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5. Os Frutos da Queda (Gênesis 4:1-26)

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Introdução

Quando pecamos, muitas vezes o fazemos na vã esperança de alcançar o máximo de prazer com um mínimo de punição. No entanto, raramente funciona desse jeito.

Certa vez ouvi a história de um homem que, junto com a esposa, resolveu ir a um drive-in movie para assistir a um filme. Eles acharam que o preço do ingresso era alto demais e bolaram um plano para tapear a administração do cinema. Ao se aproximarem do local, o marido desceu do carro e se enfiou no porta-malas. O combinado era que sua esposa o deixaria sair quando estivessem dentro cinema.

Tudo correu como planejado, pelo menos até passarem pelo vendedor de entradas. Mas, quando a esposa se dirigiu à traseira do carro para deixar o marido sair, descobriu que ele estava com a chave do porta-malas. Em desespero, ela teve de chamar o gerente, a polícia e o esquadrão de resgate. Além de eles não verem o filme, o porta-malas teve de ser arrombado. Assim é o caminho do pecado. O trajeto é curto, mas o preço é alto demais.

À primeira vista, pegar o fruto proibido e comê-lo parecia uma coisa sem importância, um delito qualquer. No entanto, Gênesis capítulo três deixa claro que esta foi uma questão da maior gravidade. O homem preferiu acreditar em Satanás a crer em Deus. Adão e Eva concluíram que Deus era desnecessariamente cruel e rigoroso. Eles resolveram buscar o caminho da autorrealização em vez do caminho da sujeição.

A serpente tinha sugerido, na verdade, tinha tido a ousadia de afirmar, que a desobediência a Deus não lhes traria nenhum prejuízo, só um nível de existência mais elevado. No entanto, no capítulo quatro de Gênesis, logo vemos que as promessas de Satanás foram mentiras descaradas. Aqui, o verdadeiro salário do pecado começa a aparecer.

O Fruto da Queda na Vida de Caim (4:1-15)

A união sexual de Adão e Eva gerou a primeira criança, um filho a quem Eva deu o nome de Caim. Esse nome provavelmente deve ser entendido como um jogo de palavras. Ele soa semelhante à palavra hebraica Qanah, que significa “conseguir” ou “adquirir”. Em termos atuais, esse filho provavelmente seria chamado de “Adquirido”.1

A implicação é que o nome reflete a fé que Eva tinha em Deus, pois ela disse: “Adquiri (Qaniti, de Qanah) um varão com o auxílio do Senhor” (Gênesis 4:1).

Embora haja alguma discussão entre os estudiosos da Bíblia quanto ao significado preciso dessa afirmação2, o fato é que Eva reconheceu a ação de Deus ao lhe dar um filho. Creio que ela compreendeu, pela profecia de Gênesis 3:15, que alguém da sua descendência traria sua redenção. Talvez ela visse Caim como seu redentor. Se foi isso, ela estava fadada ao desapontamento.

Mesmo que ela tenha se enganado em ter esperanças de alcançar uma rápida vitória sobre a serpente com o nascimento do seu primogênito, ela estava certa em esperar a libertação de Deus por meio da sua descendência. Portanto, ela estava certa no geral, mas enganada no particular.

À época do nascimento do seu segundo filho, Abel, o otimismo de Eva parece ter-se desvanecido. O nome dele significava “vaidade”, “sopro” ou “vapor”. Talvez Eva já tivesse aprendido que as consequências do pecado não seriam rapidamente eliminadas. A vida envolveria luta e uma boa dose de esforço aparentemente inútil. Caim foi o símbolo da esperança de Eva; Abel, do seu desespero.

Abel foi pastor de ovelhas, Caim, lavrador. Em parte alguma Moisés dá a entender que uma dessas ocupações fosse inferior à outra. Nem este relato é algum tipo de precursor dos programas de televisão que ficam discutindo o eterno conflito entre grandes pecuaristas e pequenos agricultores.

O problema de Caim não estava no seu meio de subsistência, mas na sua própria pessoa:

“Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao Senhor. Abel, por sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho, e da gordura deste. Agradou-se o Senhor de Abel e de sua oferta; ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou”. (Gênesis 4:3-5a)

Os israelitas que primeiramente leram estas palavras de Moisés tiveram pouca dificuldade em compreender qual foi o problema com o sacrifício de Caim. Eles receberam este relato como parte do Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia. Como tal, eles entenderam que um homem não poderia se aproximar de Deus sem o derramamento de sangue sacrificial. Embora houvesse sacrifícios sem sangue3, um homem só poderia ter acesso a Deus por meio de sangue derramado. A oferta de Caim não atendeu aos requisitos da lei de Deus.

Alguns poderiam objetar: “Mas Caim ainda não tinha essa revelação!” Absolutamente certo. No entanto, todos nós precisamos admitir que ninguém sabe qual era a revelação que ele tinha. Qualquer especulação sobre o assunto é somente isso — pura conjectura.

Tendo dito isto, devo ressaltar que não era necessário Moisés ter nos contado esta história. Seus contemporâneos tinham base mais que suficiente para compreender a importância do sangue derramado, devido às meticulosas prescrições da Lei sobre sacrifício e adoração. E os cristãos da nossa época têm a vantagem de ver o assunto mais claramente à luz da cruz e da compreensão de que Jesus é “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29).

Embora nós não saibamos qual a revelação dada por Deus a Adão ou a seus filhos, temos certeza de que eles sabiam o que deviam fazer. Isso fica claro nas palavras de Deus a Caim:

Então lhe disse o Senhor: Por que andas tão irado? e por que descaiu o teu semblante? Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo. (Gênesis 4:6-7)

A pergunta feita por Deus claramente implica que a raiva de Caim era infundada. Embora não conheçamos os detalhes envolvidos nesse “proceder bem”, Caim conhecia. Seu problema não era falta de instrução, era insurreição e rebelião contra Deus.

Caim, como muitas pessoas hoje em dia, queria se aproximar de Deus, mas queria fazer as coisas do jeito dele. Talvez isso funcione num carrinho de hambúrguer. Eles podem deixar que você faça do “seu jeito”, como diz o comercial, mas Deus não. Como diz um amigo, “você pode ir para o céu do jeito de Deus, ou pode ir para o inferno do jeito que quiser”.

Observe que Caim não era uma pessoa descrente. Ele acreditava em Deus, e queria Sua aprovação. Mas ele queria fazer as coisas nos seus termos, não nos termos de Deus. O inferno, como já disse, vai estar cheio de gente religiosa.

Caim não quis se aproximar de Deus por meio de sangue derramado. Ele preferiu oferecer a Deus o fruto do seu trabalho. Ele gostava do verde das plantas, e mãos vermelhas de sangue não eram a sua praia. Os homens de hoje não são muito diferentes dele. Há muita gente que, como os demônios (cf. Tiago 2:19), acredita em Deus e reconhece que Jesus é o Filho de Deus. Contudo, essas pessoas não querem se sujeitar a Ele como Senhor. Elas não aceitam Sua morte sacrificial e substitutiva na cruz como pagamento por seus pecados. Elas querem se aproximar de Deus nos seus próprios termos. A mensagem do Evangelho é bastante clara: ninguém pode ir a Deus, a não ser por meio daquilo que Jesus conquistou na cruz com a Sua morte.

Jesus lhe disse: Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim. (João 14:6)

E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos. (Atos 4:12)

Com efeito, quase todas as cousas, segundo a lei, se purificam com sangue, e sem derramamento de sangue, não há remissão. (Hebreus 9:22)

... mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo. (1 Pedro 1:19, cf. também Lucas 22:30; Atos 20:28; Romanos 3:25; 5:9; Efésios 1:7)

Como Deus foi gracioso buscando Caim e gentilmente confrontando-o com sua raiva pecaminosa! Como foi clara Sua mensagem de restauração e Sua advertência sobre o perigo que rodeava Caim! Mas o conselho de Deus foi rejeitado.

Certa vez, um amigo meu chamou minha atenção para a sabedoria da repreensão de Deus. Teria sido muito fácil para Ele corrigir Caim comparando-o com Abel. É assim que nós, pais, muitas vezes disciplinamos nossos filhos. No entanto, Deus não disse: “Por que você não me adora igual ao seu irmão?” Em vez disso, Ele mostrou a Caim o padrão que Ele havia estabelecido, não o exemplo de seu irmão. Mesmo assim, Caim fez a ligação. Sua oferta não foi aceita, a de Abel foi. Deus gentilmente o repreendeu e lhe disse que o jeito de receber Sua aprovação era submetendo-se ao padrão divino de acesso a Ele. Caim concluiu que a solução era eliminar a concorrência — e assassinar seu irmão.

Uma coisa precisa ficar clara. O problema não foi só o sacrifício. O problema maior encontrava-se na pessoa que procurou apresentar a oferta. Moisés nos diz:

Agradou-se o Senhor de Abel e de sua oferta; ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou. (Gênesis 4:4b-5a)

A fonte do problema estava em Caim, o sacrifício foi só o sintoma.

O versículo 7 é cheio de implicações:

Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo. (Gênesis 4:7)

A maneira de superar a depressão era Caim mudar de atitude. Ele se sentiria melhor quando procedesse melhor. Em certo sentido, Caim estava certo em zangar-se consigo mesmo. No que ele não estava certo era na sua animosidade contra o irmão e contra Deus.

Se ele preferia ignorar o leve cutucão de Deus, então que estivesse plenamente ciente dos perigos à sua frente. O pecado esperava por ele como um animal à espreita. Ele queria controlá-lo, mas Caim devia dominá-lo4. Caim tinha de enfrentar uma decisão e ser responsável por sua escolha. Ele não precisava sucumbir ao pecado, assim como nós também não precisamos, pois Deus sempre nos dá graça suficiente para resistir à tentação (1 Coríntios 10:13).

Quando os dois homens estavam em campo aberto (aparentemente, onde não havia testemunhas, cf. Deuteronômio 22:25-27), Caim matou o irmão. Deus, então, foi até ele para julgá-lo:

Disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? Ele respondeu: Não sei; acaso sou eu tutor de meu irmão? (Gênesis 4:9)

A insolência de Caim é inacreditável. Ele não apenas mente quando nega saber o paradeiro do irmão, como também parece censurar a Deus pela pergunta. Talvez haja até mesmo um jogo sarcástico de palavras, dando a impressão de: “Sei lá. Será que tenho de pastorear o pastor?”5

Antes, o solo tinha sido amaldiçoado por causa de Adão e Eva (Gênesis 3:17). Agora é a terra que é manchada com o sangue de um homem, derramado por seu próprio irmão. Esse sangue agora clama a Deus por justiça (4:10). Deus, então, confronta Caim com seu pecado. O tempo para arrependimento já passou e agora a sentença é dada a Caim pelo Juiz da terra.

Não é o solo que é amaldiçoado de novo, mas Caim:

És agora, pois, maldito por sobre a terra, cuja boca se abriu para receber de tuas mãos o sangue de teu irmão. Quando lavrares o solo, não te dará ele a sua força; serás fugitivo e errante pela terra. (Gênesis 4:11-12)

Caim tinha sido abençoado com um “gosto por plantas”. Ele tentou se aproximar de Deus com o fruto do seu trabalho. Agora Deus o amaldiçoa justamente na área da sua especialidade e do seu pecado. Nunca mais ele seria capaz de se sustentar pelo cultivo do solo. Enquanto Adão teve de obter seu sustento com o suor do seu rosto (3:19), Caim não ia poder nem sobreviver da agricultura. Para ele, a maldição do capítulo três foi intensificada. Para Adão, a agricultura foi difícil; para Caim, foi um desastre.

A reação de Caim à primeira repreensão de Deus foi sombria e silenciosa, seguida de pecado. Agora, após sua sentença ter sido pronunciada, ele não está mais calado, mas não há sinal de arrependimento, só de pesar.

Então, disse Caim ao Senhor: É tamanho o meu castigo, que já não posso suportá-lo. Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua presença hei de esconder-me; serei fugitivo e errante pela terra; quem comigo se encontrar me matará. (Gênesis 4:13-14)

Suas palavras soam familiares a qualquer pai. Às vezes, uma criança fica realmente triste por causa da sua desobediência. Em outras, no entanto, só fica triste por ter sido pega, lamentando amargamente o duro castigo que vai receber. A única coisa que Caim faz é repetir com amargor a sua sentença, expressando o medo de que os homens o tratem da mesma forma com que ele tratou seu irmão.

Deus lhe garante que, embora a vida humana valesse pouco para Caim, Ele (Deus) a valorizava muito. Ele não permitiria nem que o sangue de Caim fosse derramado6. Não podemos dizer com certeza qual a natureza exata do sinal designado para Caim. Talvez fosse uma marca visível, mas o mais provável é que tenha sido algum tipo de acontecimento confirmando que Deus não o deixaria ser morto.7

O versículo 15 tem duplo propósito. O primeiro é garantir a Caim que ele não sofreria uma morte violenta pelas mãos de um homem. O segundo é uma clara advertência a quem quer que pensasse em tirar sua vida. Observe que as palavras “assim, qualquer que matar a Caim será vingado sete vezes” (Gênesis 4:15) não são ditas a Caim, mas de Caim. Deus não disse: “qualquer que o matar”, mas “qualquer que matar a Caim”.

Em seguida, temos uma genealogia parcial da linhagem de Caim. Creio que Moisés a usou para mostrar sua impiedade (e a pecaminosidade do homem iniciada na Queda) em seus descendentes, e para servir de contraste com a genealogia de Adão por meio de Sete no capítulo cinco.

Caim habitou na terra de Node. Depois do nascimento de seu filho, Enoque, ele deu este nome a uma cidade que edificou. Parece que fundar essa cidade foi um ato de rebelião contra Deus, O qual tinha dito que ele seria fugitivo e errante (4:12).

Lameque manifesta o nível mais baixo atingido pela raça humana.

Lameque tomou para si duas esposas: o nome de uma era Ada, a outra se chamava Zilá.  Ada deu à luz a Jabal; este foi o pai dos que habitam em tendas e possuem gado. O nome de seu irmão era Jubal; este foi o pai de todos os que tocam harpa e flauta. Zilá, por sua vez, deu à luz a Tubalcaim, artífice de todo instrumento cortante, de bronze e de ferro; a irmã de Tubalcaim foi Naamá. E disse Lameque às suas esposas: Ada e Zilá, ouvi-me; vós, mulheres de Lameque, escutai o que passo a dizer-vos: Matei um homem porque ele me feriu; e um rapaz porque me pisou. Sete vezes se tomará vingança de Caim, de Lameque, porém, setenta vezes sete. (Gênesis 4:19-24).

Ele parece ser a primeira pessoa a se afastar do ideal divino para o casamento descrito no capítulo dois. Uma esposa não era suficiente para ele, por isso Lameque teve duas, Ada e Zilá.

Seria de esperar que Moisés só tivesse palavras de condenação para Lameque. Com certeza, nada de bom poderia vir de tal homem. No entanto, é de seus descendentes que vêm as grandes contribuições culturais e científicas. Um filho tornou-se o pai dos pastores nômades, outro foi o primeiro de uma linhagem de músicos, e o terceiro foi o primeiro dos grandes artífices de metal.

Precisamos fazer uma pausa para dizer que mesmo o homem no seu pior estado não é incapaz de produzir aquilo que é considerado benéfico à raça humana. É preciso dizer também que as contribuições humanas podem rápida e facilmente ser adaptadas para a ruína do próprio homem. A música pode atrair e levar os homens ao pecado. A habilidade dos artífices em metal pode ser usada para produzir utensílios de pecado (ídolos, por exemplo, cf. Êxodo 32:1 e ss).

Para ímpios, a linhagem de Caim foi origem de muitas coisas louváveis. Mas os verdadeiros frutos do pecado são revelados nas palavras de Lameque às suas esposas. Adão e Eva tinham pecado, mas o arrependimento e a fé estavam implícitos depois de receberem sua sentença. Caim matou Abel, seu irmão, e, embora não tenha se arrependido totalmente, ele não pôde justificar sua atitude.

Lameque nos leva ao ponto da história humana onde o pecado não é apenas cometido com descaramento, mas com prepotência. Ele se vangloria de seu assassinato para suas esposas. Mais do que isso, ele se gaba de seu pecado ter sido cometido contra um rapaz que simplesmente o feriu. Esse assassinato foi brutal, ousado e intempestivo. Pior ainda, Lameque demonstra desdém e desrespeito para com a Palavra de Deus: “se Sete vezes se tomará vingança de Caim; de Lameque, porém, setenta vezes sete” (Gênesis 4:24).

Deus tinha dito essas palavras para garantir a Caim que ele não seria morto pelas mãos de um homem. Ele também notificou aos homens a gravidade desse ato. Tais palavras foram pronunciadas para mostrar o fato de que Deus dá valor à vida humana. Lameque as torceu e distorceu para ostentar sua violenta e agressiva hostilidade contra o homem e contra Deus. Eis um homem que estava indo direto para o fundo do poço!

Um Vislumbre de Graça (4:25-26)

Em Romanos capítulo cinco, o apóstolo Paulo tem muito a dizer sobre a queda do homem no livro de Gênesis. Contudo, nesse mesmo capítulo, encontramos estas palavras de esperança: “mas onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Romanos 5:20).

O pecado certamente abundou na linhagem de Caim, mas o capítulo não termina sem um vislumbre da graça de Deus.

Tornou Adão a coabitar com sua mulher; e ela deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Sete; porque, disse ela, Deus me concedeu outro descendente em lugar de Abel, que Caim matou. A Sete nasceu-lhe também um filho, ao qual pôs o nome de Enos; daí se começou a invocar o nome do Senhor. (Gênesis 45-26)

Eva tinha esperança de que a salvação viesse por meio do seu primeiro filho, Caim, o que, com certeza, não viria dele, nem de seus descendentes. Nem poderia vir de Abel. No entanto, outro filho foi dado a ela, cujo nome, Sete, significa “designado”. Ele não foi só um substituto para Abel (versículo 25), ele foi o descendente por meio de quem nasceria o Salvador.

Sete também teve um filho, Enos. Começava a ficar claro que a libertação esperada por Adão e Eva não viria logo, mas, apesar de tudo, viria. E foi assim que naqueles dias os homens começaram “a invocar o nome do Senhor” (versículo 26). Entendo que este seja o início do culto coletivo.8 Em meio a uma geração perversa e deformada havia um remanescente fiel que confiava em Deus e esperava pela Sua salvação.

Conclusão

O Novo Testamento é, sem dúvida, o melhor comentário sobre este capítulo, além de nos informar sobre seus princípios e aplicações práticas.

Esta narrativa não é simplesmente um registro da história de dois homens que viveram há muito tempo, num lugar longínquo. Minha Bíblia me diz que esta é uma descrição de dois caminhos, o caminho de Abel e o caminho de Caim.

Ai deles! Porque prosseguiram pelo caminho de Caim, e, movidos de ganância, se precipitaram no erro de Balaão, e pereceram na revolta de Coré. (Judas 11)

Judas adverte seus leitores acerca dos falsos crentes (versículo 4). Eles não são salvos, mas se esforçam para se passar por crentes e perverter a verdadeira fé, afastando os homens de experimentar a graça de Deus. No versículo 11 tais homens são descritos como sendo como Caim. Eles são como ele no sentido de serem rebeldes que se escondem sob a bandeira da religião.

Gostaria só de dizer que o mundo de hoje está cheio de religião, e o inferno estará cheio de gente carola. No entanto, há uma diferença substancial entre quem é justo e quem é apenas religioso. Quem é realmente salvo, como Abel, se achega a Deus como pecador e sabe que só é salvo por causa do sangue derramado do perfeito Cordeiro de Deus, o Senhor Jesus Cristo. Todos os outros tentam ganhar a aprovação de Deus oferecendo o trabalho de suas mãos. O “caminho de Caim” é uma fila interminável de quem quer alcançar o céu “do seu próprio jeito” e não do jeito de Deus.

A ironia do caminho de Caim é que ele é claramente marcado. Embora quem o siga pareça oferecer a Deus boas obras, o seu coração é corrupto.

Porque a mensagem que ouvistes desde o princípio é esta: que nos amemos uns aos outros; não segundo Caim, que era do Maligno e assassinou a seu irmão, e por que o assassinou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas. (1 João. 3:11-12)

Os perversos não conseguem suportar quem é verdadeiramente justo. Eles proclamam amor fraternal, mas não o praticam. Não é de admirar, então, que os líderes religiosos da época de Jesus O tenham rejeitado e entregado à morte com o auxílio dos gentios. Foi isso o que João explicou no seu evangelho.

A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela... a saber, a verdadeira luz que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem. O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não O conheceu. Veio para o que era Seu e os Seus não O receberam. (João 1:4-5; 9-11)

Para aqueles que andam no caminho de Caim há pouca razão para esperança. Talvez existam ganhos ilusórios de cultura ou tecnologia, mas, no final das contas, eles vão ter a mesma sorte de Caim. Vão passar seus dias longe da presença de Deus e vão perceber, finalmente, que seus dias na terra foram cheios de tristeza e pesar.

Nós, porém, podemos nos regozijar, pois há um caminho melhor, o caminho de Abel.

Pela fé, Abel ofereceu a Deus, mais excelente sacrifício do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser justo, tendo a aprovação de Deus quanto às suas ofertas. Por meio dela, também mesmo depois de morto, ainda fala. (Hebreus 11:4)

Para que dessa geração se peçam contas do sangue dos profetas, derramado desde a fundação do mundo; desde o sangue de Abel até ao de Zacarias, que foi assassinado entre o altar e a Casa de Deus. Sim, eu vos afirmo, contas serão pedidas a esta geração. (Lucas 11:50-51)

E a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão que fala cousas superiores ao que fala o próprio Abel. (Hebreus 12:24)

O que fez a diferença entre Caim e Abel foi a fé. Abel não confiou em si mesmo, mas em Deus. Seu sacrifício foi um sacrifício melhor porque evidenciava sua fé e refletia que seu alvo era Deus. Sem dúvida ele também tinha alguma compreensão do valor do sangue derramado de uma vítima inocente.

Mas Abel foi mais do que um exemplo de crente primitivo, ele foi, de acordo com nosso Senhor, um profeta. Talvez também pelos lábios, mas com certeza pelas suas obras ele proclamou ao irmão o caminho de acesso a Deus. Ele também foi profeta quando predisse em sua morte o destino de muitos que viriam tempos depois para pregar a palavra de Deus aos não crentes.

Embora Deus tenha valorizado o sangue de Abel que foi derramado pela sua fé, esse sangue não deve ser comparado àquele mais excelente que foi derramado por Jesus Cristo. O sangue de Abel foi um testemunho de fé. O sangue de Cristo é o agente purificador pelo qual os homens são purgados de seus pecados e libertos do castigo da eterna separação de Deus. Você já depositou sua fé no sangue de Jesus como meio de Deus, o único meio, para purificá-lo de seus pecados? Por que não faz isso hoje mesmo?

Tradução e Revisão: Mariza Regina de Souza


1 Cf. H. C. Leupold, Exposition of Genesis (Grand Rapids: Baker‑Book House, 1942), I, p. 189.

2 Literalmente, Eva replicou: “Consegui um filho, o Senhor”. Será que ela acreditava ter gerado o Salvador? Claro, isso é possível. Mas, o mais provável é que ela tenha reconhecido que Deus lhe deu a capacidade de dar à luz uma criança, uma criança por meio da qual sua libertação pudesse chegar rapidamente.

3 “A oferta aqui é minha, que nas relações humanas era um presente de admiração ou de lealdade e, como termo ritual, poderia descrever um animal ou, com mais freqüência, uma oferta de cereais (p. e.  I Sm. 2:17; Lv. 2:1)” Derek Kidner, Genesis: An Introduction and Commentary (Chicago: Inter-Varsity Press, 1967), p. 75

4 Estas palavras são quase idênticas às do versículo 16 do capítulo três: “Teu desejo será para o teu marido, e ele te governará”. Será que Deus está sugerindo que a mesma tentação (ou, pelo menos o mesmo tentador) que Adão e Eva não conseguiram resistir é agora enfrentada por Caim?

5 Gerhard VonRad, Genesis (Philadephia: The Westminster Press, 1972), p. 106.

6 A pena capital só foi instituída por Deus no capítulo nove. Parece que “uma sentença de vida” como errante e vagabundo seria maior punição para Caim do que condená-lo à morte.

7 VonRad sugere uma tatuagem ou algo semelhante (página 107). A mesma palavra para sinal é encontrada em 9:13 e 17:11.

8 “Já que esse invocar pelo uso do nome definitivamente implica em adoração pública, temos aqui o primeiro registro de um culto público regular. Pressupõe-se que o culto particular seja anterior. A grande importância da adoração pública, tanto no caso de necessidade pessoal, como em caso de confissão pública, é lindamente estabelecida por este breve registro.” Leupold, p. 228.

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