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Uma Perspectiva Geral sobre o Perdão dos Crentes

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Introdução

No Novo Testamento, existe um conjunto de passagens-chave acerca do tópico do pecado e perdão para os filhos de Deus. Tais passagens são João 13:1-17; Actos 24:16; 1 Coríntios 4:3-4; 11:28-29; Hebreus 4:12; e 1 João 1:5-2:2; 3:19-22.

O Antigo Testamento também não se cala a respeito deste assunto, contribuindo para a nossa compreensão acerca do perdão do crente. Algumas passagens-chave são Génesis 3 e as respostas de Adão e Eva, que tentaram encobrir o seu pecado culpando outros e usando folhas de figueira. Confira ainda Salmos 32:1-7; 51:1-13; 66:18; 139:23-24; Provérbios 20:27; 28:13; e Jeremias 17:9-10, para nomear apenas algumas passagens.

Existem três requisitos associados ao perdão:

  1. Exame (1 Cor. 11:28);
  2. Autocrítica (1 Cor. 11:31);
  3. Confissão (1 João 1:9).

As passagens supracitadas do Novo e Antigo Testamentos ampliam e clarificam toda esta temática de perdão e responsabilidade quanto ao pecado pessoal. É a partir das mesmas que emerge um conjunto de princípios importantes.

Os Problemas Que Enfrentamos

  1. Iniquidade inata, com tendência à insensatez ou à doença da auto-suficiência (Pv. 4:23; Jr. 17:5; 1 João1:8; compare Is. 2:6-8 com 1:3-4).
  2. O engano e tentações de Satanás, que nos tenta a pecar. Repare que o objectivo principal de Satanás, independentemente do pecado ou da tentação, é levar-nos a agir de forma independente de Deus.
  3. Corrupção, ao caminharmos num mundo malvado, recorrendo a soluções humanas (João 13:1 ss; 1 João1:9)
  4. A corrupção e o uso de estratégias humanas constituem um obstáculo à comunhão, crescimento e mudança honesta de dentro para fora (Is. 2:6; 30:1-2; 50:10-11; compare com 59:1-2).

Na vida, o pecado conhecido e não confessado constitui uma volição negativa à orientação e controlo do Espírito Santo (confira Tg. 4:17; Rm. 14:23). Entristece a Sua pessoa (Ef. 4:30), extingue o Seu poder (1 Ts. 5:19), leva Deus a ignorar os pedidos que fazemos em oração (Sl. 66:18) e despoja-nos da Sua bênção e poder (Pv. 28:13).

A nossa inclinação para a auto-suficiência e o controlo, bem como a nossa incapacidade de reconhecer este facto e lidar com ele, não só origina um obstáculo à comunhão com Deus, mas também cria uma barreira à mudança interior genuína. Engendramos métodos através dos quais parecemos e agimos exteriormente de um modo piedoso (confira Is. 29:13), enquanto procuramos controlar as nossas próprias vidas, lidando com os nossos medos, insegu­ranças e frustrações mediante as nossas próprias estratégias (as nossas tochas humanas), em vez de usarmos os recursos de Deus (Is. 50:10-11; Jr. 2:13).

As Nossas Necessidades

Exame

Necessitamos, não de uma preocupação mórbida connosco mesmos, mas sim de uma reflexão íntima diária sobre as nossas vidas, padrões de comportamento, estratégias de vida, sentimentos, medos e atitudes (Sl. 139:23-24; Pv. 20:27; 1 Cor. 11:28 ss).

Honestidade

Sem honestidade para com Deus e para com o próprio, a reflexão interior é inútil. O engano ou a duplicidade, sob a forma de autojustificação ou de mera negação plena, na tentativa de desculpar as nossas atitudes e comportamentos, são inimigos do crescimento espiritual e da comunhão com Deus (Sl. 32:2b; 51:6; 15:1-2; Pv. 24:12; 21:2; Lucas 16:15).

Confissão

Um exame honesto é necessário para a confissão, sob a forma de contrição genuína – o reconhecimento específico de todos os pecados conhecidos, com um compromisso de mudança pela fé na graça de Deus.

Mas o que é a confissão? “É dizer sobre o pecado o mesmo que Deus. É ter a mesma perspectiva sobre o pecado que Ele. Tal deve incluir mais do que a simples procura do pecado, uma vez que a perspectiva de Deus também inclui o abandono desse mesmo pecado. Assim, a confissão inclui uma atitude de abandono do pecado.” (pp. 302 ss, Basic Theology, por Ryrie.)

Essencial para o auto-exame e confissão é o compromisso de permitir que Deus nos mude de dentro para fora, no cerne das nossas vidas, através da fé. Não se trata de nos basearmos em estratégias ou desejos próprios – isto é, de fazer com que a vida nos corra de feição –, mas sim de termos fé nos Seus recursos: a Palavra, o controlo do Espírito, a oração e até mesmo as provações da vida (Tiago 1:2-4).

Também crucial para uma mudança através da confissão e dependência no Espírito de Deus é ter uma perspectiva bíblica sobre o pecado; necessitamos particularmente de compreender que, na raiz do pecado, em todas as suas diversas formas e cores, se encontra o pecado da auto-suficiência. A auto-suficiência é a culpada, brotando como uma erva-daninha e originando as restantes categorias de pecado, com as quais lidamos. Trata-se de uma questão que, muitas vezes, ou não é compreendida, ou permanece ignorada, uma vez que, para nós, a coisa mais difícil é abdicar do controlo.

Temos tendência a confessar os pecados superficiais, os óbvios, mas somos incapazes de os ver como aquilo que realmente são, frutos de um problema mais profundo de pecado que, tipicamente, desejamos subestimar. De facto, um dos pecados que queremos negligenciar e que se encontra no centro da iniquidade humana é o desejo de controlarmos as nossas próprias vidas, vivendo de forma independente, através de estratégias humanas.

Categorias de Pecado

  • Pecados de Comissão – fazer o que não se deve.
  • Pecados de Omissão – deixar de fazer o que se deve.

Ou

  • Pecado Óbvio – assassinato, fornicação, roubo, manipular outras pessoas, pecados da língua (mentir, criticar, murmurar, massacrar com palavras, linguagem obscena, boatos).
  • Pecados Subsuperficiais ou de Atitude Mental – ressentimento, ansiedade, ódio, medo, orgulho, desejos pecaminosos, tais como a cobiça.
  • Raiz do Pecado – pecados de auto-suficiência, distanciar-se da graça de Deus, substitutos humanos (religiosismo, secularismo, materialismo, estratégias humanas para gerir a vida, mecanismos de defesa e fuga, etc.­).

Assim, à luz dos efeitos do pecado e das estratégias de autocontrolo na nossa capacidade de mudança e comunhão com o Senhor, precisamos de…

  1. Examinar regularmente as nossas vidas à luz da Palavra de Deus, estudando e meditando na Palavra.
  2. Confessar e reconhecer pecados específicos, à medida que nos são revelados através dos instrumentos de Deus (o Espírito, a Palavra, fracassos, pessoas, provações).
  3. Confiar na promessa de Deus, relativa a perdoar-nos quando confessamos o pecado, e saber que os nossos pecados estão perdoados.
  4. Recorrer aos recursos de Cristo, a fim de que nos capacite a lidar com a nossa natureza pecaminosa, bem como com aquelas áreas de insensatez que originaram o pecado; aproximarmo-nos de Deus, fazendo d'Ele nosso refúgio e fonte de vida.

O Propósito que Precisamos de Abraçar

O exame pessoal, ou uma perspectiva interior seguida da confissão do pecado, destina-se a travar o comportamento pecaminoso, mas apenas quando nos aproxima de Deus, de forma a aumentar a nossa dependência d'Ele e das Suas soluções para a nossa vida e pecado. A confissão nunca se destina a desculpar o pecado até uma próxima ocasião, nem o auto-exame serve para nos tornarmos conscientes de nós mesmos, definindo melhor a nossa identidade. Destinam-se, antes, a conduzir-nos até Deus e a alterar o nosso carácter. Este é o tema central de 1 João 1:8-2:2; Sl. 119:59; 139:23-24; Pv. 20:27; 28:13 e Jr. 17:1 ss.

Provérbios 28:9, 13-14 O que desvia os seus ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável...13 O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia. 14 Bem-aventurado o homem que continuamente teme: mas o que endurece o seu coração virá a cair no mal.

O versículo 13 diz o seguinte: “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia”. A palavra “transgres­sões” inclui certamente todo o tipo de padrão pecaminoso, e “encobre” abrange as tácticas que as pessoas utilizam para ignorar, justificar ou negar o pecado. Uma desculpa que ouvimos com frequência, e que talvez todos tenhamos tendência a usar, consiste em afirmar “É assim que eu sou”. Fica implícito que a fraqueza, etc., é culpa de outrem, e que não podemos mudar, dado que esse problema faz parte do nosso temperamento. Mas Deus diz-nos que podemos mudar, uma vez que proveu às nossas necessidades em Cristo.

Repare como um “perdoa-me por todos os meus pecados”, abrangente e simplista, pode constituir uma forma de ignorar ou ocultar um pecado específico na vida de alguém. Tal oração pode ser um método para aceitar o pecado como parte do estilo de vida de uma pessoa. Quando somos incapazes de identificar os nossos pecados, recorrendo primeiro a um exame e, depois, a uma confissão honesta e sincera, acabamos por os ocultar.

O nosso versículo diz-nos que aquele que encobre o seu pecado “nunca prosperará”. O texto hebraico significa que, habitualmente, não consegue prosperar. Enquanto continuar a ignorar ou a criar desculpas para o seu pecado, não encontrará a paz de Deus nem a verdadeira felicidade, e certamente não alcançará o sucesso espiritual. A palavra hebraica para “prosperará” é tsaleach. No Antigo Testamento, é usada em relação às pessoas que encontram a sua prosperidade através da obra de Deus em seu favor, ao procurarem e seguirem o Senhor (Js. 1:8; Sl. 1:3; 2 Cr. 26:5, 31:21). Por outro lado, quando ocultamos ou ignoramos o nosso pecado, desligamo-nos do propósito, bênção e força de Deus. Tal significa que perdemos a salvação, paz, descanso e prosperidade espiritual, a vida em abundância, independentemente do nosso comportamento religioso exterior (confira Sl. 50:16‑23; 66:18; Pv. 28:9).

A segunda metade de Provérbios 28:13 oferece-nos uma prom­essa especial, caso dois requisitos sejam cumpridos.

Os Requisitos

Temos de confessar o nosso pecado. Conforme previamente explicado, isso significa que precisamos de reconhecer, com honestidade, todo o pecado conhecido, admitindo diante de Deus e de nós mesmos que aquilo que fizemos ou que estamos a fazer (um comportamento pecaminoso, por exemplo) é errado, pecaminoso e impeditivo da nossa comunhão com Deus.

A tendência pecaminosa deve ser abandonada e, de acordo com a analogia da Escritura, ser substituída por alternativas piedosas (confira Ef. 4:24-32). No texto hebraico, o termo “deixa” corresponde a um parti­cípio de acção contínua, que incluiria um processo de aprendizagem para ultrapassar e deixar para trás o comportamento pecaminoso. É preciso tempo e crescimento para se ser capaz de lidar com algumas das nossas tendências profundamente enraizadas, mas devemos comprometer-nos com o processo e dor implicada.

A Promessa

Deus promete que essa pessoa “alcançará misericórdia”. Em hebraico, a expressão “alcançar misericórdia” significa “amar profundamente, ter misericórdia, ser com­passivo”. Tem a conotação de um amor especial, misericórdia ou compaixão pelos indefesos, por aqueles que, devido a um prob­lema ou fraqueza especial, necessitam de um amor edificante e da ajuda de outrem. Tal tem em vista a nossa impotência natural e condição pecaminosa, que nos levam a tropeçar e a pecar, mesmo quando não queremos, como Paulo enfatiza em Romanos 7:15. Assim, esta promessa de misericórdia não só implica perdão, mas também a bênção e provisão do amor divino: o poder e provisão de Deus para superar e mudar.

Precisamos de constatar, portanto, que o objectivo da confissão é a mudança, a libertação do pecado, o que requer ser específico a respeito do pecado nas nossas vidas. Lidar com o pecado conhecido e descobrir estas estratégias de autoprotecção, etc., é essencial para a nossa saúde espiritual, para a verdadeira mudança e para o nosso bem-estar diário. Remove a culpa, concede a paz e é um método para restabelecer a comunhão com Deus, a presença do Espírito Santo, a oração eficaz (Sl. 66:18), a iluminação espiritual e uma relação de serviço amoroso com os outros.

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