Viver em Amor originalmente foi publicado em 1978 por Tyndale House Publishers, Inc. sob o título "Casais Famosos da Biblia" (Famous Couples in the Bible). O livro foi escaneado e é usado com permissão.
Tradução: Mariza Regina de Souza de Inglés.
A lua de mel é uma época deliciosa. A própria palavra transborda a novidade e o entusiasmo do amor dos jovens. O termo parece ter sido cunhado para transmitir a ideia de que a primeira lua ou o primeiro mês do casamento é o mais doce e o mais feliz de todos. Mas não é assim que deveria ser. Deus Se agradaria se os nossos casamentos ficassem melhores com o passar do tempo. Cada novo mês deveria ser mais doce e mais prazeroso que o anterior. Infelizmente, alguns casamentos acabam se tornando exatamente o que a palavra lua de mel sugere — o primeiro mês é o melhor, e depois tudo vai por água abaixo. Talvez possamos ajudar a reverter esta tendência examinando a Palavra de Deus.
A Escritura não fala exatamente isso, mas tenho a impressão de que a lua de mel de Adão e Eva durou bem mais de um mês.
Só Deus sabe quantos meses ou anos de puro êxtase se passaram entre os capítulos dois e três de Gênesis. Mas nenhum relacionamento humano jamais superou o deles naqueles primeiros dias de pura alegria e incrível deleite. Aquele casamento era, sem dúvida alguma, um casamento perfeito.
Pense nisso por um instante. Se já houve algum casamento feito nos céus, esse casamento foi o deles. Ele foi planejado e realizado com perfeição por um Deus perfeito. Primeiro, Deus esculpiu Adão (Gênesis 2:7). Modelado pelo Mestre da Criação, Adão, sem dúvida, tinha um belo corpo, atlético e sem defeito. E ele foi feito à imagem e semelhança do próprio Deus (Gênesis 1:27). Isso significa que tinha personalidade parecida com a de Deus — tudo perfeito: intelecto, emoções e vontade. Ele possuía uma mente brilhante, ainda não afetada pelo pecado. Suas emoções eram impecáveis, inclusive o amor, terno e totalmente abnegado, o amor do próprio Deus. E ele tinha uma vontade que estava em total sintonia com os propósitos do Seu Criador. Mulheres, quem de vocês não gostaria de um homem assim? Perfeito em tudo! No físico, na mente, nas emoções e no espírito.
Mas deixe-me falar sobre Eva. “Então, o SENHOR Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne. E a costela que o SENHOR Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe” (Gênesis 2:21-22). Adão deve ter olhado para Eva com admiração e apreço. Ela era o melhor do gênio criativo de Deus; graça e beleza imaculada, rosto e corpo puros e belos. Moldada pela mão do próprio Deus, Eva devia ser a criatura mais extraordinária que já andou pela face da terra. E, como Adão, ela também foi feita à imagem de Deus. Sua mente, suas emoções e sua vontade ainda não tinham sido afetadas pelo pecado. Que homem não gostaria de ter uma mulher assim?
Adão imediatamente reconheceu a semelhança de Eva consigo mesmo. E disse: “Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada” (Gênesis 2:23). Parece que, sem nenhuma revelação especial de Deus, Adão instintivamente soube que Eva fora feita dele; ela era parte dele; era sua igual; era sua companheira e contraparte. Ele a chamou de mulher, “varoa”. Ele a tomou para si com ternura. Ela acabou com a terrível solidão dele e encheu sua vida de felicidade. Ela era exatamente o que ele precisava. E nada deu a ela maior satisfação do que a garantia de que seu marido precisava muito dela. Que prazer intenso e indescritível eles encontraram na companhia um do outro! Como eles se amaram!
A casa deles ficava no Éden, o lugar perfeito (Gênesis 2:8). A palavra Éden significa “deleite”, e deleitoso ele era. Bem regado pela nascente de quatro rios, o Éden era um paraíso verdejante, recoberto com todo tipo de plantas belas e comestíveis (Gênesis 2:9-10). Eles cultivavam a terra, mas como não havia espinhos ou ervas daninhas para atrapalhar, seu trabalho era muito leve e agradável. Lado a lado, eles viviam e trabalhavam em perfeita harmonia, compartilhando um sentimento de interdependência mútua, desfrutando a liberdade de comunhão e comunicação, tendo uma afeição profunda que os unia em espírito. Eles eram inseparáveis.
Ah, havia uma ordem de autoridade no seu relacionamento. Adão foi feito primeiro, depois Eva, como o apóstolo Paulo teve o cuidado de mencionar (1 Timóteo 2:13). E Eva foi feita para Adão, não Adão para Eva, como Paulo demonstrou (1 Coríntios 11:9). Mas ela era sua auxiliadora (Gênesis 2:18) e, para ser uma auxiliadora idônea, ela tinha de compartilhar todas as coisas da vida com ele. Ela estava com ele quando Deus lhes deu a ordem para subjugar e dominar a terra; por isso, ela dividia igualmente essa tremenda responsabilidade com seu marido (Gênesis 1:28). Ela fazia tudo o que uma auxiliadora devia fazer. Ela o ajudava, incentivava, aconselhava e inspirava, e fazia tudo isso com um doce espírito de submissão. Adão nunca se ressentia da sua ajuda, nem mesmo dos seus conselhos. Afinal de contas, foi por isso que Deus a deu a ele. E nem ela se ressentia da sua liderança. A atitude dele nunca era maculada pela superioridade ou pela exploração. Como poderia? O amor dele era perfeito. Ela era alguém muito especial para ele e ele a tratava como tal.
Ele não poderia dar de si o suficiente para expressar sua gratidão a ela, e nunca tinha um pensamento sequer sobre o que recebia em troca. Não havia como ela se ressentir de uma liderança como essa.
A Palavra de Deus diz: “Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam” (Gênesis 2:25). Eles tinham uma relação de perfeita pureza e inocência. Não havia pecado neles. Não havia brigas entre eles. Eles estavam em paz com Deus, em paz consigo mesmo e em paz um com o outro. Aquele era verdadeiramente um casamento perfeito. Era o paraíso. Como gostaríamos que tivesse durado, que pudéssemos experimentar o mesmo grau de felicidade conjugal que eles desfrutaram naqueles dias gloriosos. Mas algo aconteceu.
A narrativa bíblica nos leva, em seguida, para a entrada do pecado. Não há dúvida de que o sutil tentador que se aproximou de Eva neste episódio foi Satanás usando o corpo de uma serpente (cf. Apocalipse 12:9). Sua primeira abordagem foi colocar em cheque a Palavra de Deus: “É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?” (Gênesis 3:1). Depois de ter colocado em dúvida a Palavra de Deus, ele a negou categoricamente: “É certo que não morrereis.” (Gênesis 3:4). Finalmente, ele escarneceu de Deus e descaradamente distorceu Sua Palavra: “Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gênesis 3:5). Tudo bem, eles conheceriam o mal, mas não seriam como Deus. Aliás, seriam exatamente o contrário. A semelhança com Deus de que desfrutavam seria manchada e estragada. Os métodos de Satanás não mudaram muito ao longo dos séculos. Sabemos muito bem disso — as dúvidas, as distorções, as negações. Nós também somos vítimas disso tudo. Podemos nos identificar com Eva em seu momento de fraqueza. Sabemos o que é ceder à tentação.
Satanás usou a árvore do conhecimento do bem e do mal para realizar seu trabalho sinistro. Deus havia colocado a árvore no jardim para ser símbolo da submissão de Adão e Eva a Ele (Gênesis 2:17), mas Satanás às vezes usa até mesmo coisas boas para nos afastar da vontade de Deus. “Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu” (Gênesis 3:6). Já reparou que Eva foi tentada nas três áreas principais relacionadas em 1 João 2:16? 1) A concupiscência da carne — “boa para se comer”; 2) A concupiscência dos olhos — “agradável aos olhos”; 3) A soberba da vida — “para dar entendimento”. Estas são as mesmas áreas usadas por Satanás para nos deixar mal com Deus e com os outros — desejo de satisfazer nossos apetites físicos, desejo por coisas materiais e desejo de impressionar os outros com nossa importância.
Em vez de fugir da tentação, como mais tarde a Escritura nos exorta a fazer, Eva flertou com ela. Ela tinha tudo o que alguém poderia desejar, mas ficou ali e permitiu que sua mente pensasse na única coisa que ela não tinha, até que isso se tornou uma obsessão e fez sua alegre lua de mel chegar a um final infeliz. Desde então, esse mesmo tipo de desejo incontrolável tem acabado com a lua de mel de muitas pessoas. Maridos às vezes desperdiçam o dinheiro do supermercado com materiais de lazer, passatempos, carros e roupas. Esposas às vezes levam o marido a ganhar mais dinheiro para poderem ter coisas maiores, melhores e mais caras. E os bens materiais deste mundo acabam causando a separação entre eles. Quando permitimos que a nossa mente cobice coisas materiais, Deus chama isso de idolatria (Colossenses 3:5). E Ele nos exorta a fugir dela: “Portanto, meus amados, fugi da idolatria” (1 Coríntios 10:14).
Eva não fugiu. Ela “tomou-lhe do fruto e comeu” (Gn. 3:6). O texto não é claro, mas as palavras “deu também ao marido” talvez impliquem em que Adão a observava. Não temos ideia do por que ele não tentou impedi-la ou por que não se recusou a segui-la em seu pecado. Mas o que sabemos é que ele falhou lamentavelmente com ela nessa ocasião. Ele negligenciou a liderança espiritual que Deus queria que ele tivesse e, em vez disso, ele deixou Eva conduzi-lo ao pecado. Que influência poderosa tem uma mulher sobre seu marido! Ela pode usar sua influência para desafiá-lo a novos patamares de realizações espirituais ou para arrastá-lo às profundezas da vergonha. Deus deu Eva a Adão para ela ser sua auxiliadora, mas seu coração ansioso o destruiu.
Juntos, eles esperaram pelas novas delícias da sabedoria divina prometidas por Satanás. Em vez disso, uma sensação horrorosa de culpa e vergonha tomou conta deles. Seu espírito morreu no mesmo instante (Gênesis 2:17), e seu corpo físico começou um lento processo de degeneração que estragaria a bela obra-prima de Deus e, no final, acabaria na morte física. Era sobre isso que Paulo falava quando disse: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Romanos 5:12). Esse é o jeito do pecado. Promete demais e entrega de menos. O pecado promete liberdade, sabedoria e prazer, mas gera escravidão, culpa, vergonha e morte.
De repente, a nudez deles se tornou símbolo do seu pecado (Gênesis 3:17). Ela os expôs abertamente aos olhos penetrantes do Deus Santíssimo. Eles tentaram se cobrir com folhas de figueira, mas isso não era aceitável. Mais tarde Deus revelaria que a única cobertura adequada para o pecado envolveria o derramamento de sangue (Gênesis 3:21; Levítico 17:11; Hebreus 9:22).
Isso nos leva, finalmente, ao doloroso desfecho. O pecado vem acompanhado de consequências desastrosas, estejamos ou não dispostos a admitir nossa culpa. Adão jogou a culpa pela sua parte na tragédia sobre Eva e Deus: “A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi” (Gênesis 3:12). Eva disse que foi enganada pela serpente (Gênesis 3:13). Quase da mesma forma, sempre tentamos jogar a culpa pelos nossos problemas conjugais em outra pessoa. “Se ela parasse de me encher a paciência, eu poderia…”; “Se ele me desse mais atenção, eu poderia…” Mas Deus responsabilizou os dois pelo que aconteceu, da mesma forma que Ele também nos responsabiliza pela nossa parte. E, geralmente, os dois lados são culpados. Deus quer que enfrentemos as consequências com honestidade, sem fazer rodeios.
As consequências foram quase maiores do que Adão e Eva poderiam suportar. Para Eva, a dor do parto seria um lembrete constante do seu pecado. Além disso, ela iria experimentar o desejo insaciável por seu marido, um desejo agudo de estar com ele, de ter sua atenção, sua afeição e sua segurança. Sua carência seria tão grande que seu marido pecador raramente estaria disposto a atendê-la.
E, finalmente, a autoridade que Adão tinha sobre ela desde a criação foi reforçada com a regra: “e ele te governará” (Gn. 3:16). Nas mãos de um homem pecador, essa regra às vezes resultaria num domínio cruel e impiedoso sobre ela — desrespeito pelos seus sentimentos e desprezo pelas suas opiniões. Eva, sem dúvida, aguçada pelo pecado, devia se encher de rancor quando Adão se afastava dela, lhe dava menos atenção e ficava mais ocupado com outras coisas. Amargura, ressentimento e rebelião começaram a tomar conta da sua alma.
Para Adão, cultivar o solo tornou-se uma tarefa interminável e tediosa. A ansiedade tomou conta da sua capacidade de prover o sustento da sua família, deixando-o agitado e irritado, e menos atencioso às necessidades de sua esposa. Como resultado, o conflito entrou em seu lar. O pecado sempre traz tensão, briga e conflito. E isso nunca foi tão dolorosamente evidente para Adão e Eva do que quando eles estavam ao lado do primeiro túmulo da história da raça humana. Seu segundo filho perdera a vida numa terrível briga de família. A lua de mel tinha acabado!
Esta seria a história mais triste que já se contou, não fossem os raios gloriosos de esperança com os quais Deus iluminou as trevas. Dirigindo-se a Satanás, ele disse: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gênesis 3:15). Deus prometeu que o descendente da mulher, uma criança nascida na raça humana, destruiria as obras do diabo, inclusive o caos que ele tinha causado no lar. Esta é a primeira profecia bíblica a respeito da vinda do Redentor. E Ele já veio! Ele morreu pelos pecados do mundo. Seu sangue perfeito é a cobertura satisfatória para os pecados de cada ser humano que nEle crê. Ele nos dá o Seu perdão gratuitamente e nos restaura pelo Seu favor. E Ele nos concede a Sua força para nos ajudar a vencer o nosso pecado.
Ele pode até nos ajudar a superar as consequências do pecado em nossos relacionamentos conjugais. Ele pode dar aos maridos o mesmo amor terno e a mesma consideração abnegada que Adão teve por Eva antes de eles pecarem. Ele pode dar às esposas a mesma solicitude encorajadora e a mesma submissão afetuosa que Eva tinha para com Adão antes da queda. Em outras palavras, a lua de mel pode recomeçar. Mas, primeiro, é preciso receber Jesus Cristo como Salvador. Não há esperança de um relacionamento conjugal se tornar tudo o que pode sem que ambos, marido e esposa, recebam a garantia do perdão e da aceitação de Deus. Esta garantia só pode ser experimentada quando reconhecemos o nosso pecado e colocamos a nossa confiança no sacrifício perfeito de Jesus Cristo na cruz do Calvário, o qual nos libertou da condenação eterna merecida pelo nosso pecado.
Se você tem alguma dúvida, acabe com ela agora. Com toda sinceridade e franqueza, ore assim: “Senhor, reconheço meu pecado diante de Ti. Creio que Jesus Cristo morreu para me livrar da culpa do meu pecado, da pena pelo meu pecado e do controle do pecado em minha vida. Eis-me aqui, agora ponho minha confiança nEle como meu Salvador pessoal e O recebo em minha vida. Graças Te dou, Senhor Jesus, pois entraste na minha vida e perdoaste o meu pecado”. Quando você toma esta decisão, o caminho fica livre para Deus encher o seu coração da Sua ternura e do Seu amor, tirar o seu egoísmo e a sua teimosia, e lhe dar uma preocupação abnegada pelas necessidades do seu cônjuge. E você ainda pode desfrutar um pouquinho do paraíso.
Tradução: Mariza Regina de Souza
Deus disse a Eva: “o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará” (Gênesis 3:16). Isso foi parte das dificuldades causadas à mulher pelo pecado, e é interessante observar que os principais relacionamentos entre marido e mulher que se seguem nas Escrituras ilustram a submissão da esposa ao governo do marido. Sara é elogiada duas vezes pelos escritores do Novo Testamento: uma por sua fé (Hebreus 11:11) e outra por sua submissão ao marido (1 Pedro 3:5-6). O apóstolo Pedro foi ainda mais longe quando disse que ela “obedeceu a Abraão, chamando-lhe senhor”.
Em nossa cultura, nem sonharíamos em pedir a uma esposa que chamasse o marido de “senhor”, mas, naquela época, essa era a forma de Sara expressar sua submissão. Por mais estranho que pareça, estes dois princípios, fé e submissão, realmente andam juntos. Para a esposa, submissão é, basicamente, crer que Deus opera por meio do seu marido para realizar aquilo que é melhor para ela. E esta é a história da vida de Sara com Abraão.
Em primeiro lugar, vamos examinar a fonte da fé. A história começou em Ur, próspera metrópole perto da antiga costa do Golfo Pérsico. Um homem, pelo menos, se enchia de repulsa diante da idolatria e do pecado daquela cidade, pois havia conhecido o único Deus vivo e verdadeiro: “Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12:1-3). Armado com essa poderosa promessa, Abraão levantou acampamento e, com Tera, seu pai, Ló, seu sobrinho, e Sara, sua esposa, deu início à longa jornada para o norte, ao longo do crescente fértil, rumo à cidade de Harã.
Mudar-se não é divertido, principalmente quando a empresa de mudanças é um camelo ou uma mula, e especialmente quando você nem sabe para aonde vai! “Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia” (Hebreus 11:8). Talvez isso bem mais difícil para a mulher do que para o homem. Sara não é mencionada neste versículo, mas sua fé está ali, tão firme quanto a de Abraão. Ela sabia que Deus a sustentaria durante aquela árdua jornada e mostraria a seu marido o lugar que Ele havia escolhido para eles.
Sara não era uma cabeça-oca, fraca, sem personalidade, excessivamente dependente. Seus pais lhe deram o nome de Sarai, e os nomes tinham significado no antigo mundo bíblico. O dela queria dizer “princesa”. Talvez seu nome descrevesse sua grande beleza, a qual é mencionada duas vezes no relato inspirado (Gênesis 12:11, 14). É possível também que descrevesse sua criação, sua educação refinada, seu encanto e suas maneiras graciosas. Quando Deus mudou seu nome para Sara, Ele não retirou a conotação de princesa, mas acrescentou a dignidade de ser mãe. Nesse contexto, ela é chamada de “a mãe das nações” (Gênesis 17:15-16, ARC).
Sara era uma mulher inteligente e capaz. Mas, quando se casou com Abraão, ela teve de tomar uma decisão. Ela estabeleceu como missão ajudar o marido a realizar os propósitos de Deus para ele. Isso não foi fraqueza. Foi a vontade de Deus para a vida dela: a verdadeira submissão bíblica. Algumas esposas têm sistematicamente sabotado o plano divino para o marido por não estarem dispostas a crer em Deus e se entregar à Sua sabedoria. Elas simplesmente não acreditam que Deus use seu marido para fazer o que é melhor. Elas acham que precisam colaborar com Deus tentando dominar o marido.
Parece que o pai de Abraão não quis prosseguir quando eles chegaram a Harã. Ele era idólatra (Josué 24:2), e a cidade de Harã lhe convinha perfeitamente para passar o resto da vida. Ele atrasou os planos de Deus para Abraão, mas não pôde destruí-los. Com a morte de Tera, Abraão, então com 75 anos de idade, deixou Harã e foi para a terra que Deus lhe prometera (Gênesis 12:4). Foi outra mudança para um lugar desconhecido, mas ao lado dele estava Sara, uma mulher de submissão e fé (Gênesis 12:5). Os dias por vir veriam sua fé severamente testada e sua submissão, duramente provada.
Em segundo lugar, vamos explorar as contínuas lutas da fé. A fé cresce quando está sob ataque. Quem ora para Deus afastar seus problemas pode estar pedindo uma vida espiritual deficiente. Às vezes, a nossa fé vacila diante do estresse, mas quando reconhecemos nossas falhas e aceitamos o perdão de Deus, mesmo essas falhas podem contribuir para o nosso crescimento espiritual. Abraão e Sara são elogiados nas Escrituras pela sua grande fé, mas suas falhas foram registradas para nossa instrução e encorajamento.
O primeiro ataque veio logo após eles terem entrado em Canaã. Havia grande fome na terra e Abraão decidiu deixar o lugar que Deus lhe prometera, fugindo para o Egito (Gênesis 12:10). Se ele tivesse consultado Sara, ela poderia ter-lhe mostrado a tolice de sua decisão, mas, como muitos homens, ele levou adiante seu plano sem levar em conta as dificuldades que poderia causar a ela. Muitos homens não gostam de pedir conselho à esposa. Eles acham que sua autoridade lhes dá a prerrogativa de fazer o que bem entendem sem conversar com a esposa para chegar a um acordo mutuamente aceitável. Eles receiam que elas encontrem falhas em sua lógica ou desmascarem seu egoísmo tacanho. Por isso, seguem em frente com seus planos e toda família acaba sofrendo com isso.
Quando se aproximaram do Egito, Abraão disse à esposa: “Ora, bem sei que és mulher de formosa aparência; os egípcios, quando te virem, vão dizer: É a mulher dele e me matarão, deixando-te com vida. Dize, pois, que és minha irmã, para que me considerem por amor de ti e, por tua causa, me conservem a vida” (Gênesis 12:11-13). Isso foi um tributo à beleza de Sara, a qual, aos 65 anos de idade, ainda era tão irresistível que Abraão pensou que os egípcios pudessem matá-lo por causa dela. E a beleza de Sara não estava só nos olhos dele. “Tendo Abrão entrado no Egito, viram os egípcios que a mulher era sobremaneira formosa. Viram-na os príncipes de Faraó e gabaram-na junto dele; e a mulher foi levada para a casa de Faraó” (Gênesis 12:14-15). Mesmo achando que eles o matariam para ficar com ela, Abraão tinha certeza de que o tratariam como convidado de honra se pensassem nela como sua irmã. E ele não estava errado. Eles lhe deram muitos servos e animais por causa dela (Gn. 12:16). Bem, tecnicamente, Sara era sua irmã, sua meia-irmã (Gn. 20:12). Esse tipo de casamento não era incomum naquela época. Mas o que Abraão disse a faraó era apenas meia-verdade, e meias-verdades são mentiras nas coisas de Deus. Deus não pode aceitar o pecado.
Por que Sara consentiu com esse plano pecaminoso? Este não seria o caso onde a obediência a Deus era melhor que obediência ao marido? Creio que sim. A esposa não tem obrigação de obedecer ao marido quando essa obediência compromete a vontade claramente revelada de Deus (cf. Atos 5:29). Sara tinha uma boa justificativa para não obedecer ao marido. Mas isso não mostraria o quão profunda era sua fé e sua submissão. Sara acreditava na promessa feita por Deus a Abraão de que ele seria pai de uma grande nação. Já que eles ainda não tinham filhos, ela era dispensável, mas Abraão tinha de viver e ter filhos, mesmo se fosse com outra mulher.
Talvez ela também acreditasse que Deus interviria e a livraria antes de acontecer alguma imoralidade, o que era bastante provável, dado o tamanho do harém de faraó. Da mesma forma, talvez ela acreditasse que Deus a uniria novamente ao marido e os resgataria das mãos de faraó. E, devido ao que ela acreditava, ela acabou se submetendo. Deus os teria protegido mesmo sem o plano egoísta de Abraão, mas a fé em Deus e a submissão de Sara ao marido são lindamente ilustradas nesta narrativa do Antigo Testamento. O verdadeiro teste para a submissão de uma esposa pode vir quando ela sabe que o marido está cometendo um erro.
É difícil imaginar como um homem pode descer tanto quanto Abraão nesta ocasião. Até o rei pagão o censurou pelo que ele fez (Gênesis 12:18-20). Abraão falhou miseravelmente com Sara, mas Deus foi fiel a ela. Ele honrou sua fé e a livrou. Deus nunca abandona quem confia nEle. Nós poderíamos pensar que, depois dessa experiência, a lição sobre o cuidado soberano de Deus teria ficado gravado de forma tão indelével na alma de Abraão, que ele nunca mais comprometeria sua esposa para se proteger. Mas ele comprometeu. Cerca de vinte anos mais tarde, ele fez exatamente a mesma coisa com Abimeleque, rei de Gerar (Gênesis 20:1-8). Isso mostra como um fiel pode ser fraco e sem fé. Há pecados que talvez achemos que nunca mais iremos cometer, mas é preciso ter muito cuidado, pois é exatamente aí aonde Satanás vai nos atacar. O surpreendente é que Sara foi novamente submissa, e novamente Deus a livrou, mais uma evidência da sua fé e da fidelidade de Deus.
Outro motivo de grande tensão para a fé de Abraão e Sara é revelado nesta afirmação: “Ora, Sarai, mulher de Abrão, não lhe dava filhos” (Gênesis 16:1). Em breve Deus mudaria o nome de Abrão para Abraão, de “pai exaltado” para “pai de uma multidão”. Mas como Abraão poderia ser pai de uma multidão quando nem tinha filho? Agora era a vez de Sara usar a engenhosidade humana para dar um jeito na situação. Ela ofereceu a Abraão sua escrava egípcia, Agar, para que ele tivesse um filho com ela. Sua sugestão, temos de admitir, mostrou que ela acreditava que Deus manteria Sua palavra e daria um filho a Abraão. Obviamente, ela foi motivada por seu amor a Abraão e pelo desejo de ele ter um filho. E, dividir o marido com outra mulher, deve ter sido um dos maiores sacrifícios que ela poderia fazer. Mas esse não era o jeito de Deus. Era só mais uma solução carnal. E o jeito de Deus sempre é o melhor, mesmo quando Ele não faz aquilo que achamos necessário naquele momento.
Muitas vezes, nós, terráqueos preocupados com o tempo, ficamos ressentidos com a demora de Deus e cuidamos do assunto pessoalmente, em geral, para nossa própria tristeza. Se aprendêssemos a manter a confiança em Deus quando a situação parecesse ruim, pouparíamos a nós mesmos de muito sofrimento.
Esse pecado impulsivo afetou o relacionamento de Abraão e Sara. Agar engravidou e acabou se tornando orgulhosa e incontrolável. Sara jogou a culpa em Abraão, quando, na verdade, a ideia foi dela mesma. Depois, ela tratou Agar com rispidez, e sua grosseria revelou a amargura e o ressentimento da sua alma. Enquanto isso, Abraão se esquivava da sua responsabilidade. Antes de tudo, ele deveria ter dito “não” ao plano pecaminoso de Sara. Mas agora ele lhe diz para cuidar do problema sozinha, fazer o que quiser e parar de encher a paciência dele com isso (Gênesis 16:6).
É difícil para uma esposa ser submissa a um banana, um homem que não enfrenta seus problemas, fica em cima do muro e se esquiva de suas responsabilidades. Não há a quem se submeter, não há liderança a seguir. A esposa não pode ajudar o marido a cumprir o propósito de Deus para a vida dele quando ela nem sabe o que ele pretende.
Até mesmo grandes homens e mulheres de fé têm seus momentos de fraqueza. E, para Abraão e Sara, não houve momento pior do que quando eles se riram de Deus. Os dois riram. Deus disse a Abraão que abençoaria Sara e a faria mãe de nações. Reis de povos procederiam dela. Abraão se prostrou com o rosto em terra e se riu, dizendo: “A um homem de cem anos há de nascer um filho? Dará à luz Sara com seus noventa anos?” (Gênesis 17:17). Abraão tentou fazer Deus aceitar Ismael como seu herdeiro, mas Deus lhe disse: “De fato, Sara, tua mulher, te dará um filho, e lhe chamarás Isaque; estabelecerei com ele a minha aliança, aliança perpétua para a sua descendência” (Gênesis 17:19).
A seguir, foi a vez de Sara. O Senhor apareceu na tenda de Abraão na pessoa de um visitante, e Sara o ouviu dizer: “Certamente voltarei a ti, daqui a um ano; e Sara, tua mulher, dará à luz um filho” (Gênesis 18:10). Ela estava escutando na porta da tenda, e se riu, dizendo: “Depois de velha, e velho também o meu senhor, terei ainda prazer?” (Gênesis 18:12). A propósito, foi assim que Pedro soube que ela chamou Abraão de “senhor”. A submissão estava ali, mas sua fé estava vacilante. As lutas da fé são reais e todos passamos por elas. Os dardos de dúvida lançados por Satanás parecem voar em nossa direção quase o tempo todo, e muitas vezes somos tentados a achar graça só de pensar em Deus resolvendo nossos problemas espinhosos.
Mas graças a Deus pelo triunfo final da fé. Creio que a reviravolta na fé relutante de Abraão e Sara ocorreu durante o último contato com o Senhor: “Por que se riu Sara?”, Deus prontamente perguntou. “Acaso, para o SENHOR há coisa demasiadamente difícil?” (Gênesis 18:13-14). Essas palavras incisivas e desafiadoras penetraram fundo naqueles corações vacilantes, e sua fé foi reavivada, fortalecida e solidificada. Houve mais um pequeno contratempo em Gerar (Gênesis 20:1-8), mas, basicamente, as coisas ficaram diferentes daí por diante.
De Abraão, o apóstolo Paulo escreveu: “E, sem enfraquecer na fé, embora levasse em conta o seu próprio corpo amortecido, sendo já de cem anos, e a idade avançada de Sara, não duvidou, por incredulidade, da promessa de Deus; mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus, estando plenamente convicto de que ele era poderoso para cumprir o que prometera” (Romanos 4:19-21).
De Sara, o escritor aos Hebreus disse: “Pela fé, também, a própria Sara recebeu poder para ser mãe, não obstante o avançado de sua idade, pois teve por fiel aquele que lhe havia feito a promessa” (Hebreus 11:11). Sua fé foi recompensada; Sara teve um filho e eles o chamaram de Isaque, que significa “riso”. E Sara nos diz porque lhe deu esse nome: “Deus me deu motivo de riso; e todo aquele que ouvir isso vai rir-se juntamente comigo” (Gênesis 21:6). Seu sorriso de dúvida se transformou em um riso triunfante de alegria, a qual nós podemos compartilhar com ela.
Haveria também outros problemas para Abraão e Sara. A vida de fé nunca está livre de obstáculos. Agar e Ismael ainda estavam por perto para zombar de Isaque. E Sara ficou transtornada com isso. Quando viu Ismael caçoando do seu pequeno Isaque, parece que ela ficou descontrolada. Ela correu até Abraão e furiosamente exigiu: “Rejeita essa escrava e seu filho; porque o filho dessa escrava não será herdeiro com Isaque, meu filho” (Gênesis 21:10). Seria esta a mesma mulher exaltada no Novo Testamento por sua submissão e obediência? Sim, é ela mesma. Submissão saudável não impede alguém de expressar suas opiniões. A submissão doentia geralmente é motivada por baixa autoestima (“minha opinião não vale nada”), receio de enfrentar circunstâncias desagradáveis (“a única coisa que eu quero é paz”) ou para se esquivar de responsabilidade (“outro que tome a decisão; não vou levar a culpa”).
Pelo menos, Sara disse o que pensava. E, além do mais, ela estava certa! Em ficar transtornada, não; mas Ismael não devia ser herdeiro com Isaque, e Deus queria que Ismael saísse da família. Deus disse a Abraão para ouvir Sara e fazer tudo o que ela dissesse (Gênesis 21:12). Imagine só — mesmo quando Sara ficou perturbada, Deus queria que Abraão aceitasse seu conselho. Deus sempre quer usar as esposas para corrigir os maridos, para aconselhá-los, amadurecê-los, ajudá-los a resolver seus problemas e dar-lhes discernimento. É para isso que são auxiliadoras.
Alguns maridos fazem a esposa se sentir como uma pessoa ignorante, cujas ideias são ridículas e cujas opiniões não valem nada. O marido que faz isso é quem é o verdadeiro ignorante. Ele está perdendo o melhor de Deus para ele. Se a esposa diz ao marido que o casamento está com problemas, Deus quer que ele a ouça — ouça sua avaliação da situação, ouça as mudanças que ela acha devem ser feitas, ouça quando ela tenta dividir seus sentimentos e necessidades — e então faça alguma coisa construtiva sobre isso. Um dos principais problemas nos casamentos cristãos da atualidade é que os maridos são orgulhosos demais para admitir quando há alguma coisa errada e teimosos demais para tomar uma atitude. Talvez Deus queira ensiná-los por meio de sua esposa.
A escrava e o filho finalmente foram despachados. Ismael já tinha idade suficiente para sustentar sua mãe e Deus lhe deu habilidade com o arco (Gênesis 21:20). Com aquela mulher irritante fora do caminho, o pequeno e feliz trio familiar desfrutou durante algum tempo do companheirismo e da fé sem empecilhos. Mas a pior de todas as provações ainda estava por vir. “Depois dessas coisas, pôs Deus Abraão à prova” (Gênesis 22:1). Esta ia ser uma provação bastante incomum. Deus disse: “Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes, que eu te mostrarei” (Gênesis 22:2). O nome de Sara não aparece nesse capítulo e raramente a mencionamos quando falamos sobre o assunto. Mas, com certeza, ela sabia o que estava para acontecer. Provavelmente, ela os ajudou na preparação para a viagem. Ela viu a lenha, o fogo, e a faca; ela viu o filho, Isaque, e viu Abraão, um olhar de agonia franzindo sua testa envelhecida. Mas não viu nenhum animal para o sacrifício. A Escritura diz que Abraão acreditou que Deus poderia até ressuscitar Isaque dos mortos (Hebreus 11:19). Sara também deve ter acreditado.
Ela os viu desaparecer no horizonte e, embora seu coração de mãe estivesse arrasado, ela não proferiu sequer uma palavra de protesto. Esta, provavelmente, foi a maior demonstração da sua fé em Deus e de submissão à vontade e propósito do marido. “Pois foi assim também que a si mesmas se ataviaram, outrora, as santas mulheres que esperavam em Deus, estando submissas a seu próprio marido, como fazia Sara, que obedeceu a Abraão, chamando-lhe senhor, da qual vós vos tornastes filhas, praticando o bem e não temendo perturbação alguma” (1 Pedro 3:5-6). A esposa cristã não precisa ter medo de ser submissa quando sua esperança está em Deus. Ele será fiel à Sua Palavra e usará a obediência dela para fazer aquilo que é melhor para ela.
Sara foi uma daquelas mulheres de quem o rei Lemuel falou que faziam bem e não mal ao marido todos os dias da sua vida (Provérbios 31:12). Uma mulher só pode ser esse tipo de esposa quando crê que nada é difícil demais para Deus, e quando crê que Deus pode até usar os erros do seu marido para glorificar a Si mesmo e abençoar a vida deles. E um homem só pode ser digno de uma esposa tão submissa, quando aprende a seguir a orientação de Deus, em vez de ir atrás de seus objetivos egoístas. Tal homem sabe que não tem autoridade para garantir sua posição de liderança. Isso lhe foi dado por Deus. Por isso, ele a aceita como um dever sagrado, exercendo sua autoridade com submissão total a seu Senhor e consideração desvelada por sua esposa e por aquilo que é melhor para ela.
1. Para os maridos: Quais são os objetivos da sua vida? Já conversou sobre eles com sua esposa? Para as esposas: De que forma você pode ajudar seu marido a cumprir o propósito de Deus para ele?
2. Por que o marido deve buscar o conselho da esposa nas decisões que afetam a ela?
3. Em quais situações a mulher encontra mais dificuldade para ser submissa?
4. Como Deus espera que a esposa reaja quando sente que o marido não faz aquilo que é da vontade de Deus?
5. Para as esposas: Existe alguma área da sua submissão que seja motivada pela baixa autoestima, pelo receio de enfrentar circunstâncias desagradáveis ou para se esquivar de responsabilidade? Qual é a base da submissão saudável?
6. Como os maridos, às vezes, usam sua autoridade como um porrete para conseguir as coisas do seu jeito? O que podem fazer para evitar isso?
7. Tendo Deus dado o papel de liderança ao marido, quais, então, são suas obrigações para com sua esposa?
8. Para as esposas: Como Deus deseja que você expresse suas opiniões e desejos ao seu marido? Para os maridos: Como Deus espera que você reaja quando sua esposa está tentando lhe dizer alguma coisa?
Tradução: Mariza Regina de Souza
Deus prometera a Abraão que ele seria pai de uma grande nação. Para desfrutar dessa posição privilegiada, obviamente ele tinha de ter um filho, e nós acompanhamos as lutas da fé que finalmente levaram Abraão e Sara a ter seu filho. O nascimento de Isaque foi o ponto alto da sua memorável e emocionante caminhada com Deus. Quanta felicidade ele levou àquele esse lar! E que rapaz extraordinário ele era — comportado, obediente e submisso aos pais. Submissão parece ser a única forma de explicar como o idoso Abraão pôde fazer o jovem se deitar no altar do sacrifício. Deus providenciou um carneiro nesse drama de obediência e fé repleto de suspense; Isaque foi libertado e os três foram alegremente reunidos como família.
Tudo indica que eles formavam uma família muito unida. Eles se amavam muito. O fato de Isaque ter ficado de luto durante três anos inteiros após a morte da mãe seria uma indicação do amor que sentiam uns pelos outros (Gn. 24:67).
Com a partida de Ismael, Isaque se tornou a única criança em casa e a vida de seus pais girava em torno dele. Ele não tinha falta de nada. Àquela altura, Abraão já havia se tornado um homem muito rico e a narrativa diz que ele deu tudo a Isaque (Gn. 24:35-36). Talvez houvesse até um pouco de excesso de amor e indulgência no seu relacionamento.
Não é possível saber se Abraão e Sara percebiam que estavam afetando a personalidade de Isaque e produzindo um fraco material conjugal pela maneira como o educavam. Na verdade, eles nem mesmo pensavam em casamento. Eles gostavam tanto do filho que pareciam ter se esquecido de que ele precisava de uma esposa se era para eles se tornarem progenitores de uma grande nação. Mas, após a morte de Sara, Abraão viu que teria de tomar a iniciativa e fazer planos para encontrar uma companheira para o filho. Esta não é a maneira como nossos filhos encontram um cônjuge atualmente, mas, naquela época e naquela cultura, foi uma linda história de amor.
Para Isaque e Rebeca, o começo foi muito terno. Quando a história teve início, Abraão já era idoso. Ele chamou seu servo mais antigo, administrador de todos os seus bens, e lhe disse: “não tomarás esposa para meu filho das filhas dos cananeus, entre os quais habito; mas irás à minha parentela e daí tomarás esposa para Isaque, meu filho” (Gn. 24:3-4). Os cananeus eram um povo depravado, amaldiçoado por Deus e condenado à destruição. Deus não se agradaria se Isaque se cassasse com alguma mulher cananeia. Embora os parentes de Abraão do norte da Mesopotâmia tivessem seus ídolos, pelo menos eram pessoas decentes, que conheciam a Deus e O respeitavam. E eram descendentes de Sem, o qual fora abençoado por Deus.
Harã era o único lugar viável para encontrar uma esposa para Isaque. Embora não possamos mais escolher o cônjuge dos nossos filhos, devemos ensiná-los desde cedo sobre a importância de se casar com uma pessoa crente (cf. 1 Co. 7:39; 2 Co. 6:14). Isso os ajudará a encontrar um companheiro segundo a vontade de Deus para sua vida quando chegar o momento de tomar esta importante decisão.
E, assim, o idoso servo de Abraão começou a difícil jornada até as imediações de Harã, onde o irmão de Abraão havia permanecido após a migração deste para Canaã, 65 anos antes. Abraão garantira ao servo que o anjo do Senhor iria adiante dele. Com esse senso de direção divina, o servo parou junto a um poço na cidade de Naor, que por acaso era o nome do irmão de Abraão. Ali ele orou a Deus para trazer a garota certa até o poço e fazê-la oferecer água a seus camelos. Este foi um pedido bem específico de uma companheira adequada para Isaque. E aqui temos uma lição para nós. A melhor maneira de nossos filhos encontrarem um cônjuge segundo a vontade de Deus é orando sobre isso. Eles podem começar a orar ainda na infância sobre aquele ou aquela que Deus está preparando para eles. Orar durante esses anos os ajudará a ter em mente aquilo que é mais importante na sua escolha — a vontade de Deus.
Antes mesmo de o servo dizer “amém”, a resposta de Deus estava a caminho. Rebeca, neta do irmão de Abraão, saiu com um cântaro no ombro. A Escritura diz que ela era muito bonita, e virgem. Quando ela veio do poço com o cântaro cheio d’água, o servo correu ao seu encontro e lhe disse: “Dá-me de beber um pouco da água do teu cântaro”. Ela lhe respondeu: “Bebe, meu senhor” e, rapidamente, lhe deu de beber. Quando ele terminou, ela disse: “Tirarei água também para os teus camelos, até que todos bebam”. Então, ela despejou a água do cântaro no bebedouro e voltou ao poço para pegar mais, até tirar água suficiente para todos os dez camelos dele (Gn. 24:15-20).
Mas que garota ela era — linda, viva, amável, simpática, extrovertida e dinâmica. E, quando o servo descobriu que ela era neta do irmão de Abraão, inclinou a cabeça e adorou ao Senhor: “Bendito seja o SENHOR, Deus de meu senhor Abraão, que não retirou a sua benignidade e a sua verdade de meu senhor; quanto a mim, estando no caminho, o SENHOR me guiou à casa dos parentes de meu senhor.” (Gn. 24:27)
Desde o princípio, ficou evidente que Deus era o verdadeiro casamenteiro da história. Quando o servo contou à família de Rebeca as indicações da orientação divina, o irmão e o pai dela concordaram. “Isto procede do SENHOR”, disseram eles (Gn. 24:50). Não importa quais tipos de problemas um casamento possa encontrar, sempre será mais fácil resolvê-los quando ambos, marido e mulher, têm certeza de que foi Deus quem os uniu. As dificuldades podem ser superadas sem isso, e precisam ser se Deus deve ser glorificado, mas a ideia torturante de que eles se casaram sem ser da vontade de Deus os deixará menos dispostos a trabalhar seu relacionamento com diligência e autossacrifício.
Rebeca teve de tomar a maior decisão da sua vida — deixar a casa e a família que ela nunca mais veria e viajar quase oitocentos quilômetros nas costas de um camelo, ao lado de um completo estranho, para se casar com um homem que ela não conhecia. Sua família a chamou e disse: “Queres ir com este homem?” E ela respondeu: “Irei” (Gn. 14:58). Foi a certeza da direção soberana de Deus que motivou sua decisão e revelou sua coragem e confiança.
Com certeza, as horas de viagem foram preenchidas falando sobre Isaque. O idoso servo o descreveu com fidelidade e perfeição. Isaque era um homem modesto, bem-educado e amante da paz. Ele faria qualquer coisa para evitar uma briga (cf. Gn. 26:18-25). Ele também era um homem pensativo, não precipitado, mas calmo e reservado. Não era um grande homem como seu pai, mas era um bom homem, com uma fé inabalável em Deus e compreensão do propósito divino. Ele sabia que por meio do seu descendente Deus traria bênção espiritual para toda a terra (Gn. 26:3-5). Ele era diferente da esfuziante e perspicaz Rebeca — muito diferente. Mas, segundo os especialistas, os opostos se atraem. E Rebeca podia sentir seu coração sendo atraído por aquele a quem logo ela conheceria e se daria em casamento.
Isaque estava no campo, meditando ao cair da tarde, quando a caravana se aproximou levando sua preciosa carga. Rebeca desmontou do camelo quando o viu, e se cobriu com um véu, como era costume. Depois que ele ouviu todos os detalhes emocionantes daquela viagem cheia de acontecimentos e de como a providência divina encontrara uma noiva para ele, lemos: “Isaque conduziu-a até à tenda de Sara, mãe dele, e tomou a Rebeca, e esta lhe foi por mulher. Ele a amou; assim, foi Isaque consolado depois da morte de sua mãe” (Gn. 24:67). Foi um começo muito terno.
Entretanto, em algum ponto ao longo do caminho, o casamento deles começou a ir por água abaixo. Vejamos, então, o trágico declínio em seu relacionamento. Não sabemos exatamente qual foi o problema. Com certeza, não foi falta de amor, pois ele realmente amava Rebeca e, diferente de muitos maridos, ele o demonstrava abertamente. Quase quarenta anos depois de se casarem, ele foi visto acariciando a esposa em público (Gn. 26:8); o que pode nos levar a crer que eles tinham um bom relacionamento físico. E isso é importante num casamento. Mas marido e mulher não podem passar o tempo todo na cama. Eles também precisam construir uma comunhão íntima e profunda de alma e espírito. Precisam compartilhar sinceramente o que se passa dentro deles, o que pensam e sentem. E não há muita evidência disso entre Isaque e Rebeca.
Um dos problemas pode ter sido a falta de filhos. Isaque talvez tenha ficado ressentido e ainda não tinha admitido. Ter filhos era muito mais importante naquela época do que é hoje em dia, e eles tentaram durante quase vinte anos sem sucesso. Em vinte anos, muita amargura pode se juntar dentro de uma pessoa. Contudo, Isaque finalmente levou seu problema ao lugar certo: “Isaque orou ao SENHOR por sua mulher, porque ela era estéril; e o SENHOR lhe ouviu as orações, e Rebeca, sua mulher, concebeu” (Gn. 25:21).
No entanto, ter bebês não resolve problemas. Os gêmeos, que logo iriam nascer, só aumentariam um problema já existente no seu relacionamento. Parecia uma questão de comunicação. Rebeca, com sua personalidade borbulhante, amava conversar. Isaque, de personalidade retraída, preferia a solidão e o silêncio. Era muito difícil falar com ele. Com o passar dos anos, eles conversavam cada vez menos um com o outro. E a amargura de Rebeca cresceu devido a falta de comunhão e companheirismo que toda mulher almeja. Sua voz talvez tenha assumido um tom cáustico. Seu rosto talvez tenha desenvolvido uma expressão de aversão e desprezo. E seus olhares desdenhosos e comentários maldosos só levaram Isaque a se afastar ainda mais em busca da sua preciosa paz. Talvez ele até tenha se tornado meio surdo ao som da voz dela. Alguns especialistas modernos dizem que isso realmente pode acontecer.
Quando Rebeca concebeu, sua gravidez foi terrível. Isaque lhe foi de pouca ajuda, por isso, ela clamou ao Senhor por respostas, e Ele lhe disse: “Duas nações há no teu ventre, dois povos, nascidos de ti, se dividirão: um povo será mais forte que o outro, e o mais velho servirá ao mais moço” (Gn. 25:23). Não há nenhuma indicação na Escritura de que ela tenha compartilhado com o marido essa rara profecia divina, de que Jacó, o filho mais novo, receberia a bênção da primogenitura. Na única menção feita ao nome de Rebeca fora do livro de Gênesis, a promessa ainda era exclusivamente dela. “Já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço” (Rm. 9:12). Por que ela não conseguia nem contar ao marido a incrível promessa de Deus? Por que era tão difícil para ela conversar com Isaque sobre qualquer coisa?
Conselheiros matrimoniais estimam que pelo menos metade de todos os seus casos envolva um marido silencioso. Em algumas situações, como no caso de Isaque, talvez seja uma dificuldade real de conversar. Talvez ele não goste muito de ficar pensando e não tenha o que dizer. Talvez seja muito calado e não saiba como se comunicar. Em outros casos, um homem normalmente comunicativo pode não querer compartilhar coisas com sua esposa porque está preocupado com outros assuntos e não percebe como é importante conversar com ela. Se ela fica reclamando por causa disso, ele pode construir um muro protetor ao seu redor de si e retrair-se ainda mais.
Contudo, seja qual for o motivo da sua quietude, ele precisa trabalhar sua comunicação. Sua esposa precisa de comunhão verbal e companheirismo. Deus a fez assim. E Deus pode ajudar o marido a melhorar nessa área, se ele quiser ser ajudado e buscar o auxílio que vem de cima. Não importa se ele vai se transformar ou não num tagarela, ele pode aprender a ser um bom ouvinte. Sua esposa precisa que ele a ouça com toda atenção, não com um ouvido na televisão e outra nela, mas com os dois voltados para ela, e bem abertos. Talvez isso seja tudo o que ela realmente deseje. Homens, amem o suficiente para ouvir!
Em alguns casos, talvez o problema seja o inverso. O marido pode gostar de conversar e a esposa pode encontrar dificuldade de se comunicar. Seja qual for a situação na sua casa, você pode facilitar a vida do seu cônjuge lembrando-se de alguns princípios simples. Antes de qualquer coisa, não fique pressionando; deixe-o escolher quando quiser falar. Não o julgue quando expressar seus sentimentos e frustrações. Quando não concordar com alguma coisa, faça-o com delicadeza e respeito, não com sarcasmo e acusações. Tente entender o outro em vez de querer somente ser compreendido. Não tire conclusões precipitadas, ouça-o pacientemente até o fim. E, acima de tudo, não fique reclamando! A reclamação é a assassina número um da comunicação.
Evidentemente, nunca ninguém disse essas coisas a Isaque e Rebeca. A relação deles ia de mal a pior. Quando os gêmeos nasceram, como era de se esperar, suas personalidades eram totalmente diferentes. A Escritura diz: “Cresceram os meninos. Esaú saiu perito caçador, homem do campo; Jacó, porém, homem pacato, habitava em tendas” (Gn. 25:27). Como quase sempre acontece quando marido e mulher têm relacionamento ruim entre si, Isaque e Rebeca se apegaram cada um a um dos filhos como substitutivo ao seu relacionamento, a fim de preencher o vazio de sua alma. “Isaque amava a Esaú, porque se saboreava de sua caça; Rebeca, porém, amava a Jacó” (Gn. 25:28).
Isaque viu em Esaú o caçador machão que ele mesmo nunca foi, e aprendeu indiretamente a gostar das façanhas desportivas do filho, enquanto saboreava seus deliciosos guisados de carne de veado. Rebeca, por outro lado, favorecia Jacó. Ele ficava mais em casa. Provavelmente conversava com ela, a ouvia e a ajudava em suas tarefas. E ela encontrou nele o companheirismo nunca desfrutado com o marido. Foi um arranjo patético e, com certeza, teve séria repercussão na vida dos garotos.
Psicólogos atuais chamam a atenção para os mesmos problemas que vemos neste antigo lar. Eles dizem que uma mãe dominadora e um pai passivo tendem a criar filhos problemáticos, e que o favoritismo na unidade familiar tende a causar graves danos na personalidade dos filhos. Enquanto uma criança recebe mimos e concessões de um dos pais, é criticada e rejeitada pelo outro. Nenhum dos dois faz bem a ela, e ambos contribuem para a baixa autoestima e sentimentos ambíguos que a confundem e enchem de culpa. A criança cresce desrespeitando o pai que a mima e desprezando o que a rejeita. Em última análise, ela pode menosprezar a ambos e começar a fazer o que bem entende, não importando a quem magoe por conta disso.
Foi exatamente isso que aconteceu no lar de Isaque e Rebeca. Jacó mostrou sua ambição egoísta ao roubar o direito de primogenitura do irmão (Gn. 25:29-34). Esaú mostrou seu desprezo pelos pais ao se casar com duas mulheres hititas contra a vontade deles (Gn. 26:34-35). E o amante da paz, Isaque, ficou sentado, comendo seu guisado de carne de veado, deixando tudo acontecer.
O trágico declínio desse relacionamento foi seguido, finalmente, por um fim traiçoeiro. “Traição” é a melhor palavra que encontro para descrever os acontecimentos registrados em Gênesis 27. Rebeca, espionando do lado de fora da tenda, ouviu o idoso Isaque dizer a Esaú para caçar alguma coisa e preparar-lhe um guisado saboroso, para que pudesse ter forças e abençoá-lo antes de morrer. Na verdade, Isaque viveu ainda muitos anos depois disso, mas ele tinha se tornado retraído e absorto, quase hipocondríaco.
É importante entender que ele ainda não sabia que Jacó deveria receber a bênção da primogenitura e a liderança espiritual da família. Posteriormente, a Escritura declara que “Pela fé, igualmente Isaque abençoou a Jacó e a Esaú, acerca de coisas que ainda estavam para vir” (Hb. 11:20). Isaque pensou estar abençoando Esaú, não Jacó. O Espírito de Deus certamente não teria dito “pela fé” se ele tivesse dado a bênção em deliberada desobediência à vontade conhecida de Deus. Isaque ainda não sabia!
Esta era a hora perfeita para Rebeca se refugiar em Deus e pedir a sabedoria divina, e depois entrar e, com muito tato, falar com Isaque sobre a promessa feita pelo Senhor a ela antes do nascimento dos gêmeos. Se havia uma ocasião certa para conversar sobre isso, a ocasião era essa. Se ela tivesse falado com ele com cuidado, com base naquilo que Deus lhe dissera, certamente ela teria garantido para Jacó a bênção desejada por Deus. No entanto, em vez de orar e raciocinar, ela escolheu trair e enganar.
Ocultar os verdadeiros pensamentos e sentimentos pode, na verdade, ser uma forma de fingimento, e fingir tinha se tornado um modo de vida para Isaque e Rebeca. Agora, tudo estava prestes a vir à tona. Seria muito bom prestarmos bastante atenção a isso, pois este é o tipo de coisa a que, muitas vezes, leva a falta de comunicação.
O plano diabólico de Rebeca era ajudar Jacó a se passar por Esaú, para que o cego e idoso Isaque fosse enganado e o abençoasse ao invés do irmão. Jacó não gostou da ideia, pois Esaú era peludo e ele, liso. Era possível que o pai colocasse as mãos nele e sentisse sua pele lisa, e sua farsa seria revelada, trazendo-lhe maldição em vez de bênção. Mas Rebeca se ofereceu para receber sobre si a maldição e lhe disse para seguir em frente e fazer o que ela havia dito. Sua oferta soou bastante sacrificial, mas era doentia e pecaminosa.
Confiança é essencial para um relacionamento amoroso e não pode se desenvolver em um lar onde haja desonestidade e fingimento como havia nesse. Maridos e mulheres que, propositadamente, ocultam coisas do parceiro, evitam dizer a verdade sobre as finanças, suas atividades, o que os filhos estão fazendo ou qualquer outra coisa, nunca irão desfrutar da plenitude do amor de Deus em seu relacionamento. O amor só pode crescer em um ambiente de sinceridade. Pedro nos exorta a deixar todo tipo de dolo e hipocrisia (1 Pe. 2:1). Paulo nos diz para falar a verdade em amor (Ef. 4:15).
Rebeca e Jacó haviam se esquecido de como era a verdade. Com auxílio de peles de cabra, os dois farsantes colocaram em prática seu plano fraudulento. Isaque estremeceu quando, mais tarde, descobriu ter sido vítima da esposa e do filho, mas não reverteu a bênção. Ele abençoou Jacó, “e ele será abençoado”, afirmou com segurança (Gn. 27:33). Isaque percebeu que Deus fez prevalecer Seu intento original mesmo sendo por meio de uma farsa. Sua disposição em aceitar a vontade de Deus foi uma expressão tão grande de fé no controle soberano de Deus que lhe valeu menção na galeria da fé (Hb. 11:20).
Esaú, no entanto, não tinha tanta fé assim. Ele jurou matar o irmão. Mas, como era de se esperar, Rebeca apareceu com outra ideia genial. Quando ouviu o que Esaú pretendia fazer, ela chamou Jacó e lhe disse: “Eis que Esaú, teu irmão, se consola a teu respeito, resolvendo matar-te. Agora, pois, meu filho, ouve o que te digo: retira-te para a casa de Labão, meu irmão, em Harã; fica com ele alguns dias, até que passe o furor de teu irmão, e cesse o seu rancor contra ti, e se esqueça do que lhe fizeste. Então, providenciarei e te farei regressar de lá. Por que hei de eu perder os meus dois filhos num só dia?” (Gn. 27:42-45).
Para fazer Isaque concordar com seu plano, ela tinha de enganá-lo de novo. Foi outra atuação magistral. Dá quase para sentir o melodrama quando ela exclamou: “Aborrecida estou da minha vida, por causa das filhas de Hete; se Jacó tomar esposa dentre as filhas de Hete, tais como estas, as filhas desta terra, de que me servirá a vida?” (Gn. 27:46). Assim, Isaque, obedientemente, chamou Jacó e lhe deu instruções para ir a Harã para encontrar uma esposa. Uma farsa sempre leva a outra, até que a vida do farsante se veja numa angustiante teia de desespero.
Pobre Rebeca. Ela achou que estava fazendo a coisa certa, mas Deus nunca nos pede para pecar a fim de realizar a Sua vontade. Por causa da sua farsa, ela afastou ainda mais de si o seu marido, enfureceu o filho primogênito e o isolou completamente, e, embora pensasse que seu amado Jacó ficaria fora por poucos dias, ela nunca mais o viu. Quando ele voltou ao lar, vinte anos depois, Isaque ainda estava vivo, mas Rebeca jazia ao lado de Abraão e Sara no sepulcro da caverna de Macpela.
Alguns detalhes podem variar, mas, em geral, esse padrão tem se repetido em muitos lares desde então. Talvez esteja sendo reencenado exatamente agora na sua casa. A comunicação está suspensa. Vocês vivem sob o mesmo teto, mas vivem em seu próprio mundo, sozinhos. Não importa quem é o maior culpado, se o marido ou a esposa. Parem de se afastar; façam meia volta e digam: “Preciso de você. Preciso que fale comigo. Preciso saber o que sente e o que pensa. Por favor, converse comigo. Preciso que me ouça e tente me entender”. Então, comecem a conversar aberta e honestamente. Examinem-se profundamente e compartilhem um com o outro suas mágoas, seus medos, suas lutas, suas frustrações, suas fraquezas, suas confusões, suas necessidades, assim como seus ideais e aspirações. Depois, ouçam um ao outro, com paciência, compreensão e espírito de perdão, e encorajem-se com amor. Novas alegrias irão se abrir para vocês à medida que crescerem juntos.
Quando vimos Jacó pela última vez, ele estava a caminho de Berseba, fugindo para se salvar da vingança de seu irmão, Esaú. Ele não tinha ido muito longe, quando descobriu que Deus ia com ele. A mensagem veio na forma de um sonho, onde uma escada se estendia do céu até a terra. O Senhor estava acima da escada e disse a Jacó: “Eis que eu estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei voltar a esta terra, porque te não desampararei, até cumprir eu aquilo que te hei referido” (Gn. 28:15). Jacó deu ao lugar o nome de Betel, que significa “casa de Deus”
Armado com a preciosa promessa da presença de Deus, Jacó se dirigiu para Harã, a terra da família de sua mãe. Foi uma jornada longa e solitária. Quando chegou aos arredores da cidade, ele estava exausto, com os pés doloridos, com saudades de casa e sem saber exatamente aonde ir. Ele viu um poço e parou para descansar. Havia alguns pastores sentados por ali e ele começou a conversar com eles: “Meus irmãos, donde sois? Responderam: Somos de Harã”. Jacó provavelmente soltou um suspiro de alívio. O Senhor o levara em segurança ao seu destino. Ele continuou: “Conheceis a Labão, filho de Naor? Responderam: Conhecemos. Ele está bom? Perguntou ainda Jacó. Responderam: Está bom. Raquel, sua filha, vem vindo aí com as ovelhas” (Gn. 29:4-6).
Jacó virou a cabeça e deu um olhar fatal; sem dúvida, foi amor à primeira vista. Ela era linda, “formosa de porte e de semblante” (Gn. 29:17). E seus olhos — como eram deslumbrantes! Se comparados aos da irmã mais velha, Lia, que não tinham brilho ou luz, eles devem ter sido pretos e brilhantes, de uma beleza cativante.
Jacó ficou muito impressionado — talvez, até demais. A ideia que temos é que ele ficou tão fascinado pela beleza de Raquel, e tão encantado com seu charme, que nem viu seus defeitos ou considerou a vontade de Deus em relação a ela. E, sendo um manipulador sagaz como era, na mesma hora começou a tratar do assunto. Ele lembrou aos pastores que ainda era hora de apascentar as ovelhas, e eles deveriam dar de beber aos rebanhos e levá-los de volta ao pasto enquanto era dia, provavelmente uma manobra para se livrar deles e poder conversar com Raquel a sós. Os pastores, no entanto, tinham algum tipo de acordo de não rolar a pedra de volta à boca do poço enquanto todos os rebanhos não estivessem reunidos (Gn. 29:7-8).
“Falava-lhes ainda, quando chegou Raquel com as ovelhas de seu pai; porque era pastora. Tendo visto Jacó a Raquel, filha de Labão, irmão de sua mãe, e as ovelhas de Labão, chegou-se, removeu a pedra da boca do poço e deu de beber ao rebanho de Labão, irmão de sua mãe” (Gn. 29:9-10). Jacó pode ter sido um homem caseiro, mas não era um fracote. Ele moveu uma pedra que, normalmente, precisaria de vários homens para ser movida; e deu água às ovelhas de Rebeca. Será que ele estava se exibindo um pouquinho?
Continuando a leitura: “Feito isso, Jacó beijou a Raquel e, erguendo a voz, chorou” (Gn. 29:11). A emoção daquele momento tomou conta dele. A direção e o cuidado milagroso de Deus, a empolgação do encontro com sua bela prima, a perspectiva do que lhe reservava o futuro — tudo isso encheu tanto seu coração, que ele chorou de alegria. Em nossa cultura, é estranho ver um homem expressar suas emoções dessa forma, mas a expressão sincera dos sentimentos de uma pessoa pode melhorar a saúde emocional e dar mais estabilidade conjugal.
Parece que o romance ia ter um início ardente. A bela da vizinhança e o garotão novo na cidade tinham se encontrado. No entanto, este início nos faz ficar com a pulga atrás da orelha sobre essa união. Sabemos que um relacionamento baseado originalmente na atração física está em terreno instável. Hollywood tem nos dado boas evidências para essa tese. E os infortúnios de um notório jogador de futebol americano e a volta pra casa de uma rainha também dão base para isso1. Esses casais podem fazer o casamento dar certo, mas exigirá um pouco mais de esforço, e eles precisarão trabalhar sua relação para além do magnetismo físico que deu início a ela.
Contudo, quando um homem está enamorado de uma mulher, não quer ouvir esse tipo de coisa. Ele vai tê-la e nada mais importa. Só um mês depois de Jacó ter chegado a Harã, Labão vai ter com ele para ver se poderiam chegar a um acordo salarial mutuamente aceitável. A Escritura diz que Jacó amava Raquel e se ofereceu para servir Labão durante sete anos, a fim de receber a mão dela em casamento (Gn. 29:18). Ele não tinha nada a oferecer a Labão, por isso, prometeu seu trabalho no lugar do dote. Agora, ficamos ainda mais encasquetados. Um mês não é tempo suficiente para chegarmos a conhecer alguém o bastante para fazer um compromisso para toda vida e, com certeza, não é tempo suficiente para saber se amamos ou não a pessoa. O verdadeiro amor exige conhecimento profundo. Dizer que amamos alguém a quem não conhecemos intimamente é simplesmente dizer que amamos a nossa imagem mental dessa pessoa. E, se ele ou ela não corresponderem a essa imagem, então, o dito “amor” vira desilusão e ressentimento e, às vezes, até aversão.
Jacó, entretanto, achou que estava apaixonado. Quando Raquel estava por perto, seu coração batia mais rápido e um sentimento maravilhoso tomava conta dele. Ela era a criatura mais linda em que seus olhos tinham pousado e ele achava que a vida sem ela não valia a pena. Para ele, isso era suficiente. “Assim, por amor a Raquel, serviu Jacó sete anos; e estes lhe pareceram como poucos dias, pelo muito que a amava” (Gn. 29:20). Na verdade, essas palavras são as mais belas que já foram escritas sobre o sentimento de um homem por uma mulher. Sete anos é um longo tempo de espera, e eu acho que o amor de Jacó por Raquel cresceu muito durante esses anos. A atração física ainda estava presente, mas não era possível ele viver tão próximo a ela durante tanto tempo e não ter aprendido muitas coisas a seu respeito, tanto boas como ruins. Esse casamento ia passar por momentos difíceis, mas não fosse o longo compromisso e o amor profundo e maduro de Jacó, provavelmente não teria sobrevivido.
Muitas pessoas se casam rápido demais e depois se arrependem. Sete anos de compromisso talvez seja um pouco exagerado, mas é preciso tempo para conhecer as qualidades desejáveis e indesejáveis de uma pessoa, a fim de decidir se podemos nos dar de forma abnegada pelo bem do outro, apesar de suas características desagradáveis. Por isso, um bom teste para o verdadeiro amor é a capacidade de esperar. A paixão normalmente tem pressa porque é egoísta. Ela diz: “Eu me sinto bem quando estou ao seu lado, por isso, vamos nos casar logo antes que eu lhe perca e a esse sentimento tão bom”. O amor diz: “Meu maior desejo é a sua felicidade e estou disposto a esperar, se for preciso, para ter certeza de que isso é o melhor para você”. E, se for verdade, ele vai passar pelo teste do tempo. Jacó esperou, e seu amor à primeira vista se tornou uma ligação profunda e um compromisso completo da alma.
Há um antigo ditado que diz: “O verdadeiro amor nunca se desgasta”. Foi assim com Jacó e Raquel. Vamos dar uma olhada nesse amor sob grande stress. Tio Labão foi alguém que tentou entornar o caldo. Astuto, velhaco e malandro como era, ele substituiu Raquel por Lia na noite do casamento de Jacó. Usando um pesado véu e roupas longas e esvoaçantes para encobrir o corpo, Lia conseguiu passar a cerimônia toda sem ser detectada. Na tenda escura, ela passou a noite falando aos sussurros. Dá para imaginar o tremendo choque de Jacó quando a luz da manhã revelou a tramoia de Labão? Ele deve ter ficado furioso com a família inteira por causa dessa armação traiçoeira.
Esta não foi a melhor maneira de Lia começar sua vida de casada, não é? Suspeito que ela amasse Jacó desde o princípio e queria ser correspondida. De bom grado ela ajudou o pai a colocar seu plano em prática, mas encontrou pouquíssima satisfação no marido que conseguiu por meio de trapaça. Enganar alguém para se casar é um negócio muito arriscado, mas ainda é feito hoje em dia. Algumas mulheres tentam comprar um marido com sexo ou prendê-lo com um bebê ou, ainda, apelando para a fortuna da família. Um homem também pode prender uma mulher prometendo-lhe riquezas ou enganá-la fingindo ser o que não é, mascarando seus defeitos até o dia do casamento. Às vezes, mal termina a lua de mel e a esposa descobre que se casou com um monstro que não conhecia. As consequências da farsa geralmente são dolorosas e angustiantes.
O “generoso” Labão dispôs-se a lhe dar também Raquel, se Jacó trabalhasse para ele por mais sete anos. “Decorrida a semana desta, dar-te-emos também a outra, pelo trabalho de mais sete anos que ainda me servirás” (Gn. 29:27). Esta semana se refere à semana das festividades de casamento. Jacó não teve de esperar outros sete anos para ter Raquel, só uma semana. Mas ele teve de trabalhar mais sete anos sem pagamento depois de se casar com ela. “Mas Jacó amava mais a Raquel do que a Lia; e continuou servindo a Labão por outros sete anos” (Gn. 29:30).
E, assim, temos o primeiro patriarca temente a Deus entrando em um relacionamento bígamo. Não era essa a vontade perfeita de Deus. Deus fez uma mulher para cada homem (Gn. 2:24, cf. também Lv. 18:18, 1 Tm. 3:2). Embora Jacó tenha sido enganado, havia outras opções. Alguns comentaristas dizem que ele deveria ter rejeitado Lia, uma vez que não a teve por vontade própria. Gostaria de sugerir outra possibilidade: ele poderia ter aceitado seu casamento com Lia como sendo da vontade de Deus e aprendido a amar só a ela. Isaque aceitou as consequências da farsa de Jacó quando este se passou pelo irmão, Esaú, e roubou a bênção da família; e Isaque foi elogiado por isso no Novo Testamento. Talvez Jacó também fosse elogiado por aceitar as consequências da vontade soberana de Deus se tivesse galgado esse degrau da fé. E, gostaria de lembrar, ainda, que foi Lia, não Raquel, a mãe de Judá, por meio de quem viria o Salvador (Gn. 29:35). Mas Jacó não estava disposto a acreditar no controle de Deus sobre a situação. Ele ia ter o que queria, embora esta não fosse a vontade de Deus. E os acontecimentos seguintes devem ser evidência suficiente de que bigamia nunca foi parte do plano de Deus para a raça humana.
Sob a pressão desse relacionamento bígamo, a verdadeira personalidade de Raquel veio à tona. Quando percebeu que Lia dava filhos a Jacó, e ela não, ela ficou com muito ciúme da irmã e disse a Jacó: “Dá-me filhos, senão morrerei” (Gn. 30:1). Essencialmente, ela estava dizendo: “se as coisas não podem ser do meu jeito, prefiro morrer”. Eis uma mulher que tinha quase tudo na vida — grande beleza física, todo tipo de coisas materiais e a devoção profunda de um marido apaixonado. Será que o amor de Jacó não valia mais que uma porção de filhos? Não, não valia, pelo menos não para Raquel. Ela tinha de ter tudo que queria ou a vida não valeria a pena. Ela estava cheia de inveja, egoísmo, irritação, impaciência, infelicidade e exigência. E Jacó acabou perdendo a paciência, “Acaso, estou eu em lugar de Deus que ao teu ventre impediu frutificar?” (Gn. 30:2).
A raiva dele não tinha razão de ser aos olhos de Deus, mas sua avaliação da situação estava totalmente certa. O milagre da concepção está no poder de Deus.
A insatisfação tem arruinado incontáveis relacionamentos desde a época de Jacó. Alguns casais ficam zangados por Deus não lhes dar filhos, enquanto outros não veem a hora dos filhos crescerem e saírem de casa para que tenham paz e sossego. Donas de casa querem trabalhar fora, e mulheres que trabalham fora querem ficar em casa em tempo integral. Há cristãos descontentes com o lugar onde vivem, com o emprego, com o dinheiro que possuem e com a casa onde moram. Para eles, há sempre algo mais que parece melhor. Algumas esposas estão descontentes com o marido. Elas se queixam e reclamam porque eles não lhes dão atenção suficiente, não passam muito tempo com os filhos, não querem consertar as coisas em casa, ficam fora até tarde ou pensam mais no trabalho, no carro, no lazer, na televisão e nos esportes do que nelas. Alguns maridos estão descontentes com a esposa. Eles as criticam pelo jeito como se vestem, como arrumam o cabelo, como cozinham, como arrumam a casa ou como cuidam dos filhos. Ficam irritados porque elas dormem até tarde, porque comem demais, porque perdem muito tempo ou porque gastam muito dinheiro. Não importa o quanto elas tentem, elas nunca conseguem agradar o marido.
Algumas dessas coisas são importantes e precisam ser discutidas. Não estou sugerindo que sejam totalmente ignoradas e soframos em silêncio. No entanto, o espírito de insatisfação que nos faz discutir, implicar, bater-boca, brigar e reclamar é um grande empecilho para um relacionamento conjugal feliz. Deus quer que estejamos contentes com o que temos. “De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento” (1 Tm. 6:6). Paulo podia dizer: “Porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” (Fp. 4:11). Quando somos capazes de reconhecer a presença da insatisfação na nossa vida e vê-la como pecado, podemos buscar a graça de Deus para superá-la e encontrar novas alegrias.
O descontentamento de Raquel a levou ao mesmo tipo de estratagema carnal tentado por Sara. Ela deu sua serva Bila a Jacó, para que ele tivesse um filho com ela, e fez isso duas vezes (30:3-8). Tecnicamente, na cultura daquela época, os filhos dessa união seriam filhos de Raquel. No entanto, temos outro vislumbre da sua natureza egoísta quando nasceu o segundo filho de Bila. Raquel disse: “Com grandes lutas tenho competido com minha irmã e logrei prevalecer” (Gn. 30:8). Ela chamou a criança de Naftali, que significa “luta”. Ela via a si mesma em disputa com a irmã pelo primeiro lugar na opinião de Jacó.
Pouco tempo depois, sua insatisfação ciumenta foi vista novamente. O pequeno Rubem, primogênito de Lia, que devia ter uns quatro anos na época, foi ao campo atrás dos ceifeiros e pegou umas plantas chamadas mandrágoras, ou maçãs do amor, como fazia qualquer garotinho naquele tempo. Quando ele as trouxe para casa e as deu à sua mãe, Raquel as viu e disse que também queria. Ela parecia sempre querer algo que era dos outros. Por isso, ela deu os favores de Jacó a Lia naquela noite em troca de algumas dessas maçãs do amor (Gn. 30:14-15).
Mas o espírito de insatisfação apareceu novamente na vida de Raquel. Deus finalmente lhe deu o seu próprio filho, por isso, era de se esperar que ela ficasse satisfeita. No entanto, ela lhe deu o nome de José, que significa “possa ele dar mais”. E disse: “Dê-me o SENHOR ainda outro filho” (Gn. 30:24). Mais, mais, mais! Raquel nunca estava satisfeita com o que tinha.
Mas ainda não acabou. Deus disse a Jacó que era hora de deixar o tio Labão e voltar para casa, em Canaã. Jacó havia prosperado tanto que Labão não era mais favorável a ele. Por isso, ele reuniu suas esposas, seus filhos e seus pertences e saiu de fininho enquanto Labão tosquiava as ovelhas. Mas Raquel pegou alguma que não era de nenhum deles; ela pegou os ídolos de seu pai, uns ídolos do lar chamados terafins (Gn. 31:19). Quem possuísse essas imagens era aceito como o principal herdeiro da família, mesmo sendo o genro.
Mais uma vez, a ganância de Raquel estava se revelando. Ela queria que seu marido, não seus irmãos, tivesse a maior parte da herança da família, para que também pudesse se beneficiar dela. Quando Labão, finalmente, os alcançou e procurou entre os pertences deles por seus terafins, Raquel mentiu para ele e o enganou para que ele não os encontrasse (Gn. 31:33-35). A adorável Raquelzinha parece ter sido uma megera!
Mas sabem de uma coisa? Exceto pela vez em que Jacó se zangou com ela por tê-lo culpado pela falta de filhos, não há nenhuma indicação de que ele a tenha amado menos por causa dos seus defeitos. Na verdade, há indícios de que ele manteve sua devoção até o final da vida dela. Por exemplo, ela a colocou numa posição privilegiada, em último lugar do grupo, quando eles foram ao encontro de Esaú e suas vidas poderiam estar em perigo (Gn. 33:2). Jacó estava longe de ser perfeito, mas ele é um exemplo para nós de como um marido deve tratar a esposa quando ela não é tudo o que deveria ser.
Alguns maridos dizem: “Eu gostaria mais dela se ela fosse mais amável”. Amor que só funciona quando a esposa é amável não é realmente amor. Deus quer que as esposas sintam a intensidade do amor do marido por elas até quando estão agindo como idiotas (Ef. 5:25). E a maioria de nós tem momentos assim. Talvez os homens, de vez em quando, devessem se perguntar, principalmente quando houvesse algum desentendimento: “Minha esposa tem consciência do meu amor por ela neste momento? Ela está sentindo amor ou está sentindo raiva, hostilidade e rejeição?” Deus fez a mulher com necessidade de ter a segurança do amor do marido por ela durante todo o tempo. E isso vai depender muito da atitude dele nas menores coisas, tais como a expressão do seu rosto ou o tom da sua voz, especialmente quando ela estiver mal-humorada ou chateada.
Já vimos o amor de Jacó à primeira vista e também seu amor sob grande stress. Finalmente, vamos ver seu amor em meio à profunda tristeza. Deus permitiu a Raquel ter um último pedido atendido. Ela gerou outro filho. Seu parto foi muito difícil e logo ficou evidente que ela ia morrer quando a criança nascesse. Quando a parteira lhe disse que ela dera à luz, ela balbuciou o nome da criança com um último suspiro — Benoni, que significa “filho da minha tristeza”. Mais tarde, Jacó mudou-o para Benjamim, que quer dizer “filho da minha destra”. Mas isso não é ironia? Um dia, anos antes, ela gritou: “Dá-me filhos, senão morrerei”. E ela morreu dando a luz ao segundo filho. A criança sobreviveu. Raquel, no entanto, foi sepultada ao lado do caminho que liga Belém a Jerusalém. Ainda podemos visitar seu túmulo, um monumento permanente ao desastre da insatisfação.
Jacó nunca se esqueceu de Raquel. Aos 147 anos de idade, ao reunir todos os filhos no Egito para abençoá-los, ele ainda pensava nela. “Vindo, pois, eu de Padã, me morreu, com pesar meu, Raquel na terra de Canaã, no caminho, havendo ainda pequena distância para chegar a Efrata; sepultei-a ali no caminho de Efrata, que é Belém” (Gn. 48:7). Ele a amou até o fim da vida. Mas, que bem fez isso a ela? Ela não conseguiu aproveitar totalmente esse amor. A insatisfação que a corroia impediu-a de desfrutar plenamente qualquer coisa, e impediu outras pessoas de gostarem dela. Isso a isolou num mundo amargo de solidão. Então, ela morreu, deixando Jacó para a irmã que ela tanto invejou em vida. E, mesmo na morte, ela continuou sozinha. A pedido de Jacó, ele foi sepultado ao lado de Lia na caverna de Macpela, em Hebrom, junto de Abraão, Sara, Isaque e Rebeca (Gn. 49:29-31; 50:13). Raquel jaz sozinha.
Será que a nossa solidão ou os conflitos nos nossos relacionamentos são consequências de um espírito interior de insatisfação? Isso não vai mudar enquanto pensarmos que podemos encontrar satisfação em coisas materiais ou circunstâncias melhores. Raquel é prova disso. A verdadeira satisfação só pode ser encontrada no Senhor. Ele é o único que satisfaz a sede da alma e sacia sua fome com coisas boas (Sl. 107:9). Ele nos diz para nos contentarmos com aquilo que temos, pois, embora as circunstâncias da vida mudem todos os dias, Ele é imutável e está sempre conosco (Hb. 13:5). Conforme aumentar o nosso conhecimento, pelo estudo da Palavra de Deus e pela oração em Sua Presença, encontraremos mais paz e maior satisfação dentro de nós. E, então, seremos capazes de receber, com gratidão, aquilo que Ele nos dá e, ao mesmo tempo, agradecer por aquilo que Ele não nos dá, confiantes de que os Seus caminhos são perfeitos. E seremos capazes de mudar aquilo que pode ser mudado, enquanto aceitamos alegremente aquilo que não pode ser mudado, tendo a certeza de que é parte do Seu plano perfeito para nos levar à maturidade em Cristo.
1 O. J. Simpson e Grace Kelly
Há mais de 500 anos o corpo do velho Jacó descansava na caverna de Macpela. Esse foi um período agitado para seus descendentes. Primeiro, houve os anos difíceis do cativeiro egípcio, os quais culminaram na graciosa libertação de Deus; em seguida, houve os quarenta anos de peregrinação no deserto, os quais terminaram com a grande conquista de Canaã; e, depois, houve um estranho ciclo de pecado, servidão e salvação, conhecido como o período dos juízes. Essa época obscura é o cenário da mais bela história de amor da Bíblia, a história de Boaz e Rute.
“Nos dias em que julgavam os juízes, houve fome na terra; e um homem de Belém de Judá saiu a habitar na terra de Moabe, com sua mulher e seus dois filhos” (Rute 1:1). Este homem, Elimeleque, morreu em Moabe, deixando a esposa, Noemi, e dois filhos, Malom e Quiliom. Os rapazes se casaram com mulheres moabitas e, então, no que parece ter sido ser uma trágica reviravolta do destino, os dois também morreram, deixando Noemi numa terra estranha só com suas noras, Rute e Orfa. Quando Noemi ouviu que Deus tinha providenciado novamente comida para o seu povo, decidiu voltar para casa, em Belém.
Orfa ficou em Moabe, atendendo à sugestão de Noemi, mas Rute não quis nem saber. Ela era uma dessas pessoas raras, cujo amor é profundo e desinteressado, e ela amava sua sogra. Lembram-se de suas famosas palavras? “Não me instes para que te deixe e me obrigue a não seguir-te; porque, aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus” (Rute 1:16). Seu Deus estava prestes a conduzi-la a um homem maravilhoso, com o qual ela se casaria.
A primeira coisa que nos chama a atenção nesses dois, aos quais a graça de Deus uniu, é o preparo espiritual. Embora a família de Elimeleque estivesse fora do centro da vontade de Deus e fora lugar da Sua bênção, eles fizeram uma coisa digna de nota. Através do seu testemunho, a jovem moabita chamada Rute abandonou o culto a Quemos, deus dos moabitas, com todas as práticas abomináveis associadas à sua adoração, e passou a crer no único e verdadeiro Deus. “O teu Deus é o meu Deus”, disse ela com ousadia. E ficou muito claro a todos que a conheceram que ela tinha ido a Belém para desfrutar de íntima comunhão com o Deus de Israel. Algum tempo depois, Boaz diria a seu respeito: “O SENHOR retribua o teu feito, e seja cumprida a tua recompensa do SENHOR, Deus de Israel, sob cujas asas vieste buscar refúgio” (Rute 2:12). A confiança de Rute em Deus e seu amor por Ele eram fonte de uma força e beleza interior que não podiam ser escondidas, e de um amor pelos outros que não podia ser contido.
Pense no que ela fez. Em vez de ficar chorando a perda do marido, ela se dedicou a atender as necessidades da sua sogra, a preencher o vazio da vida de Noemi, a ajudá-la da melhor forma possível. Isso significou deixar sua casa, sua família e seus amigos, mudar-se para outro país como uma estrangeira menosprezada e viver em pobreza e privação. E, para quê? Amor e preocupação com a sogra eram os únicos motivos aparentes. No decorrer da história, Boaz chama a atenção para isso: “tudo quanto fizeste a tua sogra, depois da morte de teu marido, e como deixaste a teu pai, e a tua mãe, e a terra onde nasceste e vieste para um povo que dantes não conhecias” (Rute 2:11).
Muitas mulheres que amam o marido parecem não conseguir amar a mãe dele. E parece que muitos homens têm o mesmo problema em relação à mãe de sua esposa, como fica claro pelas piadinhas de sogra há tanto tempo circulando por aí. De onde vinha o amor de Rute? Ele vinha do Senhor de todo amor. Se você também quer tê-lo, terá de cultivar um relacionamento íntimo e pessoal com Deus, assim como Rute cultivou. Quando passamos a conhecer a Deus e a entender o quanto Ele fez por nós, somos mais propensos a dar de nós mesmos para o bem de outras pessoas, até mesmo para os parentes do nosso cônjuge. E, quando fazemos isso, a tensão e a confusão se transformam em harmonia e felicidade.
Nunca é cedo demais para aprendermos lições sobre o amor. Podemos começar ensinando-as a nossos filhos quando ainda são pequenos. A base de treinamento para o amor é o lar. Um relacionamento amoroso com os pais, irmãos e irmãs vai prepará-los para amar o cônjuge e os sogros da maneira correta. Algumas pessoas que estão lendo este artigo talvez tenham vindo de lares sem amor e achem difícil deixar para trás sua influência. Para elas, não é fácil dar e receber amor. Elas podem afirmar a importância dos pais estabelecendo um exemplo de amor, e depois ensinando os filhos a serem prestativos e amáveis, e a serem bondosos e respeitosos para com as outras pessoas da casa. Os filhos não saberão como amar quando se casarem a menos que demonstrem amor àqueles com quem convivem agora. No entanto, tudo começa com a nossa relação de amor com o Senhor. Quando experimentamos o amor de Deus, nós o demonstramos em nossas relações familiares — aos nossos pais, irmãos, irmãs, maridos, esposas, filhos e sogros. Rute estava pronta para um belo caso de amor com Boaz porque ela amava o Senhor e esse amor transbordava para as outras pessoas da sua vida.
Agora, vamos conhecer o Príncipe Encantado de Rute. A história indica que Boaz era muito mais velho que ela (cf. Rute 3:10). Não sabemos se ele era solteirão ou viúvo, mas sabemos que era um homem de Deus. O Senhor era uma parte importante do seu dia a dia. Boaz pensava muitas vezes no Senhor, falava Dele abertamente e deixava-O tomar parte dos seus negócios.
Ouça-o cumprimentando seus segadores no campo: “O SENHOR seja convosco!”, disse ele, e eles lhe responderam: “O SENHOR te abençoe!” (Rute 2:4). Para Rute, ele disse: “Bendita sejas tu do SENHOR, minha filha” (Rute 3:10); e depois: “eu te resgatarei, tão certo como vive o SENHOR” (Rute 3:13). Todas as pessoas presentes no seu casamento reconheceram a sua dependência do Senhor para a sua posteridade: “o SENHOR faça a esta mulher, que entra na tua casa, como a Raquel e como a Lia, que ambas edificaram a casa de Israel” (Rute 4:11).
O primeiro pré-requisito para um casamento bem sucedido é que o homem seja um homem de Deus. Uma das razões para tantos casamentos estarem passando por dificuldades é que os maridos não se prepararam espiritualmente para suas obrigações. Alguns rapazes, na época de namoro, não conseguiam pensar em outra coisa a não ser sexo. E, se não era sexo, era carro ou esporte. Eles gastavam pouco ou nenhum tempo estudando a Palavra, memorizando-a, descobrindo como aplicá-la à sua vida, e aprendendo quais seriam suas responsabilidades como maridos e pais cristãos. O Senhor não fazia parte do seu dia a dia. E, quando eles foram para o altar, ainda eram bebês espirituais, mal preparados para assumir a liderança espiritual do seu lar. Não é nenhuma surpresa que seus casamentos estejam com problemas.
Homens, se vocês desperdiçaram os anos até agora, não há tempo a perder. Em primeiro lugar, cultivem uma caminhada pessoal com Jesus Cristo. Passem um tempo estudando regularmente as Escrituras e aprendendo nelas como Deus quer que levem sua vida e exerçam suas responsabilidades. Comecem consultando-O sobre todas as coisas. Se estão envolvidos em uma relação conjugal infeliz, o dano pode ser reparado, mas o lugar para começar é com envolvimento diário com a pessoa de Jesus Cristo. Até nosso coração estar acertado com Ele e estarmos crescendo na Sua semelhança, quaisquer outros esforços irão falhar.
Tanto Rute como Boaz já estavam prontos. Por isso, vamos passar da preparação espiritual para seu legítimo noivado. Noemi e Rute tinham acabado de chegar em Belém e o problema que enfrentavam era como fazer para arranjar comida. Deus tinha dado uma graciosa provisão na Lei de Moisés para pessoas na situação delas. Os agricultores não podiam colher as espigas dos cantos dos campos de cereal, nem as que haviam caído; elas deveriam ser deixadas para os pobres, para os estrangeiros, para as viúvas e para os órfãos (Lv. 19:9, 10; 23:22; Dt. 24:19). De qualquer forma que entendamos isso, tanto Noemi como Rute eram qualificadas. Elas eram viúvas e pobres, e Rute era estrangeira. Já que Noemi não tinha mais idade para trabalhar nos campos, Rute perguntou-lhe se poderia ir e encontrar o campo de algum homem bondoso que a deixasse apanhar espigas. Noemi lhe deu permissão. “Ela se foi, chegou ao campo e apanhava após os segadores; por casualidade entrou na parte que pertencia a Boaz, o qual era da família de Elimeleque” (Rute 2:3).
O trabalho não era fácil – ela tinha de se abaixar e se curvar o dia inteiro para juntar grãos dentro de uma longa capa esvoaçante, com o peso aumentando a cada espiga colhida e um sol semi-tropical batendo nas costas. Provavelmente, algumas beatas da cidade zombavam por causa do seu sotaque estrangeiro e parece que alguns homens estavam tentando por as mãos nela (cf. Rute 2:9). Cada impulso do corpo de Rute dizia a ela para fugir para as colinas púrpuras de Moabe, as quais ela podia divisar ao longe. Lá era o seu lar, lá era onde ela pertencia. No entanto, com uma coragem discreta, modesta e totalmente abnegada, ela continuou trabalhando.
Com grande expectativa, esperamos que Boaz reparasse nela. E ele reparou. “De quem é esta moça?”, perguntou ele ao servo encarregado dos segadores, “esta é a moça moabita que veio com Noemi da terra de Moabe”, respondeu o servo (Rute 2:5-6). E ele não perdeu tempo em fazer algumas coisas boas para Rute. Ele a convidou para ficar em seus campos e lhe disse para rebuscar o quanto quisesse, e também para beber livremente das vasilhas de água providenciadas por seus servos.
Em lugar algum é dito que Rute era uma mulher bonita como Sara, Rebeca ou Raquel. Não sabemos se ela era ou não, mas sabemos que ela possuía uma beleza interior, um espírito manso e tranquilo, uma humildade despretensiosa que a tornou a mulher mais adorável das Escrituras. Ela se prostrou diante de Boaz com sincera gratidão e disse: “Como é que me favoreces e fazes caso de mim, sendo eu estrangeira?” (Rute 2:10). Sua humildade ficou novamente evidente quando disse: “Tu me favoreces muito, senhor meu, pois me consolaste e falaste ao coração de tua serva, não sendo eu nem ainda como uma das tuas servas” (Rute 2:13). Não havia nenhum fingimento nisso. Era uma atitude verdadeira. E essa humildade sincera, esse espírito manso e tranquilo, é uma das qualidades mais valiosas que uma mulher pode ter. Pedro diz que isso é de grande valor aos olhos de Deus (1 Pe. 3:4). Esta seria uma bela qualidade para as mulheres cristãs pedirem para Deus ajudá-las a desenvolver.
À medida que o dia passava, Boaz parecia cada mais interessado nessa mulher adorável. Na hora do almoço ele a convidou para se juntar a ele e seus segadores e se certificou de que ela se serviu de tudo quanto quis. Quando ela terminou de comer e levantou-se para voltar ao trabalho, ele disse aos servos: “Até entre as gavelas deixai-a colher e não a censureis. Tirai também dos molhos algumas espigas, e deixai-as, para que as apanhe, e não a repreendais” (Rute 2:15-16).
Assim, Rute continuou rebuscando até a tarde. E, quando ela viu o quanto tinha rebuscado, era quase um efa de cevada (cerca de 25 kg). Parece que Boaz era um homem bondoso, comedido, atencioso e gentil. Atualmente, não há muitos desse tipo por aí, a julgar pelo que as mulheres dizem a seus conselheiros matrimoniais. Alguns homens têm a estranha noção de que bondade e gentileza são traços efeminados, os quais eles precisam evitar a qualquer custo. Não, mesmo! Estes são traços semelhantes aos de Cristo. E Cristo era um homem másculo. As pesquisas mostram que bondade e gentileza são as principais características procuradas pelas mulheres em um marido. Estes seriam bons traços para os homens cristãos pedirem para Deus ajudá-los a desenvolver.
Bem, já era hora de alguém fazer alguma coisa. E, por mais estranho que pareça, naquela cultura foi Rute quem fez. Vejam, Deus deu aos judeus outra lei interessante, a qual exigia que um homem se casasse com a viúva sem filhos de seu irmão falecido. O primeiro filho dessa união teria o nome desse irmão e herdaria seus bens (Deuteronômio 25:5-10; Levítico 25:23-28). Essa lei matrimonial se chamava lei do “levirato”, da palavra hebraica para “irmão”. Se nenhum irmão estivesse disponível, um parente mais distante poderia ser solicitado a cumprir esse dever. No entanto, a viúva tinha de fazê-lo saber que ele era aceitável como seu “goel”, como elas o chamavam, seu parente resgatador e provedor.
Noemi disse a Rute exatamente como fazer isso. Rute ouviu com muito cuidado e seguiu suas instruções à risca. Naquela noite, Boaz iria dormir na eira para proteger seus grãos dos ladrões. Depois que ele foi dormir, Rute entrou na ponta dos pés, descobriu os pés dele e deitou-se. Agindo assim, ela estava pedindo a Boaz para ser seu goel. Não é preciso dizer que ele ficou um tanto confuso quando se virou no meio da noite e notou uma mulher deitada a seus pés. “Quem és tu?”, perguntou ele. Ela respondeu: “Sou Rute, tua serva; estende a tua capa sobre a tua serva, porque tu és resgatador” (Rute 3:9). Estender a capa sobre ela significava que ele estava disposto a se tornar seu resgatador e provedor. A resposta dele foi imediata: “Bendita sejas tu do SENHOR, minha filha; melhor fizeste a tua última benevolência que a primeira, pois não foste após jovens, quer pobres, quer ricos” (Rute 3:10-11).
É importante entender que não houve nada de imoral nesse episódio. Esse tipo de conduta era costume naquela época e a narrativa ressalta sua pureza. Na escuridão isolada da eira, Boaz poderia ter satisfeito seus desejos humanos e ninguém, exceto Rute, teria sabido. Contudo, ele era um homem temente a Deus, de princípios morais, disciplinado e controlado pelo Espírito, e manteve suas mãos longe dela. A Escritura diz que Rute dormiu aos pés dele até o amanhecer (Rute 3:14). Além disso, ela tinha reputação de ser uma mulher virtuosa (Rute 3:11). Ela tinha impulsos físicos como qualquer outra mulher, mas aprendeu a suplicar a graça e a força de Deus para manter esses impulsos sob controle até o dia do casamento. Tanto Boaz como Rute sabiam que a grande bênção de um matrimônio consistia na pureza antes do casamento. Descuidos nessa área trariam culpa, perda de respeito próprio e desconfiança. E isso poderia deixar marcas na alma de ambos que tornaria mais difícil a adaptação de um ao outro no casamento.
Este é um ponto de vista em extinção. Satanás tem feito nossa sociedade acreditar que o sexo pré-conjugal é uma coisa natural. A maioria dos jovens já fez sexo antes de terminar o segundo grau, e são raros os casais que tentam pelo menos se refrear um pouco mais. Eles dizem: “Mas nós nos amamos”. Não, não se amam. Eles amam somente a si mesmos. Eles amam satisfazer seus próprios desejos sensuais. Se eles se amassem, não submeteriam um ao outro aos perigos da desobediência a Deus, pois o Senhor diz que é vingador de todos aqueles que ignoram Seus padrões (1 Tessalonicenses 4:6). Não é que Deus seja um juiz velho e rabugento que só quer nos afastar da diversão. Ele simplesmente sabe que a pureza pré-conjugal será o melhor para nós e para o nosso casamento. Nossa sociedade está pagando o preço pela promiscuidade com uma confusão conjugal sem precedentes e inumeráveis lares desfeitos, com todos os traumas emocionais que isso acarreta. O jeito de Deus é sempre o melhor!
Boaz e Rute fizeram do jeito de Deus. Por isso, não é surpresa vermos, finalmente, o êxito do seu casamento. Não há muita coisa dita sobre seu relacionamento depois de casados, mas, por aquilo que já aprendemos sobre eles, podemos presumir que foi uma união ricamente abençoada por Deus. A Escritura diz: “Assim, tomou Boaz a Rute, e ela passou a ser sua mulher; coabitou com ela, e o SENHOR lhe concedeu que concebesse, e teve um filho” (Rute 4:13).
O aspecto mais incomum desta história é o papel que Noemi continuou a desempenhar na vida dos dois. Como ex-sogra, seria de se esperar que ela saísse de cena, mas Boaz e Rute eram amorosos e carinhosos demais para deixar isso acontecer. Quando o filho deles nasceu, as mulheres de Belém disseram a Noemi: “Seja o SENHOR bendito, que não deixou, hoje, de te dar um neto que será teu resgatador, e seja afamado em Israel o nome deste. Ele será restaurador da tua vida e consolador da tua velhice, pois tua nora, que te ama, o deu à luz, e ela te é melhor do que sete filhos” (Rute 4:14-15). Então, Noemi pegou o bebê e foi cuidar dele, e suas vizinhas disseram: “A Noemi nasceu um filho” (Rute 4:17). Vejam só! Elas consideraram o menino como sendo filho de Noemi, e Boaz e Rute alegremente permitiram isso. Boaz continuou sustentando Noemi até ela morrer, e ele parece ter feito isso com muito carinho. E o amor de Rute por ela nunca diminuiu. As mulheres chamaram Rute de “a nora que te ama e é melhor do que sete filhos”.
Agora que Rute tinha seu marido, ela poderia ter despachado sua ex-sogra. Muitas mulheres teriam despachado. Mas, quando uma pessoa está cheia do amor de Deus, seu coração é grande o suficiente para abraçar mais do que só uma pessoa especial, ou algumas. Ele estende a mão com ternura e generosidade para atender as necessidades dos outros também. É impressionante observar como o amor de Deus na vida de Rute superou todos os obstáculos – a pobreza, o preconceito racial, a grande diferença de idade, as tentações físicas e até mesmo as diferenças entre nora e sogra. Há uma grande possibilidade de que o amor de Deus possa resolver também os nossos problemas. Quando passamos a compreender e apreciar o amor incondicional de Deus por nós, e permitimos que ele flua por meio de nós, pensamos cada vez menos em nós mesmos e cada vez mais nos outros. E a capacidade de resolução de problemas desse amor sacrificial e desprendido é fenomenal.
Tradução: Mariza Regina de Souza
Se a Bíblia fosse um livro humano, escrito para engrandecer o homem, a história que estamos prestes a estudar teria sido cuidadosamente editada ou totalmente eliminada. No entanto, a Bíblia é um livro divino, escrito para glorificar a Deus e, por mais surpreendente que possa parecer para alguns, esta história exalta o Senhor. Esta é a razão pela qual não podemos omiti-la em nosso estudo dos relacionamentos conjugais da Bíblia.
A história diz respeito a Davi, o maior herói da história hebraica e, pelo testemunho de Deus, um homem segundo o Seu próprio coração (1 Samuel 13:14; Atos 13:22). Mas os homens têm fraquezas, mesmo homens segundo o coração de Deus. E Deus não se envergonha de compartilhar conosco as fraquezas dos Seus maiores santos. Com elas aprendemos lições indispensáveis, tais como a absoluta iniquidade do nosso coração, as horríveis consequências do pecado e as profundezas insondáveis da graça perdoadora de Deus. Por isso, vamos aprender com Davi.
Davi ganhou importância nacional ainda adolescente. Quando um adolescente mata um gigante temido por todos os valentes soldados israelitas, as pessoas reparam. Todas as mulheres em Israel cantavam louvores a ele: “Saul feriu os seus milhares, porém Davi, os seus dez milhares” (1 Samuel 18:7). Além disso, a Bíblia diz que ele era muito bonito, um atleta extraordinário, músico talentoso e poeta brilhante. E havia a notícia de que ele seria o próximo rei de Israel (1 Samuel 16:13). Falando de ídolos adolescentes das matinês, fico imaginando que todas as adolescentes de Israel estavam apaixonadas por Davi. Na verdade, a Escritura diz: “todo o Israel e Judá amavam Davi” (1 Samuel 18:16).
Mas quem acabou fisgando Davi foi Mical, filha de Saul. Ela sempre esteve em vantagem. Afinal de contas, ela era filha do rei, e Davi passava um tempão lá no palácio. Além disso, todo mundo sabia que ela o amava (1 Samuel 18:20). No entanto, a Escritura deixa implícito que Davi se casou com ela mais por causa do desafio do que realmente por amor. Em certa ocasião, depois do seu casamento, Mical ajudou-o a fugir da ira de Saul (1 Samuel 19:11-17). Naturalmente, diante daquelas circunstâncias, ela não pôde ir com ele, por isso, Saul se aproveitou da situação e deu-a a outro homem (1 Samuel 25:44). O casamento adolescente de Davi terminou em fracasso. Há muitos casos assim. Casar antes de estar preparado para assumir as responsabilidades da vida adulta envolve risco demais para ser de bom senso. Não custa nada esperar um pouco para ter certeza.
Foi durante os anos de Davi como fugitivo de Saul que ele conheceu uma bela mulher chamada Abigail. A Bíblia diz: “esta era sensata e formosa” (1 Samuel 25:3). Sua sabedoria, maturidade, beleza e encanto desarmaram Davi completamente e, quando Deus tirou Nabal de cena, o marido grosso e ignorante de Abigail, Davi não perdeu tempo em pedi-la em casamento (1 Samuel 25:39). Foi uma boa escolha. E já que Mical era esposa de outro homem, sem nenhuma culpa por parte de Davi, muitos entendem que isso foi aceitável ao Senhor.
No entanto, o que vem a seguir na Escritura obviamente não foi aceitável. “Também tomou Davi a Ainoã de Jezreel, e ambas foram suas mulheres” (1 Samuel 25:43). Davi sabia que Deus o escolhera como futuro rei de Israel, e também sabia o que Deus dissera sobre os reis de Israel. Antes de o povo entrar na terra, Deus lhes disse que um dia eles iriam querer um rei como o das outras nações. Ele lhes deixaria indicar um de seus compatriotas a quem Ele escolheria, mas este homem tinha de tomar cuidado para não multiplicar esposas para si, de modo que seu coração se apartasse do Senhor (Deuteronômio 17:14-17). E não demora muito para descobrimos, pelo registro bíblico, que Davi tomou mais quatro esposas: Maaca, Hagite, Abital e Eglá (2 Samuel 3:2-5). E mal podemos acreditar em nossos olhos quando, logo depois, lemos: “Tomou Davi mais concubinas e mulheres de Jerusalém” (2 Samuel 5:13).
Não é que os desejos físicos de Davi fossem muito diferentes dos desejos de outros homens; e sim que a maioria dos reis orientais possuía haréns para exibir sua riqueza e poder, e Davi deixou que a filosofia mundana sobrepujasse a vontade revelada de Deus. No entanto, isso só reafirma para nós que Davi era muito, muito humano, e nos mostra uma das suas áreas de maior fraqueza.
Quando nossa história começa, ele estava na casa dos quarenta anos, a qual, segundo dizem, é uma idade vulnerável. Ele tinha realizado grandes feitos militares, expandindo as fronteiras de Israel e tornando-as seguras contra cada uma das principais nações em derredor. Ele devia a si mesmo um merecido descanso, ou era isso o que ele pensava. Vejamos primeiro os prazeres fúteis do pecado. “Decorrido um ano, no tempo em que os reis costumam sair para a guerra, enviou Davi a Joabe, e seus servos, com ele, e a todo o Israel, que destruíram os filhos de Amom e sitiaram Rabá; porém Davi ficou em Jerusalém” (2 Sm. 11:1).
Os reis saíam à guerra na primavera porque os meses de inverno restringiam o movimento das tropas. Esta campanha contra os amonitas era uma operação de limpeza, que sobrou da temporada de guerra anterior. Israel já tinha derrotado os sírios contratados pelos amonitas contra eles, por isso, provavelmente Davi calculou que terminar o serviço contra os próprios amonitas seria moleza. Embora seu lugar fosse como líder dos seus homens no campo de batalha, Davi se deixou levar pela indolência e ficou em casa, esquivando-se do seu dever. Afinal de contas, ele era o rei. Ele podia fazer o que quisesse.
Fugir à responsabilidade é quase sempre o primeiro passo para o declínio espiritual. Tenho a impressão cada vez maior, principalmente entre os jovens, de que podemos fazer praticamente tudo o que quisermos. E não precisamos fazer nada que não queiramos. Esta é era do fazer o que se bem entende. Sim, podemos fazer o que nos agrada, mas não sem pagar, espiritualmente, o preço. Deus tem um plano para nossa vida. Ele nos dá certas responsabilidades, e quando nos esquivamos delas com desculpas ou pretextos, abrimos a caixa de Pandora das tentações que enfraquecem a nossa vontade de caminhar com Deus.
Este parece ser exatamente o caso de Davi quando a história começa: “Uma tarde, levantou-se Davi do seu leito e andava passeando no terraço da casa real” (2 Sm. 11:2a). Consegue visualizar a cena? Era de tardezinha e Davi tinha acabado de sair da cama. Se ainda tínhamos alguma dúvida do porquê ele estar em casa, a dúvida se foi. Ele não estava lá para por o serviço em dia. Ele estava sem fazer nada! “Daí viu uma mulher que estava tomando banho; era ela mui formosa” (2 Sm. 11:2b). Se tivesse usado a cabeça, ele teria chispado de lá na mesma hora. Mas ele se deixou ficar e permitiu que seus olhos se banqueteassem com cada centímetro dos atrativos físicos de Bate-Seba, até não poder pensar em outra coisa que não fosse tê-la para si.
Ser tentado não é pecado. No entanto, ficar fantasiando, brincando e flertando com a tentação ━ é imperdoável, como vimos no caso de Eva. Podemos nos atormentar a tal ponto que resistir ao pecado não seja mais uma opção viável. A única pergunta que resta é: como vamos fazer? Deus diz que devemos fugir da tentação (2 Tm. 2:22). E Ele nos ajudará a lidar com ela, se formos obedientes. Mas, se ficarmos enrolando e embromando, estaremos perdidos. Quando um homem está atraído por uma mulher, por exemplo, e um dos dois é casado, ele precisa dar o fora rapidinho. Quanto mais ele alimentar o relacionamento, mais difícil será rompê-lo, até um dia ele se ouvir dizendo algo tão estúpido quanto “não consigo viver sem ela”. E antes de ele perceber as implicações do que diz, sua vida e sua família estarão de pernas pro ar.
Bate-Seba também não é inocente. Ela pode não ter seduzido Davi de propósito, mas foi impudente e indiscreta. Despir-se e banhar-se em pátio aberto, em plena vista de qualquer um que estivesse nos terraços da vizinhança, era procurar encrenca. Ela podia muito bem ter se banhado dentro de casa. Mesmo hoje em dia, algumas mulheres parecem não perceber o que a visão do seu corpo pode fazer a um homem. Elas se deixam levar pelo mundo da moda e vestem roupas que mostram tudo, ou quase tudo; depois ficam se perguntando porque os homens não conseguem pensar em outra a não ser em sexo. Não podemos deixar de ensinar às nossas jovens essas coisas, principalmente quando elas entram na adolescência. Os pais cristãos devem ensinar às filhas alguns fatos sobre a natureza do homem e o sentido de recato, e então estabelecer o padrão de suas roupas.
Davi descobriu quem era a bela banhista e mandou buscá-la; e o pensamento virou fato. Não há nenhuma evidência de que tenha havido violência sexual. Bate-Seba parece ter sido uma parceira disposta. Seu marido estava na guerra e ela estava sozinha. O glamour de ser desejada pelo atraente rei significava mais para ela do que o compromisso com seu marido e sua devoção a Deus. Provavelmente eles gostaram daqueles momentos juntos; talvez até tenham achado que foi uma experiência cheia de amor e ternura. A maioria acha! Contudo, à vista de Deus, foi abominável e repulsiva. Satanás montou a armadilha e agora eles estavam em suas garras.
Mas o inevitável aconteceu e Bate-Seba mandou um recado a Davi dizendo que estava grávida. Naquela cultura, isso era um grande problema, pois, de acordo com a lei de Moisés, requeria a morte por apedrejamento (cf. Lev. 20:10). Nenhuma crise anterior tinha abalado Davi e, com certeza, ele não iria deixar que esta o destruísse. Seu plano era trazer o marido de Bate-Seba de volta da guerra por alguns dias; então, ninguém saberia do filho que ela carregava. No entanto, Urias era patriótico demais para desfrutar da companhia de sua esposa quando seus companheiros estavam arriscando a vida no campo de batalha, por isso, ele dormiu nas tendas com os servos do rei. Assim, Davi teve de colocar o plano B em ação. Calmamente, ele escreveu a sentença de morte de Urias, selou-a e mandou-a ao capitão Joabe na linha de frente, pelas mãos do próprio Urias. Davi deu ordens a Joabe para colocar Urias onde a batalha fosse mais feroz, deixando-o lá. Assim, ele adicionou assassinato a seu adultério. Após um curto período de luto, Bate-Seba entrou na casa de Davi e se tornou sua esposa, e os dois amantes finalmente tiveram um ao outro para desfrutar livremente e sem impedimento… exceto por uma coisa: “Porém isto que Davi fizera foi mau aos olhos do SENHOR” (2 Sm. 11:27)
Isso nos leva a outro ponto: o peso da mão da disciplina. Davi sabia que tinha pecado. Em geral a gente sabe, bem lá no fundo. Mas ele tentou deixar pra lá e seguir em frente como se nada tivesse acontecido. Se sua consciência pesasse demais, ele sempre poderia achar algum pretexto, dizendo: “Eu sou o rei. Posso fazer o que quiser. De qualquer forma, a culpa foi mesmo de Bate-Seba. Além do mais, a quem magoei? Na batalha, alguém tem de morrer, e por que não Urias?” As opções disponíveis para nos ajudar a desculpar o nosso pecado são infinitas. Mas algo corroía a boca do estômago de Davi, um vazio que ele não conseguia descrever, acompanhado por períodos de extrema depressão.
Mais tarde ele escreveu três salmos descrevendo esses meses sem a companhia de Deus: os Salmos 32, 38 e 51. Ouça seu grito de lamento: “Sinto-me encurvado e sobremodo abatido, ando de luto o dia todo... Estou aflito e mui quebrantado; dou gemidos por efeito do desassossego do meu coração” (Sl. 38: 6, 8). Davi amava o Senhor e estava tentando adorá-lo, mas havia uma barreira; a barreira do seu próprio pecado. Deus parecia distante. “Não me desampares, SENHOR; Deus meu, não te ausentes de mim” (Sl. 38:21). Seus amigos sentiam sua irritação e o evitavam. “Os meus amigos e companheiros afastam-se da minha praga, e os meus parentes ficam de longe” (Sl. 38:11). Davi viveu desse jeito por quase um ano. Ele tinha sua preciosa Bate-Seba, mas não tinha descanso da alma.
Então, um dia, Deus enviou o profeta Natã a Davi com uma história muito interessante. “Havia numa cidade dois homens, um rico e outro pobre. Tinha o rico ovelhas e gado em grande número; mas o pobre não tinha coisa nenhuma, senão uma cordeirinha que comprara e criara, e que em sua casa crescera, junto com seus filhos; comia do seu bocado e do seu copo bebia; dormia nos seus braços, e a tinha como filha. Vindo um viajante ao homem rico, não quis este tomar das suas ovelhas e do gado para dar de comer ao viajante que viera a ele; mas tomou a cordeirinha do homem pobre e a preparou para o homem que lhe havia chegado” (2 Sm. 12:1-4). Quando Davi ouviu a história, ficou furioso por causa do egoísmo insensível do homem rico e disse que ele merecia morrer.
A culpa faz isso conosco. Geralmente, atacamos com dureza e severidade o pecado dos outros, quando temos muito a esconder de nós mesmos. Nossa ira subconsciente contra nós mesmos irrompe contra os outros.
Foi com temor e tremor que Natã proferiu as palavras a seguir. Por dizer muito menos ao rei, outros já tinham perdido a cabeça, mas Natã estava comprometido com seu dever de entregar a mensagem de Deus ao rei errante. Ele apontou o dedo acusador a Davi e disse: “Tu és o homem. Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Eu te ungi rei sobre Israel e eu te livrei das mãos de Saul; dei-te a casa de teu senhor e as mulheres de teu senhor em teus braços e também te dei a casa de Israel e de Judá; e, se isto fora pouco, eu teria acrescentado tais e tais coisas. Por que, pois, desprezaste a palavra do SENHOR, fazendo o que era mau perante ele? A Urias, o heteu, feriste à espada; e a sua mulher tomaste por mulher, depois de o matar com a espada dos filhos de Amom” (2 Sm. 12:7-9). E a convicção do Espírito de Deus penetrou fundo a alma de Davi.
O pecado geralmente traz consequências infelizes e Deus nem sempre acha bom removê-las. Ele sabe que experimentar os efeitos do nosso pecado nos ajudará a sermos mais sensíveis à Sua vontade. As consequências do pecado de Davi seriam de grande alcance e longa duração. Primeiro, a espada nunca se apartaria da sua casa (2 Sm. 12:10). As pessoas do palácio sabiam o que estava acontecendo. Elas contariam os meses e perceberiam que Urias não estava em casa quando o bebê foi concebido. O filho tinha de ser de Davi. Então, elas pensariam na morte de Urias e achariam ser coincidência demais. O filho de Davi, Absalão, também sabia. E, quando matou seu meio-irmão por violentar sua irmã (2 Sm. 13:38), provavelmente justificou suas ações, pensando: “Se meu pai fez isso, por que não posso?” E o capitão Joabe sabia. Ele foi um dos que cumpriu a ordem sinistra de Davi a respeito de Urias. E, provavelmente, usou-a para se justificar quando matou Absalão (2 Sm. 18:14), e quando matou Amasa, o capitão de Absalão (2 Sm. 20:9-10). A espada nunca se apartou da casa de Davi. Acima de tudo, nosso pecado afeta aqueles que estão mais próximos de nós.
A segunda consequência do pecado de Davi era que o Senhor suscitaria o mal contra ele da sua própria casa (2 Sm. 12:11). Leia a história da vida de Davi e veja o cumprimento desta promessa por si mesmo: o estupro de Tamar por Amnom, o assassinato de Amnom por Absalão, a rebelião de Absalão contra Davi, a tentativa de Adonias de usurpar o trono quando Davi estava velho. Com certeza, o mal estava presente na casa de Davi.
Em terceiro lugar, as esposas de Davi seriam tomadas diante de seus olhos e dadas a alguém que as possuiria em plena luz do dia (2 Sm. 12:11). Davi tomou a mulher de outro homem secretamente; agora, suas próprias esposas seriam tomadas publicamente. Durante a rebelião de Absalão, seus seguidores montaram uma tenda no terraço do palácio e Absalão teve relações com as concubinas de seu pai à vista de todo Israel, cumprindo esta predição (2 Sm. 16:22).
Em quarto lugar, o bebê nascido da união ilícita de Davi com Bate-Seba morreria (2 Sm. 12:14). Esse bebê daria motivo a que blasfemassem os inimigos de Deus, por isso, Deus graciosamente tomou a criança para Si. Lamentamos com Davi a perda de seu filho, mas somos gratos pela garantia do que acontece aos bebês quando morrem. Davi diz que ele iria ter com o filho, assegurando-nos de que os bebês entram na presença de Deus (2 Sm. 12:23).
Percebe, então, por que Deus levou o bebê? Este ponto precisa ser novamente enfatizado. Foi porque o que Davi fez “deu motivo a que blasfemassem os inimigos de Deus”. Agora, entendemos a razão para a disciplina divina. Ela é aplicada para os inimigos de Deus saberem que Ele é totalmente santo e justo e lidará com o pecado mesmo nos Seus filhos. Se fosse conivente com a atitude “homem é assim mesmo”, Deus Se tornaria motivo de riso do mundo descrente. Davi tinha de enfrentar as consequências do seu pecado, e nós também temos. Esse fardo pode ser pesado, mas o tempo de pensar sobre isso é antes de pecarmos.
Isso nos leva, finalmente, à felicidade da certeza do perdão. A penetrante revelação do pecado de Davi e a brilhante exposição de Natã sobre a justiça de Deus levaram Davi a se por de joelhos e reconhecer seu pecado: “Pequei contra o SENHOR”, clamou ele (2 Sm. 12:13). Estas eram as palavras que Deus queria ouvir. O espírito de Davi estava quebrantado; seu coração estava contrito (cf. Salmo 51:17). E, como resultado, ele ouviu as palavras mais doces, mais belas e mais encorajadoras ditas a um homem: “Também o SENHOR te perdoou o teu pecado” (2 Sm. 12:13). Como ele diz no Salmo: “confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniquidade do meu pecado” (Sl. 32:5).
A Escritura não diz, mas tenho certeza de que Bate-Seba também reconheceu seu pecado e Deus perdoou a ambos. Embora não pudessem apagar suas consequências, eles poderiam viver com a plena certeza do completo perdão de Deus. Foi uma mancha enorme na vida de Davi, a única grande mancha (cf. 1 Reis 15:5). No entanto, nem ele nem Bate-Seba deixaram-na arruinar o resto de suas vidas. Deus os perdoou, eles se perdoaram, e continuaram a viver de maneira a glorificar o Senhor. É exatamente isso o que Deus requer de nós. Ele não quer que nos torturemos com a culpa do nosso pecado. Ele quer que nós o confessemos, abandonemos e esqueçamos.
Bate-Seba parece ter assumido o lugar mais proeminente entre as esposas de Davi. Não há registro de que ele tenha tomado outra esposa depois dela. Como indicação do perdão de Deus, Ele lhes deu outro filho, a quem deram o nome de Salomão, cujo significado é “paz”. O profeta Natã chamou-lhe Jedidias, que significa “amado do Senhor”. E Deus garantiu a Davi que Salomão, filho de Bate-Seba, reinaria em seu lugar e construiria o templo (1 Cr. 22:9-10). Como evidência adicional da graça de Deus, Bate-Seba foi escolhida para ser uma das quatro mulheres mencionadas na genealogia do Senhor Jesus Cristo (Mateus 1:6).
O escritor de hinos coloca isso desta forma: “Quem é Deus perdoador como Tu? Ou quem tem graça tão rica e abundante?” O grande Deus da graça está pronto a lhe perdoar. Ouça o que diz o profeta Isaías: “Buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao SENHOR, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar” (Isaías 55:6-7). Ouça também o apóstolo João: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 João 1:9). Não importa quão grande seja o nosso pecado. Deus está pronto a apagá-lo. Reconheça o seu pecado diante de Deus e, então, aceite o Seu gracioso perdão.
Tradução: Mariza Regina de Souza
Quando esta história tem início, o rei Davi já tinha saído de cena da história de Israel há mais ou menos 135 anos. O poderoso reino construído por ele, ampliado e enriquecido por seu filho Salomão, estava fragmentado em dois reinos fracos. O reino do Sul, Judá, era governado por seus descendentes, enquanto o reino do Norte, Israel, sofria sob a direção de uma sucessão de homens perversos. Um deles foi o marido da próxima relação conjugal que iremos estudar.
Ele é apresentado nas páginas da Escritura com estas chocantes palavras: “Fez Acabe, filho de Onri, o que era mau perante o SENHOR, mais do que todos os que foram antes dele” (1 Reis 16:30). Acabe teve a dúbia distinção de ser o pior rei de Israel até seus dias. Não esperamos quase nada de um homem tão degenerado como esse e não é nenhuma surpresa quando lemos: “Como se fora coisa de somenos andar ele nos pecados de Jeroboão, filho de Nebate, tomou por mulher a Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios; e foi, e serviu a Baal, e o adorou” (1 Reis 16:31).
“Sidônios” era o outro nome dos fenícios, povo da costa do Mediterrâneo que havia ocupado as grandes cidades de Tiro e Sidom. Com a eterna ameaça da Síria e a crescente intimidação da Assíria, Acabe decidiu que precisava de uma aliança com aquela nação vizinha, por isso fez um trato com o rei fenício, o qual foi selado com seu casamento com a filha daquele rei. Foi assim que Jezabel se mudou para Samaria, capital de Israel, e só existe um jeito de descrever essa mudança – um furacão atingiu Israel.
O rei da Fenícia não era só um líder político do seu povo, ele era também sumo sacerdote da sua religião, como implícito no seu nome, Etbaal. Jezabel cresceu mergulhada na adoração a Baal e sua consorte, Astarte (ou Astarote). Baal era considerado o deus da terra. Diziam que ele era seu dono e controlava o tempo e o aumento da colheita e do gado. Astarote era considerada a deusa da fertilidade. Por isso, as estátuas de Baal e Astarote ficavam lado a lado nos templos, e eram adoradas pelos sacerdotes e prostitutas cultuais, com suas danças lascivas e orgias sagradas, na esperança de que o deus e a deusa seguissem seu exemplo e aumentassem a produtividade da agricultura e dos animais, e lhe dessem mais filhos. Em épocas de crise, como a fome, eles se lanhavam e até sacrificavam os filhos para apaziguar os deuses e implorar sua ajuda.
Jezabel era fanática por sua religião. Em comparação, o culto a Jeová devia parecer enfadonho e banal, e Jezabel estava determinada a mudá-lo. Ela era uma mulher dominadora, caprichosa e obstinada e, com um marido moralmente fraco, não tinha problemas para conseguir as coisas do seu jeito. Ela o fez construir uma casa para Baal ao lado do palácio em Samaria, bem como um “astarote”, isto é, um poste-ídolo da deusa da fertilidade. Depois ela levou 450 profetas de Baal e 400 profetas de Astarote da Fenícia para Samaria, instalou-os no palácio e sustentou-os em estilo real. O dever deles era promover o culto a Baal e Astarote em todo país.
Não satisfeita em estabelecer sua religião em Israel, Jezabel procurou também acabar com todos os vestígios do culto a Jeová e matar todos os verdadeiros profetas de Deus. Ela tinha de ter as coisas exatamente do seu jeito, e quase conseguiu. Alguns profetas sobreviveram, por abrir mão de suas convicções e se tornar “vaquinhas de presépio” de Acabe. Outro grupo de cem profetas foi escondido numa cova e sustentado secretamente por um servo piedoso de Acabe, de nome Obadias. No entanto, só Elias foi corajoso o suficiente para se opor abertamente à perversidade de Jezabel. Deus lhe concedeu uma grande vitória quando ele pediu para descer fogo do céu no monte Carmelo. Os profetas de Baal foram mortos e parecia que a nação ia se voltar novamente para Deus. Jezabel, no entanto, ainda não tinha terminado seu trabalho sinistro. Num acesso de raiva, ela jurou matar Elias e ele teve de fugir para o deserto, onde se sentou exausto debaixo de um zimbro e pediu a Deus para deixá-lo morrer. Este foi o ponto mais baixo da brilhante carreira do grande profeta de Deus. A adoração a Baal continuou a existir, arrastando a nação a novos abismos de degradação. Nos anos seguintes, muita perturbação e aflição foi causada em Israel pela voluntariosa, obstinada e teimosa esposa de Acabe.
Casar com uma pessoa teimosa e obstinada pode trazer infelicidade para todo mundo. Sua vontade indomável, que nunca se rende à vontade de Deus, raramente faz a pessoa ceder aos que a cercam. Inflexível, ela continua exigindo tudo conforme a sua vontade, buscando por todos os meios e métodos possíveis fazer ou conseguir o que quer. Essa pessoa não ouve a voz da razão, não tem consideração pelos sentimentos dos outros e não enfrenta as consequências das suas ações. Ela acha que está sempre certa e os outros, sempre errados, e está determinada a ter tudo do seu jeito. É obvio que uma pessoa assim não conhece muito o amor de Deus, o qual “não procura os seus interesses” (1 Co. 13:5), só um amor egoísta que insiste em ter seus direitos e exige tudo conforme a sua vontade. Quem convive com uma pessoa dessas acaba emocionalmente destruído. Para sobrevivência de quem está ao nosso lado, para felicidade do nosso cônjuge e para harmonia no nosso casamento, precisamos combater cada traço de teimosia persistente e clamar pela graça de Deus para lidar com isso.
É claro que Acabe era tão voluntarioso quanto Jezabel, mas com um temperamento diferente. Antes de tudo, ele deliberadamente se casou por conveniência política, contrariando cada palavra de Deus. No entanto, sua obstinação se tornou mais evidente num incidente envolvendo o rei e sua horta. Pouco depois do seu casamento com Jezabel, além de ornamentar o palácio de Samaria, de forma que este passou a ser chamado de “a casa de marfim” (1 Reis 22:39), ele também construiu um segundo palácio em Jezreel, quarenta quilômetros ao norte, numa região de clima mais ameno na época de inverno. “Sucedeu, depois disto, o seguinte: Nabote, o jezreelita, possuía uma vinha ao lado do palácio que Acabe, rei de Samaria, tinha em Jezreel” (1 Reis 21:1). Acabe resolveu que queria a propriedade de Nabote, por isso, foi conversar com ele e disse: “Dá-me a tua vinha, para que me sirva de horta, pois está perto, ao lado da minha casa. Dar-te-ei por ela outra, melhor; ou, se for do teu agrado, dar-te-ei em dinheiro o que ela vale” (1 Reis 21:2). Nabote recusou a oferta, exatamente como deveria fazer, pois Deus havia proibido os judeus de vender a herança paterna (Lv. 25:23-24). Nabote estava simplesmente obedecendo à lei do Senhor.
“Então, Acabe veio desgostoso e indignado para sua casa, por causa da palavra que Nabote, o jezreelita, lhe falara... E deitou-se na sua cama, voltou o rosto e não comeu pão” (1 Reis 21:4). Dá para acreditar que um homem crescido aja feito criança? Mas alguns agem. Pessoas fracas e volúveis como Acabe sempre querem as coisas do seu jeito, assim como pessoas obstinadas e dominadoras como Jezabel. No entanto, elas reagem de modo diferente quando são contrariadas. Enquanto os fortes gritam e esperneiam, atingindo todo mundo em seu caminho, tendo pitis e destruindo tudo, os fracos ficam emburrados, fazem beicinho e choramingam como crianças mimadas. Eles se recusam a sair da cama, e até a comer. Só querem sentir pena de si mesmos para que todo mundo saiba como as coisas são difíceis para eles. Agindo assim, tudo o que conseguem é mostrar aos outros como são egoístas e imaturos.
Uma outra forma de obstinação, a que é hostil e violenta, pode arruinar um casamento. O problema quase sempre começa quando um dos cônjuges infringe um dos direitos invioláveis do outro. Talvez o marido não deixe a esposa comprar algo que ela acha que tem de ter, ou a esposa prepare um jantar simplesmente horroroso quando o maridão está esperando o prato predileto. Em vez de deixar que o amor e a graça de Deus nos domine, nossa natureza pecaminosa assume o controle e acabamos enfurecidos ou de mau-humor, seja qual for o nosso caso. E, lenta, mas seguramente, isso vai desgastando o nosso relacionamento. A obstinação inflexível, que nunca é quebrada e se rende à vontade Deus, pode acabar levando a problemas muito mais sérios. Já ouvi algumas pessoas dizerem: “Não gosto mais dela. Não quero mais nada com ela. Só quero ser feliz e não me interessa o que a Bíblia diz”.
Deus quer quebrar nossos desejos obstinados e pecaminosos. Ele quer conquistá-los com Seu amor. O primeiro passo para a vitória é simplesmente admitir que a exigência de ter as coisas sempre do nosso jeito é desobediência à Palavra de Deus e, portanto, é pecado. Converse com o Senhor sobre isso. Seja sincero com Ele. Diga-lhe francamente que você quer as coisas do seu jeito, sem ser desprendido e pensar nos outros, mas reconheça que isso é contrário à Sua Palavra. Peça-Lhe ajuda. Então, por vontade própria, decida-se a fazer as coisas com amor. Esse passo de fé abre o canal do poder de Deus. Ele não só o ajudará na sua decisão de agir com amor, mas também lhe dará um genuíno prazer em fazer a Sua vontade.
Mas vamos voltar a Acabe e sua horta por um momento. Jezabel encontrou-o todo amuado em sua cama e lhe disse: “Que é isso que tens assim desgostoso o teu espírito e não comes pão? (1 Reis 21:5)”. Ele lhe contou como Nabote havia se recusado a permitir que ele tivesse sua horta. Ela replicou: “Governas tu, com efeito, sobre Israel? (1 Reis 21:7)”. Em termos atuais, soaria mais ou menos assim: “Afinal, você é um homem ou um rato? Dá um berro e diz logo o que quer! Você não é rei? Pode pegar o que quiser!” Com seu passado fenício, Jezabel parecia não entender que até mesmo o rei de Israel estava sujeito às leis de Deus.
Quando Jezabel disse: “Levanta-te, come, e alegre-se o teu coração; eu te darei a vinha de Nabote, o jezreelita” (1 Reis 21:7), vemos como esse homem fraco e perverso era completamente dominado pela esposa mandona. Ela tinha em mente um crime hediondo: subornar duas testemunhas para dizer que ouviram Nabote blasfemar contra Deus e contra o rei, a fim de que Nabote e seus filhos fossem apedrejados até a morte e o rei ficasse livre para reivindicar suas terras (2 Reis 9:26). Ela ia ensinar a Acabe sua filosofia de vida: “Pegue o que quiser e destrua qualquer um que fique em seu caminho”. E Acabe não teve coragem para detê-la.
Um homem faz coisas estranhas quando é insultado e ridicularizado pela esposa. “Por que você não o enfrentou?”, diz ela com escárnio ao saber da última discussão dele com o chefe. “Quando é que vai começar a agir como homem?” E, então, quando ele resolve agir como ela quer, acaba perdendo o emprego e todo mundo sofre. Por isso, o segundo round é mais ou menos assim: “Mas será o possível? Será que você não consegue nem sustentar sua família? Que raio de homem é você?” Aí ele fica com raiva dela e passa a enganar e roubar para poder pagar as despesas. Um homem precisa ser respeitado pela esposa, não ridicularizado. Desse vergonhoso incidente da vida de Acabe, Deus disse: “Ninguém houve, pois, como Acabe, que se vendeu para fazer o que era mau perante o SENHOR, porque Jezabel, sua mulher, o instigava” (1 Reis 21:25). Alguns homens precisam de um empurrãozinho nos momentos de indecisão, mas não para fazer maldade! Uma esposa crente deve desafiar o marido a ouvir a voz de Deus e viver para Ele, não induzi-lo a pecar.
Mas a história ainda não acabou. Esses dois foram obstinados até o fim. Elias encontrou-se com Acabe na vinha de Nabote e pronunciou o julgamento de Deus sobre ele e sua mulher por causa das maldades que haviam feito. Passaram-se muitos anos até o julgamento recair sobre Acabe, e esta também é uma história de birra. O incidente ocorreu em Ramote-Gileade, uma cidade a oeste do Jordão que Acabe dizia pertencer a Israel, mas que estava nas mãos da Síria. Quando Josafá, rei de Judá, foi visitá-lo, Acabe lhe perguntou se Josafá iria com ele à peleja para reaver Ramote-Gileade. Josafá concordou, mas quis primeiro consultar o Senhor. Acabe chamou suas “vaquinhas de presépio” e eles lhe garantiram que o Senhor entregaria Ramote-Gileade em suas mãos. Josafá, no entanto, não se deu por satisfeito. Ele queria outra opinião: “Não há aqui ainda algum profeta do SENHOR para o consultarmos?” (1 Reis 22:7). Acabe respondeu: “Há um ainda, pelo qual se pode consultar o SENHOR, porém eu o aborreço, porque nunca profetiza de mim o que é bom, mas somente o que é mau. Este é Micaías, filho de Inlá” (1 Reis 22:8). Assim, Micaías foi chamado e, mesmo sabendo que sua vida corria perigo, falou aquilo que Deus mandou. Israel seria disperso pelos montes como ovelhas que não têm pastor (1 Reis 22:17). Como era de esperar, Acabe rejeitou a profecia de Micaías e o jogou na prisão. Ele tinha de ter as coisas do seu jeito e fazer o que bem entendia, a despeito da vontade de Deus.
Mas as coisas não saíram do jeito que ele planejou. Ele sabia que os sírios iriam atrás dele, por isso tirou os trajes reais e disfarçou-se como um soldado comum. “Então, um homem entesou o arco e, atirando ao acaso, feriu o rei de Israel por entre as juntas da sua armadura” (1 Reis 22:34). Aquele soldado não tinha noção de que estava atirando no rei, mas sua flecha penetrou numa brechinha entre as juntas da armadura de Acabe. Bem poucos arqueiros teriam sido tão certeiros. É óbvio que Deus estava guiando aquela flecha, e a teimosia de Acabe acabou com sua morte prematura.
Jezabel ainda viveu por quase catorze anos após a morte de Acabe. No seu caso, Jeú, capitão do exército de Israel, seria o instrumento da disciplina divina. Depois de matar o rei Jeorão, filho de Acabe, Jeú foi até Jezreel. A Escritura diz: “Tendo Jeú chegado a Jezreel, Jezabel o soube; então, se pintou em volta dos olhos, enfeitou a cabeça e olhou pela janela” (2 Reis 9:30). Jezabel sabia o que ia acontecer, mas ela ia morrer como uma rainha, arrogante, obstinada e impenitente até o fim. Da janela do andar superior, ele lançou insultos sobre Jeú, mas ao mando dele, vários servos dela lançaram-na janela abaixo, “e foram salpicados com o seu sangue a parede e os cavalos, e Jeú a atropelou” (2 Reis 9:33). Foi uma morte violenta, mas novamente ilustra a gravidade da obstinação pecaminosa em oposição a Deus.
Além disso, o comportamento de Acabe e Jezabel influenciou seus filhos. Este é um triste efeito colateral de vidas como as de Acabe e Jezabel. Seus dois filhos reinaram posteriormente em Israel. O primeiro foi Acazias. Dele, Deus diz: “Fez o que era mau perante o SENHOR; porque andou nos caminhos de seu pai, como também nos caminhos de sua mãe e nos caminhos de Jeroboão, filho de Nebate, que fez pecar a Israel. Ele serviu a Baal, e o adorou, e provocou à ira ao SENHOR, Deus de Israel, segundo tudo quanto fizera seu pai” (1 Reis 22:53-54). O segundo a reinar foi Jorão. Quando Jeú foi a Jezreel, para executar a vingança de Deus contra a casa de Acabe, Jorão perguntou: “Há paz, Jeú?”. Em resposta, Jeú fez um resumo do reinado de Jorão: “Que paz, enquanto perduram as prostituições de tua mãe Jezabel e as suas muitas feitiçarias?” (2 Reis 9:22).
Acabe e Jezabel também tiveram uma filha, Atalia, a qual se casou com um outro homem chamado Jeorão, filho de Josafá, rei de Judá. “Andou nos caminhos dos reis de Israel, como também fizeram os da casa de Acabe, porque a filha deste era sua mulher; e fez o que era mau perante o SENHOR” (2 Crônicas 21:6). Foi assim que a influência maligna mudou-se para o reino do Sul. Com a morte de Jeorão, seu filho com Atalia tornou-se rei de Judá. “Era Acazias de vinte e dois anos de idade quando começou a reinar e reinou um ano em Jerusalém. Sua mãe, filha de Onri, chamava-se Atalia. Ele também andou nos caminhos da casa de Acabe; porque sua mãe era quem o aconselhava a proceder iniquamente. Fez o que era mau perante o SENHOR, como os da casa de Acabe; porque eles eram seus conselheiros depois da morte de seu pai, para a sua perdição” (2 Crônicas 22:2-4). E a influência do mal continuou!
Só Deus sabe quantas gerações serão afetadas pela nossa obstinação pecaminosa, pela insistência em ter as coisas do nosso jeito e não do jeito de Deus. Esta história chocante deve incentivar a nossa necessidade de afastar cada traço de voluntariedade e nos dispor a realizar plenamente a vontade de Deus.
Tradução: Mariza Regina de Souza
O calendário na parede indicava cerca de 760 anos antes do nascimento de Cristo. Jeroboão II ocupava o trono de Israel, o reino do norte, e suas façanhas militares tinham expandido as fronteiras de Israel para muito além do que já tinham sido desde os dias do glorioso reinado de Salomão. O dinheiro dos impostos cobrados das nações sujeitas a Israel jorrava na casa do tesouro em Samaria, a capital, e o povo de Israel gozava um período de prosperidade sem precedentes.
Como quase sempre acontece, com a prosperidade veio a degradação moral e espiritual. O secularismo e o materialismo tomaram conta do coração do povo, e o pecado corria solto. A lista de pecados parecia a da América do século XX: blasfêmia, mentira, morte, roubo, bebedeira, perversão, perjúrio, fraude e opressão, para citar apenas alguns. No entanto, o que mais entristecia o coração de Deus era o pecado da idolatria (Oseias 4:12, 13; 13:2). Os bezerros de ouro feitos por Jeroboão I, cerca de 150 anos antes, tinham aberto as comportas para todo tipo de mal proveniente da idolatria dos cananeus, incluindo alcoolismo, prostituição religiosa e sacrifício humano.
Uma vez que o Senhor considerava a nação de Israel como Sua esposa, Ele via a adoração a outros deuses como adultério espiritual. O Antigo Testamento fala frequentemente de Israel adulterando ou se prostituindo após outros deuses (Dt. 31:16, Jz. 2:17, por exemplo). Desde o princípio, o Senhor dissera à nação que não a dividiria com os outros. “Não terás outros deuses diante de Mim” foi o primeiro dos dez grandes mandamentos (Ex. 20:3). Mas Israel persistia em ignorar esse mandamento; e lá pelos dias de Jeroboão II a situação ficou intolerável. Deus ia falar de forma decisiva, e o primeiro a ser escolhido foi um profeta chamado Amós. O ex-pastor de ovelhas de Tecoa trovejou as advertências do julgamento iminente de Deus, mas a nação lhe deu pouca atenção. Por isso, Deus falou novamente, desta vez pelo profeta Oseias, cujo nome significa “O Senhor é salvação”.
A primeiríssima coisa que Deus falou a Oseias foi acerca do seu insólito casamento: “Vai, toma uma mulher de prostituições e terás filhos de prostituição, porque a terra se prostituiu, desviando-se do SENHOR” (Oseias 1:2). Ao longo dos anos, estas instruções têm sido entendidas de diversas formas pelos estudiosos das Escrituras. Alguns acreditam que Deus estivesse mandando Oseias se casar com uma ex-prostituta. Outros acham que uma mulher de prostituições se referia simplesmente a uma mulher de Israel, o reino do norte, uma nação culpada de adultério espiritual. Seja qual for o caso, é óbvio que ela era uma mulher profundamente afetada pela negligência moral da sociedade onde vivia, e Deus pretendia usar o relacionamento pessoal do profeta com ela como uma lição clara e objetiva sobre o Seu próprio relacionamento com Seu povo infiel, Israel. Fosse qual fosse seu passado, Gômer deve ter demonstrado algum sinal de verdadeiro arrependimento e fé no Senhor. Talvez ela tenha correspondido ao ministério cheio do Espírito do próprio Oseias, e ele se viu atraído por ela com um amor profundo e abnegado. Deus o levou a tomá-la como esposa e foi assim que Gômer, filha de Diblaim, tornou-se a insólita esposa do jovem pregador iniciante.
O início de seu casamento deve ter sido lindo, à medida que o amor entre eles florescia. E Deus abençoou sua união com um filho. Como o coração de Oseias deve ter se enchido de alegria! Ele estava convencido de que seu casamento seria melhor do que nunca com este pequeno para iluminar seu lar. Foi Deus quem deu o nome ao bebê, pois este nome devia ter um significado profético para a nação. Ele o chamou de Jezreel, pois foi lá que Jeú, bisavô de Jeroboão, ambiciosamente subiu ao trono por meio de violência e derramamento de sangue. Embora a dinastia de Jeú tivesse prosperado por algum tempo, sua destruição despontava no horizonte e devia acontecer no vale de Jezreel (Oseias 1:4-5).
Foi logo após o nascimento de Jezreel que Oseias parece ter notado uma mudança em Gômer. Ela se tornou irrequieta e infeliz, como um passarinho preso na gaiola. Ele continuou a pregar, conclamando a nação desobediente a deixar o pecado e confiar em Deus para livrá-la das ameaças das nações circunvizinhas. “Voltem para o Senhor!” era o tema da sua mensagem, e ele pregava poderosa e repetidamente (Os. 6:1; 14:1). No entanto, Gômer parecia cada vez menos interessada em seu ministério. Na verdade, talvez tenha começado a se ressentir dele. Talvez até tenha acusado Oseias de pensar mais na sua pregação do que nela. Ela começou a procurar outras coisas para se ocupar e a passar cada vez mais tempo longe de casa.
Os perigos são grandes quando marido e mulher têm poucos interesses em comum. Às vezes, ele segue o seu caminho, e ela o dela. Cada um tem seus próprios amigos e há pouca comunicação para unir os dois mundos. A preocupação do marido com o trabalho talvez seja o maior fator contribuinte para a separação. Ou talvez seja o crescente envolvimento da esposa em atividades fora de casa e a consequente negligência do seu lar. Pode ser também um simples desinteresse pelas coisas do Senhor de qualquer uma das partes. No entanto, isso abre o caminho para uma grande calamidade. Marido e mulher precisam fazer coisas juntos e ter interesse nas coisas um do outro. Nesta história inspirada, a responsabilidade é claramente colocada em Gômer, não em Oseias. Ela não compartilhava do amor do marido por Deus.
Isso nos leva, em segundo lugar, à incessante agonia de Oseias. A Escritura não nos dá detalhes sobre os acontecimentos, mas o que ela diz nos permite fazer algumas conjecturas sobre o que causou a trágica situação que veremos em breve. Provavelmente, as ausências de Gômer foram ficando cada vez mais frequentes e prolongadas, e logo Oseias começou a sentir uma ponta de suspeita sobre a fidelidade dela para com ele. À noite, ele se deitava na cama e lutava com seus medos. Durante o dia, ele pregava com o coração pesado. E suas suspeitas foram confirmadas quando Gômer engravidou pela segunda vez. Agora era uma menina, e Oseias estava convencido de que a criança não era sua. Sob a direção de Deus, ele a chamou de Lo-Ruama, que significa “desfavorecida” ou “não-amada”, implicando que ela não desfrutaria do amor do seu verdadeiro pai. Novamente, o nome era um símbolo do afastamento de Israel do amor de Deus e da disciplina que logo viria. Contudo, nem mesmo essa mensagem espiritual conseguiu acalmar a alma atribulada do profeta.
Tão logo a pequena Desfavorecida foi desmamada, Gômer concebeu mais uma vez. Era outro menino. Deus disse a Oseias para chamá-lo de Lo-Ami, que significa “não meu povo” ou “não meu parente”. Este nome simbolizava a alienação de Israel do Senhor, e também desmascarava as escapadas pecaminosas de Gômer. A criança nascida na casa de Oseias não era dele.
Agora tudo tinha vindo à tona. Todo mundo sabia dos casos amorosos de Gômer. Embora o segundo capítulo inteiro da profecia de Oseias descreva o relacionamento do Senhor com Seu povo infiel, Israel, é difícil deixar de sentir que isso é demonstrado no relacionamento entre Oseias e Gômer, ensanduichado entre dois capítulos que claramente descrevem essa história triste e sórdida. Ele pleiteou com ela (2:2); ameaçou deserdá-la (2:3); e mesmo assim ela continuou correndo atrás de seus amantes, porque eles lhe prometiam muitas coisas materiais (2:5). Em certa ocasião, ele até tentou impedi-la (2:6), mas ela continuou a procurar seus companheiros de pecado (2:7). Oseias sempre a levava de volta, demonstrando seu amor e perdão, e eles tentavam novamente. No entanto, o arrependimento dela tinha vida curta e logo ela estava outra vez atrás de um novo amante.
Então, veio o golpe fatal. Talvez tenha sido um bilhete ou um recado enviado por um amigo, mas a essência parece ter sido: “Estou indo embora, e desta vez é para sempre. Encontrei meu verdadeiro amor. Não volto mais”. Como Oseias deve ter sofrido! Ele a amava tanto, e chorou tanto por sua causa, que era como se ela tivesse morrido. Seu coração doía por saber que ela escolhera uma vida que certamente a levaria à ruína. Seus amigos provavelmente lhe disseram: “Deixa-a ir, Oseias. Agora você pode se livrar dessa adúltera de uma vez por todas”. Mas Oseias não pensava assim. Ele queria tê-la em casa de novo.
Não podemos deixar passar essa mensagem de amor eterno. Oseias queria ver Gômer novamente ao seu lado como uma esposa fiel. E ele acreditava que Deus era poderoso o suficiente para fazer isso. Um dia ele ouviu uma fofoca de que ela tinha sido abandonada pelo amante. Ela tinha se vendido à escravidão e atingido o fundo do poço. Essa era a última gota. Com certeza, agora, Oseias iria esquecê-la. Mas seu coração lhe disse: “Não!”. Ele não poderia desistir dela. E, então, Deus lhe falou: “Vai outra vez, ama uma mulher, amada de seu amigo e adúltera, como o SENHOR ama os filhos de Israel, embora eles olhem para outros deuses” (Os. 3:1).
Gômer ainda era amada por Oseias, mesmo sendo adúltera, e Deus queria que ele fosse atrás dela novamente e lhe mostrasse seu amor. Como alguém poderia amar tanto? A resposta estava bem ali no mandado de Deus a ele: “como o SENHOR ama”. Só alguém que possui o amor e o perdão de Deus pode amar com essa perfeição. E quem experimenta o amor perdoador de Deus não pode deixar de amar e perdoar os outros. Maridos cristãos devem amar a esposa como Cristo amou a Igreja (Efésios 5:25), e Oseias é um excelente exemplo bíblico desse tipo de amor.
Assim ele deu início à sua busca, levado por esse indestrutível amor divino, amor que tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta, e jamais acaba. Finalmente ele a encontrou, toda esfarrapada, machucada, doente, suja, desgrenhada, largada, presa a uma plataforma de leilão de um asqueroso mercado de escravos, uma figura repulsiva da mulher que um dia fora. E ficamos nos perguntando como alguém poderia amá-la nessas condições. Oseias, no entanto, comprou-a por quinze peças de prata e um ômer e meio de cevada (Oseias 3:2). Então, ele lhe disse: “tu esperarás por mim muitos dias; não te prostituirás, nem serás de outro homem; assim também eu esperarei por ti” (Oseias 3:3). De fato, ele pagou por ela, levou-a pra casa e, por fim, restabeleceu-a como sua esposa. Embora não encontremos nada mais na Escritura sobre o relacionamento entre os dois, podemos presumir que Deus tenha usado esse ato magnânimo de amor e perdão para enternecer o coração de Gômer e mudar sua vida.
Quantas vezes o marido ou a esposa devem perdoar? Alguns dizem: “Se eu sempre perdoar, simplesmente vou acabar aceitando sua vida de pecado”. Ou, “Se eu sempre perdoar, ela vai achar que pode fazer o que quiser”. Outros dizem: “Se eu sempre perdoar, é como se estivesse endossando seu comportamento”. Ou, ainda, “Não posso suportar outro golpe como esse. Se ele fizer de novo, vou embora”. Entretanto, essas são respostas humanas. Preste atenção na resposta do Senhor Jesus. Veja, Pedro tinha feito ao Senhor a mesma pergunta: “Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes?” E a resposta do Senhor foi: “Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt. 18:21-22). Isso é muito perdão. Na verdade, Cristo estava simplesmente dizendo, de forma encantadora, que não há limite para o perdão.
Às vezes, são apenas pequenos deslizes e coisas do dia a dia que precisam ser perdoados, alguma palavra áspera ou alguma acusação mais irritada. Mas nós ficamos alimentando a mágoa, deixando-a nos consumir, e guardamos a amargura e o ressentimento que corroem o nosso relacionamento. Talvez seja um pecado mais grave, como o de Gômer, e nós não conseguimos esquecê-lo. Ficamos remoendo o problema e nos torturando por causa dele, trazendo-o sempre à mente, numa tentativa inconsciente de punir o nosso cônjuge pelas mágoas que sofremos. Nós tentamos perdoar, mas pouco tempo depois lá está ele novamente, atormentando nosso pensamento. Grandes mágoas, às vezes, levam tempo para serem curadas. Elas vão e voltam ao pensamento. Não há como evitar isso. No entanto, a cada volta, precisamos, antes de qualquer outra coisa, lembrar a nós mesmos que já perdoamos, e então repetir o quanto fomos perdoados por Deus, pedindo-Lhe que retire os pensamentos destrutivos e rancorosos da nossa cabeça.
Perdoar não significa, necessariamente, sofrer em silêncio. A necessidade de conversa franca e aberta requer que expressemos os nossos pensamentos e sentimentos, que falemos sobre a nossa mágoa e como o nosso cônjuge pode nos ajudar a superar isso. Deus nos diz o quanto o nosso pecado O magoa. Gômer, com certeza, sabia o quanto seus casos amorosos partiam o coração de Oseias. O que dissermos precisa ser dito com amor e carinho, mas temos tanto a necessidade quanto a obrigação de compartilhar o que está no nosso coração.
Perdoar também não significa, necessariamente, tomar medidas positivas para nos resguardar contra os pecados recorrentes. Esse ponto talvez necessite de um aconselhamento mais extensivo; talvez seja preciso uma reavaliação sincera da nossa personalidade e dos nossos hábitos; pode significar também uma mudança do nosso estilo de vida ou de lugar. Deus toma medidas positivas para nos ajudar a querer agradá-lO. É para isso que serve a disciplina divina. Nós não disciplinamos uns aos outros, mas podemos discutir as medidas que nos ajudarão a evitar as mesmas armadilhas no futuro.
Perdoar, no entanto, significa sofrer pelo pecado da outra pessoa. Não podemos retaliar, de forma a fazer a pessoa culpada pagar pelo seu erro. Devemos absolvê-la de toda a culpa. Deus pode usar esse amor perdoador para amolecer corações endurecidos e mudar vidas calejadas mais rápido do que se possa imaginar. Esta é a lição de Oseias e Gômer, a lição do perdão. O amor e o perdão de Deus permeiam toda a profecia de Oseias. Por favor, não entendam isso de forma errada. Deus odeia o pecado; o pecado entristece o Seu coração; Ele não pode fechar os olhos para o pecado; Sua perfeita retidão e Sua perfeita justiça exigem que Ele o trate. Mas Ele ainda ama os pecadores e diligentemente os busca e lhes oferece Seu amor e Seu perdão.
O antigo povo de Deus, Israel, estava sempre voltando aos seus pecados. “Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque o vosso amor é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa” (Os. 6:4). No entanto, Deus nunca deixou de amá-los. “Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei o meu filho” (Os. 11:1). “Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor” (Os. 11:4). “Como te deixaria, ó Efraim? Como te entregaria, ó Israel?” (Os. 11:8). E, justamente porque Ele nunca deixou de amá-los, Ele não deixou de pleitear com eles: “Volta, ó Israel, para o SENHOR, teu Deus, porque, pelos teus pecados, estás caído” (Os. 14:1).
É assim que precisamos amar. É assim que precisamos perdoar. Precisamos arrastar as feridas purulentas cultivadas em nosso coração até a cruz de Cristo ━ onde um dia depositamos o fardo da nossa culpa e descobrimos o perdão de Deus ━ e devemos deixá-las lá. Quando conseguirmos perdoar plenamente, a nossa mente será libertada do cativeiro de ressentimento que criou uma barreira entre nós, e seremos livres para crescer em nossos relacionamentos.
Tradução: Mariza Regina de Souza
Há situações em nossa vida que nem sempre são do nosso agrado: lugares onde temos de morar, pessoas com quem temos de conviver ou problemas que temos de enfrentar. E nem sempre isso ocorre por nossa culpa. Muitas vezes somos vítimas das circunstâncias ou, então, tomamos decisões que achávamos acertadas, mas que acabaram não saindo como esperávamos. Algumas pessoas sentem isso com relação ao seu casamento – a mulher, por exemplo, achava que o homem com quem se casou fosse crente. Mais tarde, ela descobriu ter sido enganada. As atitudes dele constantemente refletiam sua falta de interesse pelas coisas do Senhor, causando a ela uma angústia interminável. Há uma história na Palavra de Deus que deve encorajar as pessoas em tais circunstâncias.
O homem da casa não era outro senão o rei do maior império de seus dias. Os judeus o chamavam de Assuero, a forma hebraica de seu nome persa. A história secular o conhece por seu nome grego, rei Xerxes I, o qual governou a Pérsia de 486 a 465 aC. Seu poderoso império se estendia da Índia até a Etiópia (Ester 1:1). No entanto, isso não era suficiente para ele. Sua verdadeira paixão era fazer o que seu pai, Dario I, não tinha conseguido –conquistar a Grécia.
A Palavra de Deus nos diz que “no terceiro ano de seu reinado, deu um banquete a todos os seus príncipes e seus servos, no qual se representou o escol da Pérsia e Média, e os nobres e príncipes das províncias estavam perante ele. Então, mostrou as riquezas da glória do seu reino e o esplendor da sua excelente grandeza, por muitos dias, por cento e oitenta dias” (Ester 1:3-4). Uma conferência desse nível, com duração de seis meses, tinha de ser muito mais que apenas uma grande festa. Provavelmente, era parte da estratégia de Xerxes para a futura invasão à Grécia. A história secular diz que ele deu início à invasão logo após essa esplêndida convocação, em 481 aC.
Para encerrar a conferência, no entanto, ele planejou uma semana de festas e comemorações (Ester 1:5). Quando já estava meio embriagado pelo vinho, ele chamou sua bela rainha, Vasti, para exibi-la diante de seus amigos (Ester 1:11). Ela se recusou a servir de espetáculo público e Assuero ficou enfurecido. Aconselhado por seus sábios, ele decidiu depor a rainha por meio de edito real – a lei dos medos e dos persas que não podia ser revogada, nem mesmo pelo próprio rei (Ester 1:19). Foi uma decisão precipitada que ele viria a lamentar, mas Assuero era conhecido por ser impulsivo e cabeça dura.
Além disso, ele tinha coisas mais importantes a fazer do que se preocupar com seu harém. Ele estava prestes a conquistar a Grécia. Seus exércitos eram superiores e o momento da história estava a seu favor. No entanto, numa sucessão de batalhas famosas, familiares aos estudantes de história antiga (Termópilas, Salamina e Plateia), seu poderio militar foi finalmente quebrado, e ele voltou à capital Susã como um homem derrotado. Como ele deve ter desejado o consolo e a companhia de sua rainha deposta para minimizar sua vergonha e massagear seu ego ferido! “Passadas estas coisas, e apaziguado já o furor do rei Assuero, lembrou-se de Vasti, e do que ela fizera, e do que se tinha decretado contra ela” (Ester 2:1). Mas era tarde demais. Seu decreto era irreversível.
Foi aí que seus auxiliares sugeriram a realização de um concurso de beleza em toda a Pérsia para encontrar uma rainha para o rei Assuero. “Então, disseram os jovens do rei, que lhe serviam: Tragam-se moças para o rei, virgens de boa aparência e formosura. Ponha o rei comissários em todas as províncias do seu reino, que reúnam todas as moças virgens, de boa aparência e formosura, na cidadela de Susã, na casa das mulheres, sob as vistas de Hegai, eunuco do rei, guarda das mulheres, e dêem-se-lhes os seus unguentos. A moça que cair no agrado do rei, essa reine em lugar de Vasti” (Ester 2:2-4). A coisa toda soou meio divertida ao rei, por isso, ele deu sua permissão e a busca teve início. Um concurso de beleza não é uma maneira ruim de encontrar uma esposa, se o objetivo for somente a aparência. Contudo, nosso Deus soberano ia dar a Assuero muito mais que boa aparência, quisesse ele ou não. Deus já tinha uma esposa escolhida a dedo para esse rei pagão. Embora o nome de Deus não seja mencionado em qualquer parte do livro, Sua mão providencial é claramente visível, governando e dominando as questões dos homens.
Sem que Assuero tivesse a mínima ideia, a próxima rainha da Pérsia seria uma jovem judia. Provavelmente ela preferia estar em Jerusalém com seus compatriotas, mas, por alguma razão, seus pais não quiseram voltar quando o rei Ciro deu sua permissão, cinquenta anos antes. No cativeiro, os judeus tinham permissão para se estabelecer, abrir negócios e viver normalmente, e somente 50.000 deles voltaram a Israel quando tiveram oportunidade.
Os pais desta jovem estavam mortos e seu primo mais velho, Mordecai, tinha se encarregado de educá-la. A Escritura diz: “Ele criara a Hadassa, que é Ester, filha de seu tio, a qual não tinha pai nem mãe; e era jovem bela, de boa aparência e formosura. Tendo-lhe morrido o pai e a mãe, Mordecai a tomara por filha” (Ester 2:7). Ela era uma mulher adorável, e não teve como escapar das garras dos servos do rei que vasculhavam o país à procura de mulheres bonitas. “Em se divulgando, pois, o mandado do rei e a sua lei, ao serem ajuntadas muitas moças na cidadela de Susã, sob as vistas de Hegai, levaram também Ester à casa do rei, sob os cuidados de Hegai, guarda das mulheres” (Ester 2:8).
Todos os dias Mordecai ia ver como ela estava, já que ele era um dos porteiros do palácio. Ele a instruiu para não dizer sua nacionalidade a ninguém, provavelmente para resguardá-la do tratamento cruel dirigido contra os judeus, presente na maioria dos países onde tinham estado ao longo da história, e ela o obedeceu respeitosamente. E, assim, quando chegou sua vez de ser levada à presença do rei, ela não pediu algo especial para tentar impressioná-lo, como fizeram as outras garotas. Sua beleza natural e seu espírito adorável foram suficientes para conquistar o coração do rei. “O rei amou a Ester mais do que a todas as mulheres, e ela alcançou perante ele favor e benevolência mais do que todas as virgens; o rei pôs-lhe na cabeça a coroa real e a fez rainha em lugar de Vasti” (Ester 2:17).
A Escritura não diz que Ester quisesse se casar com Assuero. A oferta era lisonjeira, mas ela devia saber que ele não seria um marido ideal, principalmente depois do que tinha acontecido com Vasti. No entanto, como dizer “não” a um monarca tirânico, sem perder a cabeça? E foi assim que essa simples jovem judia veio a ser tornar a rainha do império persa. Foi a ascensão à realeza mais rápida da história.
A cronologia do livro indica que cerca de cinco anos mais tarde uma bomba estourou sobre o povo de Deus. O pivô da tragédia deve ter sido o herói de Hitler no Antigo Testamento. Ele era um amalequita cruel e antissemita chamado Hamã, evidentemente um descendente de Agague, rei dos amalequitas, a quem Saul tinha mantido vivo em desobediência ao mandamento do Senhor (1 Samuel 15:8-9). Quando Assuero o tornou primeiro-ministro, todos no palácio se inclinaram perante ele, menos Mordecai. Hamã prometeu não só punir Mordecai, mas também exterminar todos os judeus do império persa, o que, consequentemente, incluía quem estava no território de Israel, pois este fazia parte do império. Hamã conseguiu fazer Assuero concordar com seu plano e o acordo foi selado com o anel do rei, a lei irreversível dos medos e dos persas. Essa foi outra decisão precipitada que Assuero viria a lamentar.
“Quando soube Mordecai tudo quanto se havia passado, rasgou as suas vestes, e se cobriu de pano de saco e de cinza, e, saindo pela cidade, clamou com grande e amargo clamor; e chegou até à porta do rei; porque ninguém vestido de pano de saco podia entrar pelas portas do rei. Em todas as províncias aonde chegava a palavra do rei e a sua lei, havia entre os judeus grande luto, com jejum, e choro, e lamentação; e muitos se deitavam em pano de saco e em cinza” (Ester 4:1-3).
Por mais estranho que pareça, não há menção específica à oração neste livro, nem ao nome de Deus, mas você pode ter certeza de que esses judeus estavam orando. Há menção ao jejum e, quando isso ocorre na Escritura, geralmente é associado à oração. Além disso, o lamento provavelmente indicava um clamor desesperado a Deus. Esses judeus estavam longe da pátria por vontade própria, estavam fora do lugar da bênção, separados do lugar de adoração, e talvez, por isso, nem o nome de Deus nem a oração sejam mencionados diretamente. Mas eles estavam orando, e Deus estava cuidando deles, administrando as circunstâncias para glorificar o Seu próprio Nome. E Ele faz a mesma coisa por nós, mesmo quando não estamos conscientes disso.
Estamos prestes a descobrir que há um propósito para as designações de Deus. Isso é revelado na troca de informações entre Ester e Mordecai. Ela enviou um dos camareiros do rei para descobrir por que Mordecai estava pesaroso. Em resposta, ele mandou uma mensagem explicando o plano diabólico, que ela não sabia, pedindo-lhe para interceder junto ao rei. Ela respondeu depressa, relembrando-o de que ninguém podia entrar na presença do rei sem ser chamado, a menos que estivesse cansado de viver, e que há um mês o rei não a chamava. Havia apenas uma pequena possibilidade de ela entrar – se o rei a visse e estendesse seu centro de ouro .
Mordecai provavelmente sentia falta das bênçãos de Deus por não ter retornado a Israel, mas seu discernimento espiritual tinha aumentado desde então. Ele estava começando a compreender um pouco da graça soberana de Deus e da providência divina. Ele mandou responder a Ester: “Não imagines que, por estares na casa do rei, só tu escaparás entre todos os judeus. Porque, se de todo te calares agora, de outra parte se levantará para os judeus socorro e livramento, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se para conjuntura como esta é que foste elevada a rainha?” (Ester 4:13-14). Ester não estava mais segura do que qualquer outro judeu. Quando soubessem que ela era judia, sua vida também estaria em perigo. No entanto, Mordecai estava convencido de que Deus ia cuidar do Seu povo, Israel. Eles podiam estar distante dEle, mas Ele não podia deixá-los perecer, pois isso seria contrário às Suas promessas. Se Deus não usasse Ester para livrá-los, Ele usaria algum outro meio. Deus é um Deus soberano.
Veja, Mordecai tinha compreendido o fato de que Deus permitiu a eles ficarem na Pérsia e talvez agora estivesse prestes a transformar a decisão deles em glória para Si mesmo e libertação para o povo judeu. “Quem sabe se não foi para um momento como este que você chegou à posição de rainha? (NVI)”. Que ilustração notável da grandeza do nosso Deus. Ele não só pode cuidar das circunstâncias da nossa vida que estão além do nosso controle, como também pode cuidar das decisões erradas que tomamos, e até dos pecados que cometemos, e usá-los para o bem. Diz o salmista: “Pois até a ira humana há de louvar-te” (Salmo 76:10). Se Deus pode fazer a ira humana louvá-lO, quanto mais nossos pecados e nossas fraquezas.
Obviamente, isso não significa que podemos viver indiferentes à vontade de Deus e esperar que Ele dê um jeito na bagunça feita por nós. Há uma enorme carga de infelicidade e tristeza no caminho, como muitos cristãos podem testemunhar. As consequências do pecado deliberado podem ser insuportáveis. Significa, no entanto que, quando colocamos nossa vida nas mãos de Cristo e nos entregamos a Ele sem reservas, podemos ter certeza de que Ele tem um grande plano para nós daí por diante. Ele pode usar qualquer coisa que tenha nos acontecido no passado e qualquer circunstância do presente para ajudar a realizar esse plano.
Deus tem um propósito para você, exatamente agora, exatamente onde você está, não importa quem você seja, onde more, com que seja casado, o que tenha vivido no passado ou o que tenha de enfrentar no futuro. Na verdade, Ele permitiu que você chegasse até aqui para um propósito definido, “para um momento como este”. Ele tem algo específico para você realizar na presente situação e quer que você procure as oportunidades para isso na sua esfera atual de influência.
Veja, os crentes são parte do grande programa de Deus na terra; eles devem viver com fé, como pessoas destinadas a um propósito. Deus não nos quer lamentando a nossa situação, procurando uma saída. Ele será honrado quando invocarmos a Sua graça para sermos aquilo que Ele quer que sejamos e façamos aquilo que Ele quer que façamos na atual circunstância. Precisamos aproveitar as oportunidades que Ele nos dá aqui e agora. Talvez, mais tarde, Ele abra oportunidades mais amplas se for esse o Seu propósito, mas isto está em Suas mãos. Nossa responsabilidade é deixá-lO nos usar onde estivermos.
Ester reagiu de forma positiva ao sábio conselho de Mordecai. Ela enviou uma mensagem, dizendo: “Vai, ajunta a todos os judeus que se acharem em Susã, e jejuai por mim, e não comais, nem bebais por três dias, nem de noite nem de dia; eu e as minhas servas também jejuaremos. Depois, irei ter com o rei, ainda que é contra a lei; se perecer, pereci” (Ester 4:16). A menção ao jejum mostra sua confiança no poder da oração, especialmente em comunhão com outros crentes. Quando estamos enfrentando situações difíceis, talvez seja bom pedir oração a outros cristãos. Não precisamos lavar nossa roupa suja, depreciar nosso cônjuge ou fazer fofoca de quem está envolvido no problema. Tudo o que precisamos é admitir que temos uma necessidade e pedir aos nossos amigos que orem por nós.
Sob a proteção do manto da oração, o passo seguinte é dispor nosso coração a fazer a vontade de Deus em tal situação, custe o que custar. “Irei ter com o rei”, disse Ester, “se perecer, pereci”. Deus pode querer que realizemos alguma tarefa desagradável. Talvez isso envolva o confronto com alguém a quem preferimos evitar, ou admitir alguma coisa que tentamos esconder, como aconteceu com Ester. No entanto, se sabemos que essa é a vontade de Deus, precisamos fazer. E Deus honrará nossa atitude. Ele fez assim com Ester.
Deus operou de forma maravilhosa. Na verdade, Ele realizou um milagre para nos servir de incentivo. Em primeiro lugar, Ele dispôs o coração do rei para estender o cetro de ouro, e Ester se aproximou do trono. Ela falou de modo comedido ao invés de fazer exigências egoístas ou acusações furiosas. E, em vez de despejar o problema de uma vez, ela convidou Assuero e Hamã para jantar naquela noite. No jantar, mais uma vez ela ignorou o assunto, convidando-os novamente para jantar na noite seguinte. Não é que ela estivesse tentando amaciá-los ou manipulá-los. Ela estava usando o bom senso, e muitos maridos e esposas deveriam aprender com ela sobre como e quando falar. Graça e tato são palavras-chave na nossa abordagem.
Deus opera de maneiras estranhas. Na noite entre os banquetes, Assuero não conseguiu dormir. Ele pediu que lhe trouxessem o livro de registros do seu reino e o lessem para ele. Provavelmente isso o fazia dormir quando nada mais funcionava. No registro constava a história de um plano de assassinato contra ele, o qual fora descoberto e revelado por Mordecai, pelo que ele nunca fora recompensado (Ester 6:1-3). Esse pequeno episódio incrível preparou o caminho para os acontecimentos do dia seguinte.
Primeiro, Hamã foi obrigado a honrar Mordecai por seu patriotismo. Depois, veio o segundo banquete de Ester. Enquanto festejavam, o rei disse a ela: “Qual é a tua petição, rainha Ester? E se te dará. Que desejas? Cumprir-se-á ainda que seja metade do reino”. A resposta dela foi brilhante: “Se perante ti, ó rei, achei favor, e se bem parecer ao rei, dê-se-me por minha petição a minha vida, e, pelo meu desejo, a vida do meu povo. Porque fomos vendidos, eu e o meu povo, para nos destruírem, matarem e aniquilarem de vez; se ainda como servos e como servas nos tivessem vendido, calar-me-ia, porque o inimigo não merece que eu moleste o rei”. O rei ficou chocado. “Quem é esse e onde está esse cujo coração o instigou a fazer assim?” E, para horror de Hamã, Ester apontou para ele (Ester 7:1-6).
As consequências do banquete foram espantosas. Hamã foi enforcado na forca que tinha preparado para Mordecai e Mordecai foi promovido a primeiro ministro da Pérsia. E, embora a ordem contra os judeus não pudesse ser anulada, eles tiveram permissão para se defender contra seus adversários. Mais de 75.000 inimigos declarados foram mortos e o povo de Deus foi libertado. Foi realmente um milagre! Mas Deus ama realizar milagres para quem se vê como parte do Seu plano, que vê as circunstâncias como parte dos Seus desígnios e vive para fazer a Sua vontade seja onde for.
Contudo, há mais uma coisa que precisamos observar nesta narrativa, a qual é um memorial para todas as épocas. Tanto Mordecai quanto Ester ficaram tão agradecidos a Deus pela Sua fidelidade que enviaram cartas aos judeus de todas as províncias da Pérsia instruindo-os a celebrar os dois dias da sua libertação todos os anos. Essa comemoração é chamada de festa do Purim, da palavra Pur, que significa “sorte” ou “dado”. Hamã tinha lançado sortes para determinar o dia em que os judeus deveriam morrer (cf. Ester 3:7, 9:24, 26). Deus transformou esse dia em dia de vitória e eles foram gratos a Deus por Sua libertação. Os judeus celebram a festa do Purim até hoje. É um memorial permanente da fidelidade de Deus.
Deus também opera em nossa vida tão definitiva e decisivamente quanto operou na vida de Ester. As circunstâncias ao nosso redor talvez não sejam como gostaríamos. No entanto, de um jeito ou de outro, podemos ser gratos a Deus por elas. Elas dão a Ele oportunidade de demonstrar Seu amor e cuidado soberanos, e a nós, oportunidade de glorificá-lO. Creiamos que todas as coisas cooperam para o bem e, assim, procuremos servir a Ele em todas as circunstâncias.
Tradução: Mariza Regina de Souza
Em quase todas as culturas da história existe uma consciência de classe e a cultura judaica da época de Jesus não era exceção. A classe superior daquela estrutura social era constituída pelos descendentes de Arão, o sacerdócio oficial. Naquele tempo, havia cerca de 20.000 deles em Jerusalém e arredores e, lamentavelmente, muitos eram orgulhosos, preconceituosos, extremamente indulgentes e egocêntricos, religiosos só naquelas questões exteriores que poderiam impressionar outras pessoas. Um exemplo típico é o sacerdote da parábola do bom samaritano. Ele se achava bom demais para ajudar uma pobre vítima de assalto e roubo.
Contudo, havia alguns que eram diferentes e, entre eles, estava um velho sacerdote chamado Zacarias, cujo nome significa “o Senhor Se lembra”. Uma vez que a lei de Moisés prescrevia que um sacerdote só poderia se casar com uma mulher de excelente reputação, Zacarias tinha escolhido como esposa a filha de outro sacerdote. Não só ela era descendente de Arão, mas também tinha o mesmo nome que a esposa deste, Eliseba ou Isabel, que significa “o juramento de Deus”. Seus nomes ganhariam um novo sentido antes que o sol se pusesse sobre sua vida conjunta.
Vejamos, em primeiro lugar, seu exemplo de devoção, “ambos eram justos diante de Deus, vivendo irrepreensivelmente em todos os preceitos e mandamentos do Senhor” (Lc. 1:6). Tanto a vida de Zacarias quanto a de Isabel eram agradáveis a Deus. Eles eram submissos à Sua vontade e obedeciam a Sua Palavra. E eles faziam isso “diante de Deus”, ou seja, para exaltar o Senhor quando estavam sozinhos, não para se aparecer diante dos homens. Nisto, eles eram diferentes da maioria dos seus contemporâneos. Eles nem mesmo se preocupavam com o status próprio do sacerdócio. Eles viviam em algum vilarejo obscuro da região montanhosa ao sul de Jerusalém em vez de, como os outros sacerdotes, morar na parte nobre da cidade, ou em Jericó, a suntuosa cidade das palmeiras. Sua piedade não era pura exibição; era um relacionamento íntimo com o Senhor. Eles se importavam mais com o que Deus pensava sobre eles do que com o que os homens pensavam. E isto, consequentemente, é uma base importante para se construir um bom relacionamento conjugal. A qualidade do nosso andar com Deus determina a nossa capacidade de andar com alegria e felicidade com os outros. E esse andar com Ele só pode progredir quando procuramos agradar a Ele em vez de tentar impressionar os homens.
Isso não quer dizer que Zacarias e Isabel não tivessem problemas. Embora muitos dos nossos problemas tenham origem em nossos pecados, Deus permite que eles invadam a nossa vida com o único propósito de nos ajudar a crescer. Ele os quer lá e, não importa o quanto sejamos obedientes, isso não nos tornará imunes aos problemas. Zacarias e Isabel tinham um problema, e um bem grande. “E não tinham filhos, porque Isabel era estéril, sendo eles avançados em dias” (Lc. 1:7). Para nós, é difícil imaginar o tamanho do estigma que era para eles não ter filhos. Muitos rabinos diziam que isso era evidência da desaprovação divina. Mesmo Zacarias e Isabel sendo justos diante de Deus, alguns de seus amigos provavelmente suspeitavam de algum grande pecado oculto. E não tinha como apagar essa mancha. A expressão “avançados em dias” significava que eles tinham pelo menos sessenta anos de idade, muito além da idade normal para gerar uma criança. Era uma situação desesperadora.
Zacarias poderia ter se eximido de sua responsabilidade, divorciando-se de Isabel. Na sociedade daquela época, esterilidade era um motivo comumente aceito para o divórcio. Ele poderia ter se livrado dela, ter se casado com uma mulher mais jovem e ter tido filhos com ela, tirando aquela horrível maldição de sobre as suas costas. Muitos outros teriam tomado esse caminho. Mas não Zacarias. Em vez disso, ele orou (Lc. 1:13). Ele entregou o caso para a única pessoa que poderia fazer alguma coisa. E, embora eu não possa provar, imagino que ele tenha orado junto com Isabel, o que significa que ele ministrava às necessidades dela. Ele era também um homem da Palavra, como mostra seu famoso “Benedictus” (Lc. 1:67-69). Por isso, ele provavelmente compartilhava com sua esposa as grandes Escrituras do Velho Testamento, as quais a consolavam e encorajavam em sua luta.
Essa é a responsabilidade do marido como líder espiritual no casamento. Se ele conhece o Senhor há pouco tempo, no início talvez tenha alguma dificuldade para desempenhar efetivamente seu papel; mas, na medida em que crescer na compreensão da Palavra, ele se sentirá mais confiante para encorajar a esposa por meio dela. Muitas vezes a esposa tem de sacudir a espiritualidade do marido; ela tem de incentivar, implorar e insistir em cada passo vacilante do seu progresso espiritual. Deus não nos quer tentando arrastar os outros espiritualmente, Ele quer que o marido tome a frente, assuma a liderança espiritual e ministre à esposa e aos filhos as coisas concernentes a Cristo.
Depois que Zacarias entregou seu problema ao Senhor, ele simplesmente continuou a fazer o serviço que Deus lhe confiara. Ele não parou de orar e abandonou o barco porque sua situação parecia sem esperança. E nós também não devemos. Nosso Deus é o Deus do impossível! Ele Se deleita em fazer coisas impossíveis por nós quando sabe que daremos a Ele toda a glória. É muito mais fácil desistir e fugir das situações difíceis, no entanto, normalmente isso só agrava o problema. Deus quer que levemos a Ele em oração todas as nossas dificuldades, buscando na Palavra encorajamento e direção e, então, esperemos pacientemente Ele agir.
Vejamos, a seguir, o dia mais memorável da vida de Zacarias e Isabel. O dia de Zacarias começou bem agitado. “Ora, aconteceu que, exercendo ele diante de Deus o sacerdócio na ordem do seu turno, coube-lhe por sorte, segundo o costume sacerdotal, entrar no santuário do Senhor para queimar o incenso” (Lc. 1:8-9). Era sua vez de ministrar diante do altar de incenso no Santo Lugar, possivelmente pela primeira vez em seu ofício sacerdotal. O rei Davi tinha dividido os sacerdotes em vinte e quatro turnos, e a ordem de Abais, à qual Zacarias pertencia, era a oitava da fila. Cada turno era chamado a ministrar no templo em apenas duas ocasiões durante o ano, cada uma delas com duração de uma semana. Tendo cada turno cerca de mil sacerdotes, é evidente que seria impossível a cada um deles entrar no Santo Lugar e queimar o incenso sobre o altar de ouro mais de uma vez na vida. Entretanto, este era o dia de Zacarias.
Primeiro, ele teria de escolher dois amigos especiais para ajudá-lo. Um, com toda reverência, removeria as cinzas do sacrifício da noite anterior. O outro entraria depois e, com todo respeito, colocaria brasas novas no altar. Finalmente, Zacarias entraria sozinho no Santo Lugar levando o incensário de ouro e, a um dado sinal, espalharia o incenso sobre as brasas. Conforme o incenso queimasse e uma nuvem de fragrância surgisse do altar, a oração dos adoradores do lado de fora subiria à presença de Deus (cf. Lc. 1:10). Era um belo símbolo de adoração.
O ritual terminou e era hora de deixar o Santo Lugar. De repente, um anjo do Senhor apareceu a Zacarias, ficando do lado direito do altar. A visita pessoal de um anjo de Deus era uma distinção que fora concedida a bem poucas pessoas na história da raça humana. E, como se pode imaginar, foi uma experiência assustadora. Mas o anjo logo falou: “Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida; e Isabel, tua mulher, te dará à luz um filho, a quem darás o nome de João. Em ti haverá prazer e alegria, e muitos se regozijarão com o seu nascimento” (Lc. 1:13-14). Deus pode realmente realizar coisas impossíveis e foi exatamente isso que Ele prometeu a Zacarias e Isabel. Contudo, seu filho não seria apenas uma criança comum. Ele seria o precursor do Messias prometido pelo profeta Malaquias (Lc. 1:15-17; cf. Malaquias 3:1; 4:5-6).
Tudo isso era demais para a cabeça de Zacarias. Ele tinha orado por um filho, mas, francamente, sua fé tinha enfraquecido. Agora, esta Palavra de Deus – era bom demais pra ser verdade. Antes de ter a chance de colocar seus pensamentos em ordem, ele deixou escapar: “Como saberei isto? Pois eu sou velho, e minha mulher, avançada em dias” (Lc. 1:18). Zacarias era um homem de Deus, mas era homem, e tinha lá suas fraquezas. Deus compreende a fraqueza da fé. Ele não Se empolga com isso, mas entende, e faz o que for necessário para estimular e fortalecer a nossa fé. Essa é uma das razões pelas quais Ele nos deu a Sua Palavra, e também porque incluiu nEla esses grandes acontecimentos históricos. A Palavra de Deus fortalece a fé quando meditamos sobre Ela e sua aplicação à nossa vida. “E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Rom. 10:17).
Zacarias conhecia o Velho Testamento. Ele sabia que Deus tinha dado a Sara um filho na sua velhice. Mas, naquele momento, ele não pensou naquele grande precedente das Escrituras. Mesmo homens da Palavra, às vezes, não conseguem se apropriar disso. No entanto, Deus fez algo muito bondoso para ajudá-lo a crer. Ele lhe deu um sinal. “Todavia, ficarás mudo e não poderás falar até ao dia em que estas coisas venham a realizar-se; porquanto não acreditaste nas minhas palavras, as quais, a seu tempo, se cumprirão” (Lc. 1:20). Não foi muito agradável para Zacarias perder a voz e, como ficamos sabendo depois, a audição também (cf. Lc. 1:62). Mas não creio que ele tenha se importado muito com isso. Sua incapacidade de falar e ouvir era a confirmação da Palavra de Deus e serviu para fortalecer a sua fé na promessa que Ele fizera.
Ao sair do Santo Lugar, Zacarias era um homem diferente. Ele sempre fora um homem piedoso, mas seu encontro com o anjo Gabriel deixou-o com uma nova consciência da grandeza de Deus, um novo senso da sua própria indignidade e uma fé forte, viril. Quando sua semana de ofício sacerdotal terminou, ele correu para casa para compartilhar com Isabel cada detalhe daquele dia memorável, e ambos se regozijaram na graça de Deus.
“Passados esses dias, Isabel, sua mulher, concebeu e ocultou-se por cinco meses” (Lc. 1:24). Essa concepção foi um milagre. Coisas impossíveis realmente acontecem! E Deus hoje é o mesmo de ontem e de sempre (cf. Malaquias 3:6, Josué 1:17). Ele pode resolver os nossos problemas, e colocou esta história em Sua Palavra para provar isso e fortalecer a nossa fé.
A notícia desse milagre revigorou a fé da virgem Maria. Deus lhe disse que ela conceberia um filho sem nem mesmo ter relações com um homem. Isso era meio difícil de acreditar. No entanto, ouça o que a mensagem do anjo lhe assegura: “E Isabel, tua parenta, igualmente concebeu um filho na sua velhice, sendo este já o sexto mês para aquela que diziam ser estéril. Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas” (Lc. 1:36-37). E, com esta nova surpreendente, Maria disse: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra” (Lc. 1:38).
Algumas pessoas invariavelmente dirão: “Mas você não entende. Meu caso não tem jeito”. “Meu marido não muda”. “Minha esposa não aprende”. “Nunca vamos sair do vermelho”. “Nunca mais ficarei bem”. “Meus entes queridos não crentes nunca irão crer em Jesus”. “Este emprego não melhora nunca”. Ouça mais uma vez a Palavra de Deus: “Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas”. Creia nisso. Obedeça a Ele. E continue crendo.
O acontecimento seguinte na vida deste casal piedoso foi a visita de Maria, a jovem prima de Isabel da cidade de Nazaré, e, por essa visita, ganhamos uma compreensão um pouco mais profunda sobre o caráter de Isabel. Ela estava no sexto mês de gravidez e, assim que Maria a saudou, seu bebê estremeceu dentro dela, como se movido pelo Espírito Santo para saudar o Filho de Deus. A seguir, iluminada por esse mesmo Espírito, ela pronunciou estas palavras surpreendentes: “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre! E de onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor?” (Lc. 1:42-43).
Suas palavras são extraordinárias por vários motivos. Antes de mais nada, elas mostram que Isabel compreendeu quem era o bebê de Maria. Ela a chamou de “a mãe do meu Senhor”. “Meu Senhor” é um título messiânico tirado do Salmo 110:1: “Disse o SENHOR ao meu senhor…” Por revelação divina, Isabel confessou que Maria daria à luz o Messias, o Filho de Deus. No entanto, o mais impressionante foi sua atitude para com Maria. Embora soubesse que ela mesma tinha sido agraciada por Deus, Isabel entendeu que Maria fora muito mais agraciada; na verdade, Maria fora mais agraciada que qualquer outra mulher na terra. Isabel nem ao menos se sentia digna de sua visita. Tanta humildade e modéstia são qualidades raras. E, embora Isabel fosse mais velha que Maria e tivesse todo o direito de perguntar: “Senhor, por que não eu?”, não havia traço de ciúme ou egoísmo em seu espírito. Dá para entender porque Deus a abençoou tanto!
O ciúme é um sentimento muito destrutivo. Ele devora a alma, cria um ambiente hostil dentro de casa e arruína o relacionamento com nossos amigos. No entanto, não há ciúme na vida de quem espera e confia em Deus, como Isabel. Se cremos que Deus faz o melhor para a nossa vida e esperamos que Ele solucione os nossos problemas impossíveis no Seu próprio tempo e do Seu próprio jeito, como poderemos ter ciúme de qualquer outra pessoa? Sabemos que somos vasos imperfeitos escolhidos para cumprir Seu propósito especial para nós. Sabemos que Ele age em nossa vida para realizar o Seu próprio beneplácito, e não há vocação maior do que fazer a Sua vontade. Essa certeza nos dá satisfação interior, e a satisfação remove todo ciúme. Precisamos aprender a crer que Deus expurgará o ciúme corrosivo da nossa vida.
A última coisa que gostaríamos de observar na vida de Zacarias e Isabel é seu filho maravilhoso. Tenho certeza de que eles ficaram meditando nas Escrituras do Velho Testamento durante os últimos meses de gravidez de Isabel, lendo cada passagem que pudessem encontrar sobre o Messias e Seu precursor. A nação ansiava por isso há séculos e Deus tinha escolhido este casal piedoso para fazer parte desses acontecimentos emocionantes. A empolgação deles aumentava a cada dia, até que “a Isabel cumpriu-se o tempo de dar à luz, e teve um filho” (Lc. 1:57).
Como era de costume, seus parentes e vizinhos se reuniram para se alegrar com eles pelo acontecimento extraordinário e, no oitavo dia, no momento da circuncisão da criança, eles tentaram dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias. Isabel, no entanto, protestou: “Pelo contrário, ele deve ser chamado João” (Lc. 1:60). Mas, por que João? Esse nome era inédito. Ninguém, em nenhuma das duas famílias, se chamava João. Talvez fosse bobagem de Isabel. Era melhor perguntar a Zacarias. “E perguntaram, por acenos, ao pai do menino que nome queria que lhe dessem. Então, pedindo ele uma tabuinha, escreveu: João é o seu nome. E todos se admiraram. Imediatamente, a boca se lhe abriu, e, desimpedida a língua, falava louvando a Deus” (Lc. 1:62-64).
João significa “O Senhor é gracioso”. E como Ele foi gracioso com eles! Eles simplesmente Lhe pediram um filho para dar continuidade ao nome da família e ao sacerdócio, mas Deus lhes deu o precursor do Messias, uma criança sobre a qual a Sua mão era evidente desde os primeiros dias, um homem a quem Jesus chamaria de “o maior entre os homens” (Mateus 11:11). Deus nem sempre dá de acordo com o que pedimos e, com certeza, nem de acordo com o que merecemos. Ele dá de acordo com as riquezas da Sua graça. Ele dá “infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos” (Ef. 3:20). E Ele ama fazer isso para quem confia nEle e Lhe obedece, mesmo nas situações mais impossíveis.
A grandiosidade da graça de Deus inspirou Zacarias a entoar uma magnífica canção de louvor a Deus. Cheio do Espírito Santo, ele disse: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo, e nos suscitou plena e poderosa salvação na casa de Davi, seu servo, como prometera, desde a antiguidade, por boca dos seus santos profetas, para nos libertar dos nossos inimigos e das mãos de todos os que nos odeiam; para usar de misericórdia com os nossos pais e lembrar-se da sua santa aliança e do juramento que fez a Abraão, o nosso pai” (Lc. 1:68-73). Esse juramento feito por Deus a Abraão é uma referência à aliança abraâmica na qual Deus prometera abençoar os descendentes de Abraão e torná-los uma bênção para toda a terra. Muitos judeus estavam começando a pensar que Deus havia Se esquecido da Sua promessa, que não havia esperança para a situação da nação. Zacarias e Isabel, no entanto, nunca pensaram assim. Juntos, seus nomes eram um constante lembrete de que “o Senhor Se lembra do Seu juramento”. E sua experiência miraculosa provou que isso era verdade. Deus não só Se lembra das Suas promessas, Ele também as cumpre!
Talvez você pense que Deus tenha Se esquecido da sua situação. Mas Ele não Se esqueceu. Ele realiza coisas impossíveis para as pessoas todos os dias e talvez você seja o próximo da fila. Portanto, não se irrite, nem se aborreça sob o peso das provações. Creia nEle. Continue a viver para Ele com fé e paciência, e espere Ele agir, como fizeram Zacarias e Isabel. Embora seus nomes não sejam mencionados novamente depois do nascimento de João, eles nos deixaram um legado de fé nas promessas de Deus, o Deus do impossível.
Tradução: Mariza Regina de Souza
Nazaré era uma adorável cidadezinha aconchegada entre as colinas com vista para a vasta e fértil Planície de Esdraelom. O lugar era composto, principalmente, de algumas casinhas de pedra branca, uma sinagoga erguida na colina mais alta e um mercado na entrada da aldeia. Quando despontou a era do Novo Testamento, sua população parecia girar em torno de pouco mais de cem habitantes, em sua maioria agricultores, mas também alguns artesãos cujas oficinas encontravam-se no mercado – um oleiro, um tecelão, um tintureiro, um ferreiro e um carpinteiro. Os acontecimentos mais importantes da história da humanidade iriam envolver pessoas relacionadas àquela humilde carpintaria de Nazaré.
O carpinteiro, um homem robusto, na flor da idade, chamado José, estava comprometido com uma garota de nome Maria, provavelmente uma adolescente. Ela era uma jovem a quem Deus tinha concedido muita graça (“muito favorecida”, cf. Lucas 1:28). Como o restante de nós, ela era pecadora e admitia sinceramente sua pobreza de espírito e necessidade da salvação graciosa de Deus (cf. Lucas 1:47-48). Mas ao aceitar com entusiasmo a oferta de perdão do Senhor, dia a dia ela tinha se apropriado da Sua graça infinita para crescer e se santificar. Ela era muito agraciada por Deus. E sabia que Ele estava presente em sua vida. O Senhor estava com ela (Lucas 1:28). E ela usufruía uma bela e constante comunhão com Ele.
Entretanto, apesar de seu conhecimento profundo de Deus, foi uma experiência chocante e assustadora quando o anjo Gabriel lhe apareceu: “Mas o anjo lhe disse: Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim” (Lucas 1:30-33). Assim que pôde, Maria perguntou ao anjo: “Como será isto, pois não tenho relação com homem algum?” (Lucas 1:34). E Gabriel lhe explicou o fenômeno sobrenatural que ia realizar aquela façanha extraordinária: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” (Lucas 1:35). Era simplesmente inacreditável, um milagre sem precedentes na história da humanidade, mas que poderia ser realizado pelo poder sobrenatural de Deus; e a gravidez miraculosa de Isabel foi citada pelo anjo como evidência. Agora a questão era com Maria: resistir à vontade do Senhor ou se tornar uma serva disposta por meio de quem Ele cumpriria Seu plano. E essa decisão era basicamente uma questão de fé. No desenrolar da história, veremos, primeiramente, a confiança de Maria em Deus.
“Quanta honra”, você diria, “ser escolhida como a mãe do Messias! Como ela poderia recusar?”. Mas, espere um minuto. Talvez você diga isso porque conheça o final da história; contudo, coloque-se no lugar dela por alguns instantes. Você acha mesmo que alguém ia acreditar que aquela criança tinha sido concebida pelo Espírito Santo? Não acha que muitas pessoas iriam concluir que ela estava escondendo a verdade sobre alguma escapadela com algum soldado romano? O centro administrativo do distrito ficava em Séforis, só a 7 km a noroeste dali, e os soldados romanos eram frequentemente vistos pelas ruas de Nazaré. Não acha que as outras pessoas poderiam concluir que ela e José tinham avançado em seu relacionamento e desobedecido a lei de Deus? Em qualquer dos casos, não haveria a possibilidade de Maria ser apedrejada por relações sexuais ilícitas?
E quanto a José? Ele sabia não ser o responsável pelo estado dela. O que ele diria? Ainda estaria disposto a se casar com ela? Ela estaria disposta a desistir dele se chegasse a esse ponto? E quanto à criança? Será que não carregaria o estigma da ilegitimidade pelo resto da vida? Naquele breve momento na presença do anjo, todos os sonhos de Maria passaram como um flash pela sua cabeça, e ela podia ver cada um deles desmoronando.
A questão toda se resumiu a apenas uma coisa para Maria: “Será que posso confiar em Deus para resolver cada um desses problemas sendo submissa à Sua vontade? Maria desfrutava de um abundante suprimento da graça de Deus. Ela tinha satisfação em seu relacionamento pessoal com o Senhor. Mas agora Ele estava lhe pedindo para enfrentar o maior problema da vida de um crente que anda em comunhão com Ele: “Maria, você realmente confia em mim”?
Maria era uma mulher pensativa. Por duas vezes, lemos que ela guardava certas coisas, meditando-as no coração (cf. Lucas 2:19, 51). Contudo, aqui, ela não levou muito tempo para se decidir. Imediatamente ela respondeu: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra” (Lucas 1:38). Sua decisão foi se submeter à vontade do Senhor e confiar nEle para o que desse e viesse. Submeter-se à vontade de Deus quase sempre envolve algum risco. Mas Deus prometeu fazer todas as coisas cooperarem para o bem e não temos alternativa, a não ser acreditar nisso, se quisermos desfrutar da Sua paz e do Seu poder.
A disposição de obedecer a Deus e confiar nEle para o que der e vier é uma pedra fundamental para um bom casamento. Outros homens podem negligenciar a esposa para sair por aí com os amigos, correr atrás de modismos ou se divertir com sua última aquisição. Deus, no entanto, quer que o marido cristão coloque sua esposa acima de todas as coisas, exceto de Cristo, e a ame como Cristo ama Sua igreja, confiando nEle para tornar as consequências mais gratificantes do que qualquer passatempo ou conquista. A liberdade feminina talvez seja a ordem do dia, mas Deus quer que a esposa cristã seja submissa ao marido com um espírito manso e tranquilo, confiando nEle para enriquecer seu casamento e satisfazer sua vida por meio dele. Talvez Deus esteja nos perguntando o mesmo que perguntou a Maria: “Você realmente confia em mim?”.
Todavia, confiar em Deus é apenas o começo de um bom casamento. Deve haver também profunda confiança de um no outro, e a nenhum homem jamais foi pedido para confiar tanto na garota com quem ia se casar do que ao desta história. Vejamos, então, a confiança de José em Maria. A cronologia aqui não é clara. Não dá para ter certeza se José sabia ou não da gravidez de Maria antes que ela partisse para a casa de Isabel, na Judeia. Mas após seu retorno, três meses depois, o segredo já não podia ser escondido (cf. Lucas 1:56 e Mateus 1:18). Teria Maria falado com José sobre a concepção milagrosa? Teria ele achado difícil acreditar na história dela, mesmo amando-a profundamente? Teria ele aceito a história de imediato? Teria ele resolvido deixá-la porque duvidasse da sua palavra, ou se considerasse indigno de se casar com a mãe do Messias, ou pensasse que Maria teria de educar o filho no templo? Os motivos de José não são claros.
Contudo, uma coisa é certa: havia um conflito imenso na alma de José. Acreditasse ele ou não na história de Maria, os outros, com certeza, não iriam acreditar e ele teria de viver com o falatório a respeito de uma esposa infiel pelo resto da vida. No entanto, José era um homem temente a Deus e cheio de graça. Fosse qual fosse sua decisão, ela ia refletir tanto a sabedoria divina como seu carinho por Maria. E, mesmo com o coração partido, ele estava inclinado a terminar tranquilamente o relacionamento e poupá-la de qualquer constrangimento público (Mateus 1:19). De qualquer forma, pelo menos ele estava aberto à orientação de Deus e, enquanto meditava em oração sobre a coisa certa a fazer, um anjo do Senhor apareceu-lhe em sonho e disse: “José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Lucas 1:20-21). Lembre-se de que este anjo, diferente daquele que falou com Maria, apareceu-lhe em sonho. Teria sido um sonho propiciado pela sua ansiedade ou seria realmente uma mensagem de Deus? Nós não temos dúvida de que era uma mensagem de Deus, pois as Escrituras claramente assim nos dizem, mas José não sabia disso. A princípio, talvez, ele tenha duvidado. Contudo, uma crescente segurança começou a tomar conta dele e a confiança solidificou-se em sua alma. O assunto foi resolvido – não interessava o que os fofoqueiros iriam falar; José acreditava! “Despertado José do sono, fez como lhe ordenara o anjo do Senhor e recebeu sua mulher. Contudo, não a conheceu, enquanto ela não deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Jesus” (Mateus 1:24-25). Esta, provavelmente, foi a maior prova de confiança demonstrada entre um homem e uma mulher.
Na realidade, todo casamento é uma relação de confiança. Quando estamos diante do altar e ouvimos nosso futuro cônjuge prometer que vai renunciar a todos e ser fiel somente a nós, nós acreditamos. Quando o/a ouvimos jurar solenemente que irá nos amar na riqueza e na pobreza até que a morte nos separe, nós acreditamos. E, porque acreditamos, nós fazemos a mesma promessa em resposta e nos comprometemos a um relacionamento para toda a vida. A confiança de um no outro é outra pedra fundamental em um bom casamento, e essa confiança deve crescer com o passar dos anos.
Confiar é ser capaz de dizer ao nosso cônjuge os nossos pensamentos e sentimentos mais profundos, crendo que eles nunca serão usados contra nós, crendo que, seja como for, seremos amados e aceitos, talvez ainda mais devido a nossa honestidade. Confiar é não sentir raiva ou ciúmes quando nosso cônjuge está falando com alguém do sexo oposto. Confiar é acreditar no nosso cônjuge quando ele nos diz onde esteve ou no que está pensando, ou quando tenta explicar o que realmente quis dizer com o que disse.
A confiança nos coloca à mercê do nosso cônjuge. Ela nos torna totalmente vulneráveis e podemos acabar nos machucando! Quando realmente acreditamos em alguém, e depois descobrimos que fomos enganados, isso nos faz sentir tolos e humilhados. Mas que alternativa nós temos? Sem confiança não pode haver relacionamento. Portanto, peçamos a graça de Deus para continuar confiando e creiamos que Ele usará a nossa confiança para tornar o nosso cônjuge mais confiável se for necessário. Veja, não é só o Senhor que nos faz a pergunta. Talvez nosso cônjuge também pergunte: “Você realmente confia em mim?”.
O anjo do Senhor apareceu mais duas vezes a José e essas aparições mostram um outro elemento da história da natividade – a confiança de Maria em José. José e Maria haviam concluído a árdua caminhada até Belém e a provação do parto em um estábulo já tinha passado. No oitavo dia após o nascimento de Jesus, eles O circuncidaram, conforme requerido pela lei. Quarenta dias depois do parto, Maria ofereceu o sacrifício da purificação no templo. Portanto, parece que eles ficaram em Belém, possivelmente planejando torná-la seu novo lar. Algum tempo se passou até os magos chegarem da Pérsia para adorar o rei recém-nascido; e eles o encontraram em uma casa, não em uma manjedoura, como a maioria dos presépios sugere (Mateus 2:11).
Os magos pararam em Jerusalém para saber onde o Messias teria nascido e isso alertou o rei Herodes para uma ameaça potencial ao seu trono. Esta foi outra ocasião em que José recebeu outra mensagem de um anjo do Senhor em sonho: “Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito e permanece lá até que eu te avise; porque Herodes há de procurar o menino para o matar” (Mateus 2:13). Embora ainda fosse noite, José reuniu alguns pertences, pegou Maria e Jesus e partiu para o Egito, ficando lá até a morte de Herodes. Isso é digno de nota. Maria é a figura mais proeminente na história do Natal, mas José é o único a quem Deus deu Suas instruções. José era o chefe da família e era o responsável por proteger Jesus da ira de Herodes. Maria confiou em sua decisão.
Veja bem, isso não foi como férias no sul do país. Foi uma jornada de quase 320 km a pé ou de jumento, atravessando montanhas, desertos e lugares ermos com um bebê com menos de dois anos de idade. A maioria das mães sabe o que isso significa. Duvido que Maria realmente quisesse ir. Já que tinham de deixar Belém, por que não voltar para Nazaré? Será que lá não estariam seguros do mesmo jeito? No entanto, não há indicação na Escritura de que Maria tenha questionado a decisão de José. E isso aconteceu de novo. Depois da morte de Herodes, o anjo falou a José no Egito: “Dispõe-te, toma o menino e sua mãe e vai para a terra de Israel; porque já morreram os que atentavam contra a vida do menino”. Mais uma vez, José obedeceu de imediato e, mais uma vez, Maria confiou em sua decisão.
Como vimos na vida de Abraão e Sara, submissão da esposa significa confiança na ação de Deus por meio do seu marido para fazer o que é melhor para ela. E isso inclui confiança nas suas decisões. E não é tão difícil quando ela sabe que o marido está agindo para o seu bem e está sendo orientado pelo Senhor, como José. Parece que ele queria voltar a Belém, na Judeia, mas ficou com medo ao saber que o filho de Herodes reinava em seu lugar. Mais uma vez, Deus deu instruções a José e ele voltou a Nazaré, onde viviam os pais de Maria (Mateus 2: 22-23). José tomou suas decisões com base na vontade de Deus.
Homens, não temos o direito de pedir às nossas esposas que sejam submissas a nós quando arbitrariamente expressamos nossas próprias opiniões, impomos nossos desejos egoístas ou fazemos só o que nos interessa. Mas quando recebemos instruções claras de Deus, as quais são melhores para todos, podemos compartilhá-las com nossas esposas e, assim, elas podem se submeter sem hesitação. Temos a obrigação de guiá-las no caminho escolhido por Deus, não pelo escolhido por nós. Precisamos aprender a consultar o Senhor em todas as nossas decisões, orando para pedir Sua sabedoria e procurando na Palavra a Sua direção, esperando que Ele nos dê a segurança da Sua paz. E se houver o desejo de fazer somente a Sua vontade, a despeito dos nossos interesses pessoais, Ele nos protegerá de cometer erros graves que tragam infelicidade para a nossa família. E, assim, nossas esposas ficarão livres para seguir nossa liderança com fé e confiança. A confiança não é uma reação simples e automática. Ela precisa ser desenvolvida, especialmente por aqueles que já foram muito magoados. Podemos ajudar o outro a construir uma relação de confiança mais forte conosco ao aprofundar o nosso próprio compromisso com a vontade de Deus. Quando o outro vir que nos rendemos ao Senhor, ele confiará em nós.
Tradução: Mariza Regina de Souza
“Temos um ao outro e isso é tudo o que importa”, gabava-se o casal de pombinhos logo após a cerimônia de casamento. Mas não ia demorar muito para eles descobrirem que não é bem assim. Nenhum marido e nenhuma esposa cristã podem viver isolados. Eles fazem parte de uma unidade maior chamada o Corpo de Cristo (Efésios 1:22-23), a família da fé (Gálatas 6:10), a família de Deus (Efésios 2:19). A família de Deus é muito maior do que qualquer unidade familiar individual e rapidamente aprendemos que nossa relação com essa família espiritual maior afeta a nossa relação como marido e mulher. Isso nunca foi tão óbvio quanto na história de Ananias e Safira.
Ananias e Safira viveram no período de maior pureza e poder da igreja. Por isso, vamos considerar, em primeiro lugar, a situação da igreja na emocionante era apostólica: “Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum” (Atos 4:32). Isso é simplesmente impressionante. Àquela altura, o número de crentes provavelmente chegava a cinco mil ou mais e, mesmo assim, eles eram um só coração e uma só alma. Na Escritura, algumas vezes o coração é usado para se referir, em um sentido mais amplo, à parte não material do ser humano, incluindo tanto o coração quanto a alma. No entanto, diferente da alma, o coração, aqui, provavelmente se refira somente ao espírito, a faceta mais íntima da constituição humana, o centro do seu ser, ao qual Deus Se revela e no qual Ele habita. Aqueles primeiros cristãos sentiam um vínculo espiritual no nível mais profundo da sua vida. Seu espírito estava entrelaçado com a vida e o amor de Cristo. Eles sabiam que pertenciam uns aos outros como irmãos e irmãs em Cristo.
Mas a Escritura não para por aí e diz também que eles eram uma só alma, e isso é uma coisa totalmente diferente. A alma é a força consciente de um homem, sua personalidade, a qual consiste da mente, das emoções e da vontade. É nesse nível que o ser humano pensa, sente e faz escolhas. Essa é a área da experimentação. Aqueles primeiros cristãos não apenas eram um por causa da sua posição em Cristo, mas eram um também na prática. Eles pensavam do mesmo jeito, tinham profundo sentimento uns pelos outros e tomavam decisões que refletiam seu cuidado e preocupação mútuos. Eles não participavam do culto e depois iam pra casa, esquecendo-se dos irmãos e irmãs em Cristo. Uma vez que a congregação era tão grande, mesmo se reunindo no átrio do templo, eles também se reuniam nas casas, em unidades menores, para se conhecer, crescer em amor uns pelos outros e cuidar dos problemas e das necessidades uns dos outros (cf. Atos 2:46).
A preocupação mútua ia muito além daquilo que se referia às suas carteiras – era um cuidado real! Eles entendiam que todas as suas posses vinham de Deus, tendo sido dadas a eles não para seu uso exclusivo, mas para serem compartilhadas uns com os outros. Não havia qualquer tipo de coerção. Qualquer crente era livre para ficar com seus bens, se assim o desejasse, e ninguém o considerava inferior por causa disso. No entanto, a maioria vendia suas propriedades e dava o dinheiro aos apóstolos para ser distribuído àqueles que, provavelmente, tinham perdido o emprego devido à sua fé. Eles abriam mão do seu próprio bem-estar e das suas comodidades para o bem de todos.
O resultado desse espírito desprendido foi grande bênção e poder sobre toda a igreja: “Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça” (Atos 4:33). Uma congregação onde há cuidado mútuo é uma congregação forte, pois a genuína expressão do amor de Deus é colocada em prática. Jesus disse que esse tipo de amor seria a marca dos verdadeiros discípulos (João 13:35), e onde ele está presente, atrai as pessoas como um oásis no deserto.
E atraiu um casal chamado Ananias e Safira. Eles faziam parte daquela poderosa e diligente comunidade de crentes. O nome Safira significa “bela” ou “agradável” e é o mesmo nome dado àquela pedra preciosa de cor azul-violeta. Ananias significa “Jeová é gracioso”, e Deus certamente foi gracioso para com ele. Ele lhe deu uma linda esposa, abençoou-o com bens materiais, perdoou-lhe os pecados e o levou à comunhão com pessoas que realmente se preocupavam com ele. Isso é muito mais que um homem pode desejar.
Ananias, no entanto, queria mais, e Safira também. Eles queriam mais aceitação; queriam aplausos. Eles não queriam ser apenas membros do Corpo; queriam ser membros ilustres do Corpo. Queriam o louvor dos homens. E isso nos leva ao nosso segundo ponto, ao pecado de Ananias e Safira. Crentes dedicados e altruístas muitas vezes são alvo da admiração e do apreço de outros cristãos. Se forem pessoas espirituais, não são motivadas pelo desejo de receber elogios e aplausos dos homens, mas às vezes os recebem. Na igreja primitiva, as pessoas que vendiam suas propriedades e davam o dinheiro à igreja provavelmente recebiam muitos elogios de toda a congregação. Barnabé foi um daqueles que sacrificou tudo (Atos 4:36-37). Ele não o fez para se exibir. Não havia vestígio de orgulho carnal naquilo que ele fez. Ele só pensou na necessidade dos outros cristãos e na glória de Deus. Mas o reconhecimento estava lá. Ananias e Safira viram isso e quiseram ter o mesmo, e foi aí que seus problemas começaram.
Cobiçar o louvor dos homens é evidência suficiente de que eles estavam agindo de acordo com sua natureza carnal, não no Espírito. Contudo, isso fica ainda mais evidente quando ficamos sabendo que eles depositavam sua esperança para o futuro na sua conta bancária, não no Senhor. Eles não conseguiram fazer o que os outros fizeram – dar todo o seu dinheiro para Deus e confiar somente na Sua fidelidade para suprir as suas necessidades. Eles tinham de ter aquele dinheiro. E estas duas expressões de carnalidade, o desejo de reconhecimento e a confiança em coisas materiais, se tornaram um grande dilema para eles. Como poderiam receber o tão almejado reconhecimento sem depositar todo o montante da venda no altar do sacrifício? Mas eles, finalmente, acharam uma solução. Trapaça!
“Entretanto, certo homem, chamado Ananias, com sua mulher Safira, vendeu uma propriedade, mas, em acordo com sua mulher, reteve parte do preço e, levando o restante, depositou-o aos pés dos apóstolos” (Atos 5:1-2). Eles bolaram um plano para reter para si uma parte do dinheiro recebido pela propriedade e levar o restante para os apóstolos. Eles não disseram, necessariamente, que estavam dando a quantia total recebida; simplesmente deixaram que todos presumissem isso. E pronto, o reconhecimento como crentes espirituais e abnegados que entregaram tudo a Jesus foi instantâneo!
Mas o que havia de errado com seu plano? Eles não mentiram realmente pra ninguém, mentiram? Eles apenas deram o dinheiro e não disseram o quanto aquilo representava do total. Eles não tinham culpa pelo pensamento dos outros, tinham? É óbvio que tinham. Pedro, com incrível discernimento divino, atribuiu sua farsa a Satanás e disse que eles mentiram para o Espírito Santo (Atos 5:3). Ele lhes explicou que eles não tinham a obrigação de vender sua propriedade. E, mesmo depois de vendê-la, não tinham a obrigação de dar todo o dinheiro à igreja. Mas eles tinham a obrigação de serem honestos (Atos 5:4). O maior pecado de Ananias e Safira foi sua desonestidade, sua farsa, sua hipocrisia, seu fingimento, mostrando uma falsa imagem de si mesmos, implicando em maior espiritualidade do que realmente possuíam, deixando os outros pensarem o melhor sobre eles. Eles estavam mais interessados nas aparências do que na realidade. Pedro disse: “Não mentiste aos homens, mas a Deus” (Atos 5:4).
Alguma vez você já se perguntou como era o relacionamento entre Ananias e Safira? Embora tenham demonstrado uma incrível parceria em sua farsa, sua hipocrisia não podia deixar de afetar seu casamento. Quando as aparências são mais importantes para nós que a realidade, normalmente, as pessoas com quem convivemos sofrem por causa disso. Diante dos outros, escondemos a maioria das nossas atitudes carnais, mas, por detrás das quatro paredes da nossa casa, a nossa tendência é deixar à mostra todos os nossos defeitos – toda raiva, todo mau-humor, todas as grosserias e falta de respeito, todo egoísmo, todo orgulho, todo comportamento infantil. Por causa disso, muitos lares cristãos estão cheios de brigas e conflitos. No entanto, quando alguns cristãos preocupados, querendo nos ajudar, perguntam como estão indo as coisas, logo respondemos: “Vai tudo bem, está tudo ótimo. Nunca estivemos melhor”. E justificamos a nossa desonestidade dizendo a nós mesmos que o que acontece na nossa casa é problema nosso e não é da conta dos outros. Mas a desonestidade só aumenta o peso da culpa, a culpa leva a mais atitudes defensivas e irritabilidade, e a irritabilidade causa maior divergência e discórdia em nosso lar. Essa é uma das armadilhas prediletas de Satanás.
O desejo carnal de receber louvor e preeminência demonstrado por Ananias e Safira também pode afetar a relação matrimonial de uma outra forma. Ele faz com que cada parte passe a competir de forma egoística pela supremacia e queira mais para si mesmo do seu relacionamento. Cada um dá de si só para receber algo em troca e, geralmente, fica de olho no quanto recebe. Se achar que está em desvantagem, briga e reclama até conseguir o que pensa merecer. Ambos mantém um registro de quem dá mais, de quem recebe mais atenção, de quem é mais compreensivo, de quem tem mais falhas ou de qualquer outro ponto de discórdia. A necessidade de cada parceiro parecer melhor que o outro o faz mascarar sua verdadeira personalidade e, assim, entrincheirar-se ainda mais em sua miserável hipocrisia.
Precisamos ser honestos. Precisamos nos comprometer a ser absolutamente sinceros e transparentes. Esta é a única maneira de escapar dessa armadilha satânica. Quando admitimos nossos verdadeiros sentimentos e motivações para outra pessoa, quando reconhecemos realmente os nossos erros e quando lhe pedimos para orar por nós, isso nos dá coragem para pedir o poder de Deus para mudar. Sabemos que algum dia essa pessoa irá nos perguntar como estão indo as coisas e que teremos de lhe dizer a verdade. Vamos querer estar prontos quando esse dia chegar, pois com nosso crescimento sincero virá uma crescente preocupação com a glória de Deus e com o testemunho da igreja de Cristo. Portanto, vamos deixar o Espírito de Jesus Cristo operar em nós para nos tornar mais parecidos com Ele. Só assim seremos capazes de parar de jogar o jogo das aparências. Só assim seremos autênticos!
Pra começar, marido e mulher podem ser honestos um com o outro. Podem admitir ao parceiro o que se passa dentro deles e, então, se encorajar mutuamente e orar pelas fraquezas um do outro. Eles também precisam ser honestos para com Deus. Quando estão errados, mesmo que estejam cometendo os mesmos erros, eles precisam reconhecê-los abertamente diante do Senhor e parar de ficar se justificando. Só assim serão capazes de crescer espiritualmente. Ananias e Safira podem ter concordado em seu plano fraudulento, mas é óbvio que nunca admitiram sua pecaminosidade um para o outro, nem para Deus. Quando marido e mulher se tornam parceiros no fingimento, um dia isso os destruirá.
Vejamos, finalmente, a importância da disciplina aplicada a eles. Pedro não invocou o julgamento do céu, como algumas pessoas supõem. Ele simplesmente expôs a hipocrisia de Ananias pelo discernimento que lhe foi dado por Deus. “Ouvindo estas palavras, Ananias caiu e expirou” (Atos 5:5). Foi a disciplina da mão de Deus. “Levantando-se os moços, cobriram-lhe o corpo e, levando-o, o sepultaram” (Atos 5:6). Não sabemos como eles o sepultaram sem o conhecimento de Safira, mas, naquela época, os corpos tinham de ser enterrados logo e talvez eles não a tenham encontrado naquele momento. Ela pode ter saído para fazer compras, para gastar um pouco do dinheiro sonegado.
Três horas mais tarde, ela chegou procurando o marido, sem saber o que tinha acontecido. Pedro deu-lhe oportunidade para ser honesta. “Dize-me, vendestes por tanto aquela terra?”, perguntou ele, citando a quantia entregue por Ananias. Safira preferiu continuar mantendo a farsa iniciada pelo marido. Sem hesitar, ela respondeu: “Sim, por tanto” (Atos 5:8). E Pedro lhe disse que ela teria o mesmo destino sofrido por Ananias.
Ficamos amedrontados diante de uma ilustração tão extrema da disciplina divina. Até podemos ficar tentados a dizer que Deus foi severo demais. No entanto, por que Ele fez isso? Ele não parece agir assim hoje em dia. E como somos gratos por isso! Mas, naquela época, era diferente. Aquele era o início da igreja. Até aquele momento ainda não havia ocorrido nenhuma demonstração tão crassa de carnalidade e Deus abominou o dia em que ela se introduziu na igreja. Desde o princípio Ele queria que todos soubessem o quanto Ele odeia a hipocrisia, e que isso fosse conhecido em todas as épocas. Essa é a razão pela qual Ele colocou essa história em Sua Palavra.
Espiritualidade fingida é uma coisa contagiosa. Quando um cristão vê outro cristão agir dessa forma e se sair bem, não vê problemas em tentar também. E, para cada membro que age no poder da carne em vez de no poder Espírito, para cada um que vive para receber o louvor dos homens em vez de viver para a glória de Deus, a eficácia da igreja de Cristo vai diminuindo cada vez mais. Se Deus tivesse permitido a Ananias e Safira levar adiante a sua farsa, isso teria destruído o testemunho da igreja primitiva. Ele tinha de agir naquela hora.
Infelizmente, os anos têm diluído a pureza da igreja e, estando tão longe da singularidade da era apostólica, podemos achar difícil até mesmo reconhecer a nossa própria hipocrisia. Nós pensamos que hipocrisia é um esforço deliberado e calculado para enganar os outros, como foi com Ananias e Safira, e talvez façamos isso de forma inconsciente. Podemos simplesmente cair no hábito involuntário de proteger nossa aparência de santidade, encobrindo os nossos defeitos e escondendo das pessoas o que se passa dentro do nosso coração e do nosso lar. Geralmente isso é mais fácil do que nos entregarmos totalmente a Cristo, deixando-O viver em nós para fazer as mudanças que desejar. Esta forma de hipocrisia tem se tornado um estilo de vida na igreja de Jesus de nossos dias e talvez seja o motivo pelo qual não estejamos causando grande impacto em nossa sociedade incrédula.
Uma grande questão que paira sobre a nossa cabeça depois de termos descortinado a vida de Ananias e Safira é: o que é mais importante – manter a aparência de espiritualidade ou sermos realmente aquilo que Deus deseja de nós? Cultivar só a aparência conduz à morte – morte para o crescimento espiritual, morte para sermos úteis na família de Deus e morte para um relacionamento melhor entre marido e mulher. Por outro lado, o Espírito de Deus pode usar a sinceridade para produzir em nós a vida de Cristo, e isso significa vida abundante, alegria constante e bênçãos sem medida.
Tradução: Mariza Regina de Souza
No ano 52 da nossa era, o imperador romano Cláudio publicou um decreto expulsando todos os judeus da cidade de Roma. De acordo com o historiador romano Suetônio, parece que eles estavam perseguindo seus vizinhos cristãos e causando grande perturbação na cidade. Cláudio pouco se importava com a razão dos problemas e, menos ainda, com quem estava a culpa. Ele sabia que eram judeus e isso era o suficiente; por isso, todos os judeus foram arrancados de suas casas e banidos de Roma, inocentes junto com culpados.
Foi quando um judeu chamado Áquila, que havia migrado da província do Ponto, no Mar Negro, para Roma, empacotou suas coisas, despediu-se de seus amigos e embarcou para a cidade de Corinto. Junto com ele foi sua fiel esposa, Priscila. Não sabemos ao certo se ela era judia ou romana, nem se na época os dois eram cristãos. No entanto, de uma coisa nós sabemos – eles foram juntos. Na verdade, eles estavam sempre juntos. O nome de um nunca aparece sem o nome do outro.
Em primeiro lugar, eles ganhavam a vida juntos. “Pois a profissão deles era fazer tendas” (Atos 18:3). Todo garoto judeu dos tempos do Novo Testamento aprendia algum tipo de ofício. Já que as tendas eram parte importante da vida hebraica, os pais de Áquila decidiram que seu filho deveria aprender esse meio prático de subsistência. Suas tendas eram feitas de tecido rústico de pele de cabra, o que exigia grande habilidade para cortá-las e costurá-las da forma correta. Áquila adquiriu essa habilidade e depois a ensinou à sua esposa, e ela alegremente o ajudava em seus negócios.
Nem todos os casais conseguem fazer como Áquila e Priscila. É preciso uma relação madura para trabalhar junto sob a pressão às vezes gerada por um emprego. Mas, evidentemente, esse era o tipo de relacionamento entre eles. Eles não eram apenas companheiros e amantes, também deviam ser parceiros e bons amigos. É provável que estivessem mais dispostos a dar do que tentavam receber. E fossem capazes de aceitar sugestões da mesma forma que as davam. Eles gostavam de estar juntos e de trabalhar juntos. Eles eram inseparáveis, e eram iguais.
Assim, quando chegaram a Corinto, eles foram juntos à praça para procurar um lugarzinho ao ar livre para alugar e montar seu negócio de fazer tendas. É obvio que isso ocorreu no tempo de Deus, pois tão logo eles se estabeleceram, um outro judeu da mesma profissão chegou à cidade, vindo de sua recente cruzada evangelística por Atenas, o apóstolo Paulo. Sempre que entrava em alguma cidade, ele dava uma volta pela praça procurando uma oportunidade para falar de Jesus, alguma indicação de Deus para um futuro ministério e, é claro, um trabalho com o qual pudesse se sustentar durante o seu ministério. Era inevitável que ele topasse com a oficina de Áquila e Priscila. A Escritura conta a história da seguinte forma: “Depois disto, deixando Paulo Atenas, partiu para Corinto. Lá, encontrou certo judeu chamado Áquila, natural do Ponto, recentemente chegado da Itália, com Priscila, sua mulher, em vista de ter Cláudio decretado que todos os judeus se retirassem de Roma. Paulo aproximou-se deles. E, posto que eram do mesmo ofício, passou a morar com eles e ali trabalhava, pois a profissão deles era fazer tendas” (Atos 18:1-3).
A empatia entre eles foi instantânea e uma amizade profunda e duradoura nasceu naquele dia. Paulo veio a trabalhar com eles, e até mesmo a morar na casa deles, enquanto esteve em Corinto. Se antes eles não conheciam a Cristo, agora, com certeza, eles O conheciam, pois ninguém podia passar algum tempo na presença de Paulo sem ser impactado por seu amor entusiástico e contagiante pelo Salvador. Áquila e Priscila viveram juntos, trabalharam juntos, suportaram o exílio juntos e vieram a conhecer e amar a Cristo juntos; e isso tornou seu casamento completo. Agora eles eram um em Cristo, e o amor do Salvador fez de um bom casamento um casamento ainda melhor. Talvez seja isso justamente o que falte ao seu casamento. Se um de vocês ainda não depositou sua fé no sacrifício de Jesus por seus pecados, seu casamento não pode estar completo. A verdadeira união só pode ser encontrada em Cristo.
Desde o dia em que Áquila e Priscila conheceram o Salvador, eles cresceram juntos na Palavra. Sem dúvida, todos os sábados, eles iam com Paulo à sinagoga, quando ele discorria com judeus e gregos, persuadindo-os a crer na salvação em Cristo (Atos 18:4). Nem todos aceitaram o testemunho de Paulo. Alguns resistiram e blasfemaram. Por isso, ele deixou a sinagoga e passou ensinar na casa de Tício Justo, contígua à sinagoga. E Deus abençoou seu ministério. Até o principal da sinagoga veio a crer em Cristo. “E ali permaneceu um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus” (Atos 18:11). Pense nisso, dezoito meses de estudo intensivo da Bíblia com o maior professor de Bíblia da igreja primitiva. Como Áquila e Priscila devem ter crescido!
E, quando as aulas acabavam, provavelmente os três iam para casa e ficavam até as primeiras horas da manhã conversando sobre o Senhor e Sua Palavra.
Áquila e Priscila amavam cada mais a Palavra de Deus. E, embora trabalhassem muito em sua oficina, fazendo e consertando tendas, mantivessem a casa e cuidassem de seu hóspede ilustre, eles sempre encontravam tempo para estudar a Bíblia com afinco. Estudar a Bíblia juntos fortalecia o amor de um pelo outro e seu espírito de união.
É exatamente isso o que falta em muitos casamentos cristãos. Marido e mulher precisam abrir a Palavra juntos. Na casa de um pastor, talvez isso não seja tão difícil. Quando estou preparando uma mensagem, muitas vezes converso com minha esposa e aceito sua opinião sobre o texto que estou estudando. Quando ela está preparando uma aula, pode pedir minha ajuda para entender determinado versículo e, assim, estudamos a Palavra juntos. No entanto, na casa de vocês isso pode ser um pouco mais difícil, especialmente se nunca fizeram isso antes. Ensinar na Escola Dominical e dividir com o outro a preparação da aula pode ser uma boa maneira de começar. Ler e discutir um guia devocional baseado na Bíblia também pode ser útil. Ler um livro da Bíblia juntos vai permitir que Deus fale à vida de ambos. Seja como for, a Palavra de Deus é um ingrediente essencial para enriquecer o relacionamento de um com o outro.
Os acontecimentos seguintes na narrativa de Atos mostram o quanto Áquila e Priscila aprenderam sobre a Palavra de Deus. Quando Paulo deixou Corinto e foi para Éfeso, eles o acompanharam e, quando ele embarcou para a sua igreja em Antioquia (Atos 18:18-22), eles ficaram em Éfeso. A mudança foi providencial, pois, enquanto Paulo estava fora, “chegou a Éfeso um judeu, natural de Alexandria, chamado Apolo, homem eloqüente e poderoso nas Escrituras. Era ele instruído no caminho do Senhor; e, sendo fervoroso de espírito, falava e ensinava com precisão a respeito de Jesus, conhecendo apenas o batismo de João. Ele, pois, começou a falar ousadamente na sinagoga” (Atos 18:24-26).
Áquila e Priscila foram ouvi-lo e ficaram profundamente impressionados com sua sinceridade, seu amor por Deus, seu conhecimento das Escrituras do Antigo Testamento e sua brilhante oratória. Ele poderia ser poderosamente usado no serviço de Jesus Cristo, mas sua mensagem era incompleta. Tudo o que ele conhecia além do Antigo Testamento era a mensagem de João Batista, a qual simplesmente aguardava a vinda do Messias. “Ouvindo-o, porém, Priscila e Áquila, tomaram-no consigo e, com mais exatidão, lhe expuseram o caminho de Deus” (Atos 18:26). Com amor e paciência, eles lhe expuseram detalhadamente a vida e o ministério de Jesus Cristo na terra, Sua morte sacrificial e substitutiva na cruz do Calvário pelos pecados dos homens, Sua ressurreição vitoriosa da morte e Sua gloriosa ascensão aos céus, a descida do Espírito Santo no Pentecostes e a origem do Corpo de Cristo, bem como outras importantes doutrinas do Novo Testamento.
Áquila e Priscila talvez não pregassem em público, mas eram diligentes estudiosos da Palavra e amavam estudá-la junto com outras pessoas. Eles até mesmo se dispuseram a investir o tempo necessário para tomar aquele jovem sob seus cuidados e ministrar a ele as coisas concernentes a Cristo. Apolo tinha uma mente aguçada e de rápida compreensão. Ele absorveu a verdade de tudo quanto eles lhe ensinaram e tornou-a parte do seu ministério. E, em consequência desse encontro com Áquila e Priscila, ele se tornou um grande servo de Deus, ao qual, tempos depois, algumas pessoas de Corinto colocaram no mesmo nível de Pedro e Paulo (1 Coríntios 1:12).
Alguns de nós nunca serão grandes pregadores, mas podemos ser estudiosos fieis da Palavra e nossas casas poderão se abrir para pessoas cujo coração esteja ávido para ouvi-la. Podemos ter o agradável privilégio de ensinar algum jovem Apolo que um dia terá um amplo e poderoso ministério para Jesus Cristo.
Áquila e Priscila não apenas ganhavam juntos a vida e cresciam juntos na Palavra, eles também serviam juntos ao Senhor. Sabemos disso pelo que já vimos, mas há ainda outro aspecto do seu serviço cristão que dá suporte a essa afirmação. Quando Paulo partiu de Antioquia na sua terceira viagem missionária, ele viajou por terra pela Ásia Menor, voltando a Éfeso, onde permaneceu cerca de três anos ensinando a Palavra de Deus (cf. Atos 26:31). Durante esse período, ele escreveu sua primeira carta aos Coríntios e disse: “As igrejas da Ásia vos saúdam. No Senhor, muito vos saúdam Áquila e Priscila e, bem assim, a igreja que está na casa deles” (1 Co. 16:19).
Quando Áquila e Priscila ainda iniciavam seu negócio em Corinto, sua casa provavelmente não era grande o suficiente para receber todos os cristãos, por isso foi usada a casa de Tício Justo. No entanto, parece que depois Deus os abençoou materialmente e, em Éfeso, eles usaram seus próprios recursos para a glória de Deus. Sua casa foi um lugar de reunião da igreja de Éfeso.
E essa não seria a última vez que sua casa serviria a esse propósito. Quando Paulo deixou Éfeso e foi para a Grécia, evidentemente eles acreditaram que Deus os estava levando de volta a Roma. Cláudio já estava morto, por isso, a mudança parecia segura e, com certeza, Roma carecia do testemunho do evangelho. Assim, eles partiram. Paulo escreveu a epístola aos Romanos da Grécia, durante a sua terceira viagem missionária, e disse: “Saudai Priscila e Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus, os quais pela minha vida arriscaram a sua própria cabeça; e isto lhes agradeço, não somente eu, mas também todas as igrejas dos gentios; saudai igualmente a igreja que se reúne na casa deles” (Romanos 16:3-5). Eles mal chegaram a Roma e já havia reunião da igreja em sua casa. As igrejas do Novo Testamento não podiam se dar ao luxo de possuir terras e construir edifícios, e nem seria sensato fazê-lo, tendo em vista as constantes pressões e perseguições. Por isso, eles se reuniam nas casas. E a casa de Áquila e Priscila estava sempre aberta às pessoas que quisessem aprender mais sobre Cristo e aos cristãos que quisessem crescer na Palavra.
Embora hoje tenhamos igrejas, nada substitui as casas como centro de evangelismo e alimento espiritual na comunidade. Alguns cristãos fazem refeições evangelísticas em que convidam amigos não crentes para ouvir um importante testemunho pessoal. Muitas mulheres dedicadas usam a mesa da cozinha para estreitar o relacionamento com suas vizinhas durante um cafezinho, compartilhando com elas o amor de Cristo. Estudos bíblicos nas casas podem ser uma boa ferramenta para ensinar os perdidos ou para o crescimento dos crentes na Palavra. Nossos moços têm sido grandemente beneficiados por adultos que abrem suas casas para grupos de jovens. As possibilidades de uso das casas para servir ao Senhor são infinitas. Este é um bom motivo para marido e mulher conversarem a respeito e orarem juntos.
Há ainda uma pequena informação na saudação da carta de Paulo aos Romanos que não podemos deixar passar: “os quais pela minha vida arriscaram a sua própria cabeça; e isto lhes agradeço, não somente eu, mas também todas as igrejas dos gentios”. Não sabemos a que Paulo está se referindo, nem quando isso aconteceu, mas em algum lugar, por alguma razão, Áquila e Priscila juntos arriscaram a própria vida para salvar a vida de Paulo. E nós também podemos agradecer a Deus por isso. Nosso conhecimento da verdade divina seria incompleto sem as epístolas que Deus o inspirou a escrever. Seus dois amigos estavam dispostos a dar tudo pelo serviço do Salvador, até mesmo a própria vida.
Áquila e Priscila são mencionados mais uma vez no Novo Testamento, no último capítulo do último livro escrito pelo apóstolo Paulo. Já tinham se passado dezesseis anos desde que Paulo os encontrara pela primeira vez em Corinto e, agora, ele estava numa prisão em Roma pela segunda vez. Sua morte pelas mãos do imperador Nero era iminente e ele estava escrevendo o último parágrafo de uma vida longa e frutífera: “Saúda Prisca, e Áquila, e a casa de Onesíforo” (1 Tm. 4:19). Paulo estava pensando em seus queridos amigos, os quais tinham voltado a Éfeso, onde Timóteo era ministro, provavelmente tendo deixado Roma para escapar do último rompante de Nero em perseguição aos cristãos. A saudação foi breve e simples, usando a forma abreviada do nome Priscila que vemos em outras passagens. Mas, em suas últimas horas de vida, Paulo queria que eles se lembrassem dele.
No entanto, há uma interessante observação a ser feita sobre esse pequeno versículo. O nome de Priscila aparece antes do nome de Áquila. Na verdade, o nome dela aparece em primeiro lugar em quatro das seis referências bíblicas a eles. E isso é muito incomum! A maioria das referências sobre casais na Bíblia coloca o nome do homem em primeiro lugar. Qual seria a razão da mudança? Muitas explicações têm sido sugeridas, mas a mais razoável parece ser a de que Priscila era a mais talentosa dos dois e, muitas vezes, assumia o papel de maior destaque. Ainda assim, parece que isso nunca afetou o amor entre eles, nem sua compreensão mútua e a capacidade de trabalharem juntos.
Todavia, nem sempre é assim. Alguns maridos se sentem ameaçados quando a esposa tem mais instrução ou capacidade que eles e, para evitar algum constrangimento e manter as aparências, às vezes, eles se tornam espiritualmente ausentes. Para eles, é mais fácil não se expor do que ser ofuscado por elas. Outros se tornam dominadores e agressivos, na tentativa de estabelecer uma posição de autoridade.
Em alguns casos, a culpa é da esposa. Parece que elas têm de provar alguma coisa, competindo com o marido pelos holofotes, ávidas de autoridade e primazia. Por isso, não é de admirar que alguns maridos se sintam ameaçados. A ordem de Deus de autoridade no casamento nunca mudou. Mesmo a esposa sendo mais inteligente e habilidosa que ele, Deus ainda quer que ela o considere como líder. Nem sempre isso é fácil para mulheres extremamente talentosas, mas para Priscila foi. Ela não ficava competindo com Áquila. Ela simplesmente usava a capacidade concedida por Deus, como auxiliadora de seu marido, para a glória de Deus. Tenho certeza de que Áquila sempre agradecia a Deus por ela e, em muitas ocasiões, aceitava seu sábio conselho. Ela era uma dessas mulheres realmente liberadas, pois não há liberdade que traga mais alegria e satisfação do que a liberdade de obedecer à Palavra de Deus.
Tradução: Mariza Regina de Souza