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Lição 6: Derrota em Ai e o Pecado de Acan (Josué 7:1-26)

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Introdução

Após uma tão maravilhosa experiência em Jericó, o capítulo 7 é, no mínimo, surpreendente. De repente, deparamos com uma série de fracassos, em flagrante contraste com as vitórias dos seis capítulos precedentes. Mas quão instrutiva é a situação descrita, desde que tenhamos ouvidos para escutar a mensagem deste capítulo. A emoção forte da vitória foi rapidamente substituída pela agonia da derrota. Encontra-se aqui a história da vida, com a qual temos de aprender a lidar no nosso percurso diário, uma vez que esta passagem é bem típica da maioria de nós. Num instante, podemos estar a viver em vitória – e, no seguinte, em derrota.

Entre uma grande vitória e uma grande derrota vai apenas um passo, muitas vezes pequeno. É uma triste verdade da realidade num mundo pecaminoso o facto de podermos estar felizes sobre a nuvem de algum sucesso espiritual notável e, logo a seguir, darmos connosco num vale de insucesso e desespero espiritual. Num momento, podemos ser como Elias, erguendo-se vitoriosamente sobre o Monte Carmelo, e, no outro, estar aninhados debaixo de um zimbro ou escondidos numa caverna em profundo desespero, queixando-nos a Deus: “…eu fiquei só, e buscam a minha vida para ma tirarem” (1 Reis 19:10).

Devido à sua posição estratégica, Ai era o objectivo seguinte no caminho da conquista. Tal como acontecia com Jericó, a sua derrota era fundamental para a conquista de toda a terra. Ai era mais pequena do que Jericó, porém a sua conquista era essencial, pois daria a Israel o controlo sobre a rota principal que se estendia ao longo das terras altas, de Sul para Norte, na porção central do país.

Jericó fora colocada sob anátema, proveniente da palavra hebraica herem, “uma coisa consagrada, proscrição”. A forma verbal, haram, significa “interditar, consagrar ou destruir totalmente”. Esta palavra refere-se à exclusão de um objecto do uso ou abuso humano, acompanhada por uma entrega irreversível a Deus. Relaciona-se com uma raiz árabe, significando “proibir, especialmente ao uso comum”. O “harém”, que se refere aos aposentos especiais das esposas muçulmanas, provém desta palavra. Assim, entregar alguma coisa a Deus significava consagrá-la ao Seu serviço ou colocá-la sob anátema para destruição completa. 1

Algo ser votado ao anátema significava uma de duas coisas. Primeiro, tudo o que estivesse vivo deveria ser completamente destruído. Esta prática tem sido denominada bárbara e primitiva, nada menos que o assassínio de vidas inocentes. Os cananeus, porém, não eram de modo algum inocentes. Eram um povo vil, praticante das mais ignóbeis formas de imoralidade, incluindo o sacrifício de crianças. Deus concedera-lhes mais de quatrocentos anos para se arrependerem, mas a sua iniquidade chegara agora ao cúmulo (veja Gén. 15:16; Lev. 18:24-28). Os poucos que se voltaram para o Senhor (Raab e a sua família) foram poupados. Tal como em Sodoma e Gomorra, mesmo que só existissem dez justos, Deus pouparia a cidade (Gén. 18); mas, visto que nem dez conseguiu encontrar, Deus removeu Lot e a sua famíla (Gén. 19). Para além disso, se alguma cidade se tivesse arrependido como Nínive aquando da pregação de Jonas, Ele poupá-la-ia; porém, apesar de todas as obras miraculosas de Deus das quais tinham ouvido falar, não houve arrependimento – os cananeus permaneceram firmes na sua depravação.

…a batalha com que Israel se confrontava não se tratava simplesmente de uma guerra religiosa; era uma guerra teocrática. Israel era directamente governado por Deus, e a exterminação constituía uma ordem directa de Deus (confira Êxodo 23:27-30; Deut. 7:3-6; Josué 8:24-26). Nenhuma outra nação, quer anterior, quer posterior a Israel, foi uma teocracia. Assim, aquelas ordens eram únicas. Enquanto teocracia, Israel era um instrumento de julgamento nas mãos de Deus. 2

Em segundo lugar, todos os objectos valiosos, tais como o ouro ou a prata, deveriam ser dedicados ao tesouro do Senhor. Evidentemente, funcionariam como um tipo de primícias da terra, bem como uma prova da confiança do povo na provisão de Deus para o futuro (confira Lev. 27:28-29).

A Desobediência de Israel É Definida
(7:1)

1 Mas os israelitas foram infiéis com relação às coisas consagradas. Acan, filho de Carmi, filho de Zabdi, filho de Zerá, da tribo de Judá, apossou-se de algumas delas. E a ira do SENHOR acendeu-se contra Israel. (Nova Versão Internacional) 

O capítulo 7 inicia-se com uma pequena, porém ominosa palavra, “mas”. Tal vocábulo cria um contraste entre este capítulo e o precedente, particularmente 6:27. Primeiro, houvera a emoção forte da vitória, mas agora sobrava a agonia da derrota. Esta pequena conjunção de contraste destina-se a enfatizar uma verdade importante – a realidade dos sempre presentes contrastes e ameaças da vida –: a vitória é sempre seguida, no mínimo, pela ameaça da derrota. 

O crente nunca está em maior risco de queda do que após uma vitória. Somos tão propensos a baixar a guarda e começar a confiar em nós mesmos ou nas nossas vitórias passadas, em detrimento de no Senhor. Uma vitória jamais garante a seguinte. As nossas vitórias só nos auxiliam na próxima batalha na medida em que aumentam a nossa confiança no Senhor e desenvolvem a nossa sabedoria relativamente a nos apropriarmos da Palavra de Deus. A base da vitória é sempre o Senhor e a nossa fé/dependência d’Ele. Um capítulo do Novo Testamento que merece particular consideração neste ponto é 1 Coríntios 10, especialmente o versículo 12. O problema é claramente exposto nas palavras “Os israelitas foram infiéis com relação…”. Reparemos em várias coisas acerca deste problema, relativo aos israelitas enquanto nação.

(1) O termo “infiéis” representa uma palavra hebraica que significa “agir dissimuladamente”. Era usada na infidelidade matrimonial, quando uma mulher era infiel ao seu marido. O pecado aqui descrito consistia tanto num acto de infidelidade espiritual – ser amigo do mundo em detrimento de amigo de Deus (Tiago 4:4) –, como num acto sem fé, procurando felicidade e segurança nas coisas em lugar de em Deus (1 Tim. 6:6 ss).

(2) Constatamos que o Senhor considerou todo o acampamento de Israel responsável pelo acto de um só homem, retirando a Sua bênção até que a questão fosse corrigida. Existia pecado no acampamento, e Deus não continuaria a abençoar a nação enquanto tal acontecesse. Isto não significa que aquele fosse o único pecado e a restante nação se apresentasse sem faltas; porém, este pecado era de uma natureza tal (desobediência directa e rebelião), que Deus o usou para ensinar a Israel e a nós algumas lições importantes.

Deus via a nação de Israel como uma unidade. O que alguém fez foi contado como um pecado de toda a nação, uma vez que a vida colectiva de Israel ilustra verdades e avisos para nós enquanto indivíduos (1 Cor. 10). Enquanto aviso para a igreja, mostra-nos que não podemos progredir e avançar em direcção ao Senhor caso exista pecado conhecido nas nossas vidas, pois tal constitui rebelião contra o controlo e orientação do Senhor (Efésios 4:30; 1 Tes. 5:19). Trata-se de uma questão de amar o mundo – e fazê-lo leva uma pessoa a comportar-se como se fosse inimiga de Deus (Tiago 4).

O comportamento de Acan também ilustra a forma como um ou alguns crentes fora da associação, ao procurarem satisfazer os seus próprios desejos ou planos egoístas, podem ter um impacto negativo sobre todo o grupo. Tal comportamento pode perturbar os restantes. O nome de Acan, do hebraico akan, é um jogo com a palavra akor, que significa “perturbação”. Assim, Josué declararia que o Senhor iria trazer perturbação (akor) sobre Acan, que, por causa do seu pecado, se tornara um “perturbador” para a nação (confira 7:24-25). Por conseguinte, o local da morte e sepultura de Acan foi denominado “o vale de Acor” (hebraico akor, “inquietação, perturbação”). Embora o crime tenha sido cometido por uma só pessoa, toda a nação foi considerada culpada. Esta última estava responsável pela obediência de cada cidadão, sendo-lhe imputado o castigo de um eventual transgressor. Tal deverá trazer à mente os versículos seguintes:

Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem. E ninguém seja devasso, ou profano, como Esaú, que por um manjar vendeu o seu direito de primogenitura (Hebreus 12:15-16).

Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós (1 Coríntios 5:6-7).

O apóstolo Paulo viu o mesmo princípio de solidariedade em acção na igreja (1 Coríntios 5:6-13). O pecado não julgado contamina toda a comunidade – “Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa?” (v. 6).3

(3) Somos também lembrados de que nada escapa à omnisciência de Deus (Sl. 139:1 ss). O pecado jamais escapa ao Seu olho atento. Podemos enganar-nos a nós mesmos e aos outros, mas nunca ao Senhor. Deus vê o pecado nas nossas vidas e deseja que lidemos com ele, não que o ocultemos. Escondê-lo apenas impede o nosso progresso no plano e vontade de Deus (Prov. 28:13), criando problemas para outros. Números 32:23 recorda-nos: “sabei que o vosso pecado vos há-de achar”. Tal é semelhante à ideia de que colhemos o que semeamos, devido às consequências naturais das leis morais e espirituais de Deus, bem como ao Seu envolvimento pessoal. Contudo, o texto de Números não ensina somente que o pecado será descoberto, mas também que as consequências do nosso pecado se tornarão agentes activos no processo dessa descoberta (veja Gal. 6:7-8).

(4) As palavras “e a ira do Senhor acendeu-se contra Israel” chamam dramaticamente a nossa atenção para a santidade de Deus. Para Deus, o pecado não é um assunto de pouca importância, porque é rebelião, e a rebelião é como o pecado da feitiçaria (1 Sam. 15:23). Ainda que Cristo tenha morrido pelos nossos pecados e se encontre à direita de Deus como nosso Advogado e Intercessor, Deus não trata – nem pode tratar – o pecado nas nossas vidas com leveza. Este vai contra o Seu carácter santo (a Sua santidade, justiça, amor, etc.) e contra os Seus propósitos santos para nós, uma vez que dificulta o Seu controlo e capacidade para nos guiar.

Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O espírito que em nós habita tem ciúmes? Antes dá maior graça. Portanto diz: Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes. (Tiago 4:5-6, ênfase minha)

Portanto, o Senhor tem de lidar connosco e com o pecado nas nossas vidas; Ele lida connosco como um Pai e como o Vinhateiro, mas fá-lo ainda assim (João 15:1 ss; Heb. 12:5).

A Derrota em Ai É Descrita 
(7:2-5)

2 Enviando, pois, Josué, de Jericó, alguns homens a Ai, que está junto a Betaven, da banda do oriente de Betel, falou-lhes, dizendo: Subi, e espiai a terra. Subiram, pois, aqueles homens, e espiaram a Ai. 3 E voltaram a Josué, e disseram-lhe: Não suba todo o povo; subam alguns dois mil, ou três mil homens, a ferir a Ai: não fatigueis ali a todo o povo, porque poucos são. 4 Assim, subiram lá do povo alguns três mil homens, os quais fugiram diante dos homens de Ai. 5 E os homens de Ai feriram deles alguns trinta e seis, e seguiram-nos, desde a porta até Sebarim, e feriram-nos na descida; e o coração do povo se derreteu e se tornou como água.

A derrota do exército de Israel em Ai que aqui se encontra descrita é a única derrota registada em Josué e o único relato de judeus mortos em batalha. Ai era mais pequena que Jericó! Como podia um tal insucesso ocorrer tão rapidamente? A principal causa, conforme sumariado no versículo um, foi o pecado de Acan. Contudo, existem outros assuntos envolvidos, que levaram Josué a avançar contra Ai quando não o deveria ter feito.

Nestes versículos, vemos algumas das diversas consequências do pecado na vida do povo de Deus ou na vida de um indivíduo. O pecado tem muitas consequências, nenhuma delas boa.

Não há dúvidas de que Josué estaria ansioso para avançar pelo Senhor, conquistando mais território de acordo com as ordens de Deus e o Seu propósito para Israel. Mas estando um bocadinho autoconfiante e confiando demasiado na vitória em Jericó, Josué evidentemente falhou quanto a reservar tempo para estar sozinho com o Senhor, inquirindo-O e procurando a Sua força. Se assim tivesse feito, não teria ignorado o pecado de Acan, e poderia ter lidado primeiro com ele. Quatro erros fatais foram o resultado: (a) Permaneceram ignorantes acerca do pecado de Acan. (b) Subestimaram a força do inimigo. (c) Sobrestimaram a força do seu próprio exército. (d) Fiaram-se no Senhor – tomaram-n’O como garantido.

Mais tarde, quando Deus lhes deu ordens para avançarem contra o inimigo, talvez devido à sua atitude autoconfiante prévia e à sua presunção, ordenou-lhes que levassem “toda a gente de guerra” (8:1). A Gedeão, porém, o Senhor fê-lo reduzir o seu exército, a fim de que não se vangloriassem no seu próprio poder como a fonte da vitória (Juízes 7:1 ss).

Com quanta frequência não somos exactamente como Josué aqui no capítulo 7? Devido a uma mentalidade de trabalhador compulsivo, a uma inclinação para a actividade ou a um desejo de fazer as coisas e ser bem-sucedido, há uma tendência para a pressa, sem reservar tempo para se aproximar de Deus, recorrer aos Seus recursos e vestir a armadura completa de Deus. Essa atitude não só é imprudente, mas também nos torna insensíveis a fracassos sérios nas nossas próprias vidas e ministérios, que entristecem e extinguem o Espírito, deixando-nos indefesos face ao inimigo, uma vez que actuamos baseados na nossa própria força e sabedoria. Fundamentalmente, portanto, estes fracassos atrapalham o nosso progresso e capacidade para lidar com os diversos desafios da vida.

A última parte do versículo 5 diz: “e o coração do povo se derreteu e se tornou como água”. A derrota em Ai desmoralizou o povo. Isto é talvez ainda mais importante do que a própria derrota, porque criou receios e falta de confiança no Senhor. Em vez de examinarem as suas próprias vidas como a fonte do seu fracasso, começaram a duvidar do Senhor e a questionar se Ele teria mudado de ideias ou se teriam interpretado erradamente as Suas ordens. Será que devíamos mesmo ter atravessado o Jordão? Deveríamos ter permanecido do outro lado? (confira 7:7).

Na nossa natureza humana pecaminosa, somos tipicamente assim mesmo. Somos tão rápidos a ficar deprimidos, desencorajados e desorientados. Olhamos para todas as direcções em busca de uma razão para o fracasso – excepto para nós mesmos. Atribuímos culpas, arranjamos desculpas, escondemo-nos e injuriamos, mas falhamos com tanta frequência quanto a examinar as nossas vidas honestamente. Assumimos que nunca podemos ser o problema… ou podemos?

O Desânimo de Josué É Retratado
(7:6-9)

6 Então Josué rasgou os seus vestidos e se prostrou em terra sobre o seu rosto, perante a arca do Senhor, até à tarde, ele e os anciãos de Israel; e deitaram pó sobre as suas cabeças. 7 E disse Josué: Ah, Senhor Jeová! Por que, com efeito, fizeste passar a este povo o Jordão, para nos dares nas mãos dos amorreus, para nos fazerem perecer? Oxalá nos contentáramos com ficarmos dalém do Jordão. 8 Ah, Senhor! Que direi? Pois Israel virou as costas diante dos seus inimigos! 9 Ouvindo isto os cananeus, e todos os moradores da terra, nos cercarão e desarraigarão o nosso nome da terra; e então, que farás ao teu grande nome?

A Consternação Diante da Arca (vs. 6)

Nesta descrição de Josué, vemos uma das maiores provas da inspiração da Escritura. O povo de Deus, incluindo os grandes heróis da fé, é retratado com manchas, verrugas e tudo. Deus não retoca a fotografia. Em vez disso, mostra-nos a sua humanidade, de modo a confortar-nos nos nossos próprios fracassos, desafiando-nos a compreender que Ele pode usar-nos para muitas coisas se apenas confiarmos n’Ele. O fracasso não é exclusivo de nenhum de nós… e não é o fim. De facto, pode até ser o início, dependendo da forma como respondemos. É claro que é sempre melhor cometer alguns erros novos, aprendendo com eles, do que repetir erros velhos. Quando continuamos a cometer os mesmos erros, as nossas derrotas não possuem um valor capaz de alterar a vida. Na derrota em Ai, observamos um verdadeiro teste à liderança de Josué. Tal como Sanders comenta, “Existem testes à liderança, bem como testes de liderança,”4 e um desses testes é a prova do fracasso. Este não é exclusivo de ninguém. O fracasso, como todas as provações, é comum a todos os homens.

O estudo de personagens bíblicas revela que a maioria daqueles que fizeram história eram homens que falharam a certa altura, e alguns deles drasticamente, mas que recusaram continuar deitados no pó. O seu próprio fracasso e arrependimento asseguraram-lhes um conceito mais amplo da graça de Deus. Aprenderam a conhecê-Lo como o Deus que dá uma segunda oportunidade aos filhos que O decepcionaram – e uma terceira, também…

O líder bem-sucedido é um homem que aprendeu que nenhum fracasso tem de ser decisivo e age de acordo com essa crença, quer o fracasso seja seu ou de outrem. Tem de aprender a ser realista e estar preparado para compreender que nem sempre pode estar certo. Não existe tal coisa como um líder perfeito ou infalível.5

Josué, obviamente, ficou aturdido face à derrota e catástrofe em Ai, e as acções dele e dos anciãos coincidiam com as práticas hebraicas de luto e desespero. Prostrarem-se diante da Arca do Senhor sugere certamente que se estavam a humilhar diante do Senhor. Josué e os anciãos não são culpados de uma indiferença endurecida. Demonstravam profunda preocupação e que necessitavam da mão de Deus; precisavam da Sua intervenção e sabedoria. Porém, de acordo com as palavras que se seguem, misturada com tais sentimentos, havia também evidência de alguma autocomiseração e dúvida.

Hoje em dia, normalmente não rasgamos as nossas roupas, nos prostramos no chão ou pomos pó nas nossas cabeças. Mas dispomos de meios para demonstrar a nossa consternação, dor e dúvida. Talvez caiamos sobre os joelhos ou coloquemos a face entre as mãos e choremos mas, quando existem sentimentos de autocomiseração e depressão, podemos ficar inactivos ou taciturnos. Contudo, estas respostas não removem a dor nem resolvem o problema, impedindo que cresçamos com a experiência.

A Queixa ao Senhor (vss. 7-8)

Finalmente, depois de um dia inteiro prostrado sobre a sua face, Josué verbalizou a sua perplexidade através de três questões e duas afirmações. Não a descarregou noutros, nem tentou evitá-la ou reprimi-la. Fez o que todos nós devemos fazer – levou a questão até ao Senhor.

A Primeira Questão (vs. 7a): “Ah, Senhor Jeová! Por que, com efeito, fizeste passar a este povo o Jordão…”. A NIV (Nova Versão Internacional) realiza a seguinte tradução: “Ah, Soberano Senhor, por que fizeste este povo atravessar o Jordão…”. A palavra “ah” (bem como o inglês alas, “ai”) funciona como uma forte interjeição de desespero. “Ah” é praticamente uma transliteração do hebraico. Aponta frequentemente – tal como aqui – para um estado de espírito de aflição e derrota. Na maioria das ocorrências, é usada com a expressão “Senhor Deus”, embora nem sempre como expressão de desespero (Jz. 6:22; Jer. 1:6; 4:10; 14:13; 32:17; Ez. 4:14; 9:8;11:13). Com um suspiro, grita “Ah, Adonai Yahweh”, reconhecendo a soberana autoridade de Deus e domínio sobre as suas vias; mas, com o próximo suspiro, parece questionar os propósitos e promessas de Deus enquanto o Soberano Senhor.

Com a questão “por que, com efeito, fizeste passar a este povo o Jordão…”, Josué estava a agir como se Deus não estivesse em controlo ou como se os tivesse meramente enganado ou cometido um erro. Quão rápidos somos a agir religiosamente, podendo em simultâneo negar a autoridade e poder de Deus mediante outras coisas que possamos pensar, dizer ou fazer. Aqui se encontra uma ilustração perfeita de como focar os problemas afecta negativamente a nossa perspectiva de Deus, o que, por seu turno, afecta a nossa fé nos Seus propósitos, plano e promessas.

Por um lado, um foco errado origina com frequência tempestades num copo de água. Possivelmente, ao confiarem na sua vitória prévia em vez de no Senhor, tinham os olhos fixos na pequenez de Ai e consideraram-na apenas um pequeno problema. Por outro lado, com os olhos postos na derrota, fizeram desta pequena quantidade de água uma tempestade demasiado intensa para o Senhor controlar.

Sempre que estamos ocupados com o problema, ou sempre que não conseguimos focar as nossas mentes e olhos no Senhor, tornamo-nos insensíveis à Pessoa, plano, promessas e propósitos de Deus. A este ponto, parece que nunca ocorreu a Josué que Deus poderia ter uma razão para permitir a derrota ou que, de alguma forma, eles próprios podiam ser a causa. Quando o nosso foco é errado, ou esquecemos as promessas de Deus, ou questionamo-las. Desistimos depois de nos relacionarmos com a pessoa de Deus em toda a Sua essência divina. Numa tal condição, não mais vemos o Senhor como nossa esperança; em vez disso, Ele torna-Se o vilão.   

A Primeira Afirmação (vs. 7b): “Oxalá nos contentáramos com ficarmos dalém do Jordão”. Quão estreita fica a nossa visão e quão negativos nos tornamos em relação aos propósitos de Deus quando temos os olhos postos nas circunstâncias e perdemos o Senhor de vista! Fazemos marcha-atrás e olhamos para trás. A tendência é ficarmos nostálgicos pelos “bons velhos tempos”. Tornamo-nos como Israel, que recordava o alho, o alho-francês e os pepinos, mas esquecera-se dos capatazes e dos poços de lama. A fim de estarmos confortáveis, estamos dispostos a aceitar uma vida de mediocridade, em detrimento de aprender o que os obstáculos são para que possamos prosseguir em busca da excelência.

Há aqui a assunção de que, uma vez que haviam sido derrotados, não poderiam avançar, e que teria sido melhor caso não tivessem encontrado o inimigo. Na sua perspectiva, o seu fracasso enfraquecera de alguma forma a capacidade de Deus quanto a dar-lhes futuras vitórias. Esta é uma conclusão típica, mas que está errada. Deus nunca fica limitado pelas nossas derrotas. Enquanto o Soberano Senhor, Ele É capaz de fazer todas as coisas contribuírem juntamente para o bem – o bem de nos fazer à conformidade do Seu Filho (Rom. 8:28-29).

A Segunda Questão (vs. 8): “Ah, Senhor! Que direi? Pois Israel virou as costas diante dos seus inimigos!”. Após a tomada de Jericó, o capítulo 6 terminou com a afirmação “Assim era o Senhor com Josué; e corria a sua fama por toda a terra”. Deparamo-nos agora com esta observação em 7:8, parecendo que Josué estava preocupado com as queixas do povo e a sua prontidão em seguir a liderança dele. Será que este fracasso me irá impedir de fazer aquilo a que me chamaste devido às suas atitudes e questões? Para além disso, as pessoas iriam querer algumas respostas e, nesta altura, simplesmente não tinha nenhuma. O que poderia ele dizer-lhes? Esta era realmente uma súplica por sabedoria (Tiago 1:5).

Também, talvez, sentindo alguma vergonha ou culpa pessoal pela forma como os homens se haviam voltado e fugido, duvidasse da sua própria capacidade para liderar o exército. Quiçá estivesse a sentir que os deixara ficar mal, que o povo o culparia pela derrota, e estaria assim preocupado com o impacto de tudo isto na sua capacidade para liderar o povo.

Uma Segunda Afirmação e Preocupação (vs. 9): “Ouvindo isto todos os moradores da terra, nos cercarão e desarraigarão o nosso nome…”. Josué estava preocupado com o impacto desta derrota no seu testemunho para as nações, e com o modo como estas poderiam derrubá-los mediante um esforço combinado contra o povo de Deus. Providenciaria isto uma cabeça-de-praia para o inimigo, que avançaria agora ofensivamente, atacando Israel, em lugar da situação oposta? O mundo observa-nos, e a forma como lidamos com os nossos problemas afecta a sua atitude relativamente à comunidade Cristã (1 Ped. 3:13-17).

A Terceira Questão: “E então, que farás ao teu grande nome?”. Apesar de todos os seus medos, observamos uma manifestação do carácter de Josué e do seu amor pelo Senhor. Parece que a maior preocupação de Josué era que as notícias desta derrota pudessem de alguma forma reduzir o respeito das nações pagãs pelo próprio nome de Deus. Josué pode ter sido culpado de pensar o que as pessoas frequentemente pensam, que um fracasso leva a outros; que a vitória era agora menos provável porque haviam falhado tão miseravelmente. É verdade que o nosso pecado e fracasso afectam o nosso testemunho por momentos; podem dar a Satanás a oportunidade de estabelecer uma cabeça-de-praia; podem ter repercussões de outras maneiras, mas Deus É sempre capaz de fazer todas as coisas contribuírem juntamente para o bem daqueles que O amam.

Nada é alguma vez alcançado com a nossa face no pó ou com os olhos postos nos nossos fracassos e problemas. Primeiro, temos de confessar os nossos fracassos e as coisas que os causaram, quando podem ser determinadas. Depois, temos de procurar aprender com eles. Finalmente, temos de reconhecer que a vontade de Deus corresponde à recuperação imediata e à fé na Sua graça. A vontade de Deus é que nos levantemos e continuemos (vss. 10 ss).

Vamos sumariar as causas para o fracasso: (1) Aparentemente, houve falta de oração ou incapacidade para estar sozinho com o Senhor, procurando a Sua orientação. (2) Claramente, houve confiança na sabedoria humana quando Josué escutou a sugestão dos espiões, após regressarem de espiar Ai (vs. 3). (3) Depois, fiando-se na sua vitória passada em vez de no Senhor, existiu excesso de confiança nas suas próprias capacidades, levando-os a pensar que poderiam facilmente avançar contra uma cidade tão pequena comparativamente a Jericó (vss. 3-4).

Com o versículo 10, a nossa atenção volta-se para a resposta de Deus e Suas ordens para Josué. Tal é altamente instrutivo, pois não só nos concede maior compreensão quanto à natureza das acções de Josué (desânimo e dúvida), mas também nos fornece a avaliação de Deus em relação àquilo que Josué estava a fazer (Ele não estava satisfeito) e as Suas instruções para o que deveria ser feito a fim de corrigir o problema.

As Orientações de Deus Delineadas
(7:10-15)

10 Então disse o Senhor a Josué: Levanta-te: por que estás prostrado assim sobre o teu rosto? 11 Israel pecou, e até transgrediram o meu concerto que lhes tinha ordenado, e até tomaram do anátema, e também furtaram, e também mentiram, e até debaixo da sua bagagem o puseram. 12 Pelo que os filhos de Israel não puderam subsistir perante os seus inimigos: viraram as costas diante dos seus inimigos, porquanto estão amaldiçoados: não serei mais convosco, se não desarraigardes o anátema do meio de vós. 13 Levanta-te, santifica o povo, e dize: Santificai-vos para amanhã, porque assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Anátema há no meio de ti, Israel: diante dos teus inimigos não poderás suster-te, até que tires o anátema do meio de vós. 14 Amanhã, pois, vos chegareis, segundo as vossas tribos; e será que, a tribo que o Senhor tomar se chegará, segundo as famílias; e a família que o Senhor tomar se chegará, por casas; e a casa que o Senhor tomar se chegará, homem por homem. 15 E será que, aquele que for tomado com o anátema, será queimado a fogo, ele e tudo quanto tiver; porquanto transgrediu o concerto do Senhor, e fez uma loucura em Israel.

As Orientações para Josué (vss. 10-12)

Com as palavras “Então disse o Senhor a Josué”, temos uma ilustração do envolvimento pessoal de Deus nas vidas do Seu povo. Deus preocupa-se com as nossas vidas e ministérios, e actua sempre para Se revelar e ensinar-nos acerca de nós próprios e do que precisamos de fazer ao caminharmos na vida (1 Ped. 5:6-7; Heb. 13:5-6). A questão é esta: estaremos a ouvir?

“Levanta-te!”. Esta ordem surge com Josué prostrado sobre a sua face, desesperado e em pânico, com pó na cabeça segundo o típico costume oriental. Conforme mencionado, a prostração demonstrava a sua profunda preocupação e humildade, dado que clamava ao Senhor. Em vista da resposta de Deus, contudo, parece que as acções de Josué resultavam essencialmente de desespero, sendo o produto de um espírito de desânimo e descrença, conforme as suas palavras no versículo 7 demonstram convenientemente. Repare uma vez mais na palavra “Ah”, o hebraico ‘ahah, uma interjeição que, neste contexto, mostra desespero ou profunda preocupação.

Uma vez que nada é conseguido com a nossa face no pó, o Senhor diz a Josué que se erga desta condição. Tal atitude, embora bastante humana e característica de todos nós de vez em quando, não é um estado no qual possamos permanecer – não alcança nada, desonra as promessas e pessoa de Deus e neutraliza-nos para o ministério e para o Senhor.

Na Bíblia inglesa, a expressão correspondente a “levanta-te” é traduzida de diferentes formas, consoante a versão: a KJV apresenta “get thee up” (“levanta-te”), a NIV “stand up” (“põe-te em pé”), a NASB “rise up” (“ergue-te”) e a Bíblia NET “get up” (“levanta-te”). O verbo aqui em causa é o hebraico qum, que significa com frequência erguer-se de uma posição prostrada por diversas razões e a partir de várias condições. Partindo deste significado literal, qum associa-se frequentemente a uma ideia figurativa. É usado acerca do levantar como acto preparatório de uma acção, de se erguer de um estado de inacção ou fracasso, de mostrar respeito e adoração, de se levantar para ouvir a Palavra de Deus, de se tornar forte ou poderoso, de se erguer para providenciar salvação, de assumir um cargo ou responsabilidade (como um profeta ou um juiz) e de se erguer a fim de dar testemunho. Várias destas ideias são aplicáveis neste contexto. Esta ordem impele Josué a erguer-se do seu estado de desespero e futilidade, que o havia neutralizado, de modo a preparar-se para a acção, escutar o Senhor, assumir a sua responsabilidade e liderar o povo na salvação de Deus.

Aplicação: Ainda que o Senhor compreenda e simpatize com os nossos problemas e medos, e embora humilharmo-nos diante do Senhor seja sempre necessário, Ele nunca admite a nossa prostração em desespero, nem nos dispensa de nos apropriarmos da Sua graça e partirmos em obediência. A Sua palavra para nós é que nos levantemos de sobre o nosso rosto, fixemos n’Ele os nossos olhos e lidemos com os nossos problemas de acordo com os princípios e promessas da Escritura. Este é um chamamento para a acção decisiva, disposta a tomar decisões difíceis de modo a lidar com o nosso pecado. Não é suficiente que nos sintamos arrependidos e tristes devido à nossa condição. Temos de estar dispostos a lidar de forma decisiva com os nossos pecados. “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia” (Prov. 28:13).

“Por que estás prostrado assim sobre o teu rosto?”. Literalmente, o texto diz “Por que te estás a prostrar sobre o teu rosto?”. A natureza desta questão carrega uma nota de repreensão com uma chamada para um exame que permita chegar ao fundo do problema, isto é, a causa do fracasso deles. Efectivamente, Deus está a dizer: “em vista do Meu plano para Israel e das promessas que te fiz, Josué, que razão poderias ter para semelhante desespero?”. Assim, portanto, encontra-se aqui um apelo para que Josué pusesse os seus olhos no Senhor, mas também para que procurasse a causa na própria iniquidade deles! Quando o fracasso chega, nunca devemos pensar que Deus nos abandonou ou que o Seu plano falhou. Devemos perguntar-nos: poderei eu ser a causa?

Portanto, trata-se de um apelo para Josué (e para nós, na medida do aplicável), a fim de que examinemos a natureza do que estamos a fazer e procuremos as causas fundamentais para as derrotas da vida, assim que as mesmas ocorrem. Temos de compreender com precisão que lições Deus procura ensinar-nos – “Foi isto causado por algo que eu fiz ou que não consegui fazer?”.

A Causa para o Fracasso de Israel (vs. 11)

Ao ler-se o versículo 11 na versão NASB ou KJV (acontecendo o mesmo na versão portuguesa “João Ferreira de Almeida, Revista e Corrigida”), parecem existir diversas transgressões, devido à forma como cada oração está ligada por “e”; mas, na maioria, cada oração é uma explicação mais detalhada da precedente. As traduções NIV e Bíblia NET (bem como a “Nova Versão Internacional”, em português) procuram mostrar o seguinte: cada descrição é uma explicação adicional do problema, partindo do geral para o específico, adicionando cada nova oração mais detalhe ao que estava envolvido.

Israel pecou; eles transgrediram o meu pacto que lhes tinha ordenado; tomaram do anátema, furtaram-no e, dissimulando, esconderam-no entre a sua bagagem (João Ferreira de Almeida, Revista e Actualizada)

(1) “Israel pecou” (tal constata a natureza básica do fracasso deles e do nosso – o pecado [o termo hebraico é hata, significando “errar um alvo ou um caminho, ficar aquém do padrão”]); (2) “eles transgrediram” (“transgrediram” corresponde ao hebraico abar, “atravessar, ultrapassar os limites de, ir além, transgredir”) “o meu pacto que lhes tinha ordenado” (isto aponta para o assunto específico). (3) “Tomaram do anátema, furtaram-no” (tal mostra a forma como haviam violado o pacto – roubando aquilo que pertencia ao Senhor, consagrado a Ele - e o que isso implicava); (4) “e, dissimulando, esconderam-no entre a sua bagagem” (isto descreve as consequências adicionais, o efeito bola-de-neve do pecado, revelando a natureza egoísta e avara do que fora feito, que é a raiz da maior parte do pecado).

As Consequências do Fracasso de Israel (vs. 12)

Devemos prestar especial atenção ao “pelo que” introdutório deste versículo. A NIV (bem como a “Nova Versão Internacional”, em português) traz “por isso”, e a NASB e KJV (bem como a versão portuguesa “João Ferreira de Almeida, Revista e Actualizada”) têm “pelo que”. Deste modo, somos direccionados para uma das consequências do pecado de Acan e do pecado não confessado em geral – fraqueza, incapacidade de servir e viver para o Senhor. Porquê? Porque o pecado entristece e extingue o Espírito (Ef. 4:30; 1 Tes. 5:19). Tal ilustra a verdade declarada em João 15:1-7 (a necessidade de estar em Cristo); Efésios 4:30 (como o pecado entristece a pessoa do Espírito); 1 Tessalonicenses 5:19 (como o pecado extingue o poder do Espírito); Provérbios 28:13 (como a incapacidade de confessar e lidar decididamente com o pecado impede o Senhor de fazer prosperar o nosso caminho). Em Cristo, temos a capacidade de viver vitoriosamente para o Senhor independentemente daquilo que enfrentamos, mas a aptidão para o fazermos depende sempre da amizade com o Salvador no poder do Espírito; temos de andar na luz (1 João 1:5-9).

Orientações para o Povo (vs. 13-15)

Em preparação para o seu ministério de liderança, é novamente dito a Josué “levanta-te”. Não pode liderar o povo com o rosto no pó ou enquanto anda abatido, deprimido por causa da derrota. Essencialmente, trata-se de um apelo ao retorno à comunidade e à fé no poder de Deus. É semelhante às palavras que o Senhor dirigiu a Pedro em Lucas 22. Pedro foi avisado que Satanás o cirandaria como trigo, mas depois o Senhor disse-lhe, “e tu, quando te converteres, confirma os teus irmãos” (Lucas 22:32). Pedro não deveria permitir que o seu fracasso e negações o neutralizassem ou impedissem de ser um líder e auxiliar outros. Assim, mais tarde, depois de voltar à comunidade, Pedro exortaria: “cingi os lombos do vosso entendimento…” (1 Ped. 1:13). Em vista do que se segue – o exame e cumprimento da disciplina em Acan e sua família –, Josué comunicou indubitavelmente esta mesma ordem ao povo. 

Depois, no versículo 13, foi dito a Josué “santifica o povo”, a fim de prepará-lo para lidar com o problema. Ele deveria chamar a atenção das pessoas para a causa da sua derrota. Alguém tomara das coisas pertencentes ao anátema, o que levara Deus a retirar o Seu poder. Conforme o Senhor enfatizara a Josué, assim deveria ele chamar a atenção do povo para a causa e as consequências do pecado. Tal também lhes apelava que se santificassem, ou seja, que se preparassem para as actividades que teriam lugar no dia seguinte. Deveriam pôr o dia de parte para esta actividade, preparando os seus corações, talvez através da oração e adoração, para aquilo que Deus teria de fazer.

No versículo 14, são dadas instruções específicas para que se purgasse este pecado do meio deles. Primeiro, ocorreria um exame das pessoas tribo a tribo, família a família e, finalmente, homem a homem. Repare na forma como os homens eram responsáveis pelas suas famílias. O exame revelaria o culpado. O versículo 15 descreve o castigo que deveria ser levado a cabo sobre o grupo culpado, acrescentando a razão para a severidade da punição.

A Descoberta de Acan É Descrita
(7:16-21)

16 Então, Josué se levantou de madrugada e fez chegar a Israel, segundo as suas tribos; e a tribo de Judá foi tomada. 17 E, fazendo chegar a tribo de Judá, tomou a família de Zerá; e, fazendo chegar a família de Zerá, homem por homem, foi tomado Zabdi; 18 e, fazendo chegar a sua casa, homem por homem, foi tomado Acan, filho de Carmi, filho de Zabdi, filho de Zerá, da tribo de Judá. 19 Então, disse Josué a Acan: Filho meu, dá, peço-te, glória ao Senhor, Deus de Israel, e faze confissão perante ele; e declara-me agora o que fizeste, não mo ocultes. 20 E respondeu Acan a Josué e disse: Verdadeiramente pequei contra o Senhor, Deus de Israel, e fiz assim e assim. 21 Quando vi entre os despojos uma boa capa babilónica, e duzentos siclos de prata e, uma cunha de ouro do peso de cinquenta siclos, cobicei-os e tomei-os; e eis que estão escondidos na terra, no meio da minha tenda, e a prata, debaixo dela.

A Procura pelo Grupo Culpado (vss. 16-18)

Lemos por quatro vezes em Josué que o mesmo se levantou de madrugada a fim de tratar de assuntos importantes. Josué não era nenhum procrastinador.

Em seguida, nos versículos 16 a 18, o processo da descoberta é descrito, começando com todo o Israel, sendo reduzido por tribos até à tribo de Judá, depois por famílias ou clãs até aos zeraítas, em seguida até à família de Zimri (Zabdi), e dessa família até Acan. Por que seguiu Josué este procedimento e de que forma foi capaz de estreitar a busca até Acan? A resposta encontra-se no versículo 14, com a repetição das palavras “que o Senhor tomar” ou “escolher” (Bíblia NET e Nova Versão Internacional, em português). As palavras “by lot” (“por sorteio”), encontradas na NASB, aparecem em itálico e não estão no original, mas provavelmente expressam os meios utilizados, devido às palavras “which the Lord takes” (“que o Senhor tomar”).

Nos versículos 16-18, as expressões “que o Senhor tomar” ou “escolher” referem-se a uma escolha provavelmente baseada no uso do Urim e do Tumim, de acordo com Êxodo 28:15, 30 (confira Núm. 27:21) e que, de alguma forma, envolvia lançar sortes (confira Prov. 16:33; Jos. 14:1-2; 18:6).

Uma questão-chave é o que seriam o Urim e o Tumim. Aparecem na Escritura sem explicação, mas o que se segue poderá ajudar-nos, embora existam diversas teorias acerca do seu significado.

(1) O hebraico para esta frase significa provavelmente “as luzes” e “as perfeições”, ou “luz e perfeição”. A palavra hebraica para Urim (‘urim, um substantivo plural) deriva provavelmente de ‘or, “ser luz”. Tumim, também plural, provavelmente provém de um termo hebraico que significa “perfeição”.

(2) Urim começa com a primeira letra do alfabeto hebraico (alef), e Tumim (thummim) inicia-se com a última letra (tav). Talvez, tal como a Lei edificada sobre o alfabeto hebraico (de alef a tav) simbolizava a vontade moral de Deus, também o Urim e o Tumim representavam a orientação de Deus em situações especiais, para lá do conhecimento e aptidão humanos.

(3) O Urim e o Tumim aparecem na Escritura sem identificação explicativa, excepto quanto ao facto de deverem ser colocados “no peitoral… sobre o coração de Aarão” (Êx. 28:30), sugerindo que estes são termos descritivos para as doze pedras preciosas do contexto imediatamente precedente, gravadas com os nomes das tribos de Israel (vv. 17-21), e guardadas no peitoral do juízo, sobre o coração de Aarão (v. 29). 6  Alguns crêem que consistiam apenas em duas pedras especiais.

(4) Michaelis (Laws of Moses, 5:52) dá a sua opinião de que o Urim e o Tumim eram três pedras, estando numa delas escrito “Sim” e na outra “Não”, sendo a terceira deixada neutra ou branca. Seriam usadas como sortes, e o sumo sacerdote decidiria de acordo com aquela que fosse retirada. Kalisch (em Êxodo 28:31) identifica o Urim e o Tumim como as doze jóias tribais. Ele contempla o nome como devendo ser explicado por uma hendíadis (luz e perfeição – iluminação perfeita), e acredita que o sumo sacerdote, ao concentrar os seus pensamentos nos atributos que representavam, removeria de si próprio todo o egoísmo e preconceito, transitando para um verdadeiro estado profético. O processo de consultar Jeová mediante o Urim e o Tumim não é fornecido na Escritura. 7

(5) Eram guardadas no peitoral ou bolsa do juízo, usado no exterior do éfode. O ponto principal é que constituíam um método para procurar orientação divina e respostas a questões e crises para lá da percepção humana, mediante o ministério do sacerdote.

No The Bible Knowledge Commentary, o Dr. Hannah escreve:

Desconhece-se como eram usados para determinar a vontade de Deus, mas alguns sugerem que o Urim representava uma resposta negativa, e o Tumim uma resposta positiva. Talvez esta perspectiva seja indicada pelo facto de Urim… começar com a primeira letra do alfabeto hebraico, e Tumim… com a última. Outros sugerem que os objectos simbolizavam simplesmente a autoridade do sumo sacerdote quanto a inquirir de Deus, ou a garantia de que o sacerdote receberia esclarecimento ou iluminação (“luzes”) e conhecimento perfeito (“perfeições”) de Deus. 8 

(6) De qualquer forma, seriam provavelmente sortes sagradas, usadas em tempos de crises de modo a determinar a vontade de Deus (veja Núm. 27:21). Cada decisão do Urim provinha do Senhor (Prov. 16:33). O uso do Urim e do Tumim para determinar as decisões de Deus ou para encontrar a Sua vontade deveria ser feito pelo sumo sacerdote, pois apenas ele podia usar o éfode que continha o Urim e o Tumim.

(7) Em 1 Samuel 2:28, são mencionadas três tarefas dos sacerdotes: (a) Oferecer sobre o meu altar, isto é, realizar os rituais sacrificiais no altar do holocausto, no pátio do tabernáculo; (b) Acender o incenso no altar do incenso no Lugar Santo (Êx. 30:1-10), e (c) Trazer o éfode. Esta é uma referência ao éfode especial a ser usado pelos sumos sacerdotes. Tal incluía o peitoral ou bolsa que continha o Urim e o Tumim, os meios divinamente ordenados para a comunicação com Deus e tomada de decisões, de alguma forma relacionadas com lançar sortes.

Deus deu orientação divina e Acan foi descoberto por meios sobrenaturais. Não avançou voluntariamente para se confessar ou arrepender, entregando-se à misericórdia de Deus. O seu fracasso neste ponto contrasta com a atitude do filho pródigo e do publicano no Novo Testamento.

Lições Do Pecado de Acan (vss. 20-21)

Tal como 1 Coríntios 10 nos recorda, o que aconteceu a Acan está registado para nosso aviso e instrução, lembrando-nos um dos processos que levam ao pecado. A sequência até ao pecado de Acan é familiar. Ele viu, cobiçou e tomou. Aconteceu o mesmo com Eva (Gén. 3:6) e com David (2 Sam. 11:2-4), e também se passa o mesmo connosco. A abordagem de Josué foi delicada, mas firme. Ele odiava o pecado, mas amava o pecador. Embora honesta, a confissão de Acan chegou demasiado tarde e foi produto da descoberta. Não se tratou de um acto de arrependimento ou da tristeza piedosa que conduz ao mesmo (2 Cor. 7:8-11).

Certamente, existem aqui algumas lições importantes:

(1) A confissão sem arrependimento ou uma mudança mental genuína é vazia. Não nos restaura à comunhão, não porque o arrependimento seja um trabalho que devemos fazer de modo a obter o perdão de Deus, mas sim porque sem ele continuamos a ter uma atitude errada, que mantém uma barreira entre nós e o Senhor.

(2) Por vezes, a confissão chega demasiado tarde para parar a disciplina, tal como no caso de David. O objectivo primário da confissão não é evitar problemas ou o castigo de Deus. O propósito da confissão é restabelecer a comunhão e virar as nossas vidas para Deus por querermos andar com Ele sob o Seu controlo, caminhando na Sua direcção (Amós 3:3).

Quiçá a necessidade mais prática aqui seja notarmos o processo, para vermos se conseguimos descobrir o que levou à escolha e pecado de Acan. O facto de Acan ter escondido o saque mostra que sabia claramente que aquilo que estava a fazer era errado. Portanto, o que o levou a avançar e a fazê-lo? Bem, por que pecou Eva e caiu nos enganos da serpente?

Em resposta a isto, podemos reparar primeiro naquilo que Acan tomou. Ele pegou em ouro e prata, o que sugere materialismo, o acto de confiar nas riquezas para a nossa segurança e felicidade. Mas ele também levou uma bonita capa oriunda da Babilónia. Tal não só aponta para materialismo, mas para o desejo de ser elegante e obter a aprovação dos homens, procurando o nosso sentido de significância no elogio ou aplauso de outros.

Princípio: Estes desejos (padrões de concupiscência) ilustram os diversos padrões de concupiscência que todos enfrentamos e que, quando não tratados com fé, podem dominar as nossas vidas. Incluem coisas como o desejo de estatuto, poder, prestígio, prazer, bens, elogio ou aplauso e reconhecimento, mas não são mais do que soluções humanas ou estratégias protectoras que usamos para encontrar segurança, significância e satisfação longe de Deus. Jeremias chama-lhes cisternas rotas. “Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jer. 2:13).

Estes padrões de concupiscência têm a sua fonte: (a) Na natureza pecaminosa, com o seu pensamento e raciocínio defeituosos (Isa. 55:8 ss; Prov. 14:12; Rom. 1:18 ss; Efésios 4:17 ss). (b) No mundo e no seu raciocínio ou perspectiva humanos, que procuram viver sem Deus e longe da Sua revelação e plano (Rom. 12:2). (c) Em estruturas de crenças falsas que, pensando de acordo com a perspectiva do homem e acreditando nos enganos do mundo e de Satanás, crêem que estas coisas irão suprir as nossas necessidades, tais como a segurança ou a felicidade. (d) Na descrença na bondade de Deus, sabedoria e perfeição temporal na forma como provê as nossas necessidades.

Tal como Eva, Acan estava insatisfeito, impaciente e confiante em si mesmo. Ele acreditava, confiava e usava as suas próprias estratégias protectoras para obter o que desejava da vida. Ironicamente, Deus estava a trazer todo o Israel até à terra, onde cada homem teria o seu próprio terreno, casa e bênçãos abundantes. Porém, a insatisfação causada por não conseguir encontrar a sua felicidade no Senhor originou impaciência, que o levou a cobiçar e a avançar com as suas próprias soluções. Embora a ordem contra a cobiça seja um dos Dez Mandamentos, a cobiça é o pecado básico contra o qual a maioria dos restantes mandamentos foi elaborada, e a raiz por trás da maior parte do nosso pecado.

Cobiçar deve-se à insatisfação com a nossa sorte na vida e à nossa incapacidade quanto a procurar a nossa felicidade no Senhor e confiar n’Ele como a fonte das nossas necessidades de segurança, significância e satisfação. O Novo Testamento define a cobiça como idolatria (Efésios 5:5; Col. 3:5). Em última análise, a idolatria consiste em procurar nas coisas aquilo que somente Deus pode dar. Um ídolo pode ser (a) uma impotente imagem esculpida em madeira ou metal precioso à qual alguém reza e pede ajuda, (b) mas também pode ser materialismo, aquela forma de vida que procura segurança e significância no dinheiro, bens, poder, prestígio e prazer. (c) Também pode ser secularismo, uma filosofia de vida na qual as pessoas procuram viver afastadas da dependência de Deus, ou (4) pode tratar-se da aprovação dos homens, a procura de satisfação e segurança no elogio de outros. Campbell escreve:

Estima-se que os Americanos sejam bombardeados com 1,700 anúncios por dia, através de diversas formas de comunicação social. Embora não haja o perigo de comprarmos todos esses 1,700 produtos, existe a possibilidade de aceitarmos a filosofia por trás destes anúncios – a de que teremos vidas completas, realizadas e satisfatórias caso conduzamos este carro, usemos esta laca de cabelo ou bebamos aquela bebida.9

Portanto, qual é a nossa necessidade? É aprender o segredo de Paulo de contentamento no Senhor, conforme descrito em Filipenses 4:12-13 (veja também Filipenses 3:13-14 e 1 Tim. 6:6-19).

A Morte de Acan Cumprida (7:22-26)

22 Então Josué enviou mensageiros, que foram correndo à tenda: e eis que tudo estava escondido na sua tenda, e a prata debaixo dela. 23 Tomaram, pois, aquelas coisas, do meio da tenda, e as trouxeram a Josué e a todos os filhos de Israel; e as deitaram perante o Senhor. 24 Então Josué, e todo o Israel com ele, tomaram a Acan, filho de Zerá, e a prata, e a capa, e a cunha de ouro, e a seus filhos, e a suas filhas, e a seus bois, e a seus jumentos, e a suas ovelhas, e a sua tenda, e a tudo quanto tinha; e levaram-nos ao vale de Acor. 25 E disse Josué: Por que nos turbaste? O Senhor te turbará a ti, este dia. E todo o Israel o apedrejou com pedras, e os queimaram a fogo, e os apedrejaram com pedras. 26 E levantaram sobre ele um grande montão de pedras, até ao dia de hoje; assim o Senhor se tornou do ardor da sua ira: pelo que se chamou o nome daquele lugar, o vale de Acor, até ao dia de hoje.

Ao lermos esta passagem, uma das questões que nos chega à mente é o porquê de Deus ter sido tão duro com Acan e a sua família. Contrastando com a misericórdia que observamos no Novo Testamento, parece terrivelmente severo. Podemos pensar na misericórdia que o Senhor demonstrou com a mulher no poço, que tivera cinco maridos (João 4:18), e com a mulher acusada de adultério que, enquanto judia, poderia ter sido apedrejada de acordo com a Lei (João 8:3 ss), e questionarmos por que Acan não recebeu misericórdia similar. Temos tendência a esquecer outras passagens do Novo Testamento, tais como a morte de Ananias e Safira (Actos 5) e os impressionantes juízos da Tribulação, em que o sangue dos homens é retratado como fluindo do lagar da ira de Deus até aos freios dos cavalos (compare Rev. 14:18-20; 19:13 com Isa. 63:1-6). Também podemos ter propensão a esquecer ou minimizar a santidade de Deus. Deus É descrito como santo, mais do que qualquer outro dos Seus atributos, mais até do que o Seu amor, misericórdia e graça. Enquanto Deus santo, Ele É rectidão e justiça perfeitas e, devido à Sua justiça, tem de tratar do pecado (confira Salmo 50:21; Eclesiastes 8:11-12).

Mas existe aqui outra questão que não devemos ignorar ao pensarmos nesta passagem. Quem eram estas pessoas, e qual o seu propósito? Eram um povo chamado por Deus para ser Sua testemunha para o mundo, e através do qual Deus concederia o Salvador (compare Êx. 19:4-6; Deut. 10:15 ss; com 1 Ped. 1:14 ss; 2:9-12). Tal envolvia salvaguardar o bem-estar e propósito da maioria, lidando com este pecado de uma forma que os faria compreender quão sério era o seu chamamento e o seu percurso com Deus. Tal como a situação com Ananias e Safira ocorreu nos primórdios da igreja, também o juízo contra Acan teve lugar no período inicial da entrada de Israel na terra, de modo a incutir o temor de Deus nos corações das pessoas e a fornecer um exemplo da seriedade do que Acan fizera ao violar a aliança de Deus. O grande monte de pedras erguido sobre a sepultura de Acan parece ter sido feito como memorial de aviso para as gerações futuras.

O golpe final foi concretizado ao erguer-se um sinal histórico, um grande montão de pedras, sobre o corpo de Acan. Tal parece ter sido um método comum de sepultamento para indivíduos infames (confira 8:29). Neste caso, serviu o bom propósito de alertar Israel contra o pecado de desobedecer às ordens expressas de Deus.10

A posse inicial e usufruto da terra e suas bênçãos, bem como a aptidão para realizarem o seu chamamento enquanto povo escolhido de Deus, estavam dependentes da obediência a Deus, pois era Ele quem lhes dava a terra, com todas as suas numerosas bênçãos e responsabilidades (Deut. 28-30).

Devemos reparar que, embora Acan tenha confessado o seu pecado, apenas o fez quando foi descoberto e obrigado a isso. Tivesse ele se entregado voluntariamente à misericórdia de Deus, a sua vida poderia ter sido poupada, tal como quando David pecou. Campbell escreve: “Em vista do facto de a Lei proibir a execução dos filhos pelos pecados dos pais (Deut. 24:16), assume-se que os filhos de Acan eram cúmplices no crime.” 11

Outro assunto-chave que não deve ser esquecido é a perturbação que isto trouxe aos demais. Deus tomou medidas severas devido às consequências sérias do pecado de Acan sobre outros (foi um exemplo terrível, perderam-se várias vidas, Israel foi derrotado e a honra de Deus posta em causa [confira vs. 25]). O memorial de pedras no vale chamado Acor, que significa “perturbação”, fazia referência a este facto.

Conclusão

Existem neste capítulo três pontos conclusivos que gostaria de focar.

(1) O nosso pecado tem de ser tratado de forma honesta e decisiva.

(2) A escolha de Acan ergueu-se a partir do solo da insatisfação. Como poderia haver insatisfação em vista de tudo o que ele aprendera e vira, enquanto membro do privilegiado povo de Israel? Não sabemos mas, por qualquer razão, Acan estava insatisfeito com a sua sorte na vida, por não a conseguir entregar à providência e bondade de Deus. A sua incapacidade de caminhar na fé levou à procura de satisfação, segurança e significância no mundo material pelo que, cobiçando bens, decidiu pegar em coisas sob anátema. Foi a condição espiritual de insatisfação e existência independente que o levou a resolver o assunto com as próprias mãos, acreditando que, através das suas próprias soluções, iria de encontro às suas necessidades. O nosso fracasso quanto a encontrarmos o nosso contentamento no Salvador e Seu amor e graça é certamente a causa de uma grande parte da miséria criada por nós mesmos e do comportamento pecaminoso. O Senhor realçou este mesmo aspecto em Mateus 6, quando avisou os discípulos contra armazenarem tesouros na terra e contra a preocupação com os detalhes da vida – bebida, comida e vestuário. Entretanto, definiu a procura dos detalhes da vida em detrimento de buscar primeiro o reino de Deus e a Sua justiça como uma simples questão de não confiar verdadeiramente na provisão de Deus. O assunto diz respeito a ter pouca fé. Depois de indicar o modo como Deus cuida dos pássaros e veste a erva, Ele disse,

Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé? 31 Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? (Mateus 6:30-31)

(3) Seria útil notar que, quando Acan pecou e passou a existir pecado no acampamento de Israel, a bênção e força de Deus foram interrompidas e a nação enfrentou disciplina e fracasso. Mas, estando o pecado tratado como o Senhor ordenara, através da Sua graça, a bênção e força de Deus retornaram. Uma vez mais, somos recordados que ter pecado conhecido nas nossas vidas cria uma barreira entre nós e o Senhor, porque mostra o nosso empenho em seguirmos o nosso próprio caminho e em lidarmos com as nossas vidas mediante estratégias próprias.

Texto original de J. Hampton Keathley, III.

Tradução de C. Oliveira.


1 R. Laird Harris, Editor, Gleason L. Archer, Jr., Bruce K. Waltke, Associate Editors, Theological Word Book of the Old Testament, Moody Press, Chicago, Vol. 1, 1980, p. 324.

2 Norman L. Geisler, A Popular Survey of the Old Testament, Baker Book House, Grand Rapids, 1977, p. 100.

3 Frank E. Gaebelein, General Editor, Expositors Bible Commentary, Old Testament, Zondervan, Grand Rapids, 1997, versão electrónica.

4 J. Oswald Sanders, Spiritual Leadership, Moody Press, 1967, p. 159.

5 Sanders, p. 163-164.

6 R. Laird Harris, Editor, Gleason L. Archer, Jr. Bruce K. Waltke, Associate Editors, Theological Word Book of the Old Testament, Moody Press, Chicago, Vol. 1, 1980, p. 26.

7 The New Unger’s Bible Dictionary, versão electrónica.

8 John F. Walvoord, Roy B. Zuck, Editors, The Bible Knowledge Commentary, Victor Books, Wheaton, 1983,1985, versão electrónica.

9 Donald K. Campbell, Joshua, Leader Under Fire, Victor Books, 1989, p. 65.

10 Walvoord, Zuck, versão electrónica.

11 Campbell, p. 66.

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