prática está além da lei, sendo, portanto, obrigatória aos cristãos de nossos dias. Creio que este seja um pensamento falacioso.

Somos levados a crer que Abrão deu a Melquisedeque o dízimo de todas as suas posses. Mas quando Moisés escreve: “... deu-lhe o dízimo de tudo”, o que será que ele quis dizer com tudo — tudo o quê?

Talvez isso seja um choque para você, mas Abrão não deu o dízimo das suas posses. Em primeiro lugar, ele não estava em casa, com seus bens, mas no caminho de volta, com os bens do rei de Sodoma e de seus aliados. O escritor aos Hebreus nos informa o conteúdo do dízimo de Abrão:

Considerai, pois, como era grande esse a quem Abraão, o patriarca, pagou o dízimo tirado dos melhores despojos. (Hebreus 7:4)

Imagine a cena: Abrão é encontrado pelo rei de Sodoma, o qual, sem dúvida, o enche de elogios. O rei de Salém chega e insta Abrão a dar glória a Deus. O rei de Sodoma, então, observa, pasmo e de olhos arregalados, Abrão dar o dízimo do melhor dos despojos de Sodoma a Melquisedeque. Que testemunho da glória de Deus e da pecaminosidade de Sodoma! Amigo, este não é um exemplo bíblico de entrega do dízimo.

O rei de Sodoma sabia muito bem que “ao vencedor pertencem os despojos”. Além disso, ele testemunhou a entrega de um décimo de seus bens ao rei de Salém (Jerusalém). O melhor acordo a que este rei pagão podia chegar era reaver as pessoas e entregar os bens para Abrão:

Então, disse rei de Sodoma a Abrão: Dá-me as pessoas; e os bens ficarão contigo. (Gênesis 14:21)

Esta oferta deve ter sido muito tentadora para Abrão. Por direito, e até mesmo pelo pedido do rei de Sodoma, os despojos eram seus. De certa forma, foi uma justiça poética. Ló tinha escolhido Sodoma por suas promessas de bênçãos materiais. Aparentemente, ele tinha conseguido o melhor de seu tio; mas agora Deus estava dando de volta a Abrão tudo que devia ser dele desde o princípio.

As palavras de Abrão devem ter sido um choque bem maior para o rei de Sodoma do que o ato de dividir os despojos com Melquisedeque:

Mas Abrão lhe respondeu: Levanto a mão ao Senhor, o Deus Altíssimo, o que possui os céus e a terra, e juro que nada tomarei de tudo o que te pertence, nem um fio, nem uma correia de sandália, para que não digas: Eu enriqueci a Abrão. (Gênesis 14:22-23)

De onde será que Abrão tirou as palavras ditas ao rei de Sodoma? Do rei de Salém, é claro — de onde mais? Melquisedeque se referiu ao seu Deus e de Abrão como o “Deus Altíssimo, o que possui os céus e a terra”. Esta era uma designação incomum para Deus (El Elyon – cf. nota à margem dos versículos 19 e 20 da New American Standard Version), e mesmo assim Abrão a usou — as mesmas palavras ditas por Melquisedeque.

Creio que a chegada do rei de Salém foi um momento decisivo para Abrão, pois colocou sua vitória na perspectiva correta. Embora os homens possam dar glória a homens, os santos devem dar glória a Deus, pois qualquer vitória, no final das contas, é Sua, não nossa.

Por esta razão, Abrão não podia aceitar a oferta de ficar com os bens de Sodoma. Ele, como Melquisedeque, tinha zelo para que a glória de Deus fosse Dele somente. Aceitar qualquer coisa de um rei pagão seria dar a ele oportunidade de supor que sua oferta fosse responsável pelo sucesso de Abrão. O valor dos bens era muito alto, por isso, Abrão recusou o que, por direito, era seu.

Abrão chegou a essa maravilhosa conclusão, mas observe que ele não empurra suas convicções goela abaixo de seus aliados:

Nada quero para mim, senão o que os rapazes comeram, e a parte que toca aos homens Aner, Escol e Manre, que foram comigo; estes que tomem o seu quinhão. (Gênesis 14:24)

O que os homens comeram das mercadorias de Sodoma não ia ser reembolsado. No entanto, o que era devido aos outros, que não estavam ligados a Deus pela fé, não deveria ser sonegado.

Conclusão

Acima de qualquer outra coisa, o acontecimento de Gênesis 14 pode nos dar um comentário divino sobre as decisões tomadas no capítulo 13. Ló preferiu Sodoma e seu egoísmo, e quase perdeu tudo por causa disso. Abrão preferiu seguir a paz e por isso lhe foi concedida uma vitória militar. Ló confiou em si mesmo e se tornou escravo. Abrão confiou em Deus e se tornou uma figura proeminente entre seus irmãos. Como as nossas decisões se mostram diferentes à luz da história! A história sopesa as decisões dos homens.

Esta passagem também é um lembrete da soberania de Deus nas questões humanas. Deus está no controle da história. Os acontecimentos que parecem apenas seculares muitas vezes têm um propósito e significado espiritual bem mais profundo. O que parecia ser uma situação trágica, onde Ló foi apanhado na disputa entre duas facções políticas opostas, na verdade era o propósito de Deus sendo realizado para o benefício dos dois homens (principalmente), Ló e Abrão. Eis aí, amigo cristão, o outro lado das notícias.

A aparição de Melquisedeque também me faz lembrar de que não existem “Patrulheiros Solitários” na fé cristã. Há épocas em que temos a impressão de que ninguém mais parece ter fé; no entanto, isso é apenas ilusão (cf. 1 Reis 19:14, 18). Lá estava um rei/sacerdote temente a Deus, Melquisedeque, o qual ainda não tínhamos visto, e nem veremos depois, mas que era um verdadeiro crente.

Deus trabalha por intermédio de homens, meu amigo. Embora nos agrade ser autossuficientes, isso não agrada a Deus. Num momento crítico da vida de Abrão, Deus mandou um homem para esclarecer as coisas e impedi-lo de levar o sucesso demasiadamente a sério. Graças a Deus pelos homens e mulheres que Ele usa em nossa vida, e por Ele nos usar para ministrar aos outros em momentos cruciais da vida.

Há também um lembrete de que, no tocante a dar e receber, o mais importante é a glória de Deus. Se damos algo para receber glória, o que damos não tem proveito (cf. Mateus 6:2-4). Se temos êxito nas mãos de quem rejeita a Deus e toma a glória para si mesmo, a glória de Deus fica encoberta aos homens. Sejamos mais cautelosos com relação ao dinheiro e às coisas materiais. Algumas pessoas podem receber dinheiro, até mesmo do diabo, mas não Abrão.

Finalmente, este acontecimento nos dá uma bela ilustração da salvação de Deus. Ló preferiu seguir seu próprio caminho, pensando mais nos próprios interesses do que na promessa de Deus de abençoar os homens por meio de Abrão. Como resultado do seu egocentrismo, ele teve de enfrentar as consequências de seu pecado. Em vez de paz e prosperidade, ele encontrou vergonha e escravidão.

Como ele não foi capaz de fazer alguma coisa para corrigir seus erros ou se livrar de seu cativeiro, Abrão, com grande risco pessoal, obteve a vitória e sua libertação. Salvar Ló foi a única razão da ousada missão de resgate empreendida por Abrão. Apesar do desrespeito de Ló para com ele, Abrão o livrou das consequências de seu próprio pecado.

Todos nós, diz a Bíblia, pecamos:

... pois todos pecaram e carecem da glória de Deus. (Romanos 3:23)

Todos seguimos nossos próprios caminhos:

Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu caminho. (Isaías 53:6a)

As boas novas do evangelho é que Deus mandou Seu filho, Jesus Cristo, para nos livrar de nossos pecados. As consequências dos nossos pecados, e seu castigo, foram suportados por Jesus Cristo na cruz do Calvário.

Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou com as nossas dores; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós. (Isaías 53:4-6)

Você tem fé em Jesus? Reconhece sua teimosia e obstinação, e sua necessidade de ser liberto do cativeiro do pecado? A missão de resgate de Deus foi bem sucedida, e seus benefícios são gratuitos a todo aquele que crê na salvação somente em Cristo.

Porque Deus amou ao mundo de tal maneira, que deu Seu filho unigênito para que, todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. (João 3:16)

E não há salvação em nenhum outro; porque debaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos. (Atos 4:12)

Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor. (Romanos 6:23)

Aquele que crê no filho de Deus tem, em si, o testemunho; Aquele que não dá crédito a Deus o faz mentiroso, porque não crê no testemunho que Deus dá acerca do seu Filho. E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; Aquele que não tem o Filho não tem a vida.” (I João 5:10-12)

Tradução e Revisão: Mariza Regina de Souza


1 NT: É impossível a tradução desse trocadilho para o português, pois o Autor usa o próprio nome de Ló, em inglês “Lot”, que juntamente com o artigo indefinido “a” significa “muito, bastante”.

2 “Pela primeira vez, os acontecimentos bíblicos estão expressamente coordenados com a história externa”. Derek Kidner, Genesis (Chicago: InterVarsity Press, 1967), p. 118.

3 “O domínio elamita e babilônico da Palestina durou 12 anos. Quedorlaomer, o elamita, na época em questão, foi soberano sobre a Babilônia, um fato com o qual os registros históricos concordam”. H. C. Leupold, Exposition in Genesis (Grand Rapids: Baker Book House, 1942), I, p. 450.

4 Ibid, p. 451.

5 A rota da conquista tem uma história contínua desde 2.500 a.C. até o presente. Nela, de ponta a ponta, são encontradas pilhas de ruínas, algumas bem grandes, indicando que a rota é de fato real e histórica, dando grande estímulo à cobiça dos invasores. Tempos depois, ela veio a ser chamada de “a estrada real” (Nm. 29:17, 21:22)”. Harold Stigers, A commentary on Genesis (Grand Rapids: Zondervan, 1976), D, 148.

6 “A explicação mais simples é que o exército vindo do leste queria eliminar a possibilidade de um ataque pela retaguarda de grupos hostis. Estes grupos ou eram adversários que não haviam sido subjugados ou adversários subjugados conhecidos por serem difíceis de controlar e inclinados a apoiar outros revoltosos... Isso mostra o cerco se fechando cada vez mais sobre Sodoma e Gomorra. Dá para sentir a apreensão das cidades revoltosas; e elas se viram de um lado para outro à medida que chove por todos os lados relatórios das derrotas dos grupos que estão sendo atacados”. Leupold, Genesis, I, p. 401, p. 149.

7 “Pela primeira vez Abrão é chamado de ‘o hebreu’. Alguns consideram que “hebreu” não seja equivalente para Habiru, embora outros, inclusive Kenyon, achem que sim. Uma das características típicas de Habiru era a de um soldado mercenário, e Abrão se encaixa nesse perfil no resgate de Ló. Portanto, o cognome “hebreu” é uma alcunha em memória deste resgate, não de desaprovação, mas no melhor sentido. Como indicado pelo conteúdo de documentos cuneiformes, pensa-se mais uma vez que Abrão se enquadre em sua época”. Stigers, Genesis, p. 149

8 O versículo 24 nos informa que os homens de Manre, Escol e Aner acompanharam Abrão nesta campanha militar, pois eles iriam repartir os despojos.

9 Algumas pessoas talvez fiquem confusas com o fato de não ter me aprofundado sobre a importância tipológica de Melquisedeque. O escritor aos Hebreus faz isto (Hebreus 5, 7) refletindo sobre os acontecimentos de Gênesis, combinado com a profecia do Salmo 110:4. A razão de eu não ter tratado do assunto é porque, para Moisés, este era um tema secundário, não principal. Era uma questão suplementar, e não fundamental, para o sentido literal, histórico e gramatical do texto. O significado tipológico de qualquer texto é um benefício adicional, mas não deve suplantar a interpretação literal. O significado típico talvez nem tenha passado pela mente do escritor (só na mente de Deus), mas o significado literal era a mensagem pretendida pelo escritor.

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