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Where the world comes to study the Bible

27. Da Tragédia ao Triunfo (I Samuel 30:1-31)

Introdução

Lembro-me da história de um livro fascinante intitulado Shantung Compound, escrito por Langdon Gilkey. O livro descreve como o confinamento afetou a vida das pessoas que foram mantidas em Shantung Compound, um antigo acampamento de igreja mal-adaptado para alojar todos estrangeiros ocidentais que residiam na China durante a invasão japonesa na Segunda Guerra Mundial. Homens de negócio, diplomatas, professores, missionários e muitos outros ficaram confinados juntos em alojamentos precários. Não era bem um campo de prisioneiros; parecia mais uma prisão de segurança mínima. As condições eram tais que Shantung Compound revelou o que havia de pior, e de melhor, daqueles que ali se encontravam. O autor do livro era um dos que ficaram nestas instalações.

Quando o Natal se aproximava, um veículo da Cruz Vermelha chegou lotado de suprimentos para os reclusos de Shantung Compound. Alguns poderiam pensar que a distribuição desses suprimentos seria uma coisa fácil, que só precisariam dividir o número de pacotes pelo número de pessoas. Se fossem 600 pessoas e 1200 pacotes, cada pessoa receberia 2 pacotes. No entanto, esta tarefa simples e “automática” acabou se transformando num enorme problema. Veja, alguns americanos perceberam que os pacotes eram da Cruz Vermelha Americana, e consideraram que haviam sido designados especificamente para eles, americanos. Eles argumentaram que os pacotes deveriam ser igualmente divididos entre eles. Se alguém quisesse dividir seus presentes com os outros, era um direito seu.

No capítulo 30 de I Samuel acontece algo muito parecido. Davi e seus homens perseguem um bando de salteadores amalequitas que havia saqueado e destruído Ziclague e levado suas esposas, filhos e bens. Eles foram guiados até o acampamento principal destes salteadores, onde os destruíram completamente, recuperando tudo o que haviam perdido. Somado a isso, os despojos desta vitória incluem tudo o que os amalequitas haviam tomado das cidades israelitas e filistéias que foram invadidas e saqueadas além de Ziclague. Alguns dos soldados de Davi não estavam dispostos a dividir estes despojos com os 200 homens que ficaram para trás com as bagagens.

São muitas as lições de nosso texto. Aquilo que à primeira vista parece ser uma história “antiga e longínqua” tem relevância e aplicação direta às nossas próprias vidas hoje. Uma vez que esta mensagem está sendo pregada no domingo de Páscoa, com certeza você deve estranhar porque não estou ensinando uma mensagem de Páscoa. Minha resposta seria que nosso texto é uma mensagem de Páscoa. Na verdade, ouso dizer que há em nosso texto muito mais do que apenas coisas relativas à Páscoa. Talvez alguns estejam duvidando, por isso, peço que mantenham suas mentes abertas para aquilo que o Espírito de Deus nos ensina neste texto.

O Cenário
(30:1-6a)

“Sucedeu, pois, que, chegando Davi e os seus homens, ao terceiro dia, a Ziclague, já os amalequitas tinham dado com ímpeto contra o Sul e Ziclague e a esta, ferido e queimado; tinham levado cativas as mulheres que lá se achavam, porém a ninguém mataram, nem pequenos nem grandes; tão-somente os levaram consigo e foram seu caminho. Davi e os seus homens vieram à cidade, e ei-la queimada, e suas mulheres, seus filhos e suas filhas eram levados cativos. Então, Davi e o povo que se achava com ele ergueram a voz e choraram, até não terem mais forças para chorar. Também as duas mulheres de Davi foram levadas cativas: Ainoã, a jezreelita, e Abigail, a viúva de Nabal, o carmelita. Davi muito se angustiou, pois o povo falava de apedrejá-lo, porque todos estavam em amargura, cada um por causa de seus filhos e de suas filhas.”

Não demora muito para que a notícia de que os filisteus estão em indo direção norte travar uma grande batalha contra Israel se espalhe. Os amalequitas, que pareciam fazer dos ataques às vilas e cidades filistéias e israelitas do sul um meio de subsistência (não muito diferente de Davi), não poderiam ter recebido notícia melhor. Uma vez que os homens em idade de combate tinham ido para guerra, poucos ou nenhum foi deixado prá trás para defender as cidades israelitas e filistéias, incluindo Ziclague. Enquanto Davi e seus homens estão sendo passados em revista junto com o exército filisteu (29:2), os amalequitas estão saqueando Ziclague. Os salteadores levam todo o gado e todos os bens, raptam todas as mulheres e crianças, e queimam totalmente a cidade.

Quando Davi e seus homens se aproximam de Ziclague, ficam horrorizados ao ver que a cidade fora destruída e suas famílias levadas cativas. Ninguém foi morto, mas tudo o que tinha vida foi levado. É de pouco conforto que suas famílias ainda estejam vivas. Cada um imagina o que esteja acontecendo (ou que acontecerá em breve) com sua esposa e filhos. Na melhor das hipóteses eles se tornarão escravos, para um trabalho duro e tratamento cruel. Na pior... eles não queriam nem pensar. As duas esposas de Davi também foram levadas.

Estes 600 guerreiros estão muito angustiados pelo que aconteceu à sua cidade e às suas famílias. Eles choram até não terem mais lágrimas. Então, começam a pensar sobre como isto veio a acontecer. Fora idéia de Davi trazê-los para território filisteu (27:1-4); foi pedido seu que vivessem nesta cidade remota (27:5-6), e foi ele quem os levou a lutar com os filisteus, deixando suas famílias vulneráveis a esse ataque. Alguns estão tão furiosos que falam em apedrejar Davi.

Perseguição Intensa; Rastro Frio
(30:6b-10)

Porém Davi se reanimou no SENHOR, seu Deus. Disse Davi a Abiatar, o sacerdote, filho de Aimeleque: Traze-me aqui a estola sacerdotal. E Abiatar a trouxe a Davi. Então, consultou Davi ao SENHOR, dizendo: Perseguirei eu o bando? Alcançá-lo-ei? Respondeu-lhe o SENHOR: Persegue-o, porque, de fato, o alcançarás e tudo libertarás. Partiu, pois, Davi, ele e os seiscentos homens que com ele se achavam, e chegaram ao ribeiro de Besor, onde os retardatários ficaram. Davi, porém, e quatrocentos homens continuaram a perseguição, pois que duzentos ficaram atrás, por não poderem, de cansados que estavam, passar o ribeiro de Besor.”

Conforme Davis demonstra, desde o capítulo 23 Davi não busca a vontade de Deus por meio da estola sacerdotal, e desde o capítulo 26 ele não menciona o nome do Senhor. Como sempre, a tragédia faz o coração de Davi se voltar para Deus. Este capítulo é outro de seus melhores momentos. Primeiro ele se fortalece no Senhor, depois recorre a Ele para uma orientação específica a respeito de suas famílias e daqueles que os raptaram. Davi pede ao Senhor que revele se ele deve, ou não, perseguir aqueles que levaram seus entes queridos. Se persegui-los, ele os alcançará? A resposta a estas perguntas é “Sim!” Deus lhe assegura que ele não só alcançará o bando, mas também recuperará tudo o que foi levado.

Precisamos nos lembrar das condições físicas e mentais destes homens. Eles acabam de viajar quase 60 milhas de Afeca até Ziclague, sem dúvida apertando o passo para chegar logo em casa. Eles podem descansar em Ziclague quando chegarem, ou assim eles pensam. Então, ao encontrar seus entes queridos seqüestrados, seu gado roubado e sua cidade destruída pelo fogo, eles se cansam de tanto chorar (verso 4); agora eles saem em perseguição de seus inimigos. O grupo de salteadores tem uma vantagem considerável, e seu rastro está esfriando. Eles podem facilmente desaparecer no deserto. Se devem ser alcançados a tempo de salvar seus entes queridos, Davi e seus homens precisam andar logo.

Imagino que Davi e seus homens estejam marchando a passos largos. À medida que o tempo passa e o calor do sol os afeta, eles vão ficando cansados. Quando chegam ao ribeiro de Besor, um terço dos homens simplesmente não agüenta prosseguir. Eles têm motivos de sobra - suas famílias estão em perigo e eles querem estar lá para resgatá-los - mas, simplesmente, não têm forças para continuar. Duzentos homens desmoronam ali próximo ao ribeiro, incapazes de sair do lugar. Mesmo que sigam em frente, só retardarão os demais. Davi e os outros 400 homens prosseguem, deixando a maior parte da bagagem para trás com os que ficam, a fim de se moverem mais rápido, gastando menos energia.

Um Homem à Beira da Morte Dá Vida Nova à Perseguição de Davi
(30:11-15)

“Acharam no campo um homem egípcio e o trouxeram a Davi; deram-lhe pão, e comeu, e deram-lhe a beber água. Deram-lhe também um pedaço de pasta de figos secos e dois cachos de passas, e comeu; recobrou, então, o alento, pois havia três dias e três noites que não comia pão, nem bebia água. Então, lhe perguntou Davi: De quem és tu e de onde vens? Respondeu o moço egípcio: Sou servo de um amalequita, e meu senhor me deixou aqui, porque adoeci há três dias. Nós demos com ímpeto contra o lado sul dos queretitas, contra o território de Judá e contra o lado sul de Calebe e pusemos fogo em Ziclague. Disse-lhe Davi: Poderias, descendo, guiar-me a esse bando? Respondeu-lhe: Jura-me, por Deus, que me não matarás, nem me entregarás nas mãos de meu senhor, e descerei e te guiarei a esse bando.”

O rastro tinha esfriado. Parece que Davi e seus homens nem mesmo sabem quem são os salteadores (é dito no verso 1, mas Davi e seus homens parecem ter conhecimento desta informação somente nos versos 13 e 14). Eles devem estar se perguntando que direção devem tomar. Nesse momento crucial, “acontece” justamente deles cruzarem com um homem que tinha sido deixado semimorto naquela região. O homem está tão fraco que não consegue falar. Para alguns pode parecer ”perda de tempo” o fato Davi e seus homens pararem e prestarem socorro a este homem. Se é por absoluta compaixão (fazendo de Davi uma espécie de bom samaritano), seus esforços são bem recompensados. Pão e água, um pedaço de pasta de figo e uvas passas trazem este homem de volta à vida, uma vez que ele passou três dias e três noite sem comer, nem beber.

Quando finalmente o homem tem força suficiente para falar, Davi começa a lhe fazer perguntas. As respostas devem animar o espírito de Davi e seus homens, pois o homem conta que é egípcio, escravo de um amalequita. Seu senhor o deixou três dias atrás porque ele estava doente e atrasando os demais. Seu senhor o deixou ali para morrer, sem água e sem comida. Ele, então, diz a Davi que estava com o bando de amalequitas que saqueou Ziclague.

Davi pergunta ao jovem se ele estaria disposto a guiá-los até o acampamento amalequita. Normalmente, tenho certeza que ele não faria uma coisa dessas. Mas, uma vez que seu senhor e os outros o deixaram para trás para morrer, ele está disposto a cooperar, em troca da garantia de Davi de que não será morto ou devolvido a seu senhor. Este servo semimorto dá nova vida à busca de Davi pelo bando amalequita e seus prisioneiros.

Resgatados
(30:16-20)

“E, descendo, o guiou. Eis que estavam espalhados sobre toda a região, comendo, bebendo e fazendo festa por todo aquele grande despojo que tomaram da terra dos filisteus e da terra de Judá. Feriu-os Davi, desde o crepúsculo vespertino até à tarde do dia seguinte, e nenhum deles escapou, senão só quatrocentos moços que, montados em camelos, fugiram. Assim, Davi salvou tudo quanto haviam tomado os amalequitas; também salvou as suas duas mulheres. Não lhes faltou coisa alguma, nem pequena nem grande, nem os filhos, nem as filhas, nem o despojo, nada do que lhes haviam tomado: tudo Davi tornou a trazer. Também tomou Davi todas as ovelhas e o gado, e o levaram diante de Davi e diziam: Este é o despojo de Davi.”

Não havia mais necessidade de tentar seguir o rastro do bando de salteadores. Graças ao escravo egípcio que eles reanimaram, agora seriam guiados ao acampamento amalequita. Davi e seus homens chegam ao acampamento, encontrando os amalequitas totalmente vulneráveis. Afinal, eles supõem que os filisteus (junto com Davi e seus homens), e os israelitas, estejam bem longe, em guerra na região norte. Quem viria atrás deles? Eles festejam a missão bem-sucedida; agora estão em casa, onde podem se esbaldar com o resultado de suas vitórias. Os amalequitas estão espalhados sobre toda a região (verso 16), o que dá a entender que não estejam agrupados, o que seria a melhor posição defensiva (nos filmes de faroeste as carroças sempre andavam em círculos quando estavam sendo atacadas, colocando as mulheres e as crianças no meio). Se a expressão “divida e conquiste” é verdadeira, esse pessoal já tinha se dividido quando se espalhou. Além do mais, eles estão comendo, bebendo e dançando. Em resumo, estão tão bêbados que mal conseguem ficar em pé, quanto mais lutar.

Se este for o acampamento principal dos amalequitas, então há muito mais pessoas do que apenas o bando de salteadores. Portanto, Davi e seus homens estão em grande desvantagem. No entanto, devido ao estado de embriaguez dos amalequitas, eles são presas fáceis. Davi e seus homens atacam, um massacre que dura várias horas. Nenhuma só pessoa escapa, exceto 400 homens que fogem em seus camelos. Todas as pessoas e tudo o que os amalequitas tinham tomado de Ziclague é recuperado. Davi e seus homens não sofrem absolutamente nenhuma perda (exceto por aquilo que já fora queimado em Ziclague). As duas esposas de Davi estão entre os reféns resgatados. O autor é muito específico. Nada está faltando. Davi traz tudo de volta. Exatamente como Deus mostrou, eles alcançaram os inimigos e prevaleceram. Esta missão não poderia ter sido mais bem-sucedida.

Dividindo os Despojos ou Quase Despojando a Vitória
(30:21-31)

“Chegando Davi aos duzentos homens que, de cansados que estavam, não o puderam seguir e ficaram no ribeiro de Besor, estes saíram ao encontro de Davi e do povo que com ele vinha; Davi, aproximando-se destes, os saudou cordialmente. Então, todos os maus e filhos de Belial, dentre os homens que tinham ido com Davi, responderam e disseram: Visto que não foram conosco, não lhes daremos do despojo que salvamos; cada um, porém, leve sua mulher e seus filhos e se vá embora. Porém Davi disse: Não fareis assim, irmãos meus, com o que nos deu o SENHOR, que nos guardou e entregou às nossas mãos o bando que contra nós vinha. Quem vos daria ouvidos nisso? Porque qual é a parte dos que desceram à peleja, tal será a parte dos que ficaram com a bagagem; receberão partes iguais. E assim, desde aquele dia em diante, foi isso estabelecido por estatuto e direito em Israel, até ao dia de hoje. Chegando Davi a Ziclague, enviou do despojo aos anciãos de Judá, seus amigos, dizendo: Eis para vós outros um presente do despojo dos inimigos do SENHOR: aos de Betel, aos de Ramote do Neguebe, aos de Jatir, aos de Aroer, aos de Sifmote, aos de Estemoa, aos de Racal, aos que estavam nas cidades dos jerameelitas e nas cidades dos queneus, aos de Horma, aos de Borasã, aos de Atace, aos de Hebrom e a todos os lugares em que andara Davi, ele e os seus homens.”

A vitória é conquistada e tudo o que havia sido perdido foi recuperado. Na realidade, Davi e seus homens não recuperaram só o que haviam perdido, eles conquistaram também uma porção de coisas mais. Eles conquistaram os despojos que os amalequitas haviam obtido em suas invasões às cidades filistéias e israelitas. Estes despojos agora representam o principal problema de Davi. Alguns dos 400 homens que derrotaram os amalequitas estão se recusando a reparti-los com os 200 homens que ficaram para trás.

Só uma parte dos 400 homens que lutaram contra os amalequitas é de homens ”maus e filhos de Belial”. Nem todos são assim, só alguns deles. Mas, estes que são maus e filhos de Belial parecem estar assumindo o comando. O raciocínio deles é: somente 400 homens lutaram de verdade; os outros 200 não tiveram parte na batalha ou na vitória conquistada. Aos 200 deveria ser devolvido aquilo que perderam. Mas não deveriam receber uma parte dos despojos extras da guerra, dos despojos que os amalequitas tomaram dos filisteus e israelitas. Estes despojos deveriam ser repartidos só entre os 400 guerreiros. A recusa destes homens em partilhar os despojos com os outros 200 parece ter como base algumas suposições errôneas:

(1) Eles presumem que os despojos sejam seus para repartirem como quiserem, e deixam bem claro que se recusam a repartir com os demais os “seus” despojos.

(2) Eles presumem que os outros 200 não tiveram parte na batalha ou na vitória, só porque não estavam com eles quando lutaram e venceram os amalequitas.

(3) Eles presumem que a vitória foi deles, algo pelo que pudessem levar o crédito, e pelo que devessem esperar uma recompensa.

(4) Estes homens não estão pedindo uma parte maior dos despojos, eles estão exigindo. Eles não estão buscando a orientação de Davi, ou estão usurpando sua liderança, ou, pelo menos, tentando.

Davi não deixa que prevaleçam. Ele se dispõe a tratar de suas exigências e administra tudo muito bem. Ele se recusa a permitir que façam as coisas do seu jeito, enquanto lhes mostra por que estão errado em sua exigência. Veja o raciocínio de Davi:

(1) Eles não merecem estes despojos, como supõem. Tanto a vitória quanto os despojos são um presente gracioso de Deus (e, desta forma, sem méritos). Deus deu os despojos da mesma forma que deu a vitória. Como, então, eles podem fazer esta reclamação como se merecessem alguma coisa?

(2) A vitória é do grupo todo, e o grupo é bem maior do que os 400 homens. Quando Davi emprega a palavra nos, parece claro que ele inclui todos os 600 homens. “Deus nos deu a vitória”, ele argumenta, “para todos os 600 homens, não apenas para 400”.

(3) Os 600 homens de Davi são todos irmãos (verso 23). Não é somente uma porção de indivíduos; é uma irmandade. Estes homens são uma família. Quando o bando amalequita retorna a seu acampamento, todo mundo celebra a vitória; todo mundo partilha os despojos. Os homens de Davi devem fazer menos?

(4) A batalha é uma ação coletiva, cada membro desempenhando um papel diferente. Só porque 200 ficaram para trás não significa que não tiveram parte na vitória. Eles ficaram com as bagagens (pelo que entendo, a bagagem de todos os 600 homens) e, desta forma, também contribuíram para a vitória. A vitória é uma vitória coletiva, e assim, cada homem deve ter uma parte igual dos despojos.

Davi se recusa a permitir que estes “homens maus e filhos de Belial” estraguem a vitória que Deus lhes deu. Ele cuida para que os despojos sejam igualmente distribuídos entre todos os 600 homens. No entanto, eles não ficam com todos os despojos desta vitória. Nos versos 26 a 31, vemos que Davi faz bom uso de uma parte dos despojos partilhando-a com algumas cidades israelitas que ele e seus homens costumavam freqüentar.

Estas cidades talvez tivessem sido atacadas pelos amalequitas e sofrido algumas perdas. Talvez alguns despojos sejam deles.

(1) Estas cidades são aquelas que Davi e seus homens freqüentavam.

(2) Estas são algumas das cidades que Davi deu a entender a Aquis que ele mesmo tinha invadido e saqueado.

(3) Alguns homens destas cidades são anciãos; homens de considerável influência.

(4) Alguns homens destas cidades são amigos de Davi.

(5) Estas cidades são israelitas; na verdade, estão no território de Judá. Portanto, são parentes de Davi.

(6) Muito em breve estes beneficiários da generosidade de Davi serão os primeiros a abraçá-lo como seu rei.

A decisão de Davi tem um longo alcance, muito maior do que ele possa imaginar neste momento. Muitas decisões têm longo alcance. Ele jamais imaginou, por exemplo, qual seria o resultado de fugir para o território filisteu. Ele jamais imaginou as conseqüências de enfrentar Golias e matá-lo. No calor do momento, Davi tinha uma decisão a tomar. Deveria fazer a vontade de uns poucos homens maus e filhos de Belial, deixando-os dividir os despojos só entre os 400? Ou deveria ficar firme naquilo que é certo? Davi escolhe ficar firme naquilo que é certo, e nesse processo, ele estabelece um princípio que subsistirá além dele. O bem ou o mal que escolhemos estabelece um precedente para o futuro.

Conclusão

Lição um: A Providência de Deus. Como a providência de Deus é espantosa! Ela é vista muitas vezes e com muita clareza em I Samuel, e agora em nosso texto. A providência de Deus é Sua mão “invisível” nos acontecimentos da vida, assegurando e alcançando Seus propósitos e Suas promessas. Davi fora escolhido e ungido como o próximo rei de Israel. Deus cuidou dele e o protegeu, e a seus homens, de formas incríveis, formas que, necessariamente, não reconheceríamos como providência de Deus na época em que aconteceram. Lemos que Davi estava pronto e disposto a acompanhar Aquis e seus comandantes na batalha. Ele parece ficar muito desapontado ao ser rejeitado pelos comandantes filisteus e mandado de volta prá Ziclague. Contudo, agora vemos que foi isto que contribuiu para que ele e seus homens atacassem os amalequitas e recuperassem tudo o que haviam perdido.

Deus orientou Davi e seu pequeno exército por meio de um sacerdote e de uma estola sacerdotal, guiando-os na perseguição aos amalequitas, garantindo que eles os alcançassem e resgatassem tudo o que haviam perdido. Mas, além desta orientação, Deus providenciou para que um escravo egípcio de um senhor amalequita ficasse tão doente que tivesse que ser deixado para trás para morrer. Assim, este homem seria encontrado e reanimado por Davi e seus homens. Este homem, então, serviria como guia para dirigi-los ao acampamento amalequita.

Mas espere, tem mais! Na providência de Deus, aparentemente o bando amalequita tinha atacado Ziclague por último. Eles não tinham saqueado só Ziclague, mas também muitas outras cidades filistéias e israelitas. Davi e seus homens não recuperaram somente seus bens, mas também os bens de muitas outras pessoas. Davi dividiu estes despojos com uma porção de cidades israelitas, caindo assim nas graças de seus parentes. Ziclague foi queimada, a única perda irrecuperável. Contudo, esta “perda” foi útil para fazê-lo retornar mais rápido ao território de Judá, onde ele foi constituído Rei de Judá. “Todas as coisas realmente cooperam para o bem dos que amam a Deus, daqueles que são chamados segundos o Seu propósito.” (Romanos 8:28)

Lição 2: O Princípio da Graça. Este princípio é o mais importante, pois ele nos obriga a repensar e revolucionar nosso ministério como membros do corpo de Cristo. A vitória de Davi e seus homens sobre os amalequitas, na realidade, foi uma vitória de Deus. É claro que os homens desempenharam seu papel, mas, em última análise, foi uma vitória de Deus. Que os homens não ousem tomar o crédito (e as recompensas) por aquilo que Deus faz. Este não é um ponto de somenos. Lembra-se do que aconteceu a Herodes quando ele permitiu que os homens o louvassem como se fosse um deus? Ele foi ferido por Deus e morto, porque não deu a glória a Deus (ver Atos 12:20-23). Jesus ensinou “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.” (Mateus 22:21). Não devemos tomar o crédito das coisas que são de Deus, mas dar a glória a Ele. Paulo ensinou claramente este princípio quando aplicado aos dons e ministérios espirituais que Deus dá aos membros individuais do corpo de Cristo:

“Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?” (I Co. 4:7)

Graça significa não termos de fazer alguma coisa para alcançar o perdão, a salvação e as bênçãos de Deus. Tudo o que temos a fazer é receber aquilo que Deus, em graça, nos dá. Mas graça também significa que quando recebemos o que não merecemos, não podemos ousar levar o crédito por isso, como se o merecêssemos. O princípio da graça significa que os homens não levam o crédito por aquilo que Deus faz.

Lição 3: O Princípio da Pluralidade (ou do trabalho em equipe). Ainda que Deus tenha lhes dado a vitória, Davi e seus homens têm um papel muito importante da batalha. Todos eles tomam parte na batalha. Os 200 homens que ficam para trás guardam a bagagem. Se eles tivessem ido junto, teriam retardado os demais, pois estavam muito cansados. Se não tivessem guardado a bagagem, os outros 400 teriam arriado. Os que ficaram para trás agiram no melhor interesse de todos os 600. Mas cada um dos 600 homens contribuiu para a causa. Foi um esforço de equipe.

Havia muitas divisões na igreja de Corinto. Algumas parecem ter como fundamento o fato de que os coríntios possuíam diferentes dons espirituais. Alguns destes dons eram mais valorizados do que outros. Aqueles que possuíam dons considerados mais importantes ficaram orgulhosos, desprezando os que supostamente tinham dons menores. E aqueles que tinham dons supostamente menores começaram a pensar que não eram necessários e talvez até não fizessem parte do corpo de Cristo (I Coríntios 12). Paulo mostra que todos os dons são dons da graça, para que ninguém se glorie naquilo que lhe foi dado. Ele também enfatiza que cada dom tem um papel importante, e todos são necessários. A igreja é o corpo de Cristo e cada membro individual tem um dom ou dons que desempenham uma função vital no corpo. Cada membro do corpo depende dos outros membros. Ninguém é sem importância. Todos fazem parte da equipe. O trabalho de nosso Senhor - o trabalho do corpo de Cristo, a igreja - só pode ser desempenhado como parte de um todo, como membros de uma equipe. Aqueles que pensam de forma individualista estão errados.

Lição 4: Lições Sobre a Páscoa. Mencionei anteriormente que esta passagem contém pelo menos uma mensagem de Páscoa. Agora é hora de fazer bom uso desta afirmação. Como nosso texto pode se relacionar com a Páscoa? Porque a Bíblia, o Velho e o Novo Testamento falam de fé, e fé bíblica é fé na ressurreição.

Para os santos do Novo Testamento, fé na ressurreição de nosso Senhor Jesus é uma parte vital, inseparável da mensagem do evangelho que cremos:

“Porém que se diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé que pregamos. Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação.” (Romanos 10:8-10; ver I Coríntios 15:1 e ss).

É pela fé que cremos que ressuscitaremos da morte, como Cristo:

“Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem. Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo. Cada um, porém, por sua própria ordem: Cristo, as primícias; depois, os que são de Cristo, na sua vinda.” (I Coríntios 15:20-23)

Celebramos a Páscoa todos os anos porque sabemos destas coisas. A fé cristã é fé na ressurreição. Esta foi uma verdade para os santos do Novo Testamento. E quero lembrá-lo ainda que a fé dos santos do Antigo Testamento também foi fé na ressurreição. Sabemos que foi verdade para Abraão:

“Essa é a razão por que provém da fé, para que seja segundo a graça, a fim de que seja firme a promessa para toda a descendência, não somente ao que está no regime da lei, mas também ao que é da fé que teve Abraão (porque Abraão é pai de todos nós, como está escrito: Por pai de muitas nações te constituí.), perante aquele no qual creu, o Deus que vivifica os mortos e chama à existência as coisas que não existem. Abraão, esperando contra a esperança, creu, para vir a ser pai de muitas nações, segundo lhe fora dito: Assim será a tua descendência. E, sem enfraquecer na fé, embora levasse em conta o seu próprio corpo amortecido, sendo já de cem anos, e a idade avançada de Sara, não duvidou, por incredulidade, da promessa de Deus; mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus, estando plenamente convicto de que ele era poderoso para cumprir o que prometera. Pelo que isso lhe foi também imputado para justiça. E não somente por causa dele está escrito que lhe foi levado em conta, mas também por nossa causa, posto que a nós igualmente nos será imputado, a saber, a nós que cremos naquele que ressuscitou dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação.” (Romanos 4:16-25)

Como demonstra o escritor da carta aos Hebreus, isto também foi verdade para todos os outros santos do Antigo Testamento. Todos foram salvos pela fé e não pelas obras - esta fé era fé na ressurreição:

Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Porque os que falam desse modo manifestam estar procurando uma pátria. E, se, na verdade, se lembrassem daquela de onde saíram, teriam oportunidade de voltar. Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade. Pela fé, Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque; estava mesmo para sacrificar o seu unigênito aquele que acolheu alegremente as promessas, a quem se tinha dito: Em Isaque será chamada a tua descendência; porque considerou que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo dentre os mortos, de onde também, figuradamente, o recobrou. Pela fé, igualmente Isaque abençoou a Jacó e a Esaú, acerca de coisas que ainda estavam para vir. Pela fé, Jacó, quando estava para morrer, abençoou cada um dos filhos de José e, apoiado sobre a extremidade do seu bordão, adorou. Pela fé, José, próximo do seu fim, fez menção do êxodo dos filhos de Israel, bem como deu ordens quanto aos seus próprios ossos.” (Hebreus 11:13-22, ênfase minha).

Desde o início da história humana, Deus tem demonstrado que Ele é o doador da vida, um Deus que dá vida aos mortos:

(1) Nos dois primeiros capítulos do livro de Gênesis, vemos Deus criando a vida.

(2) Já vimos que, no que diz respeito a ter filhos, Abrão e Sarai estavam “mortos”, e, no entanto, Deus lhes deu um filho (Romanos 4:16-25). Quando Deus pediu a Abraão para oferecer seu filho como sacrifício, Abraão estava disposto a obedecer, confiando que Deus o ressuscitaria dentre os mortos (Hebreus 11:17-19).

(3) Os irmãos de José o odiavam e o colocaram numa cisterna, planejando matá-lo. Ele estava praticamente “morto”, mas Deus, providencialmente, trouxe um grupo de mercadores midianitas que o compraram como escravo. José parecia sem esperanças como escravo, e depois, na prisão, como condenado, mas Deus deu vida a este morto, por assim dizer, ao elevá-lo à segunda posição mais alta do Egito (ver Gênesis 37 e ss).

(4) Os israelitas se tornaram escravos dos egípcios e foram insultados e maltratados. Faraó expediu uma ordem para que todos os bebês do sexo masculino fossem lançados no Nilo para morrer. Moisés estava praticamente morto. E, no entanto, Deus arranjou para que a filha de Faraó o tirasse do rio, anulando, desta forma, a ordem de Faraó que determinava a morte de todos os bebês meninos hebreus. Pelo salvamento desde pequenino, Deus libertou a nação inteira do jugo do Egito, e todos os poderes que ameaçavam os israelitas foram afogados no Mar Vermelho (Êxodo 1-15).

(5) Inúmeras vezes os inimigos circunvizinhos invadiram Israel, ameaçando sua existência (vida); no entanto, Deus levantou os juízes (ver o livro de Juízes).

(6) Ana era estéril e sem filhos, mas queria desesperadamente ter uma criança: ela “estava praticamente morta” para dar à luz, no entanto, Deus lhe deu Samuel e outros filhos e filhas (I Samuel 1 e 2).

(7) Os israelitas estão em guerra com os filisteus. Eles levam a arca da Aliança com eles. Israel é derrotado, os dois filhos de Eli são mortos, Eli morre, e sua nora também: posso até ouvir um murmúrio israelita “estamos todos mortos”. Mas Deus deu nova vida à nação. Ele afligiu tanto os filisteus que eles não só devolveram a arca da Aliança, como também mandaram junto um “agrado” (isto é, ouro; ver I Samuel 4-6).

(8) Os israelitas se reúnem em Mispa para renovar sua aliança com Deus; os filisteus ouvem falar deste grande ajuntamento e presumem erroneamente que seja algum tipo de operação militar. Eles enviam um vasto exército, que cerca os israelitas. Os filisteus têm carros de ferro e lanças. Com certeza os israelitas pensam: “Estamos todos mortos!” Mas Deus envia uma tempestade elétrica e os filisteus são derrotados (I Samuel 7).

(9) Os filisteus ocupam Israel e Jônatas os provoca atacando uma de suas guarnições. Uma vasta força armada vem dar uma lição em Israel. Saul tem somente 600 homens com ele, pois o restante desertou. Muitos que ficaram também estão pensando em como escapar. Saul deve estar dizendo a si mesmo “estou perdido”. Deus usa a coragem e a fé de Jônatas para iniciar um ataque aos filisteus e depois manda um terremoto, que resulta na vitória israelita sobre os filisteus (I Samuel 13 e 14).

(10) Os filisteus vêm novamente travar batalha com Israel. Golias insulta os israelitas e seu Deus. Saul e seus homens estão mortos de medo, e ninguém quer enfrentar Golias. Os israelitas, uma vez mais, pensam “estamos mortos!” Deus lhes manda um jovem pastor, que confia em Deus e não tem medo de enfrentar Golias; por meio de Davi Deus dá nova vida a Israel (I Samuel 17).

(11) Davi e seus homens caem numa cilada preparada por Saul numa montanha do deserto de Maon. Saul e seus homens estão prontos para lançar a armadilha. Ao lermos esta narrativa não podemos deixar de pensar “estão todos mortos”. De repente, um mensageiro chega informando a Saul que os filisteus atacaram Israel e ele tem que partir. Davi e seus homens ganham nova vida (I Samuel 23).

(12) Em nosso texto, Davi e seus homens fogem para Aquis em território filisteu, procurando refúgio de Saul. Davi quase vai para a guerra contra Israel, junto com os filisteus; ou ele faz isto ou terá que se voltar contra Aquis. Parece não haver saída; então, quando Davi e seus homens são mandados de volta para Ziclague, damos um suspiro de alívio, só até sabermos que Ziclague foi invadida pelos amalequitas e que todas as famílias e seus bens tinham desaparecido. “Estão todos mortos”, dizemos a nós mesmos, “já eram”. Mas Deus dá fé, coragem e direção a Davi, e coloca um escravo semimorto em seu caminho. No fim deste capítulo aparentemente sem esperanças, Deus transforma a morte em vida.

(13) Quando Elias se escondia de Acabe, rei de Israel, ele foi sustentado por uma viúva que vivia com seu filho. Este filho ficou doente e morreu, mas, por meio de Elias, Deus trouxe a criança de volta à vida (I Reis 17:17-24). Uma ressurreição muito parecida com esta aconteceu pelas mãos de Eliseu, conforme descrito em II Reis 4.

(14) O profeta Jonas não quer obedecer a Deus e pregar o evangelho aos ninivitas; assim, ele foge de Israel e embarca num navio em direção oposta, para Nínive. Uma tormenta violenta ameaça o navio onde Jonas está, junto com a carga e a tripulação. Jonas diz à tripulação o motivo da tormenta e os convence a lançá-lo no mar. Ele afunda nas ondas pela última vez e nós, junto com ele, dizemos, “morreu”. Mas, de repente, um grande peixe aparece, traga Jonas, e depois o vomita em terra seca. Isto, como o Próprio Senhor notou, é um tipo de Sua ressurreição (ver Jonas, Mateus 12:38-40).

(15) Daniel e seus três amigos são hebreus cativos vivendo na Babilônia. Eles estão determinados a servir a Deus, mesmo que isso signifique desobedecer o rei mais poderoso de sua época. O rei coloca os três amigos de Daniel numa fornalha ardente e lança Daniel numa cova de leões: “Estão mortos”, dizemos a nós mesmos. Mas Deus dá aos três homens uma companhia na fornalha e impede que sejam machucados pelas chamas e pelo calor. Ele fecha a boca dos leões, que normalmente teriam devorado Daniel. Deus ama dar vida àqueles que estão praticamente mortos. No Antigo Testamento vemos que é assim que Ele tem feito desde o princípio da história do homem.

A mesma coisa acontece no Novo Testamento. Deus está constantemente trazendo vida da morte:

(1) Isabel e seu marido estão velhos e não podem ter filhos. Deus lhes dá um filho, a quem Zacarias chama de João. Deus traz vida da morte.

(2) Uma jovem virgem chamada Maria está comprometida com um homem chamado José, mas ainda não é casada com ele. Ela jamais teve relações sexuais com um homem. Pelo poder do Espírito Santo, Deus faz com que fique grávida do Messias prometido. Deus traz vida de uma morte virtual.

(3) Uma viúva da cidade de Naim tem apenas um filho, que morre e está sendo levado para o enterro. Ele está morto, literalmente. Para os que estão à espera, não há esperanças. Tudo acabou para o rapaz. E, no entanto, Jesus pára o funeral e ordena ao jovem que se levante, o que, com toda a certeza, ele faz. Jesus dá vida ao morto (Lucas 7:11-15).

(4) Lázaro é irmão de Maria e Marta, todos são amigos de Jesus. Lázaro fica gravemente doente, e Jesus deliberadamente se atrasa. Quando Jesus e seus discípulos chegam, Lázaro não está apenas morto, está no túmulo há 3 dias. Está realmente morto. Mas Jesus o chama para fora do túmulo, e ele volta à vida (João 11).

Estas e tantas outras experiências “da morte para vida” descritas no Antigo e no Novo Testamento, nada mais são do que um prelúdio da “maior” de todas, a ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. Jesus de Nazaré vem ao mundo e proclama ser o Filho de Deus. Ele vive uma vida perfeita e interpreta as Escrituras do Antigo Testamento como Deus queria que fossem entendidas e praticadas. Os líderes religiosos judaicos, com a ajuda dos oficiais romanos, conspiram contra Jesus e O crucificam na cruz do Calvário. Ele é declarado morto e sepultado numa tumba. “Jesus está morto”, admitem tristemente os discípulos. Está acabado. E então, ao terceiro dia, eles encontram a tumba vazia e vêem nosso Senhor ressuscitado dos mortos. Eles jamais serão os mesmos novamente. Deus ressuscitou Jesus dos mortos.

Encontrar assuntos relacionados à ressurreição na Bíblia (Deus trazendo vida da morte) é quase como encontrar Cristo nas cartas de Paulo. A ressurreição é parte integrante da fé e das Escrituras. O que importa é: “Você já teve uma experiência pessoal da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo?” Já foi trazido da morte para a vida, ao confiar em Jesus para perdão dos seus pecados e para o presente da vida eterna? A Bíblia nos diz que todos nós estamos “mortos em nossos delitos e pecados” (Efésios 2:1), a não ser pela fé em Jesus Cristo. Nós sequer podemos agradar a Deus guardando Seus mandamentos. Precisamos reconhecer nossos pecados e o fato de que merecemos a ira eterna de Deus como justa punição para eles. Pela simples aceitação do presente da salvação por meio da vida, morte e ressurreição de nosso Senhor, nascemos de novo, experimentamos pessoalmente a ressurreição de Jesus Cristo. Daí por diante, nós vivemos; temos a vida eterna. Você já recebeu este presente de vida? É isso que é a Páscoa. O negócio de Deus é fazer homens mortos viverem pelos séculos e, com certeza, Ele pode fazer isto por você.

“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais. Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.” (Efésios 2:1-10)

É de vital importância que você e eu, em vida, venhamos a ter fé em Jesus Cristo, morrendo para o pecado e ressuscitando em novidade de vida, em Cristo. Mas isto não é o fim. A ressurreição é muito mais do que uma experiência de vida. Não basta celebrar a ressurreição de nosso Senhor uma vez por ano. Ela deve ser celebrada na igreja a cada semana (ver I Coríntios 11:26; Lucas 22:19; Atos 20:7). E ainda mais, a ressurreição é um meio de vida. A ressurreição deve ser vivida e experimentada todos os dias pelo cristão:

“Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que abunde a graça? De modo nenhum. Nós, que já morremos para o pecado, como viveremos ainda nele? Ou, porventura, ignorais que todos quantos fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. Porque, se temos sido unidos a ele na semelhança da sua morte, certamente também o seremos na semelhança da sua ressurreição; sabendo isto, que o nosso homem velho foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado fosse desfeito, a fim de não servirmos mais ao pecado. Pois quem está morto está justificado do pecado. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos, sabendo que, tendo Cristo ressurgido dentre os mortos, já não morre mais; a morte não mais tem domínio sobre ele. Pois quanto a ter morrido, de uma vez por todas morreu para o pecado, mas quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus.” (Romanos 6:1-11)

“Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito é vida, por causa da justiça. Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita.” (Romanos 8:9-11)

Em nosso texto há mais um assunto relacionado à Páscoa que não podemos negligenciar. Ele deve ficar claro à luz das palavras de Paulo em Efésios 4:

“E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo. Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens. Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia descido até às regiões inferiores da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas. E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor.” (Efésios 4:7-16)

Paulo está falando sobre dons espirituais, os quais Deus dá a cada um e a todos os crentes em Jesus Cristo. Ele está dizendo que estes dons - que são a capacitação divina para o ministério no corpo e para o corpo de Cristo - são o resultado e a expressão da vitória de Cristo sobre Satanás e o pecado, através de Sua morte e, especialmente, de Sua ressurreição dos mortos. Quando Jesus derrotou Satanás e o pecado, Ele deu dons àqueles que são Seus, como manifestação de Sua vitória.

Paulo chama nossa atenção para a prática militar resultante da vitória sobre os inimigos. Ele compara os dons espirituais dados por nosso Senhor à Sua igreja aos prêmios dados pelos líderes militares a seus homens em caso de vitória. Eu lhe pergunto, onde, em toda a Bíblia, isto é expresso com maior clareza do que bem aqui neste texto? Quando Davi distribui os despojos de sua vitória sobre os amalequitas, ele está prefigurando o Rei dos reis, que deu “dons espirituais” a Sua igreja como indicação da magnitude de sua vitória.

Nosso Deus é um Deus salvador, um Deus doador da vida. E Ele dá vida àqueles que estão mortos. Não é de admirar que Ele nos salve quando ainda estamos “mortos em nossos delitos e pecados”. Não é de admirar que devamos nos considerar mortos, a fim de que Sua vida seja manifestada em nós e por meio de nós. A Deus seja a glória. Somente Ele dá vida aos mortos.

“Pois assim como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim também o Filho vivifica aqueles a quem quer.” (João 5:21)

“Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a natureza da tribulação que nos sobreveio na Ásia, porquanto foi acima das nossas forças, a ponto de desesperarmos até da própria vida. Contudo, já em nós mesmos, tivemos a sentença de morte, para que não confiemos em nós, e sim no Deus que ressuscita os mortos;” (II Coríntios 1:8-9)

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