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Anjos, Espíritos ao Serviço de Deus

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Introdução

Os teólogos têm frequentemente encarado os anjos como um tópico muito difícil.1 Porquê? Porque, embora exista uma abundante menção de anjos na Bíblia, a natureza desta revelação dá-se sem o mesmo tipo de descrição explícita que frequentemente encontramos noutros assuntos desenvolvidos na Escritura:

Cada uma das referências a anjos é incidental a outro assunto. Não são tratados em si mesmos. A revelação de Deus nunca visa informar-nos acerca da natureza dos anjos. Quando são mencionados, é sempre de modo a dar-nos mais informação sobre Deus, sobre o que Ele faz e como o faz. Uma vez que os detalhes acerca dos anjos não são relevantes para tal objectivo, tendem a ser omitidos. 2

Embora os teólogos tenham sido cautelosos no seu estudo de anjos, temos sido bombardeados em anos recentes com o que facilmente poderia ser chamado Angelmania (Anjomania). De facto, este é o título de um artigo de Dr. Kenneth Gangel em “Kindred Spirit”, a propósito da discussão e fascínio generalizado com anjos no nosso tempo por parte do mundo secular.3 Gangel escreve:

No seu livro de 1990, Angels: An Endangered Species (Anjos: Uma Espécie em Vias de Extinção), Malcolm Godwin estima que, ao longo dos últimos 30 anos, uma em cada dez canções pop mencionava um anjo. Mas isso não passava de diversão romântica.

Hoje em dia, a nossa cultura leva os anjos a sério, se não com precisão. Nos últimos dois anos, Time, Newsweek, Ladies’ Home Journal, Redbook e um grande número de outras revistas populares têm trazido artigos sobre anjos. Nos meados de 1994, ABC transmitiu um especial de duas horas em horário nobre intitulado “Angels: the Mysterious Messengers “ (“Anjos: os Mensageiros Misteriosos”). Na edição de 28 de Novembro de 1994, a Newsweek publicou um artigo denominado “In Search of the Sacred” (“Em Busca do Sagrado”), que observou que “20% dos americanos tiveram uma revelação de Deus no último ano e 13% viram ou sentiram a presença de um anjo” (p.54).

A Newsweek está certa: a sociedade moderna, aparentemente tão secular e irremediavelmente materialista, procura desesperadamente algum significado espiritual e sobrenatural. Se os anjos o puderem proporcionar, então que sejam os anjos. 4

As livrarias estão repletas de livros sobre este assunto. Estes livros não só clamam encontros com anjos, como também ensinam às pessoas o modo de contactá-los. Temos agora um programa semanal numa das principais estações televisivas, intitulado “Touched By An Angel” (“Tocado Por Um Anjo”). Certamente, alguém poderá argumentar, trata-se de uma história para mero entretenimento. Contudo, este programa não apenas demonstra o nosso fascínio com o assunto, mas ilustra um entendimento muito pobre daquilo que a Bíblia realmente ensina acerca dos anjos e de Deus, acompanhado de algumas distorções definitivas da Escritura. Através destes comentários, não pretendo fazer pouco caso de todos os denominados encontros com anjos, sobre os quais ocasionalmente lemos ou ouvimos falar. Porquê? Porque, como será discutido com maior detalhe mais tarde, os anjos são servos de Deus, descritos pelo autor de Hebreus como “espíritos, ao serviço de Deus, enviados a fim de exercerem um ministério a favor daqueles que hão-de herdar a salvação”. Veja também Salmo 91:11 e Mateus 4:11. Assim, decerto, para aqueles que crêem no registo da Escritura, podemos confiar completamente nos ensinamentos da Bíblia acerca de anjos e, “talvez com um grau de certeza menor, ter em consideração os relatos pessoais de cristãos respeitáveis”.5

Uma boa ilustração deste último aspecto pode ser encontrada num artigo de Sue Bohlin, intitulado “The Good, The Bad, and The Ugly” (“Os Bons, os Maus e os Feios”). Ela escreve:

Tinha cerca de treze anos de idade quando tive o meu primeiro encontro com um anjo. Dirigia-me para o piso de cima, em direcção ao meu quarto, apoiando todo o meu peso no corrimão, quando este subitamente se desprendeu da minha mão. Caí para trás, de cabeça. A meio de uma queda terrível, senti uma mão forte nas minhas costas, que me punha de pé. Não estava ali ninguém – bem, ninguém visível

As histórias de anjos são sempre fascinantes e, neste ensaio, refiro os anjos: os bons, os maus e os feios. Os anjos bons são os santos, os anjos maus são os malvados, que a Bíblia chama de demónios, e os anjos feios são demónios disfarçados de anjos bons. Estes anjos feios têm enganado muitas pessoas numa cultura que abraçou a “anjomania”.6

Embora muitos detalhes sobre os anjos sejam omitidos na Bíblia, é importante ter em mente três elementos importantes acerca da revelação bíblica que Deus nos deu. 

(1) A menção de anjos na Escritura é vasta. Dependendo da versão pesquisada, estes seres celestiais são referidos de 294 a 305 vezes na Bíblia. Referências a anjos ocorrem pelo menos 116 vezes no Antigo Testamento e 175 vezes no Novo Testamento.

(2) Estas referências abundantes encontram-se pelo menos em 34 livros, desde os mais antigos (Job ou Génesis) até ao último livro da Bíblia (Revelação).

(3) Finalmente, existem numerosas referências a anjos da parte do Senhor Jesus, o qual a Escritura declara ser o criador de todas as coisas, incluindo os seres angélicos. Paulo escreveu: “Porque nele foram criadas todas as coisas que há, nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades (uma referência a anjos): tudo foi criado por ele e para ele” (Col. 1:16).

É a partir deste extenso corpo de Escritura que o estudo aqui apresentado será desenvolvido. A Bíblia será a autoridade para este estudo, e não as especulações dos homens, as suas experiências ou aquilo que as pessoas pensam parecer lógico.

Uma Definição Simples

Os anjos são seres espirituais criados por Deus para O servirem, embora superiores ao homem. Alguns, os anjos bons, permaneceram-Lhe obedientes e levam a cabo a Sua vontade, enquanto outros, anjos decaídos, desobedeceram, caíram da sua posição santa e erguem-se agora em oposição activa relativamente à obra e plano de Deus.

A Natureza dos Anjos

Os anjos são seres criados

O facto da sua criação é realçado no Salmo 148. Nele, o salmista convoca todos os que se encontram nos Céus celestiais, incluindo os anjos, para que louvem a Deus. A razão dada é “Ele ordenou e logo foram criados” (Salmo 148:1-5).

O momento da sua criação nunca é declarado; contudo, sabemos que foram criados antes do mundo. A partir do livro de Job, é-nos dito que estavam presentes quando a terra foi formada (Job 38:4-7); assim, a sua criação antecedeu a da terra, conforme descrito em Génesis 1.

É especificamente declarado que o agente da sua criação é Cristo, enquanto Aquele que criou todas as coisas (compare João 1:1-3 com Col. 1:16).7

A natureza da sua criação corresponde a uma hoste ou companhia, simultaneamente. Ao contrário dos seres humanos e do reino animal, criados em pares e que procriam, os anjos foram criados em simultâneo como uma companhia, uma hoste de miríades sem número (Col. 1:16; Neemias 9:6). Isso é sugerido pelo facto de que não estarem sujeitos à morte e não se propagarem, não sendo sequer suposto que tal aconteça. Não obstante, são uma hoste inumerável, criada antes da formação da terra (compare Job 38:7; Neemias 9:6; Salmo 148:2, 5; Heb. 12:22; Dan. 7:10; Mat. 26:53; Rev. 5:11; com Mat. 22:28-30; Lucas 20:20-36).

Os anjos são criaturas espirituais

(1) Os anjos são seres espirituais.

Embora algumas vezes lhes tenha sido dada a capacidade de se revelarem na forma de corpos humanos, como em Génesis 18:3, são descritos como “espíritos” em Hebreus 1:14. Tal sugere que não têm corpos materiais como nós. Portanto, não funcionam como seres humanos em temos de casamento e procriação (Marcos 12:25), nem estão sujeitos à morte (Lucas 20:36).

A Humanidade, incluindo o nosso Senhor encarnado, é “menor do que os anjos” (Heb. 2:7). Os anjos não estão sujeitos às limitações do homem, especialmente uma vez que são incapazes de morrer (Lucas 20:36). Os anjos têm mais sabedoria do que o homem (2 Sam. 14:20), mas ainda assim é limitada (Mat. 24:36). Os anjos têm poder superior ao homem (Mat. 28:2; Actos 5:19; 2 Pedro 2:11) mas, mesmo assim, estão limitados em poder (Dan. 10:13).

Os anjos, porém, têm limitações comparativamente ao homem, particularmente numa perspectiva futura. Os anjos não foram criados à imagem de Deus, não partilhando por isso o destino glorioso de redenção do homem em Cristo. Na consumação dos tempos, o homem redimido será exaltado acima dos anjos (1 Cor. 6:3).8

Tal também significa que não são omnipresentes. Não podem estar em todo o lado ao mesmo tempo.

(2) Todos os anjos foram criados santos, sem pecado, num estado de perfeita santidade.

Originalmente, todas as criaturas angélicas foram criadas santas. Deus considerou boa a Sua criação (Gén. 1:31) e, como é óbvio, Ele não poderia criar o pecado. Mesmo depois de o pecado entrar no mundo, os anjos bons de Deus, que não se rebelaram contra Ele, são chamados santos (Marcos 8:38). Estes são os anjos eleitos (1 Tim. 5:21), em oposição aos anjos maus, que seguiram Satanás na sua rebelião contra Deus (Mat. 25:41).9

(3) Enquanto seres criados, são meras criaturas.

Não são divinos e não devem ser adorados (veja Rev. 19:10; 22:9). Como uma ordem separada de criaturas, são quer diferentes dos seres humanos, quer superiores aos mesmos, com poderes bem para lá das nossas capacidades no momento presente (1 Cor. 6:3; Heb. 1:14; 2:7). Mas, como criaturas, estão limitados nos seus poderes, conhecimento e actividades (1 Pedro 1:11-12; Rev. 7:1). À semelhança de toda a criação, os anjos encontram-se sob a autoridade de Deus e sujeitos ao Seu julgamento (1 Cor. 6:3; Mat. 25:41).

Os Tipos de Anjos
(Bons e Maus)

Apesar de todos os anjos terem sido originalmente criados santos e sem pecado, deu-se uma rebelião por parte de Satanás que, envaidecendo-se devido à sua própria beleza, procurou exaltar-se acima de Deus e rebelou-se. Na sua revolta, levou consigo uma terça parte dos anjos (Rev. 12:4). Esta rebelião e queda são provavelmente descritas para nós em Isaías 14:12-14 e Ezequiel 28:15, personificadas nos reis de Babilónia e Tiro10. Profetizando sobre um futuro conflito angélico que ocorreria a meio da Tribulação, João escreveu: “Travou-se, então, uma batalha no Céu: Miguel e os seus anjos pelejavam contra o Dragão, e este pelejava também, juntamente com os seus anjos” (Rev. 12:7). Por outras palavras, existem anjos bons e anjos maus.

Como se torna claro a partir de Revelação 12:7 e muitas outras passagens, o líder destes anjos decaídos (ou demónios, como também são chamados) é Satanás (confira Mat. 12:25-27). Satanás, o líder dos anjos pecaminosos, é um mentiroso, um assassino e um ladrão (João 10:10). Por ser o grande antagonista de Deus, odeia Deus e o Seu povo. A Escritura ensina-nos que ele anda à volta como um leão que ruge, procurando a quem devorar através dos seus esquemas perversos (1 Pedro 5:8). Enquanto ser angélico, Satanás, em conjunto com os seus anjos demoníacos que actuam sob a sua autoridade, é brilhante e poderoso de modo sobrenatural e usa todos os seus poderes contra a Humanidade. Não só é um mentiroso, um ladrão e um deturpador, como também aquilo que o caracteriza acima de tudo é o engano. João descreve-o como aquele “que engana todo o mundo” (Revelação 12:9). Na sua astúcia, disfarça-se de anjo de luz (2 Cor. 11:14). Assim, em vista disto, o Apóstolo Paulo escreveu: “Por conseguinte, não é de admirar que os seus ministros se disfarcem em ministros de justiça…” (2 Cor. 11:15). Mais será dito ainda sobre este assunto.

O Ministério dos Anjos Bons

Os anjos bons e leais são os servos poderosos de Deus, que constantemente O servem, cumprindo sempre a Sua vontade. O Salmista descreveu-os assim: “Bendizei ao Senhor todos os Seus anjos, heróis poderosos, que cumpris as Suas ordens, sempre dóceis à Sua palavra. Bendizei ao Senhor todos os Seus exércitos, vós os Seus servos que executais a Sua vontade” (Salmo 103:20-21). Não admira, portanto, que o autor de Hebreus, mostrando a superioridade de Cristo mesmo relativamente aos anjos poderosos, tenha perguntado (a questão exige uma resposta positiva, quer no texto grego, quer contextualmente): “Não estão eles, todos os espíritos, ao serviço de Deus, enviados a fim de exercerem um ministério a favor daqueles que hão-de herdar a salvação?” (Heb. 1:14). A resposta é “Sim!”. Embora Deus possa sempre agir de forma independente, sem recurso a agentes, Ele decidiu usar instrumentos angélicos e humanos a fim de concretizar a Sua vontade. De um modo concordante, vez após vez na Bíblia, encontramos anjos actuando como servos de Deus, envolvidos em variados ministérios a favor das pessoas.

Os Anjos Protegem

Talvez nenhum aspecto do seu ministério a favor do homem seja mais discutido do que a ideia de um “anjo-da-guarda”. Ao longo dos anos, foi-me frequentemente perguntado: “Toda a gente tem um anjo-da-guarda?”. Embora nenhuma passagem declare especificamente que cada pessoa possui um anjo-da-guarda, a Bíblia ensina que os anjos guardam ou protegem, conforme o Salmo 91:11 declara. Adicionalmente, Mateus 18:10 pode sugerir a existência de um anjo-da-guarda, devido à afirmação de Cristo, feita em relação às crianças, quando disse “Livrai-vos de desprezar um só destes pequeninos, pois digo-vos que os seus anjos, nos céus, vêem constantemente a face de Meu Pai que está nos céus”. Mas deverá também ser realçado que o Salmo 91:11 se dirige àqueles que fazem do Senhor o seu refúgio.

O salmista explicou que nenhum mal ou desastre podem suceder àqueles que fizeram do Senhor o seu refúgio (mah£seh, “refúgio do perigo”; ...), pois Ele comissionou anjos para os protegerem. Os anjos protegem de ameaças físicas e dão aos crentes força para ultrapassar dificuldades, aqui retratadas como leões selvagens e serpentes perigosas. Ao tentar a Cristo, Satanás citou 91:11-12 (Mat. 4:6), o que mostra que até as promessas mais maravilhosas de Deus podem ser aplicadas de modo insensato.11

Alguém poderia argumentar que esta passagem do Antigo Testamento não deve ser aplicada nos tempos modernos, mas o autor de Hebreus não parece estabelecer essa distinção. O facto de serem espíritos ministradores que auxiliam os santos é apresentado como uma verdade geral da Bíblia e não deve ser restrita aos tempos bíblicos. Adicionalmente, a Escritura sugere que Miguel, o arcanjo, se encontra particularmente envolvido no ministério a favor de Israel. A respeito da referência a Miguel em Daniel 10:13, Ryrie escreve:

Miguel, que significa “quem é semelhante a Deus?” (v. 21; 12:1; Judas 9; Rev. 12:7), é o guardião especial dos assuntos de Israel (12:1) e designado o arcanjo (Judas 9). Um dos principais príncipes mostra uma hierarquia entre os anjos (confira Efésios 1:21). E eu fiquei ali com os príncipes da Pérsia. Com a ajuda de Miguel, o anjo bom (confira vv. 5-6) foi deixado num lugar de preeminência quanto a influenciar a Pérsia. Mas a batalha entre anjos bons e maus pelo controlo das nações continua (veja v. 20 e Rev. 20:3).

A respeito dos relatos de protecção angélica, o Dr. Kenneth Gangel deixa-nos o seguinte registo, similar a outros de que já ouvi falar, especialmente com missionários:

Um amigo meu, missionário veterano (agora reformado), conta a história de uma missionária, sozinha num recinto no Norte de África durante um motim por parte de uma das tribos locais. Escondeu-se num armário e orou, enquanto os guerreiros avançavam ao longo da estrada empoeirada em direcção
às casas onde os intrusos brancos viviam. Surpreendentemente, nunca os ouviu. Ninguém chegou a entrar no seu edifício e não havia qualquer evidência de tumulto. Veio a saber mais tarde que os guerreiros, que pretendiam matar toda a gente no recinto missionário e deixá-lo em cinzas, retiraram-se em vez disso assim que encontraram o recinto guardado por soldados altos, vestidos de branco e empunhando grandes espadas. Anjos?

Outro registo semelhante foi também relatado por um médico missionário, na sua igreja em Michigan:

Enquanto servia num pequeno hospital de campo em África, viajava de bicicleta a cada duas semanas através da selva até uma cidade vizinha, para ir buscar mantimentos. Isto requeria acampar durante a noite a meio do caminho. Numa destas viagens, vi dois homens lutarem na cidade. Um deles estava gravemente ferido, por isso tratei-o e dei-lhe testemunho do Senhor Jesus Cristo. Depois regressei a casa sem incidentes.

Ao chegar à cidade várias semanas mais tarde, fui abordado pelo homem que tinha tratado anteriormente. Contou-me que tinha sabido que eu levava dinheiro e medicamentos. Disse: “Eu e alguns amigos seguimos-te até à selva, sabendo que ias acampar durante a noite. Esperámos que adormecesses e planeámos matar-te e levar o teu dinheiro e remédios. Quando estávamos prestes a entrar no teu acampamento, vimos que estavas rodeado por 26 guardas armados”.

Perante esta afirmação, ri-me e disse que certamente estava sozinho naquele acampamento na selva. O jovem reafirmou o assunto, “Não, senhor, não fui o único a ver os guardas. Os meus amigos também os viram e todos os contámos. Foi por causa daqueles guardas que tivemos medo e te deixámos em paz”.

Neste ponto da apresentação na igreja em Michigan, um dos homens que se encontravam na igreja pôs-se de pé e interrompeu o missionário, perguntando: “Pode dizer-me a data exacta em que isto aconteceu?”. O missionário pensou um pouco e recordou-se da data.

O homem na congregação contou esta parte da história: “Nessa noite em África, era de manhã aqui. Estava a preparar-me para ir jogar golfe. Enquanto punha o meu saco no carro, senti o Senhor a chamar-me para rezar por si. De facto, o apelo era tão grande que convoquei os homens desta igreja para orarmos juntos. Podem todos os homens que se encontraram comigo nesse dia pôr-se de pé, por favor?”.

Os homens que se haviam encontrado para rezarem juntos levantaram-se – eram 26!

Perguntamo-nos uma vez mais, seriam anjos? Embora não me seja possível verificar esta história, não tenho qualquer dúvida de que possa ser verdadeira.

Os Anjos Providenciam

Tal como foram enviados anjos por Deus a fim de providenciarem sustento ao Senhor no final dos seus quarenta dias no deserto (Mat. 4:1-11), indubitavelmente Ele fez o mesmo, de vez em quando, pelos fiéis do nosso tempo. Alguns incluiriam neste âmbito a provisão de pão e água para Elias (1 Reis 19:5-6), mas esse foi um ministério do “Anjo do Senhor”, que podia simplesmente significar um anjo enviado pelo Senhor, mas será provavelmente melhor compreendido como uma referência a uma teofania, uma manifestação de Deus a Elias.12

Em 1944, a esposa na miséria de um pastor e evangelista na Suíça, Susie Ware, orou: “Deus, preciso de cinco libras (2,5 quilos) de batatas, duas libras (1 quilo) de farinha de pastelaria, maçãs, pêras, uma couve-flor, cenouras, costeletas de vitela para Sábado e carne de vaca para Domingo”. Algumas horas mais tarde, alguém bateu à porta e apareceu um jovem com um cesto, que disse: “Senhora Ware, trago-lhe o que pediu”. Era precisamente aquilo pelo qual havia orado – até mesmo a marca exacta de farinha que queria. O jovem sumiu-se e, embora o Reverendo e a senhora Ware tenham ficado a olhar pela janela do seu edifício, o homem nunca chegou a sair. Simplesmente desapareceu (Anderson, Joan Wester. Where Angels Walk, New York: Ballantine Books, 1992, pp. 60-62).13

A irmã da minha esposa, Connie Griffith, teve há cerca de 15 anos uma experiência que se encontra registada no livro de Jodie Berndt, Celebration of Miracles (Celebração de Milagres).14 Connie e o seu marido Geoff eram missionários em África que trabalhavam com o povo Hindu e tiveram uma oportunidade para visitarem missionários na Índia. A viagem envolvia um percurso de comboio durante 38 horas, desde Nova Deli até um orfanato no Sul. Haviam sido avisados para não comerem alimentos servidos no comboio, mas tinham muita pouca comida consigo, e Connie estava tão esfomeada que decidiu correr o risco. Comeu um pouco de caril de carneiro e depressa ficou extremamente doente.

Após chegar ao orfanato, Connie foi deitar-se, permanecendo na cama durante três dias. Geoff encontrava-se a viajar durante esse período e os missionários, imaginando que ela estava a reagir à pobreza miserável do ambiente circundante, pensaram que não quereria ser incomodada e deixaram-na sozinha. Foi somente quando estava na altura de partir para o próximo orfanato que constataram que estava desesperadamente doente. Compreenderam que precisava de ir para um hospital depressa, por isso saíram em direcção à unidade mais próxima, a três horas de viagem. Após cerca de quinze minutos de percurso, os músculos de Connie começaram a ter cãibras. Primeiro os seus dedos das mãos flectiram-se, seguidos dos seus joelhos e dedos dos pés, e os seus músculos faciais contraíram-se, impedindo-a de falar. Finalmente, viu-se paralisada enquanto o jipe baloiçava ao longo da estrada primitiva.

Estavam preocupados, pensando que ela talvez não sobrevivesse por se encontrar tão desidratada. Geoff clamou a Deus: “Por favor, faz um milagre! Faz qualquer coisa!”. Subitamente, o missionário que conduzia avistou um pequeno edifício da Cruz Vermelha junto ao trilho. Enquanto o jipe parava, Connie tentou protestar. Estava preocupada com a epidemia descontrolada de SIDA naquelas áreas remotas e com a prática de reutilização de seringas. À medida que o grupo abria caminho pelo edifício, bem iluminado e muito limpo, um homem indiano, vestido com uma camisa branca e calças largas, cumprimentou-os num inglês perfeito. Disse: “Sei o que se passa com ela. Está desidratada. Tenho alguns electrólitos nesta embalagem. Esta água já foi fervida”. Misturou os electrólitos com a água e deu a Geoff um conta-gotas embalado num saco plástico. “Está esterilizado”, afirmou, olhando directamente para Connie.

Foram dadas a Geoff instruções para colocar uma gota de cada vez na boca de Connie (que entretanto se abrira) até que chegassem ao hospital. Quando chegaram, uma hora e meia mais tarde, os músculos dela haviam relaxado, permitindo-lhe caminhar até ao interior do hospital. O médico declarou tratar-se do pior caso de desidratação que alguma vez vira. O corpo dela havia literalmente sugado a água para fora das células, pelo que, à chegada, se encontrava a poucas horas da morte.

Algumas semanas mais tarde, depois de regressarem a África, receberam uma carta do casal de missionários na Índia. Diziam: “Não vão acreditar nisto mas, quando regressávamos à nossa aldeia pelo caminho que havíamos seguido para vos levarmos ao hospital, aquele edifício da Cruz Vermelha tinha desaparecido. Não havia nada no lugar onde se encontrava”. Foi isto obra de um dos espíritos servidores de Deus? Um dia saberemos mas, entretanto, podemos certamente louvar ao Senhor.

Os Anjos Proclamam a Verdade de Deus

Ao longo da Bíblia, encontramos anjos envolvidos na comunicação da verdade ou mensagem de Deus, conforme o Espírito de Deus os orientava. Obviamente, tal é bastante concordante com o significado básico da palavra anjo. Tanto a palavra hebraica para anjo (mal`ak,) como o termo grego (aggelos, pronunciado angelos) significam “mensageiro”. Em várias passagens, é-nos dito que os anjos foram instrumentos usados por Deus para revelar a Sua Palavra (confira Actos 7:38, 53; Gál. 3:19; Heb. 2:2). Mas isso é apenas metade da história. Em numerosas ocasiões, apareceram para anunciar uma mensagem importante. Anunciaram o nascimento de João Baptista e Jesus (Lucas 1:11ss, 26 ss; Mat. 1:20 ss). Na Tribulação, Deus irá usá-los a fim de anunciar eventos-chave (confira Rev. 14:6). Hoje, porém, o cânone da Escritura de Deus, a Bíblia, está completo. Tenha atenção, portanto, a qualquer pessoa que afirme possuir uma nova revelação dada por um anjo, ou a alguém que declare ser um anjo com revelações novas. Lembre-se: Satanás é um enganador, promovendo a falsa doutrina com os seus anjos de fraude (2 Cor. 11:1-4, 12-13; 1 Tim. 4:1).

Os Anjos Punem ou Executam os Juízos de Deus

Com o seu enorme poder conferido por Deus, podem executar qualquer coisa que Deus os envie a fazer. Não admira, portanto, que os encontremos como agentes vitais a soltar os terríveis juízos da Tribulação, conforme descrito em Revelação, e até a batalhar com Satanás e os seus anjos malvados, a fim de restringir-lhes qualquer acesso ao Céu, confinando-os ao domínio desta terra e sua atmosfera imediata a meio da Tribulação (Rev. 12:7 ss). Tal será feito em antecipação do cativeiro e derrota final de Satanás, como é descrito em Revelação 12 e 20.

Mas essa não é a imagem que encontramos no nosso fascínio com anjos nos tempos modernos. Como Gangel escreve, “Duvido que muitas estatuetas de anjos castigadores tenham chegado às caixas de presentes no último Natal, mas a Bíblia não hesita em descrever esta parte da sua actividade”. 15

Pensamentos Finais sobre o Ministério dos Anjos

É claro que é reconfortante saber que Deus pode proteger, providenciar a encorajar-nos através de métodos sobrenaturais, mas isto nem sempre garante livramento deste tipo e, certamente, jamais nos deveríamos fiar nesta provisão de Deus. Assim, tendo considerado as variadas formas como os anjos ministram, devemos manter em mente que Deus nem sempre nos livra do perigo ou atende às nossas necessidades de um modo tão miraculoso, quer através de anjos, quer por Sua intervenção directa. Uma vez que, nos Seus propósitos soberanos, usar o sofrimento (uma ferramenta de crescimento para manifestar o carácter de Cristo, dar testemunho a outros, etc.) pode estar no Seu plano, o oposto é por vezes a Sua vontade, como a vida claramente ilustra e as Escrituras declaram (veja Heb. 11:36-40).

O Engano dos Anjos Decaídos e Malvados

Da mesma forma que as pessoas não pensam sobre o ministério punitivo dos anjos, existe também outra área completamente ignorada pelas ideias populares em torno dos anjos, mas que não é esquecida sem razão. O motivo encontra-se no engano de Satanás e no vazio do coração do homem, ao procurar respostas longe de Deus, da Sua revelação própria e do Seu plano de salvação, conforme revelado na Bíblia. Enquanto arquienganador e antagonista de Deus, da igreja e da Humanidade como um todo, Satanás é o mestre do disfarce. É claramente o seu disfarce de anjo de luz, em conjunto com os anjos seus servidores – que, de uma forma ou de outra, também se mascaram –, que se encontra por trás da actual Anjomania na sociedade de hoje. Como Bohlin salienta:

“...existem muitos livros, publicações e seminários repletos de ilusão demoníaca da espécie mais feia. Porque, quando se começa a falar com anjos, acaba-se a lidar com demónios.” 16

Sue Bohlin apresenta uma excelente discussão acerca do que procurar a fim de discernir a actividade destes anjos demoníacos e malvados. Ela escreve:

Saberá que está perto de “anjos feios”, ou demónios disfarçados de anjos de luz e santidade, se vir ou escutar estes termos:

1. Contactar ou estar em comunhão com anjos.

Encontram-se agora disponíveis livros com títulos como Ask Your Angels (Pergunte aos Seus Anjos; Daniel, Alma, Timothy Wyllie, e Andrew Ramer, Ask your Angels, New York: Ballantine, 1992) e 100 Ways to Attract Angels (100 Formas de Atrair Anjos; Sharp, Sally, 100 Ways to Attract Angels, Minnesota: Trust Publications, 1994). Mas a Bíblia não fornece nem permissão, nem precedentes para contactar anjos. Quando as pessoas começam a convocar anjos, não são os anjos santos que respondem. São os demónios, disfarçados de anjos bons perante pessoas que não entendem a diferença.

2. Amar ou rezar aos nossos anjos.

Alguns auto-intitulados “especialistas em anjos” instruem os seus seguidores a amarem os anjos e a invocá-los no intuito de obter saúde, curas, prosperidade e orientação. Porém, os anjos são servidores de Deus, e toda esta atenção, ênfase e glória deveriam ir para Ele, não para os Seus servos. Deus diz: “A ninguém darei a minha glória” (Isaías 42:8). As Escrituras não fazem qualquer referência a amar anjos – apenas Deus, a Sua palavra e as pessoas. E nunca nos diz para rezarmos aos anjos, mas somente ao Senhor.

3. Instrução, conhecimento ou discernimento vindos de anjos, particularmente aqueles com nome.

Alguns “professores” desta matéria proclamam que os anjos estão arduamente a tentar contactar-nos, de modo a darem-nos conhecimento mais profundo do universo espiritual (Karyn Martin-Kuri, numa entrevista com o jornal Body, Mind and Spirit, Maio/Junho de 1993. Também Albright, Naomi, Angel Walk, Tuscaloosa, Alabama: Portals Press, 1990). Invariavelmente, este “conhecimento angélico” é uma mistura de verdade e mentiras, e nunca está à altura da verdade absoluta das Escrituras.

Existem quatro nomes de anjos que persistem em aparecer na literatura deste foro: Miguel, Gabriel, Uriel e Rafael. Miguel e Gabriel são os únicos anjos mencionados pelo nome na Bíblia. Os outros dois aparecem no apócrifo Primeiro Livro de Enoch, que inclui um registo fantasioso das acções destes quatro seres. Aqueles que nos tempos modernos transmitem ensinamentos angélicos estão na verdade a canalizar informação oriunda de demónios.

4. Conhecimento especial ou ensinamentos de anjos.

Naomi Albright distribui ensinamentos acerca dos significados profundos das cores, números e letras do alfabeto, que afirma serem “conhecimento dado de cima, gerado em maior detalhe pelo Grande Mestre Angélico Sheate, Mestre Lady Cassandra, Anjo Carpelpous e o Mestre Anjo, Aquele que está no Alto” (newsletter Paths of Light [Caminhos de Luz], Angel Walk F.O.L., Followers of Light, No. 24, Julho de 1994, p. 6-10). Estes mesmos seres disseram à senhora Albright para enfatizar dois ensinamentos principais: primeiro, que Deus aceita todas as religiões; segundo, a Reencarnação (Albright, Angel Walk, p. 77-78). Tais ensinamentos continuam a aparecer em muita da literatura angélica da Nova Era, o que não deveria ser surpreendente, pois constituem mentiras heréticas provenientes do abismo do inferno, local de origem dos anjos “professores”.

Outros ensinamentos angélicos são que tudo é uma parte de Deus (panteísmo), que o aprendiz se isola dos demais através do conhecimento “profundo” que os anjos fornecem (trata-se de um atractivo básico para o ocultismo) e que, eventualmente, aquele que procura o contacto com estes anjos será visitado por um Mestre Ascendente ou um Anjo Brilhante (o que se resume a um encontro pessoal com um demónio).

Devemos recordar que os anjos de Deus não são professores. A palavra de Deus diz que são mensageiros – é isso que “anjo” quer dizer – e que nos prestam serviço. Deus revelou-nos tudo o que precisamos de saber para obtermos vida e piedade (2 Pedro 1:3); por isso, qualquer conhecimento oculto que seres espirituais nos tentem transmitir é por natureza ocultista e demoníaco.

5. Divindade humana.

A mensagem dos anjos feios é a de que precisamos de reconhecer que somos um com o divino, que somos divinos... que somos Deus. Em The Angel Book: A Handbook for Aspiring Angels (O Livro dos Anjos - Um Manual para Aspirantes a Anjos), Karen Goldman diz coisas como “Os anjos não caem do céu; eles emergem de dentro” (Goldman, Karen, The Angel Book —A Handbook for Aspiring Angels, New York: Simon & Shuster, 1988, p. 20). E “O propósito total na vida é conhecer o seu Anjo Interior, aceitá-lo e sê-lo. Desta forma, experimentamos finalmente a verdadeira completitude” (Ibid., p. 95).

O próximo fragmento de lixo herético foi fornecido por um demónio que se fazia passar por um anjo chamado Daefrenocles: “A maravilhosa luz dos Anjos, passando pelo Eloim até aos Arcanjos, Devas e Espíritos da Natureza – todos te trazem a compreensão de que és magnífico; és divino agora e divino em primeiro lugar” (newsletter These Celestial Times [Estes Tempos Celestiais], Vol. 3, No. 1, Gaithersburg, Maryland, p. 4). 

Muita da literatura angélica faz referência ao “anjo interior”. Mas os anjos são uma parte em separado da criação. Foram criados antes do homem como uma espécie diferente. Não estão dentro de nós. Não obstante o filme “It’s a Wonderful Life” (“Do Céu Caiu uma Estrela”), quando ouvimos uma campainha tocar não quer dizer que um anjo esteja a receber as suas asas. Nem as pessoas boas, especialmente crianças, se tornam anjos quando morrem. Permanecemos seres humanos – não anjos, e certamente não Deus.

Em resposta à mania dos anjos, aquilo de que a nossa cultura precisa é de discernimento sólido, edificado sobre os alicerces da palavra de Deus. Temos de recordar e partilhar com os outros três verdades acerca dos anjos:

1. O ministério dos anjos santos nunca contradirá a Bíblia.

2. As acções dos anjos santos serão sempre consistentes com o carácter de Cristo.

3. Um encontro genuíno com um anjo santo glorificará Deus, não o anjo. Os anjos santos nunca atraem a atenção para si mesmos. Tipicamente, fazem o seu trabalho e desaparecem.

É bem verdade que muitos “não o sabendo hospedaram anjos” (Hebreus 13:2). Mas temos de ter a certeza de hospedarmos o tipo certo de anjos! 17

Alguns Avisos
(Coisas a Fazer e a Não Fazer)

Além dos avisos supramencionados, e em vista das ilusões de Satanás, precisamos de estar alerta. A este respeito, aqui fica um conjunto de coisas que gostaria de sugerir:

Nunca Adorar Anjos

Conforme realçado na introdução deste estudo, onde quer que encontremos anjos mencionados na Bíblia, a referência aos mesmos é incidental a outro assunto. Não são o tema primário da passagem – o amor e graça de Deus são-no. Quando são referidos, é sempre no intuito de nos informarem mais acerca de Deus, do que Ele faz e de como o faz. Este mesmo facto ensina-nos que não só os anjos não são o mais importante, mas que também não devem ser adorados.

Em dois locais do livro da Revelação, João ficou tão impressionado com a revelação que tinha recebido de Deus através de um anjo, uma criatura muito gloriosa, que se curvou para o adorar.

Revelação 19:10 Prostrei-me aos seus pés para o adorar, mas ele disse-me: “Não faças isso; sou um servo como tu e como os teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus. Adora a Deus. O testemunho de Jesus é o espírito da profecia.”

E, novamente, é-nos dito em Revelação 22:

Revelação 22:8-9 Sou eu, João, que vi e ouvi estas coisas. Depois de as ver e ouvir, prostrei-me aos pés do anjo, que mas mostrava, para o adorar. 9 Mas ele disse-me: “Não faças isso! Sou um servo, como tu, como os teus irmãos, os profetas, e como aqueles que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus”.

Recomendámos não adorar anjos, mas porquê?  Primeiro, são meros “servos” como os crentes, convocados para servir o Senhor. Depois, foi dito a João para “adorar a Deus”. Os anjos são poderosos e fantásticos de muitas maneiras mas, tal como nós, são simples criaturas e servos do Deus vivo, que deseja a nossa adoração exclusiva. Isto significa que não lhes rezamos nem confiamos neles, embora Deus os possa utilizar como nossos guardiães. A nossa confiança deve residir em Deus, não nos anjos. Eles ministram sob as Suas ordens.

Lembre-se, a igreja em Colossos fora invadida por falsos professores, que ensinavam uma falsa humildade e culto dos anjos, afirmando ter revelações místicas especiais através de visões associadas à sua adoração de anjos (Col. 2:18). Tal era demoníaco porque usurpava o lugar preeminente e o carácter suficiente de Cristo enquanto Salvador e Senhor. O argumento era que Ele não bastava para a salvação e espiritualidade – “Do que vocês precisam é de adorar anjos, etc.”.

Não Participar na Publicidade a Anjos

Intimamente associada à adoração de anjos, mas de um modo mais subtil, está a publicitação aos mesmos que hoje em dia tem lugar na nossa cultura. Por vezes, não é apenas uma questão de coleccionar e apreciar estatuetas de anjos, de modo muito parecido com alguém que coleccionasse e gostasse de figuras e imagens de águias. A este respeito, Gangel deixa estas palavras de conselho:

É claro que não há nada de errado com gostar de imagens de anjos na mesa do café, desde que não se tornem ícones que de alguma forma substituam a nossa dependência na Palavra de Deus e o papel do Espírito Santo interior nas nossas vidas. 18

Não Ser Crítico Relativamente aos Relatos de Anjos

Quando ouvimos relatos acerca de anjos, é natural ficarmos cépticos – e há necessidade de uma certa dose de cepticismo, aquilo a que Gangel chama “cepticismo saudável”. As razões pelas quais é necessário um “cepticismo saudável” são as ilusões de Satanás acima referidas, bem como o estado de bancarrota espiritual da nossa cultura e sua inclinação para aceitar tudo excepto a verdade.

Hoje em dia, a credulidade das pessoas é em parte devida às oscilações pendulares da sociedade. Esta oscilou desde as grosseiras especulações místicas da Idade Média até ao racionalismo dos finais de 1800 e inícios de 1900. Agora, em parte devido ao fracasso do racionalismo, ao vazio que naturalmente surge na mente das pessoas e ao advento do demonismo e do ocultismo nestes últimos dias, o pêndulo oscilou de volta ao misticismo, visto de forma tão proeminente no movimento da Nova Era, ao ocultismo e aos cultos. Assim, a crença em Satanás, demónios e anjos é cada vez mais comum, não porque as pessoas acreditem na Bíblia, mas por causa da emergência do seu vazio espiritual. Os anjos tornaram-se substitutos fáceis, uma conveniente solução de compromisso em relação à realidade do Deus vivo conforme É revelado nas Escrituras.

Quando questionado “Acredita em anjos?”, Jamal Mashburn, estrela em ascensão dos Dallas Mavericks, respondeu: “Sim. Para mim, são como uma voz interior que me diz o que fazer e o que não fazer, para onde ir e para onde não ir. São como Deus, protegendo-me e cuidando de mim” (Dallas Morning News, 18 de Dezembro de 1994). Por que não? Deus parece tão distante e austero. Os anjos parecem tão amigáveis. 19

Por outro lado, os anjos são os espíritos servidores de Deus e Ele pode enviá-los a quem desejar. Nunca vi um anjo nem tive uma experiência na qual estivesse certo de estar envolvido um, mas creio que muitos relatos são verdadeiros.

Um bom amigo nosso, que passou por uma série de problemas de saúde bastante complicados, disse-me no Domingo passado que, a certa altura, estava tão em baixo que perdera toda a esperança de alguma vez voltar a ficar bom. Durante a noite, uma enfermeira dirigiu-se ao seu quarto de hospital para verificar o cateter e disse-lhe: “Parece-me mesmo em baixo e sem esperança, não é verdade?”. Ele respondeu: “Sim, é”. Ela ajoelhou-se, pegou na mão dele e orou por ele. Depois disso, o seu humor melhorou, tendo rapidamente começado a recuperar a nível físico. Nunca mais voltou a ver esta enfermeira, embora tenha perguntado e procurado por ela. Falou acerca disto com o seu médico, que acontecia ser cristão, tendo ele perguntado ao meu amigo se havia considerado a hipótese de se ter tratado de um anjo. Seria um anjo? Talvez. Simplesmente não sabemos, mas é certo que podia ser.

Adicionalmente, precisamos de evitar o espírito crítico que põe em causa e menospreza as afirmações dos outros, especialmente daqueles que não conhecem as Escrituras. Fazer troça ou subestimar o que dizem apenas fechará a porta a uma oportunidade para lhes dar testemunho acerca da verdade do Evangelho e da Bíblia.

Algumas Coisas Positivas para Fazer

Primeiro, quando confrontados com afirmações sobre anjos em relação às quais estejamos cépticos, procuremos formas de usar tais afirmações para mostrar interesse pela pessoa, envolvendo-a numa discussão acerca das realidades do Salvador ou das verdades da Palavra de Deus.

Em segundo lugar, estejamos gratos a Deus pelo ministério dos anjos e por aqueles relatos que não contradizem as Escrituras, podendo muito bem constituir genuínos casos de ministério angélico. Embora possamos não ser capazes de assegurar que se tratou de um anjo, podemos e certamente devemos louvar a Deus pelo auxílio ou encorajamento experimentados, tal como o meu amigo no hospital.

Finalmente, tenhamos conhecimento do que a Bíblia ensina sobre Deus, Jesus Cristo, a salvação, a verdadeira espiritualidade e o ministério dos anjos, a fim de que não nos deixemos ludibriar pelas falsificações de Satanás, que procuram levar as pessoas a contornar o carácter suficiente da pessoa e obra de Jesus Cristo. O livro de Colossenses constitui um excelente comentário a este assunto.

Gangel encerra o seu artigo sobre os anjos com um comentário apropriado:

Então nunca viu ou ouviu um anjo? Seja paciente – garanto-lhe que irá acontecer. Tal como João, um dia todos veremos e ouviremos “a voz de muitos anjos”, em número de “miríades de miríades” e de “milhares de milhares”. Juntamente com eles, louvaremos o Salvador, cantando: “Digno é o Cordeiro, que foi imolado, de receber o poder, a riqueza, a sabedoria, a força, a honra, a glória e o louvor” (Rev. 5:11-12).20

J. Hampton Keathley III, Th.M, licenciou-se em 1966 no Seminário Teológico de Dallas, trabalhando como pastor durante 28 anos. Em Agosto de 2001, foi-lhe diagnosticado cancro do pulmão e, no dia 29 de agosto de 2002, foi para casa para estar com o Senhor.

Hampton escreveu diversos artigos para a Fundação de Estudos Bíblicos (Biblical Studies Foundation), ensinando ocasionalmente Grego do Novo Testamento no Instituto Bíblico Moody, Extensão Noroeste para Estudos Externos, em Spokane, Washington.


1 O que aqui se apresenta é um pequeno estudo acerca dos anjos, em vista do fascínio moderno com este assunto. Será seguido por um estudo profundo sobre a doutrina da angelologia, o estudo dos anjos conforme é desenvolvido na Bíblia. 

2 Millard J. Erickson, Christian Theology, Baker Book House, Grand Rapids, 1983, p. 434.

3 “Kindred Spirit”, uma revista publicada trimestralmente pelo Seminário Teológico de Dallas, Verão de 1995, pp. 5-7.

4 Gangel, p. 5.

5 Gangel, p. 7.

6 Sue Bohlin, “The Good, The Bad, and The Ugly”, Probe Ministries, disponível em http://www.probe.org. Probe é um excelente recurso cristão que altamente recomendo.

7 A Criação do Filho inclui "todas" as coisas no Céu e na terra, visíveis e invisíveis, indicando o universo inteiro, material ou imaterial. É referida uma hierarquia altamente organizada de seres angélicos através das palavras "tronos" (qronoi), “dominações” (kuriothtes), “principados” (arcai), e “potestades” (exousiai). Tal não só indicia um domínio altamente organizado no mundo espiritual dos anjos, mas também mostra que Paulo escrevia a fim de refutar uma forma incipiente de Gnosticismo, que promovia a adoração de anjos em lugar da adoração de Cristo (confira Col. 2:18). Desta forma, Paulo demonstra a superioridade desta última adoração e seu legítimo lugar supremo (confira Efésios 1:21; 3:10; 6:12; Filipenses 2:9-10; Col. 2:10, 15).

8 Paul Enns, The Moody Handbook of Theology, Moody Press, Chicago, 1996, versão electrónica.

9 Charles C. Ryrie, Basic Theology, Victor Books, Wheaton, IL, 1987, versão electrónica.

10 Os termos e descrições aqui dadas vão certamente além de qualquer monarca humano. Paralelamente, outras passagens ensinam-nos com clareza que existem frequentemente forças angélicas ou demoníacas por trás do domínio de reis ou reinos humanos (confira Dan. 10 e Efésios 6:10-12).

11 The Bible Knowledge Commentary, OT, John F. Walvoord Roy B. Zuck, Editors, Victor Books, 1983, 1985, versão electrónica.

12 A respeito da menção do “anjo do Senhor” em Génesis 16:9, Ryrie escreve: “Uma teofania, uma automanifestação de Deus. Aqui, fala como Deus, identifica-Se com Deus e clama exercer as prerrogativas de Deus. Veja 16:7-14; 21:17-21; 22:11-18; 31:11, 13; Êx. 3:2; Juízes 2:1-4; 5:23; 6:11-24; 13:3-22; 2 Sam. 24:16; Zacarias 1:12; 3:1; 12:8. Uma vez que o anjo do Senhor cessa de aparecer após a encarnação, infere-se frequentemente que o anjo no Antigo Testamento é uma aparição pré-encarnada da segunda pessoa da Trindade” (Charles Caldwell Ryrie, Ryrie Study Bible, Expanded Edition, 1986, 1995, Moody, p. 27).

13 Bohlin.

14 Jodie Berndt, Celebration of Miracles, Thomas Nelson, Nashville, 1995, p. 105-112.

15 Gangel, p. 7.

16 Bohlin.

17 Bohlin.

18 Gangel, p. 7.

19 Gangel, p. 7.

20 Gangel, p. 7.

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