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6. Enfrentando as Genealogias (Gênesis 5:1-32)

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Introdução

Meus pais tiveram o privilégio de passar um ano dando aulas em Taiwan. Enquanto estavam em Taipei, eles conheceram um jovem chinês que queria aprender a ler e falar o inglês com mais fluência. Meu pai concordou em encontrar-se com “Johnny” uma vez por semana. Ele lhe disse que não cobraria nada pelas aulas e que o texto para os estudos seria o evangelho de Mateus. Aliás, Johnny recebeu a salvação no capítulo 16.

Uma das fitas que minha família nos mandou de Taiwan na época do Natal continha uma gravação de Johnny lendo Mateus em inglês. Se der para imaginar, ele lia a genealogia de Mateus capítulo um. Que introdução à língua inglesa e à Bíblia!

As genealogias nunca foram os trechos mais lidos da Palavra de Deus. Ray Stedman conta a história de um velho ministro escocês que ia ler o primeiro capítulo do evangelho de Mateus para sua igreja:

Ele começou: “Abraão gerou a Isaque, e Isaque gerou a Jacó, e Jacó gerou a Judá”. O velho senhor deu olhada no texto, viu a lista que se seguia e disse: “e eles continuaram gerando um ao outro página abaixo, até a metade da página seguinte”1.

Se formos honestos, é isso o que a maioria de nós faz com as genealogias da Bíblia — a gente passa por cima delas. Em meu ensino no livro de Gênesis, devo admitir que pensei seriamente em fazer a mesma coisa, ou seja, pular o capítulo cinco. Leupold, em um dos clássicos comentários de Gênesis, dá esta palavra de alerta aos pregadores: “Nem todo mundo se arrisca a usar este capítulo para pregar”2.

E podem acreditar, nem todo mundo mesmo. No entanto, existe um versículo da Escritura que não nos deixará passar por Gênesis cinco sem um estudo sério dessa genealogia: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a educação na justiça” (2 Timóteo 3:16).

Assim sendo, precisamos lidar com este capítulo de Gênesis de forma a discernir seu proveito e benefício para nós. Em todos os meus anos de pregação da Bíblia, aprendi que a inadequação não está no texto da Escritura que é pregado, mas no professor que o expõe.

Entendendo as Genealogias

O quinto capítulo de Gênesis é apenas uma das muitas genealogias contidas na Escritura. Aprender com este capítulo irá nos encorajar e nos ensinar a estudar as outras inúmeras genealogias da Bíblia. De modo inverso, as outras genealogias lançarão uma luz considerável sobre a nossa abordagem deste texto em particular. Portanto, vamos prestar atenção ao propósito geral das genealogias antes de voltar ao nosso texto.

As genealogias dos capítulos 5 e 11 de Gênesis não são, de forma alguma, as únicas dos tempos antigos. Os egípcios tinham listas dos seus reis, assim como os sumérios. Os hititas mantinham catálogos das oferendas reais, sem dúvida de valor histórico e cronológico3. As antigas genealogias do Oriente Próximo são muito elucidativas para determinar a correta interpretação dos registros bíblicos.

Em primeiro lugar, aprendemos que o propósito das genealogias não era o de serem usadas como cronologia4. À primeira vista, quem lê Gênesis capítulo cinco pensa que é preciso apenas somar os números ali contidos para estabelecer a idade da civilização na terra. Ussher, por exemplo, chegou à data de 4.004 aC para os acontecimentos do capítulo um de Gênesis.

A indicação de nomes individuais não implica, necessariamente, numa sequência contínua. Muitas vezes, alguns nomes eram omitidos e os registros genealógicos eram seletivos5.

A expressão “A gerou B” nem sempre implica em descendência direta6. Mateus 1:8 diz que “Jorão gerou Uzias”, no entanto, no Antigo Testamento (2 Reis 8:25; 11:2; 14:1,21) vemos que Jorão foi pai de Acazias, pai de Joás, pai de Amazias, pai de Uzias. Portanto, “gerou” pode significar “gerou uma linhagem que culminou em”7. Como Kitchen afirma, “termos como ‘filho’ e ‘pai’ podem significar não só ‘filho (neto)’ e ‘pai (avô)’, mas também ‘descendente’ ou ‘ancestral’, respectivamente”8.

A disposição das genealogias num padrão claro e organizado também sugere algo diferente de um indicador cronológico. A genealogia de Cristo em Mateus, por exemplo (Mateus 1:1-17), está disposta em três séries de 14 gerações cada. Essa genealogia é conhecida como seletiva.

Nas genealogias do antigo Oriente Próximo, em geral, os números eram de importância secundária9. O propósito principal era estabelecer a identidade familiar de alguém, sua linhagem. Em parte alguma de Gênesis 5, ou da Bíblia, ou de qualquer outro lugar, os números foram indicados para estabelecer algum tipo de cronologia. Às vezes, os números de uma narrativa diferem dos números de outra10. Embora haja muitas explicações para isto, uma delas é que esses números foram fornecidos apenas como um indicador. Números exatos não servem ao propósito da genealogia. Ainda que não ousemos dizer que esses números não são literais, estamos simplesmente apontando a forma como eles eram usados no antigo Oriente Próximo11.

Vamos, então, analisar cuidadosamente as palavras do grande erudito, Dr. B. B. Warfield, quando diz:

Essas genealogias devem ser consideradas dignas de valor somente para o propósito ao qual foram registradas; elas não podem ser adaptadas para uso em outros fins para os quais não foram destinadas, e para os quais não são adequadas. Em especial, fica claro que o objetivo genealógico dessas genealogias não requeria um registro completo de todas as gerações pelas quais passava o descendente das pessoas a quem foram atribuídas; só uma indicação adequada da linhagem particular de onde procedia o descendente em questão. Portanto, um exame melhor das genealogias da Escritura mostra que elas são aplicadas livremente para toda sorte de propósitos e não se pode afirmar com segurança que contenham um registro completo de todas as séries de gerações, embora quase sempre seja óbvio que muitas delas foram omitidas. Não há uma razão inerente à natureza das genealogias bíblicas pela qual uma genealogia de dez ligações registradas, tais como as dos capítulos 5 e 11 de Gênesis, não possa representar um descendente real de cem, mil ou dez mil ligações. O ponto estabelecido pelo registro não é que estas sejam todas as ligações diretas ocorridas entre o início e o fim dos nomes, mas que é uma linhagem onde se pode traçar a ascendência ou descendência de uma pessoa12.

O Significado de Gênesis 5

Se não podemos descobrir a idade da terra pela genealogia do capítulo cinco de Gênesis, o que vamos ganhar com seu estudo? Quanto mais penso nesta passagem, mais fica claro que ela precisa ser interpretada à luz do seu contexto. Uma parte significativa desse contexto é a genealogia de Caim no capítulo quatro. Portanto, o significado e a aplicação da genealogia do capítulo cinco podem ser obtidos por comparação e contraposição com o capítulo quatro.

Geralmente se diz que no capítulo quatro Moisés nos dá a genealogia de Caim, enquanto no capítulo cinco ele descreve a linhagem piedosa de Sete. Em certo sentido, isso é verdade. O capítulo quatro com certeza descreve uma descendência ímpia, enquanto o capítulo cinco registra a história da linhagem de onde viria o Salvador.

Tecnicamente, no entanto, o capítulo cinco não é o registro da linhagem de Sete, mas o de Adão.

Este é o livro da genealogia de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez; homem e mulher os criou, e os abençoou, e lhes chamou pelo nome de Adão, no dia em que foram criados. Viveu Adão centro e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem, e lhe chamou Sete. (Gênesis 5:1-3)

Tenho tentado decifrar a aparente repetição desses versículos iniciais. Por que Moisés nos diria aquilo que já sabemos? Observe que os versículos não estão ligados à genealogia do capítulo quatro, mas à do capítulo cinco. A genealogia de Caim termina num beco sem saída. Ela começa com o ímpio Caim, termina com o perverso Lameque e é levada pela “enxurrada” do dilúvio.

Moisés começa o capítulo cinco com a terminologia dos capítulos um e dois (por exemplo, ‘criou’, ‘à semelhança de Deus’, ‘homem e mulher’, ‘os abençoou’) para indicar ao leitor que os propósitos e planos de Deus para o homem, iniciados nos primeiros capítulos, devem ser cumpridos por meio da descendência de Adão, mas não pela linhagem de Caim, e sim pela de Sete. O capítulo cinco inteiro é uma descrição da linhagem estreita pela qual virá o Messias.

O contraste espiritual entre as duas linhagens é óbvio. E pode ser facilmente ilustrado pelos dois “Lameques” dos capítulos quatro e cinco. O Lameque (filho de Metusael, 4:18) da linhagem de Caim foi quem deu início à poligamia (4:19). Pior ainda, ele foi um assassino que se gabou do seu crime (4:23) e fez pouco das palavras de Deus ditas a Caim (4:24).

O Lameque do capítulo cinco (filho de Matusalém e pai de Noé) foi um homem piedoso. O nome de seu filho revela sua compreensão da queda do homem e da maldição de Deus sobre o solo (cf. 5:29). Isso também indica que ele acreditava que Deus libertaria o homem da maldição por meio do descendente de Eva. Creio que Lameque entendeu ainda que isso aconteceria especificamente por intermédio do filho dado por Deus a ele.

Na história dos descendentes de Caim nenhum número é empregado, enquanto na linhagem de Sete há um padrão numérico definido. Os números no capítulo cinco especificamente fornecem: 1) a idade do indivíduo quando do nascimento do filho mencionado; 2) os anos vividos após o nascimento desse filho;13 e 3) a idade do homem na época da sua morte. Basicamente, a vida da pessoa cai em uma das duas partes, A. F. e D. F.: antes ou depois do nascimento do filho. Esta não é uma divisão sem importância.

A duração da vida dos homens no capítulo cinco é extraordinariamente longa, mas qualquer tentativa de explicar esse fato de alguma forma que não seja entendendo esses números literalmente é simplesmente inútil. Sem dúvida, as condições eram muito diferentes antes do dilúvio.

Moisés, com certeza, pretendia nos impressionar com a longevidade daqueles homens. Esta é, obviamente, uma das razões pelas quais a idade deles foi incluída de forma tão evidente. Uma vida longa tornaria mais fácil a povoação da terra. Minha esposa e eu, em 17 anos de casados (NT: à época em que este estudo foi escrito), tivemos seis filhos. Imagine o que poderia ser feito em 900 anos!

Além do mais, Moisés, com isso, estaria mostrando que o homem originalmente foi planejado para viver muitos anos, mesmo depois da queda. Certamente a promessa de um reino milenar, onde o homem viveria até uma idade bem avançada (cf. Isaías. 65:20), é apoiada por este capítulo. Longevidade não era uma coisa nova, era simplesmente algo recuperado.

O principal contraste entre as linhagens de Caim e Sete é a ênfase de cada uma delas. À linhagem de Caim é creditado o que se pode chamar de “progresso secular” e grandes realizações. Caim edificou a primeira cidade (4:17). As contribuições tecnológicas e culturais vieram de seus descendentes. Trabalhadores em metal, pecuaristas e músicos vieram da sua linhagem.

Agora, o que é enfatizado na linhagem de Sete? Nenhuma menção é feita a grandes contribuições ou realizações. Duas coisas, no entanto, distinguem os homens do capítulo cinco. Em primeiro lugar, eles foram homens de fé (cf. Enoque, 5:18, 21-24; Lameque, 5:28-31). Esses homens olharam para o passado e compreenderam o fato de que o pecado foi a raiz de seus problemas e pesares. E olharam para o futuro na expectativa da redenção que Deus ia providenciar por meio da sua descendência.

Isso nos leva à sua segunda contribuição — eles geraram descendentes piedosos por meio dos quais os planos e propósitos divinos teriam continuidade. Ora, não está escrito que cada de um de seus filhos fosse temente a Deus. Contudo, sabemos que eles foram e que por meio deles e de seus filhos a linhagem continuou até culminar em Noé. Embora o resto da humanidade devesse ser destruído no dilúvio, em Noé, a raça humana (mais ainda, o descendente de Eva) seria preservada. A esperança dos homens, portanto, estava na preservação de uma descendência temente a Deus.

Mas que lição isso seria para os israelitas! Quando chegassem à terra de Canaã, eles encontrariam um povo completamente diferente dos egípcios. Os egípcios os desprezavam e não davam a mínima para casamentos mistos; os cananeus, no entanto, tentariam se casar com eles (cf. Gênesis 46:34; Deuteronômio 7:1 e ss; Números 25:1 e ss). Casar-se com os cananeus seria abandonar o Deus de Israel. Misturar-se com eles significava poluir a linhagem temente a Deus por meio da qual viria o Messias.

Deus tinha prometido abençoar a fé e obediência dos israelitas. Ele lhes daria chuva, boa colheita e gado (Deuteronômio 28). No entanto, com casamentos mistos, Israel talvez depositasse sua confiança não no Deus vivo, mas na tecnologia dos cananeus. Cavalos e carruagens deviam ser os últimos avanços tecnológicos na guerra, mas Deus tinha proibido Israel de acumular esse tipo de armamento. Eles deviam confiar somente nEle (cf. Êxodo 15:4; Deuteronômio 17:14 e ss; Josué 11:6). Fazer aliança com as nações pagãs podia ser o jeito do mundo, mas não o de Deus (2 Reis 18, 19).

Talvez fiquemos surpresos com tanta ênfase na morte na genealogia do capítulo cinco, já que isso não é mencionado no capítulo quatro. Não teria sido mais apropriado ressaltar a morte em conexão com a linhagem ímpia de Caim?

A primeira coisa que precisamos entender é o significado da morte no contexto do livro de Gênesis. Deus tinha dito a Adão que certamente eles morreriam no dia em que comessem do fruto proibido (2:17). Satanás descaradamente negou isso e garantiu a Eva que não seria assim (3:4). O capítulo cinco é um amargo lembrete de que o salário do pecado é a morte e que Deus cumpre a Sua Palavra, para julgar e para salvar.

Mas por que não ressaltar a relação entre a pecaminosidade e a morte? Por que não dar ênfase à morte no capítulo quatro? Deixe-me sugerir uma explicação. No capítulo quatro, a morte não parecia muito popular. Creio que Caim encontrou consolo no fato de ter gerado um filho e de ter dado o nome dele à cidade que edificou. Além disso, sua descendência foi responsável por grandes contribuições tecnológicas e culturais14. Esses “monumentos” de Caim talvez tenham lhe dado algum tipo de conforto.

No entanto, a triste realidade era completamente diferente. Como está escrito no livro de Provérbios: “A memória do justo é abençoada, mas o nome dos perversos cai em podridão” (Provérbios 10:7).

A maior tragédia não foi a morte dos homens do capítulo quatro, pois ela também ocorreu no capítulo cinco. A tragédia foi a descendência de Caim não ter sobrevivido ao julgamento de Deus. Contudo, Noé, o descendente de Sete, sobreviveu. Todos os homens morrerão um dia, mas alguns serão levados ao tormento eterno enquanto o povo da fé passará a eternidade na presença de Deus (cf. João 5:28-29; Apocalipse 20). A aparência externa mostra o que os filhos deste mundo “têm feito”, mas a realidade final é totalmente diferente.

A morte chegou à descendência piedosa de Sete. Isto é repetido oito vezes no capítulo cinco. Mas Enoque é um tipo daqueles que verdadeiramente caminham com Deus. A morte não irá tragá-los. Eles serão conduzidos à eterna presença de Deus, em cuja companhia viverão para sempre. A morte pode ser vista com naturalidade pelos verdadeiros crentes, pois seu aguilhão foi removido pela obra de Deus na morte de Jesus Cristo, o “descendente da mulher” (Gênesis 3:15).

Aplicação

Não posso deixar estes versículos sem mostrar sua relevância para nós hoje. A coisa mais importante do mundo, segundo Moisés, o que determina o destino dos homens, não é sua contribuição à cultura ou à civilização (por mais importante que seja). Quer você tenha ou não granjeado sua reputação por si mesmo, isso é de pouca consequência eterna. O fator decisivo para cada homem mencionado nestes capítulos é somente um: será que seu nome estava no livro de Deus?

Moisés começou o capítulo cinco com estas palavras: “Este é o livro da genealogia de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez” (Gênesis 5:1).

E, no último livro da Bíblia, encontramos as seguintes palavras:

Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então se abriram os livros. Ainda outro livro, o livro da vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros. Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o além entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um, segundo as suas obras. Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lado de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se alguém não foi achado inscrito no livro da vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo. (Apocalipse 20:12-15)

O que determinou o destino dos homens da Antiguidade foi se seu nome estava no livro da geração de Caim ou no livro da geração de Sete. E o que determinou o nome daqueles que são listados no capítulo cinco foi seu reconhecimento de pecado pessoal e sua fé em Deus para prover a salvação prometida por Ele.

E hoje em dia, meu amigo, ainda é assim. A pergunta que fica é: em que genealogia você será encontrado? Ainda está em Adão ou já está em Cristo (Romanos 5)? Se você reconhece que é pecador, que merece o castigo eterno de Deus e confia na justiça do Senhor Jesus e na Sua morte substitutiva, você está em Cristo. Seu nome está no livro da vida. Se não, você está em Adão. Embora suas obras possam impressionar os homens, elas não satisfarão o padrão de Deus para a vida eterna. Em qual livro seu nome será encontrado?

Em segundo lugar, este capítulo nos lembra que o valor de um homem, aos olhos de Deus, deve ser manifestado em seus filhos. Essa é a razão pela qual os presbíteros devem ser avaliados, em parte, por seu desempenho como pais (cf. 1 Timóteo 3; Tito 1).

Como isso deve mudar nossos valores e nossas prioridades! Caim edificou para seu filho, mas Sete edificou seu filho. Caim sacrificou seus filhos ao sucesso. Sete encontrou sucesso nos seus filhos. Como é frequente a nossa necessidade de sermos relembrados das palavras do salmista:

Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela. Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeastes; aos seus amados ele dá enquanto dormem. Herança do Senhor são os filhos; o fruto do ventre, seu galardão. Como flechas na mão do guerreiro, assim os filhos da mocidade. Feliz o homem que enche deles a sua aljava; não será envergonhado, quando pleitear com os inimigos à porta. (Salmo 127)

O salmista está relembrando a quem é viciado em trabalho que lutar pelo sucesso quase sempre sacrifica o que é de maior valor. Ele nos diz que os filhos, o grande presente de Deus aos homens, não são dados durante a labuta, mas durante o sono, não por se levantar cedo e deitar tarde, mas por descansar na fidelidade de Deus.

Que comentário excelente de Gênesis cinco encontra-se nas difíceis palavras de Paulo na primeira carta a Timóteo:

A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio. Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Mas ela será preservada pelo nascimento de filhos se eles continuarem em fé e amor, e em santidade com domínio próprio. (1 Timóteo 2:11-15, versículo 15 tradução do Autor)15

As mulheres que não concordam com o ensinamento de Paulo talvez protestem: “Mas como posso encontrar satisfação com todas essas proibições, e como posso contribuir de forma significativa para a igreja?” Paulo diz que, de fato, “o trabalho mais importante de todos para a mulher temente a Deus é criar filhos tementes a Deus”.

E, a fim de não aplicarmos isso somente às mulheres, deixe-me sugerir que o mesmo vale para os homens, embora esta não seja a intenção original de Paulo neste versículo. Pais, vocês estão sacrificando seus filhos pelo sucesso no mundo dos negócios ou no ministério cristão? Não há chamado mais importante do que criar filhos tementes a Deus. Se falharmos neste ponto, teremos falhado no nosso maior chamado.

Sei que há quem não tenha, ou não possa, ter filhos. Por isso, eu lhes digo que não estamos na mesma época dos antigos israelitas. A linhagem piedosa foi preservada e o Messias já veio pela descendência da mulher. No entanto, é vital para o propósito de Deus que os remanescentes fieis continuem a realizar a Sua obra para o homem e por intermédio do homem. Nós, então, precisamos continuar a gerar filhos espirituais e nutri-los com as verdades da Palavra de Deus. Vamos levar a sério esta tarefa.

Tradução e Revisão: Mariza Regina de Souza


1 Ray Stedman, The Beginnings (Waco: Word Books, 1978), p. 47

2 H. C. Leupold, Exposition of Genesis (Grand Rapids: Baker Book House, 1942), I, p. 248.

3 K. A. Kitchen, Ancient Orient and Old Testament (Chicago: Inter‑Varsity Press, 1966 ), pp. 35-36.

4 “No entanto, em uma análise mais cuidadosa dos dados sobre os quais estes cálculos são feitos, não encontramos dados suficientes para fornecer uma base satisfatória à composição de um método cronológico definitivo. Esses dados consistem, em sua grande maioria e apenas em pontos específicos, de registros genealógicos; e nada pode ser claro do que a extrema precariedade de se tentar encontrar inferências cronológicas em registros genealógicos”. A Antigüidade e Unidade da Raça Humana, B. B. Warfield, Biblical and Theological Studies (Philadelphia: The Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1968), p. 240.

5 “Essal mistura da genealogia contínua e seletiva não é, de forma nenhuma, incomum. Além do óbvio exemplo de Mateus 1:1-17, a lista do Rei Abydos, no Egito, tranquilamente omite três grupos inteiros de reis (da Nona para a Undécima Dinastia, da Décima Terceira para a Décima Sétima, e os faraós Amarna) em três pontos distintos, no que seria, de outra forma, uma série contínua; outras fontes nos ajudar a saber disso”. Kitchen, p. 38.

6 Ibid.

7 Ibid., pp. 38,39.

8 Ibid., p. 39.

9 Cf. J. N. Oswalt “Cronologia do Velho Testamento”, The International Standard Bible Encyclopedia, edição revista (Grand Rapids: William B. Eerdmans, 1979), I, p. 674.

10 Em Gênesis 5 há consideráveis variações entre o Texto Massorético (o texto Hebraico do Antigo Testamento), a Septuaginta (a tradução grega do Antigo Testamento) e o Pentateuco Samaritano. Para comparar estes números deve-se consultar o gráfico contido no artigo sobre a cronologia do Antigo Testamento da ISBE, I, p. 676.

11 “A mesma observação se aplica a uma segunda classe de dados: declarações cronológicas aleatórias como, por exemplo, a afirmação de Gênesis 15:13 sobre o período de permanência no Egito, ou de 1 Reis 6:1 sobre o lapso de tempo entre o êxodo e a construção do templo de Salomão. Embora não haja justificativa para se desprezar tais afirmações, também não é necessário presumir-se que sejam cômputos cronológicos precisos. Especialmente na sociedade pré-monárquica, longos registros cronológicos são altamente improváveis devido à sua falta de importância. Em vez disso, é de se esperar que as aproximações sejam feitas de várias formas; e o uso de números redondos, em especial, sugere algum grau de aproximação. É a importância desses números para o escritores bíblicos que o intérprete precisa entender antes de tentar construir uma cronologia absoluta sobre eles”. ISBE, p. 674.

12 Warfield, pp. 240-241.

13 Isso não quer dizer que os homens do capítulo cinco não tenham tido outros filhos e filhas. Eles podem ou não ter tido fé em Deus, e podem ou não ter nascido antes do filho indicado como tendo nascido em determinada época da vida de seu pai.

14 Não desejo ser conhecido por dizer, como alguns parecem querer*, que pessoas tementes a Deus devem abandonar todos os esforços para melhorar sua qualidade de vida, enriquecendo-a com contribuições morais, sociais, culturais e tecnológicas. Entendo que essas coisas fazem parte do mandamento de Deus para o homem “dominar a terra” (Gênesis 1:28, etc). O ponto aqui é que a fonte de consolo e conforto dos antigos não foram essas realizações, mas a promessa da salvação de Deus e a Sua fidelidade no seu cumprimento. *Cf. W. H. Griffith Thomas, Genesis, A Devotional Commentary (Grand Rapids: William B. Eerdmans, 1946), p. 63.

*Cf. W. H. Griffith Thomas, Genesis, A Devotional Commentary (Grand Rapids: William B. Eerdmans, 1946), p. 63.

15 O verso 15 é tradução minha, pois reflete melhor o grego. A palavra “mulher” fornecida pela NASV aqui é literalmente “ela” (singular). O “elas” da NASV é plural e, por isso, deve se referir ao “filhas” anterior, que também está no plural.

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