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Where the world comes to study the Bible

4. Esperando No Senhor (II Samuel 2:1-5:5)

Introdução

O período mais longo e mais difícil de minha vida foi enquanto esperava para poder dirigir... legalmente. O problema era que comecei a dirigir muito cedo, mais ou menos aos 12 anos. Antes que os garotos dessa idade fiquem muito animados, preciso dizer que cresci num lugar onde podia dirigir muito, ainda que não fosse por ruas ou estradas. Mesmo sabendo dirigir, eu não podia sentir aquela emoção de cruzar as ruas de Shelton, uma cidadezinha de aproximadamente 6.000 habitantes. Eu achava a espera por esse grande momento a mais difícil de minha vida. Quando pregadores falavam sobre o arrebatamento e a “volta iminente de nosso Senhor”, eu ficava apavorado - não porque fosse um pecador perdido - mas porque, como crente, eu poderia ser arrebatado antes de poder dirigir legalmente.

Devo confessar que não mudei muito no que se refere a esperar. Estou escrevendo este sermão num computador relativamente rápido (embora não tão rápido quanto eu gostaria - mal posso esperar por um melhor). Tendo em vista que o processador principal é muito rápido, os outros componentes demoram mais para rodar; assim, algumas coisas ficam em “estado de espera”. Esse “estado de espera” (em minha compreensão limitada do funcionamento de um computador) é como “passar a vez” num jogo de cartas quando você não tem nada para descartar. Quando eu comprar mais memória RAM (memória principal do computador), não vou querer uma de 70 bilionésimos de segundo; quero uma de 60. Se não, isso vai me causar um “estado de espera” que redundará numa demora de uma pequena fração de segundo.

Tendo admitido que não gosto de esperar, também posso dizer que ninguém mais gosta. Por que será que temos tantas redes de fast food? Por que comida de microondas é tão popular? É porque não gostamos de esperar. Anos atrás alguém teve a brilhante ideia de tentar melhorar o congestionamento da Via North Central. Instalaram um sistema computacional para monitorar o fluxo de veículos e colocaram registradores nos acessos da autoestrada. No início da rampa de acesso havia um pequeno semáforo que ficava verde quando a via estava livre. Isso não tinha nada a ver com a existência de espaço para entrar, só que o computador pensava que você poderia ficar preso no trânsito. Hoje, os semáforos não estão mais lá. Talvez haja outras razões, como obras na rodovia, mas creio que uma delas é que as pessoas simplesmente não queriam esperar. Se o caminho estivesse livre e o farol vermelho, as pessoas acabavam entrando na autoestrada do mesmo jeito. Prá que esperar? Temos de confessar que não somos um país que sabe esperar.

Ao estudar a vida de Davi, descubro que ele passou grande parte dela esperando. Ele teve que esperar mais ou menos quinze anos desde que foi ungido por Samuel até se tornar o rei de Judá (conforme está em nosso texto). E teve que esperar mais outros sete anos para ser ungido rei sobre todo Israel. Isso significa que ele esperou mais de vinte anos para ser rei. Como Davi lidou com mais de duas décadas de espera é o tema desta mensagem. Estudar a sua vida durante esse período pode nos ensinar muitas coisas sobre “esperar no Senhor”.

As duas primeiras mensagens em nosso texto enfocaram dois importantes líderes: 1) Abner, primo de Saul e comandante dos exércitos de Saul, de Isbosete, e portanto, de Israel; e 2) Joabe, sobrinho de Davi, irmão de Abisai e Asael e comandante do exército de Davi, o exército de Judá. Esta mensagem se concentrará em Davi, em seu longo, e muitas vezes conturbado, caminho para se tornar o rei de todo Israel. As lições anteriores cobriram os capítulos 2 e 3 de II Samuel. Esta mensagem cobre os mesmos capítulos, só que agora com ênfase em Davi. Acrescentei mais um trecho: o capítulo 4 e mais cinco versículos do capítulo 5, porque é neles que Davi realmente se torna o rei de todo Israel.  

Do Aprisco De Belém À Cidade De Hebrom: Breve Revisão De I Samuel 15:1 A II Samuel 1:27

Deus está de relações cortadas com Saul. Saul O desobedeceu pela última vez. Seu reinado está condenado. Por isso, Samuel é despachado por Deus para Belém para ungir o substituto de Saul. Quando Samuel chega, Davi nem está lá, pois ninguém nunca imaginou que ele pudesse ser candidato a rei. Davi está fazendo o que os jovenzinhos de sua idade faziam: guardando o pequeno rebanho de ovelhas de seu pai (I Samuel 16:11, 17:28). Quando Samuel convoca Davi à sua presença e o unge, Davi deve se perguntar quanto tempo ainda levará para se tornar rei. A resposta é que levará muito tempo mais do que ele imagina, e será muito mais difícil também.

Estamos ainda em I Samuel 16, quando lemos que Saul escolhe Davi como seu músico particular e escudeiro (16:14-23). Davi está no palácio do rei. Com certeza, agora não deve demorar muito para ele governar Israel. Ele ainda é muito novo para ir para a frente de batalha e lutar contra os filisteus (pelo menos é o que parece), por isso, ele continua cuidando das ovelhas de seu pai e também confortando o rei Saul com sua música. Quando os filisteus atacam Israel, Golias, o campeão filisteu, desafia qualquer um a lutar com ele. Ele promete que o vencedor deste combate corpo a corpo levará tudo. E é assim que Davi chega para enfrentar Golias e o mata. Isso faz de Davi herói nacional num piscar de olhos.  O povo o ama, e o rei também (16:21, 19:5). Se é a música de Davi que acalma o espírito atribulado de Saul, é outra música, sobre Davi, que tira Saul do sério. Depois da vitória de Davi sobre Golias, as mulheres entoam esta canção:

“Saul feriu os seus milhares, porém Davi, os seus dez milhares.” (I Samuel 18:7)

A princípio, Saul guarda seu furor ciumento só para si. Ele procura causar a morte de Davi de modo que pareça um acidente. Ele atira a lança em Davi, mas as pessoas provavelmente atribuem isso a uma “insanidade temporária”. Depois ele procura se livrar de Davi fazendo com que ele seja morto em batalha. Ele designa Davi como comandante de mil (18:13), achando que o mesmo zelo que levou Davi a enfrentar Golias também o levará a se engajar em manobras militares “além da sua capacidade”, ocasionando assim a sua morte (sem mencionar a de seus homens). Tudo que Saul faz para destruir Davi só serve para aumentar o poder e a popularidade deste. Saul também oferece a ele uma de suas filhas por um pequeno dote de 100 prepúcios de filisteus. Ao invés de ser morto, Davi mata 200 filisteus, ganha uma esposa que o ama (mais do que o pai dela) e mais respeito e admiração de todos, menos de Saul.

Depois, o ciúme de Saul se torna público. Ele ordena a Jônatas e a todos os seus servos que Davi seja morto (19:1). Jônatas apela para Saul e Davi ganha uma pequena trégua (19:2-7); no entanto, quando surge outro conflito com os filisteus e Davi alcança novamente grande êxito em batalha, Saul tenta encravá-lo na parede com sua lança (19:8-10). Depois, ele manda seus homens à casa de Davi para prendê-lo, mas seus esforços são frustrados, principalmente por sua própria filha (19:11-17). Daí em diante, Davi mantém distância de Saul, recorrendo primeiramente a Samuel (19:18-24) e depois a Jônatas (20:1-42).

Fica muito claro para Davi que ele não deve mais tentar ficar perto de Saul, vivendo e trabalhando ao seu lado. Ele deve fugir e viver como fugitivo até que Deus resolva o problema. Por isso, ele foge primeiro para Nobe, onde recebe auxílio de Aimeleque, o sacerdote (21:1-9). Esse gesto de bondade custa a Aimeleque a própria vida e também a dos demais sacerdotes de Nobe e de suas famílias (22:6-19). Em seguida, Davi foge para Gate e depois para a caverna de Adulão, onde sua família, seus amigos e outras pessoas que caíram no desfavor de Saul se juntam a ele (22:1-5). Por diversas vezes Davi se vê em apuros, mas Deus sempre o livra das mãos de Saul. Durante esse tempo, em duas ocasiões, ele se arrisca para tentar uma reconciliação com Saul. Apesar de temporariamente arrependido, Saul continua a persegui-lo como inimigo. Embora Saul não mantenha as promessas feitas a Davi, Davi assume um compromisso que irá cumprir:

“Tendo Davi acabado de falar a Saul todas estas palavras, disse Saul: É isto a tua voz, meu filho Davi? E chorou Saul em voz alta. Disse a Davi: Mais justo és do que eu; pois tu me recompensaste com bem, e eu te paguei com mal. Mostraste, hoje, que me fizeste bem; pois o SENHOR me havia posto em tuas mãos, e tu me não mataste. Porque quem há que, encontrando o inimigo, o deixa ir por bom caminho? O SENHOR, pois, te pague com bem, pelo que, hoje, me fizeste. Agora, pois, tenho certeza de que serás rei e de que o reino de Israel há de ser firme na tua mão. Portanto, jura-me pelo SENHOR que não eliminarás a minha descendência, nem desfarás o meu nome da casa de meu pai. Então, jurou Davi a Saul, e este se foi para sua casa; porém Davi e os seus homens subiram ao lugar seguro.”

Poderíamos pensar que enquanto fugia de Saul, Davi não poderia servir a seu povo, mas isso não é verdade. Ele livra o povo de Queila do ataque dos filisteus (23:1-5). Enquanto está em Ziclague, ele faz contínuas investidas contra os inimigos de Israel; e também reparte os despojos com o povo das cidades de Judá (27:1-12; 30:26-31). Não é de admirar que a tribo de Judá seja a primeira a aceitar Davi como rei.

Embora pareça que Davi vai acabar lutando a favor dos filisteus e contra o seu próprio povo, Deus o tira de cena no último minuto (29:1-11). Ele volta a Ziclague e descobre que a cidade foi assaltada por um bando de saqueadores, suas esposas e suas famílias foram sequestradas e seus bens foram roubados. Isso o leva em missão para o sul, onde derrota os amalequitas e recupera tudo o que havia sido perdido. Davi e seus homens estão bem ao sul, enquanto a guerra dos filisteus com Saul e o exército de Israel está ao norte. É nessa batalha que Israel é derrotado e Saul e seus três filhos são mortos (30:1-31:13).

Davi e seus homens estão em Ziclague há dois dias, quando um amalequita chega ofegante do acampamento de Israel, de onde conseguiu escapar dos filisteus. Ele conta a Davi as más notícias da derrota de Israel e da morte de Saul e Jônatas. Quando Davi o pressiona para saber mais detalhes, o jovem afirma ter sido ele mesmo quem “misericordiosamente” deu fim ao sofrimento de Saul. Ele dá a Davi a coroa e o bracelete do rei, esperando sua gratidão e generosidade. Depois que Davi e seus homens lamentam a derrota e a morte de seus compatriotas, Davi manda executar o jovem por ele ter levantado a mão contra o ungido do Senhor (II Samuel 1:1-16). Depois, ele compõe um salmo de lamento que celebra o heroísmo de Saul e Jônatas. A canção deve ser ensinada a todos os filhos de Judá, os quais devem cantá-la em honra de seu rei e de seu filho Jônatas.

A Reação De Davi Aos Acontecimentos De II Samuel 2:1 A 5:5

Assim é, que Davi é designado substituto de Saul — como futuro rei de Israel — aproximadamente 15 anos antes dos acontecimentos de nosso texto. De humilde pastorzinho, guardador das ovelhas de seu pai, Davi passa a membro estimado da família e da casa de Saul, um homem de grande coragem e feitos militares. Isso não ocasiona a imediata morte de Saul ou a nomeação de Davi como seu substituto. Davi cai no desfavor do rei simplesmente devido à sua confiança em Deus, a sua lealdade ao rei e ao seu sucesso. Ele deixa de ser a “estrela em ascensão” de Israel, com quem todos desejam se associar, e se torna um fugitivo, com quem a maioria dos israelitas tem medo de andar para não incorrer na ira do rei. Davi passa por muitas experiências diferentes, as quais farão dele um rei melhor por tê-las enfrentado. Agora, ele está bem mais preparado para reinar em Israel. No entanto, Deus ainda não está disposto a torná-lo rei. Nesse sentido, Davi é muito parecido com Jacó, que ficou feliz quando conseguiu sua esposa depois de trabalhar para Labão, mas ficou sabendo que ainda tinha outros sete anos de serviço antes de poder ter tudo pelo que tanto esperara. Mesmo depois de ser ungido rei de Judá, Davi ainda tem de esperar mais sete anos inteiros para ser ungido rei de todo Israel. Vamos meditar nos acontecimentos que levaram ao cumprimento da unção profética feita por Samuel muitos anos antes e ver como Davi aprendeu a “esperar no Senhor”.

Após quase 15 anos de espera, a maior parte deles fugindo de Saul, Davi fica sabendo da morte do rei e de seus três filhos. Depois de lamentar suas mortes, Davi consulta o Senhor, procurando saber o que deve fazer em relação à morte de Saul. Deus indica que ele e seus homens devem retornar à cidade de Hebrom, no território de Judá. É lá que os homens daquela tribo ungem Davi como rei de Judá (II Samuel 2:1-4a).

O primeiro ato de Davi como rei de Judá é descrito em 2:4b-7. Talvez ele esteja procurando mais informações sobre a batalha contra os filisteus e sobre a morte de Saul. De uma forma ou de outra, dizem a ele que os homens de Jabes-Gileade agiram corajosamente resgatando o corpo de Saul, dando-lhe um sepultamento adequado. Davi reage como um rei deve reagir. Ele executa o amalequita que, por sua própria admissão, levantou a mão contra o ungido do Senhor. Agora, ele elogia os homens de Jabes-Gileade por arriscarem a vida para honrar Saul. Os feitos valorosos desses valentes são recompensados com o equivalente à concessão de uma medalha presidencial de honra ao mérito.

Preciso ressaltar também que Davi inclui na mensagem aos homens de Jabes-Gileade que ele foi ungido como rei pelo povo de Judá (2:7). Pode ser que isso seja uma forma indireta de mostrar sua disponibilidade para ser ungido em Israel também. Duvido que esse pensamento seja ofensivo ao povo de Jabes, ou a qualquer pessoa em Israel (exceto Abner - ver 3:17-19). Contudo, Davi não tenta forçar a situação, e realmente nada acontece.

A razão de Davi não ser ungido rei sobre todo Israel é Abner, primo de Saul e comandande das forças armadas de Israel (2:8-11). As ações de Abner sequer têm uma justificativa. Ele sabe que Deus designou Davi como o próximo rei de Israel, e o povo também (3:8-10, 17-19). Por isso, ou ele está tentando evitar ou está tentando retardar o reinado de Davi em lugar de Saul (e dos descendentes deste). Abner instala Isbosete como rei. Poucas pessoas tentariam discutir a questão com ele, um homem pessoalmente intimidador, sem mencionar as forças armadas sob seu comando. Quem ousaria se opor a ele ou a Isbosete?

Davi também não se opõe, não porque esteja com medo, ou porque não seja capaz. Ele não se opõe porque não quer, por princípio. Isbosete é descendente de Saul. Parece que ele adota o princípio estabelecido séculos depois pelo apóstolo Paulo:

“Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação.” (Romanos 13:1-2)

É difícil dizer que Isbosete tenha sido instalado como rei por exigência popular ou por razões e intenções piedosas de Abner. Parece que Abner está buscando seus próprios interesses com a nomeação de Isbosete. Davi, no entanto, admite que o filho de Saul seja de fato o rei e, por isso, que foi Deus, no final das contas, quem o colocou nessa posição de poder e autoridade. Davi não se oporá ao rei, nem mesmo para reinar em seu lugar. Além do mais, Davi fez uma promessa a Saul: a de não eliminar seus descendentes e não apagar seu nome da casa de seu pai. Ele não afastará Isbosete porque não poderá fazê-lo e continuar mantendo a palavra dada a Saul. Eis um homem de princípios, um homem que esperará mais sete anos só para manter sua palavra, só para esperar no Senhor.

Davi não aparece nenhuma vez dos versículos 2:12 a 3:11. Seu nome pode ser mencionado, mas ele não é um dos personagens principais. Os destaques são para Abner, comandante do exército de Israel, e Joabe, um dos homens de Davi e um dos comandantes das forças militares de Judá. Os dois concordam com um “embate” que leva não só 24 combatentes à morte, mas que também acarreta uma guerra declarada entre o povo de Judá e o povo de Israel. Ao que tudo indica, esse embate é totalmente despropositado, uma projeção egocêntrica da competitividade de Abner e Joabe. A guerra se arrasta, minando a unidade de Israel, causando morte e sofrimento desnecessários e culminando com o assassinato de Abner por Joabe.

Em muitos sentidos, esta é uma história bem sórdida. Os dois lados se encontram para um embate e muito sangue é derramado, levando à guerra declarada. Durante a batalha, Asael, irmão de Abisai e Joabe, está nos calcanhares de Abner. Abner não quer matá-lo, mas sabe que o jovem não vai desistir de sua perseguição. Finalmente, depois de não conseguir convencer Asael a deixar seu intento, Abner o mata. Isso não é considerado assassinato, pois é algo que ocorre durante a guerra. É quase um ato em defesa própria, mas Joabe jamais aceitará esse fato. Ele pretende se vingar.

O problema é que Davi e Abner põem fim à guerra. Abner está ficando cada vez mais ousado. Ele sempre foi o verdadeiro poder por trás dos bastidores, mas deixa todos os pretextos de lado quando toma para si a concubina de Saul. Este é um ato simbólico, virtualmente anunciando que ele está assumindo o lugar de Saul (ver I Reis 2:13-25; compare com Gênesis 35:22; 49:3-4). Isbosete considera essa atitude insuportável; por isso, reúne coragem para enfrentar Abner. Quando censurado por Isbosete, Abner explode. Ele acusa Isbosete de ingratidão e lhe diz que é ele, Abner, quem realmente está no comando. E aproveita a oportunidade para mudar de lado. A casa de Davi prevalece cada vez mais sobre a casa de Saul (3:1); na cabeça de Abner, já é tempo de mudar para o lado vencedor. Ele diz a Isbosete que agora vai dar seu apoio a Davi, para torná-lo rei. Abner, o articulador, fez Isbosete rei; agora, fará rei a Davi. Isbosete fica devidamente impressionado e amedrontado. Este é último protesto que fará contra Abner (3:6-11).

Abner, então, vai até Davi e se oferece para torná-lo rei. Ele afirma que está “no comando” e que, na verdade, o país é seu. Se Davi fizer aliança com ele, Abner fará o resto. Ele promete trazer todo Israel a Davi. Parece que, se tivesse vivido, Abner teria cumprido sua promessa. Antes de sua morte, ele se encontra com os líderes de ambos os lados. Em princípio, há um acordo. Tudo o que é preciso fazer é concluí-lo.

A morte “prematura” de Abner dá uma parada brusca nas coisas. Ele iria cumprir o que prometeu a Davi, e o que ele parece ter quase conseguido é subitamente interrompido por sua própria morte. Ele vai a Davi acompanhado de uma delegação. O acordo é feito. O cessar-fogo é declarado e a guerra entre Israel e Judá está formalmente encerrada. Por duas vezes em nosso texto é dito que Abner parte “em paz” (3:22, 23). Para mim, isso quer dizer que a guerra está terminada. Isso significa que Joabe não pode matar Abner de forma legítima; matá-lo agora será assassinato, pois não é mais tempo de guerra (ver I Reis 2:5).

Enquanto Davi está “fazendo a paz” com Abner, Joabe está fora “fazendo a guerra”. Ele conduz uma investida bem sucedida. Não está escrito contra quem é a ofensiva, mas é muito provável que seja contra os israelitas. Ao voltar, ele é informado de que Abner esteve lá, numa reunião com Davi, e que o deixaram ir embora em paz. Joabe fica furioso. Como Davi pode ser tão tolo a ponto de ser enganado por Abner? Será que ele não sabe que isso é um truque? Davi não dá ouvidos a Joabe e, depois de deixar Davi, Joabe manda seus soldados trazerem secretamente Abner à sua presença. Traiçoeiramente, ele dá um jeito de levar Abner a um lugar afastado e o mata.

Quando Davi fica sabendo do assassinato de Abner por Joabe, age com rapidez e determinação. Ele repudia publicamente a atitude de Joabe como algo execrável. Não há desculpas para o que ele fez. Davi condena o assassinato e invoca o juízo divino sobre Joabe e sua família (3:28-29). A seguir, ele lamenta a morte de Abner e cuida para que seu sepultamento seja honroso, mesmo que sua morte não tenha sido (sua morte foi como a de um perverso). Davi não só acompanha o féretro, chorando e entoando um cântico de lamento por Abner, mas também se recusa a comer durante o dia todo. Fica muito claro a todos que Davi não tem participação na morte de Abner. Todos sabem disso e aprovam sua atitude (3:31-39). O relacionamento entre Davi e o povo continua crescendo.

Creio que Deus providencialmente retira Abner de cena para que Davi não se torne rei graças a ele, um articulador, mas sim graças ao Rei Criador. As razões de Abner para trocar sua lealdade de Isbosete para Davi são questionáveis. Em alguns aspectos, parece que ele aborda Davi da mesma maneira que Satanás aborda nosso Senhor em Sua tentação (Mateus 4:1-11, Lucas 4:1-12). Como Satanás, Abner afirma que o reino que está oferecendo é realmente dele (compare II Samuel 3:12 com Lucas 4:5-7). Abner quer que Davi faça aliança com ele (II Samuel 3:12), mas quando Davi realmente se torna o rei de todo Israel, ele faz aliança com eles (o povo) “perante o Senhor” (II Samuel 5:3). De certo modo, vejo a oferta de Abner como um atalho, um caminho mais fácil para aquilo que Deus quer dar a Davi de outro jeito. Se é assim, a morte de Abner, e a consequente demora para Davi se tornar rei, faz sentido.

Quando Davi inicialmente aceita oferta de Abner, ele impõe uma condição: que Mical, sua esposa, lhe seja devolvida (II Samuel 3:13-15). A primeira esposa oferecida por Saul a Davi foi Merabe, mas Davi não aceitou a oferta. No entanto, a Mical ele aceitou. Ela lhe foi dada e, com certeza, o casamento foi consumado. Entretanto, depois que Davi cai em desgraça com o rei e foge para se salvar, Saul toma Mical e a dá por esposa a um homem chamado Palti (ver I Samuel 25:44).

Por que será que Davi quer tanto o retorno de sua esposa? Antes de mais nada, creio que seja por ela ser sua esposa. Davi não a leva junto com ele quando foge de Saul, mas ele se casou e viveu com ela como esposa. O fato de Saul a ter dado a outro homem não significa que ela deixa de ser esposa de Davi. Davi acredita na indissolução do casamento. Ela ainda é sua esposa e ele a quer de volta. Segundo, ele insiste para que Isbosete a devolva para ele. O pai de Isbosete, o rei Saul, tirou Mical de Davi; e já que Isbosete é quem governa em lugar de Saul, que concerte esse erro. Terceiro, se o embate entre os 12 homens de Abner e os 12 de Joabe dá início à guerra, a reunião de Davi e Mical unirá simbolicamente a casa de Davi e a casa de Saul. Davi quer Mical de volta porque ela ainda é sua esposa e ele a ama, e também porque isso é o melhor para seu próprio povo.

Com a morte de Abner, Isbosete perde totalmente a coragem. Se ele mal conseguia enfrentar Abner, enfrentar Davi, então, nem pensar. Agora, ele está por sua própria conta, sabedor de que Abner já instituiu Davi para reinar em seu lugar. Como informa nosso autor, Isbosete fica “tremendo na base” (como a gente costuma dizer) e Israel fica atônito. O que acontecerá agora?

Dois homens acham que são a solução para o problema. Ambos são da tribo de Benjamim e capitães de tropa de Israel (4:2). Seus nomes são Baaná e Recabe, filhos de Rimom. Para deixar as coisas bem claras: Isbosete é apenas um governante interino. Na verdade, ele não consegue governar sozinho, pois Abner era o cérebro e os músculos (soldados) de sua administração fantoche. No entanto, ei-lo aqui, um rei simbólico e fraco, governando uma nação cada vez mais enfraquecida. Davi já foi designado para reinar em todo Israel, e todos sabem disso, mas ninguém sabe como fazer para isso acontecer. E assim, os dois líderes chegam confiadamente à casa do rei em pleno meio-dia, fingindo estar à procura de trigo. O rei está tirando uma soneca quando eles entram no quarto e o matam. A seguir, eles cortam sua cabeça e viajam a noite toda até Hebrom para falar com Davi. Orgulhosamente, eles lhe mostram a cabeça do rei, filho de Saul, “inimigo de Davi”.

Eles não entendem nada. Não entendem a submissão de Davi a Deus e sua recusa em levantar a mão contra o ungido do Senhor (ou mesmo contra alguém feito rei de maneira não tão honrosa). Eles não entendem o amor de Davi por Saul ou seu compromisso de preservar a vida de seus descendentes e honrar seu nome (I Samuel 24:16-22). Eles não ouviram falar, pelas atitudes anteriores de Davi, que ele não está tão ansioso para se sentar trono a ponto tolerar a maldade daqueles que procuram matar o ungido de Deus.

“Porém Davi, respondendo a Recabe e a Baaná, seu irmão, filhos de Rimom, o beerotita, disse-lhes: Tão certo como vive o SENHOR, que remiu a minha alma de toda a angústia, se eu logo lancei mão daquele que me trouxe notícia, dizendo: Eis que Saul é morto, parecendo-lhe porém aos seus olhos que era como quem trazia boas-novas, e como recompensa o matei em Ziclague,  muito mais a perversos, que mataram a um homem justo em sua casa, no seu leito; agora, pois, não requereria eu o seu sangue de vossas mãos e não vos exterminaria da terra? Deu Davi ordem aos seus moços; eles, pois, os mataram e, tendo-lhes cortado as mãos e os pés, os penduraram junto ao açude em Hebrom; tomaram, porém, a cabeça de Isbosete, e a enterraram na sepultura de Abner, em Hebrom.” (II Samuel 4:9-12)

Novamente, Davi não é nenhum oportunista que irá usar de quaisquer meios para assentar-se no trono prometido por Deus. Nem fará vistas grossas quando outros intentarem o mal para facilitar sua ascendência ao trono. Davi é um homem que entende o que significa ser o rei de Deus:

“Nos lábios do rei se acham decisões autorizadas; no julgar não transgrida, pois, a sua boca.” (Provérbios 16:10)

“Assentando-se o rei no trono do juízo, com os seus olhos dissipa todo mal.” (Provérbios 20:8)

“O rei sábio joeira os perversos e faz passar sobre eles a roda.” (Provérbios 20:26)

“tira o perverso da presença do rei, e o seu trono se firmará na justiça” (Provérbios 25:5)

Nos primeiros cinco versículos de II Samuel 5, Davi é ungido rei de todo Israel. Finalmente! Finalmente mesmo! Tudo começou muitos anos antes, quando Davi ainda devia ser um adolescente. Para seu espanto, e para o de sua família, ele é ungido como o futuro rei de Israel. Quase 15 anos antes de ser ungido rei de Judá, e outros sete de todo Israel. No entanto, agora, finalmente, ele é rei. Na parte final desta mensagem, gostaria de deixar os detalhes de lado e dar uma olhada no cenário mais abrangente dado pelo autor desde I Samuel 16 até II Samuel 5.

Lições A Serem Aprendidas Com A Demora Do Reinado De Davi

1) Devemos começar observando que a promessa feita por Deus a Israel e a Davi (implícita na época em que Davi foi ungido por Samuel) levou muito tempo para ser cumprida. Davi se torna rei de Israel depois de uma considerável demora, e de muita adversidade. Esse é o tema de I Samuel 16:1 a II Samuel 5:5. Esse período da vida de Davi pode ser resumido em duas palavras: “tempo” e “problema”.

2) A demora para Davi se tornar rei de Israel não é incomum, mas é o jeito típico de Deus cumprir Suas promessas e Seus propósitos. Para ser mais sucinto: Deus não está com pressa. Deus tem todo o tempo do mundo. Na verdade, Deus é muito maior que o tempo e com certeza não é limitado por ele. Em toda a Bíblia vejo Deus prometendo coisas que os homens precisam esperar para receber:

·         Deus prometeu um filho a Abrão e Sarai, mas eles tiverem de esperar 25 anos para tê-lo.

·         Deus prometeu a Noé que haveria um dilúvio, mas isso demorou muito para acontecer.

·         Deus fez Jacó esperar durante 14 anos para ter a mulher que ele queria.

·         José teve de esperar um tempo considerável para ver seus irmãos e sua família, e não conseguiu voltar para sua terra senão depois de sua morte (seus ossos foram carregados para a terra prometida).

·         Os israelitas tiveram de esperar 430 anos no Egito, antes de voltarem para a terra prometida.

·         O escritor de Hebreus nos conta que todos os santos do Antigo Testamento tiveram de esperar por nós (os gentios?) antes de poderem ver o reino prometido (Hebreus 11:39-40).

·         Durante 2.000 anos os santos têm esperado a volta de nosso Senhor e a vinda do Seu reino.

Esperar é parte do desígnio divino. A espera não é um acidente, é um propósito.

3) Muitas pessoas fracassam na e obediência a Deus enquanto esperam: Esperar é uma forma de adversidade, um teste para nossa fé e perseverança.

“Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Porque os que falam desse modo manifestam estar procurando uma pátria. E, se, na verdade, se lembrassem daquela de onde saíram, teriam oportunidade de voltar. Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade.” (Hebreus 11:13-16)

“Pois que glória há, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, o suportais com paciência? Se, entretanto, quando praticais o bem, sois igualmente afligidos e o suportais com paciência, isto é grato a Deus.” (I Pedro 2:20)

Muitas das falhas que vemos na Bíblia estão relacionadas a espera. Tenho a impressão de que tudo começou bem no princípio, com Adão e Eva. Quanto mais penso na história da queda, mais concordo com a interpretação que vê a tentação e o pecado como tomar um atalho para alcançar uma coisa boa. O conhecimento do bem e do mal, em si mesmo, não é uma coisa ruim. Se Adão e Eva iriam se tornar “como Deus” conhecendo o bem e do mal, como, então, isso poderia ser ruim? É ruim ser como Deus? Não é isso o que Deus está fazendo conosco, conformando-nos a imagem de Cristo (Romanos 8:29)? Não seremos “como Ele” quando “O virmos como Ele é” (I João 3:2)? Davi não foi elogiado por “conhecer o bem e o mal” (II Samuel 14:17)? Salomão orou pedindo sabedoria para discernir entre “o bem e o mal” (I Reis 3:9). Os cristãos, pela obediência à Palavra de Deus, “têm a faculdade exercitada para discernir o bem e o mal” (Hebreus 5:14). Creio, no entanto, que Deus queria que Adão e Eva tivessem esse conhecimento, mas não pelo meio fácil e rápido de pegar às escondidas o fruto proibido. Não era errado conhecer o bem e o mal, mas sim conhecê-lo de uma forma que Deus havia proibido. Creio que Deus tinha um jeito melhor e mais lento para isso, mas eles preferiram o atalho. Eles não quiseram esperar no Senhor por esse conhecimento.

Abraão e Sara tinham de esperar pelo filho prometido e, pelo menos uma de suas falhas foi no campo da paciência, de esperar em Deus pelo cumprimento de Sua promessa. Não foi por isso que Abrão disse ser o damasceno Eliézer seu herdeiro (Gênesis 15:2)? Não foi por isso também que Abrão anuiu ao conselho de Sarai para ter o descendente prometido por meio de sua serva Agar (Gênesis 16:1-2)? Conforme descrito em Êxodo 32, os israelitas pecaram ao fazer o bezerro de ouro. Isto não ocorreu porque eles não quiseram esperar 40 dias pelo retorno de Moisés do Monte Sinai? Em I Samuel 13, o pecado de Saul não foi porque ele não quis esperar por Samuel? Não estavam os discípulos de nosso Senhor sempre perguntando pela vinda do Seu reino e tentando apressá-la? Não foi por não quererem esperar, que os onze apóstolos e outras pessoas se adiantaram e elegeram Matias em lugar de Judas, quando Jesus os tinha instruído a esperar “pela promessa do Pai” (Atos 1:4)?

A igreja de Corinto tinha muitos problemas. Um deles era no campo da espera. Eles não podiam esperar que Deus fizesse justiça, por isso, levavam uns aos outros ao tribunal (I Coríntios 6). Eles não podiam esperar pela chegada dos irmãos, por isso se adiantavam e se excediam na comida e na bebida durante as refeições, transformando a Ceia do Senhor numa farsa (I Coríntios 11). Eles não podiam esperar pelo cumprimento das promessas de Deus sobre uma espiritualidade plena, por isso admitiam professores e ensinamentos triunfalistas: você pode ter tudo hoje, não depois.

Não é de admirar que nosso Senhor tenha dedicado tanto tempo e atenção ensinando a Seus discípulos como se comportar enquanto esperassem Sua volta:

“Ficai também vós apercebidos, porque, à hora em que não cuidais, o Filho do Homem virá. Então, Pedro perguntou: Senhor, proferes esta parábola para nós ou também para todos? Disse o Senhor: Quem é, pois, o mordomo fiel e prudente, a quem o senhor confiará os seus conservos para dar-lhes o sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim. Verdadeiramente, vos digo que lhe confiará todos os seus bens. Mas, se aquele servo disser consigo mesmo: Meu senhor tarda em vir, e passar a espancar os criados e as criadas, a comer, a beber e a embriagar-se, virá o senhor daquele servo, em dia em que não o espera e em hora que não sabe, e castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os infiéis. Aquele servo, porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade será punido com muitos açoites. Aquele, porém, que não soube a vontade do seu senhor e fez coisas dignas de reprovação levará poucos açoites. Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão.” (Lucas 12:40-48)

4) Satanás muitas vezes ataca tentando tirar proveito da demora divina. Satanás tenta tranquilizar a mente do incrédulo mostrando que a demora divina é uma prova de que Deus não sabe, ou não se importa, quando pecamos:

“Amados, esta é, agora, a segunda epístola que vos escrevo; em ambas, procuro despertar com lembranças a vossa mente esclarecida, para que vos recordeis das palavras que, anteriormente, foram ditas pelos santos profetas, bem como do mandamento do Senhor e Salvador, ensinado pelos vossos apóstolos, tendo em conta, antes de tudo, que, nos últimos dias, virão escarnecedores com os seus escárnios, andando segundo as próprias paixões e dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? Porque, desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação.” (II Pedro 3:1-4)

Satanás procura minar a fé e a obediência dos filhos de Deus enganando-os a respeito da bondade divina quando Deus demora em atendê-los. Creio que foi isso o que Satanás fez com Adão e Eva no jardim do Éden. Creio também que este seja o cerne da tentação de nosso Senhor no início de Seu ministério terreno. Satanás disse ao Senhor: “Ok, sei que você é o Rei de Deus. Contudo, em vez de negar a si mesmo (obedendo a Deus e ficando 40 dias e 40 noites sem comer), por que não se serve? Por que não come agora? Por que entrar no seu reino com tanto sofrimento? Por que não me adora e eu lhe dou o reino agora mesmo? Não é assim que Satanás pensa e age?

Enquanto esperamos, Satanás quer nos fazer acreditar que as promessas de Deus jamais serão cumpridas. Ele procura nos levar a agir independentemente de Deus, conseguindo as coisas por nós mesmos, em vez de esperar que Deus as dê para nós. Satanás procura levantar dúvidas quanto a bondade de Deus, como se Deus estivesse retendo algo bom de nós por pura mesquinharia. Satanás age promovendo a desconfiança em Deus, especialmente em Sua Palavra. Ele nos leva a desobedecer a Deus e a seguir nosso próprio julgamento. Ele nos incita a aproveitar as ocasiões, usar meios questionáveis e usar os outros como meios de obter aquilo que desejamos.

5) Tempo de espera no Senhor é tempo de ter a é levada ao limite e a intimidade com Deus reforçada. Já perceberam como muitos Salmos foram escritos em tempos de espera? A pergunta “Até quando...”? é encontrada diversas vezes nos salmos, ou seja, “espera no Senhor”. Davi, muitas vezes, é o autor desses salmos de “espera”. Esperar no Senhor é bom para nós. Esperar nos ajuda a desenvolver a paciência e a tolerância. Faz com que exercitemos nossa fé nas promessas de Deus e ajamos com base na Sua Palavra, não em nossa vista. Esperar aumenta nosso apetite pelas coisas boas que Deus tem reservado para nós. Esperar requer negar os desejos carnais e deixar de lado o desejo de gratificação imediata pelo meio mais fácil. Esperar no Senhor é uma das maneiras de “tomarmos nossa cruz e segui-lO”.

6) Esperar no Senhor também consiste em pureza sexual. Hoje em dia há muita conversa sobre “sexo seguro” e bem pouca sobre abstinência. Isso acontece porque esperar pelos prazeres do sexo conjugal é um tabu. A virgindade é desdenhada como se fosse uma maldição, não um presente que um cônjuge oferece ao outro. Esperar no Senhor pelas alegrias e pelos prazeres do sexo conjugal aumenta a alegria e o prazer desta dádiva, se e quando Deus a der. O que desejo frisar é que a pureza sexual requer espera e a espera é uma boa parte daquilo que a vida cristã requer. Não devemos considerar este assunto como algo que Deus cruelmente retém de nós, mas como um presente muito bom, o qual estamos dispostos a esperar no Senhor para podermos desfrutar plenamente e sem culpa.

7) Alguns tipos de espera não são cristãs. Muitas vezes temos tendência a esperar quando deveríamos trabalhar e trabalhar quando deveríamos esperar. Esperar para fazer aquilo que sabemos que é certo, aquilo que Deus nos ordena a fazer, não é uma atitude cristã, é pecado (Tiago 4:17). Esperar para aceitar a salvação e o perdão dos pecados em Jesus é a pior coisa que existe (Hebreus 3:12-15). A espera que agrada a Deus consiste naquela em que Ele fez uma promessa que nós mesmos não podemos cumprir sem agir com incredulidade e desobediência à Sua Palavra.

8) Esperar não é, necessariamente, uma época de passividade. Já reparou no que as pessoas fazem enquanto estão esperando? Algumas não fazem absolutamente nada. Entretanto, noto que outras (não exatamente homens) fazem crochê ou bordam. Há coisas construtivas que se pode fazer enquanto se espera. Davi esperou mais de 20 anos para reinar sobre todo Israel, mas essa foi uma época bastante ocupada de sua vida. Ele fez muito mais do que simplesmente fugir para se salvar. Ele libertou o povo de Queila (I Samuel 23:1-5) e fez boas coisas para o povo de Judá (I Samuel 30:26-31). Uma das coisas que podemos fazer enquanto esperamos é louvar a Deus e orar, como Davi e outras pessoas fizeram nos salmos. Embora não possamos fazer aquilo que mais desejamos, podemos fazer aquilo que Deus nos oportunidade de fazer, enquanto esperamos nEle pelo cumprimento de Suas promessas e de Seus propósitos.

9) Esperar é uma parte significativa da vida de cada um de nós. Quando eu era jovem,  mal podia esperar pelo meu 16º aniversário para poder dirigir legamente. Mal podia esperar para crescer e ter todos os privilégios e liberdades de um adulto. Quando estava namorando, mal podia esperar pelo dia do casamento. Cada um de nós espera uma porção de coisas neste exato momento. Permitam-me citar apenas algumas:

·         Nossos jovens esperam para crescer e desfrutar dos direitos, privilégios e responsabilidades da vida adulta. Rebeliões na adolescência e sexo antes do casamento são tentativas de tomar um caminho mais curto que muitas vezes acaba causando um curto-circuito;

·         Alguns casais esperam ter filhos. A maioria dos pais tem de esperar pelo menos nove meses para ter um filho, e muitos deles têm de esperar muito mais;

·         Muitas pessoas esperam reconhecimento e recompensa por seu trabalho, enquanto outras tomam atalhos para serem promovidas;

·         Quase todos os cristãos passam por algum tipo de dor ou sofrimento em que têm de esperar por libertação;

·         Todos os cristãos esperam pela salvação de entes queridos, amigos ou parentes;

·         Todos nós nos encontramos esperando que Deus mude alguém a quem amamos ou que é próximo a nós;

·         Todos esperamos a vinda de nosso Senhor e de Seu reino;

·         Por mais estranho que pareça, uma porção de cristãos esperam pela morte. Há aqueles que não conseguirão esperar pelo tempo de Deus e escolherão o suicídio como meio de aliviar sua dor. Outros não conseguem suportar o sofrimento de seus entes queridos e escolhem a eutanásia. Todos conhecemos situações em que desejamos que o Senhor “os leve” ou “nos leve”, mas Deus nos diz para esperar.

10) Finalmente, tenha a certeza de que vale a pena esperar no Senhor. Se você quer uma refeição rápida, pode ir a um drive-through do McDonald’s e comprar um “Mc Lanche Feliz”. No entanto, se quer uma lauta refeição, sabe que terá de esperar um pouco. Grandes refeições não são preparadas de uma hora para outra, não importa o que digam os comerciais de TV. Nunca vi alguém colocando comida no micro-ondas porque achasse que ela ficaria mais saborosa do que se preparada no forno ou numa panela de barro. Usamos o micro-ondas quando queremos comer logo. Usamos o forno quando queremos comer bem. Os planos e as promessas de Deus não são comida de micro-ondas. Deus prepara lentamente Seus planos e Seu povo extraindo deles o que é melhor. Quase sempre você pode esperar que Deus o fará aguardar porque Ele tem o que é melhor para você. Ele nunca se atrasa, mas dificilmente se apressa. Contudo, posso lhe garantir: Quando o plano de Deus é que você espere, Ele vai fazer a espera valer a pena.

Aprendamos com Davi que esperar é uma parte normal da vida cristã. Seremos tentados a encurtar esta espera, mas ceder seria pecado. Muitas vezes, outras pessoas querem nos ajudar a tomar um atalho. Contudo, precisamos decidir de coração a ser como Davi e esperar no Senhor pelo cumprimento de Seus propósitos e de Suas promessas, no Seu tempo. Tenhamos certeza de que, enquanto esperamos, Deus está operando em nós, preparando-nos para as coisas boas que estão à nossa frente. Não duvidemos de que as veremos. E dediquemo-nos a fazer o bem que conhecemos e que somos capazes de fazer enquanto esperamos.

Tradução: Mariza Regina de Souza

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