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16. A Libertação Divina de Davi (I Samuel 18:30 - 19:24)

Introdução

Queria começar esta mensagem comparando Davi a um gato, o qual, dizem, tem “sete vidas”. Mas isso não seria apropriado para Davi, pois parece que ele tem muitas “vidas” mais. Em apenas dois capítulos (I Samuel 18 e 19), Saul tenta matá-lo, pelo menos, doze vezes:

18:11 Saul atira sua lança em Davi duas vezes

18:13 Saul constitui Davi como comandante de 1000 homens, esperando que ele seja morto

18:17 Merabe é oferecida a Davi, se ele “lutar as batalhas do Senhor como um valente”

18:20f. Mical é oferecida a Davi por 100 prepúcios de filisteus e ele traz 200

19:1 Saul ordena que Jônatas e seus servos matem Davi

19:10 Saul arremessa a lança em Davi novamente

19:11f Saul envia mensageiros à casa de Davi para matá-lo

19:18f Saul envia três grupos de homens a Ramá para pegar Davi, indo, depois, ele mesmo

No capítulo 20, Saul não só continua tentando matar Davi, mas também arremessa sua lança em Jônatas por defendê-lo (20:33). No capítulo 22, Saul mata Aimeleque e toda a casa de seu pai (exceto um) e depois aniquila aqueles que vivem em Nobe, a cidade dos sacerdotes.

Não posso evitar, mas acho que se Saul tivesse se empenhado para matar os inimigos de Israel (como os filisteus) como se empenhou para matar seus servos leais (tais como Davi, Jônatas e Aimeleque), ele teria sido um grande rei e líder militar. Em seu estado mental desordenado, seus maiores aliados são considerados inimigos e seus inimigos se tornam seus aliados (para matar Davi). Saul se torna um homem extremamente paranóico. Ele teme seu servo mais leal, Davi, o qual não matará seu rei nem mesmo quando tem o que parece ser a oportunidade perfeita para isso. Inicialmente Saul procura esconder sua animosidade, seu ciúme e seu ódio de Davi, mas isto acaba no primeiro versículo do capítulo 19. Daí em diante Saul atenta abertamente contra a vida de Davi e qualquer um que ele ache que o apóie ou defenda.

Nosso texto descreve quatro libertações divinas de Davi das mãos do rei Saul. A primeira é descrita nos versos 1 a 7, quando Jônatas censura seu pai e argumenta com ele sobre sua reação ao sucesso de Davi. A segunda está registrada nos versos 8 a 10, quando Saul, providencialmente, não acerta sua lança em Davi. A terceira vem de Mical, a esposa de Davi e filha de Saul. Ela desce Davi pela janela e depois engana seu pai e seus servos para dar tempo a Davi de escapar. Finalmente, há a libertação religiosa de Davi por meio de Samuel e as profecias dos homens enviados por Saul em sua captura, nos versos 18 a 24.

Esta mensagem será pregada na manhã do domingo que antecede o Natal. Alguns podem estranhar a razão pela qual farei isto, uma vez que a passagem parece não ter nada a ver com a festividade que estamos prestes a comemorar. Permitam-me assegurar-lhes que a estreita relação entre este texto e a história do Natal não é forçada. Atentando às palavras de nosso texto, aprenderemos o que existe em Saul que é tão contraditório ao espírito do Natal e, na realidade, ao espírito cristão. Nosso texto é importante para aqueles que conhecem a Cristo como Salvador e para aqueles que precisam conhecê-Lo desta forma.

Salvo pela Razão
(18:30 - 19:7)

“Cada vez que os príncipes dos filisteus saíam à batalha, Davi lograva mais êxito do que todos os servos de Saul; portanto, o seu nome se tornou muito estimado. Falou Saul a Jônatas, seu filho, e a todos os servos sobre matar Davi. Jônatas, filho de Saul, mui afeiçoado a Davi, o fez saber a este, dizendo: Meu pai, Saul, procura matar-te; acautela-te, pois, pela manhã, fica num lugar oculto e esconde-te. Eu sairei e estarei ao lado de meu pai no campo onde estás; falarei a teu respeito a meu pai, e verei o que houver, e te farei saber. Então, Jônatas falou bem de Davi a Saul, seu pai, e lhe disse: Não peque o rei contra seu servo Davi, porque ele não pecou contra ti, e os seus feitos para contigo têm sido mui importantes. Arriscando ele a vida, feriu os filisteus e efetuou o SENHOR grande livramento a todo o Israel; tu mesmo o viste e te alegraste; por que, pois, pecarias contra sangue inocente, matando Davi sem causa? Saul atendeu à voz de Jônatas e jurou: Tão certo como vive o SENHOR, ele não morrerá. Jônatas chamou a Davi, contou-lhe todas estas palavras e o levou a Saul; e esteve Davi perante este como dantes.”

Uma coisa que Saul não suporta em seus servos é o sucesso. Como Satanás, Saul não admite ficar em segundo plano (ver Isaías 14; Ezequiel 28). Assim, quando os comandantes israelitas saem à batalha, Davi está entre eles (ver 18:13) e se sai melhor do que todos eles (18:30). Sem nenhuma pretensão, a fama de Davi continua a crescer. Sua sabedoria (sem dúvida produto do Espírito Santo, ver 16:13) o distingue dos demais comandantes. Ele é muito querido.

É justamente isso o que Saul mais teme. Abandonando suas táticas de capa e espada, ele dá ordens a seus servos - incluindo Jônatas - para matar Davi. Jônatas fez uma aliança com Davi, a qual, com toda a certeza, não pretende quebrar. Mas a verdadeira razão para ele não fazer nenhum mal a Davi é por ser “mui afeiçoado a ele”. Proteger Davi é mais do que um dever para Jônatas; ele se deleita em Davi. Jônatas realmente ama Davi como a si mesmo (18:1). Portanto, ele começa a reverter a ordem de seu pai para matá-lo. Se for necessário, Jônatas transgredirá esta ordem, mas ele prefere argumentar com seu pai para revogá-la. Nos versos 1 a 7 ele consegue seu intento.

Primeiro Jônatas previne Davi sobre as ordens de seu pai. Ele insiste para Davi ficar alerta e se esconder até que ele fale com seu pai. Estranhamente, ele diz a Davi que irá se encontrar com seu pai exatamente no mesmo lugar onde Davi deve se esconder (versos 2 e 3). Será que isto é para que Davi observe a coisa toda? Será que Jônatas quer garantir a Davi que nada acontecerá pelas suas costas? Além disso, ele promete informar Davi sobre o resultado da discussão.

A maneira como Jônatas lida com seu pai a favor de Davi é um modelo para nós em diversos aspectos. Primeiro, encontramos aqui o exemplo de um amigo que ama o próximo como a si mesmo. Confrontar (ou deveríamos dizer “contradizer”) Saul é um negócio perigoso (ver 16:2, 4; 20:33; 22:11-19); mesmo assim, ele o faz. Segundo, Jônatas se submete, e a seus interesses pessoais (o trono, por exemplo), aos interesses de Davi (ver 23:17). Terceiro, Jônatas é um filho fiel e submisso a seu pai. Ele o aborda diretamente e lhe fala com respeito. Ele fala bem de Davi. Por um lado, Jônatas suplica pela vida de Davi; por outro, suplica que seu pai faça aquilo que é melhor para ele mesmo. Ele relembra a Saul que Davi é seu servo mais fiel e dedicado, cujas ações sempre o beneficiaram. Ele também o relembra que, quando Davi matou Golias, o próprio Saul se regozijou com a vitória, pois também era a sua vitória (19:5). Agir de maneira hostil contra Davi não seria justo ou sábio, e ainda pior, seria pecado, pois seria derramar sangue inocente (19:4-5).

Por ora, Saul é persuadido pelos argumentos de Jônatas. Ele jura que “tão certo como vive o SENHOR” Davi não será morto (verso 6). Não é uma promessa que durará muito tempo, mas é uma admissão de culpa, temporária e parcial, da parte de Saul, e uma confissão da inocência de Davi. Jônatas chama Davi, fala sobre o encontro com seu pai e o resultado, e depois o leva à presença dele. Por algum tempo, pelo menos, as coisas são como costumavam ser (verso 7).

Um Resgate Providencial
(19:8-10)

“Tornou a haver guerra, e, quando Davi pelejou contra os filisteus e os feriu com grande derrota, e fugiram diante dele, o espírito maligno, da parte do SENHOR, tornou sobre Saul; estava este assentado em sua casa e tinha na mão a sua lança, enquanto Davi dedilhava o seu instrumento músico. Procurou Saul encravar a Davi na parede, porém ele se desviou do seu golpe, indo a lança ferir a parede; então, fugiu Davi e escapou.”

Parece que Saul quer as duas coisas: não parece ansioso para sair com seus homens e lutar com os filisteus; mas, quando Davi sai contra eles e volta como herói, ele se enche de fúria e ciúmes. Não há indicação de que Saul vá à guerra contra os filisteus, mas sabemos que Davi vai e obtém uma vitória importante (verso 8). Isso acarreta uma reprise literal do capítulo 18, versos 6 a 9. O “espírito maligno da parte do Senhor” se apossa de Saul, que está sentado em sua casa com a lança na mão. (Davi também está na casa, com a harpa nas mãos - verso 9). Cheio de ciúmes, Saul tenta encravar Davi na parede com sua lança, mas Davi, de alguma forma, se desvia e foge de sua presença na escuridão da noite, escapando da morte uma vez mais (verso 10).

A estreita relação entre o ciúme de Saul e a possessão do “espírito maligno da parte do Senhor” no verso 9 é digna de nota. Sabemos que este “espírito maligno da parte do Senhor” se apossa de Saul com a saída do Espírito Santo (16:14-15). Também sabemos que este espírito não possui Saul da mesma forma todas as vezes. Anteriormente, quando o espírito vinha sobre ele, Davi era convocado para tocar sua harpa e o espírito se afastava (16:23). Embora saibamos que a harpa tocada por Davi fazia o espírito deixar Saul, não é dita a razão pela qual o espírito se apossava dele. O ciúme e a fúria de Saul poderiam ser a causa da possessão do espírito, talvez até mais do que uma conseqüência. Quando Saul estivesse “cheio” de ciúmes ou de fúria, o espírito viria sobre ele naquele momento, quando estava mais vulnerável. Quando perdemos o autocontrole, seja pela raiva, por ambição, pelas drogas ou por imoralidade sexual (para dar alguns exemplos), nos expomos às influências satânicas ou demoníacas. Creio que seja por isto que Saul é possuído pelo espírito maligno quando reage incontrolavelmente ao sucesso de Davi na guerra.

Davi na Corda Bamba ou A Grande Descida
(19:11-17)

“Porém Saul, naquela mesma noite, mandou mensageiros à casa de Davi, que o vigiassem, para ele o matar pela manhã; disto soube Davi por Mical, sua mulher, que lhe disse: Se não salvares a tua vida esta noite, amanhã serás morto. Então, Mical desceu Davi por uma janela; e ele se foi, fugiu e escapou. Mical tomou um ídolo do lar, e o deitou na cama, e pôs-lhe à cabeça um tecido de pêlos de cabra, e o cobriu com um manto. Tendo Saul enviado mensageiros que trouxessem Davi, ela disse: Está doente. Então, Saul mandou mensageiros que vissem Davi, ordenando-lhes: Trazei-mo mesmo na cama, para que o mate. Vindo, pois, os mensageiros, eis que estava na cama o ídolo do lar, e o tecido de pêlos de cabra, ao redor de sua cabeça. Então, disse Saul a Mical: Por que assim me enganaste e deixaste ir e escapar o meu inimigo? Respondeu-lhe Mical: Porque ele me disse: Deixa-me ir; se não, eu te mato.”

Davi pode ter escapado noite adentro, mas Saul não está disposto a abandonar seu plano de capturá-lo e matá-lo. Ele coloca alguns de seus homens de emboscada do lado de fora da casa de Davi. Suas ordens são para que esperem até de manhã e então o matem. Davi parece se sentir seguro quando chega à sua casa. Mical conhece seu pai bem melhor. Enfaticamente ela diz a Davi que, a menos que ele fuja enquanto ainda está escuro, não viverá mais um dia. A hora de Davi escapar é esta. Até posso ver Mical enfrentando Davi, com as mãos na cintura, dizendo ao seu ingênuo marido como são as coisas com papai.

A relutância de Davi talvez esteja relacionada à única forma de ele poder escapar. Não será uma saída muito honrosa. Se ele quiser viver, terá que deixar sua dignidade para trás. A casa deles deve estar localizada junto aos muros da cidade. Mical tem que descer seu marido pela janela para ele alcançar o chão, fora dos muros da cidade, e desaparecer na escuridão da noite.

O outro lado da fuga também não é muito glorioso. Uma coisa é Davi sair de casa, à noite e sem ser notado. No entanto, Mical também sabe que precisa ganhar tempo para ele, a fim de que sua fuga seja bem sucedida. Quando os servos de Saul batem à porta, Mical está pronta para recebê-los. Ela tem tudo preparado. Na cama, ela colocou um ídolo com as roupas de Davi, para dar a impressão de sua forma, com um tecido de pelos de cabra na cabeça. À distância, sem poder olhar de perto, alguém poderia pensar que Davi estivesse de cama, talvez muito doente.

Os mensageiros de Saul retornam e relatam o que Mical lhes disse. Saul fica desconfiado e manda os mensageiros de volta à casa de Mical para trazerem Davi, a fim de matá-lo pessoalmente. Deve ter sido uma piada quando estes caras arrancam as cobertas e descobrem um ídolo do lar, habilmente colocado ali para enganá-los. Talvez vermelhos de vergonha, os mensageiros retornam e dizem a Saul que foram enganados. Saul fica furioso com sua filha por tê-lo enganado e por ter deixado Davi escapar. Uma vez mais Mical tenta enganar seu pai, dizendo-lhe que Davi ameaçou matá-la se ela não cooperasse. Isto se encaixa muito bem à avaliação distorcida que Saul tem de Davi, embora esteja longe da verdade.

Certamente há um toque de humor neste episódio. Ele mostra como os planos de Saul para matar Davi são inúteis. Devemos fazer uma pausa por um momento para relembrar como Davi conseguiu sua esposa. Anteriormente, quando Golias ridicularizava Saul e o exército de Israel, o rei ofereceu sua filha ao homem que o enfrentasse e matasse (17:25). Por direito, Davi deveria ter recebido uma das filhas de Saul como esposa. Depois de Davi ficar famoso e Saul sentir ciúmes dele, Saul lhe faz outra oferta de uma esposa:

“Disse Saul a Davi: Eis aqui Merabe, minha filha mais velha, que te darei por mulher; sê-me somente filho valente e guerreia as guerras do SENHOR; porque Saul dizia consigo: Não seja contra ele a minha mão, e sim a dos filisteus.” (I Sam. 18:17)

Davi recusa a oferta crendo, sinceramente, ser indigno de receber uma das filhas de Saul como esposa, e também consciente de não poder pagar o dote exigido (18:18, ver também o verso 23).

Quando Saul lhe oferece novamente uma de suas filhas, ele é bem mais perspicaz na maneira como trata do assunto:

“Mas Mical, a outra filha de Saul, amava a Davi. Contaram-no a Saul, e isso lhe agradou. Disse Saul: Eu lha darei, para que ela lhe sirva de laço e para que a mão dos filisteus venha a ser contra ele. Pelo que Saul disse a Davi: Com esta segunda serás, hoje, meu genro. Ordenou Saul aos seus servos: Falai confidencialmente a Davi, dizendo: Eis que o rei tem afeição por ti, e todos os seus servos te amam; consente, pois, em ser genro do rei. Os servos de Saul falaram estas palavras a Davi, o qual respondeu: Parece-vos coisa de somenos ser genro do rei, sendo eu homem pobre e de humilde condição? Os servos de Saul lhe referiram isto, dizendo: Tais foram as palavras que falou Davi. Então, disse Saul: Assim direis a Davi: O rei não deseja dote algum, mas cem prepúcios de filisteus, para tomar vingança dos inimigos do rei. Porquanto Saul tentava fazer cair a Davi pelas mãos dos filisteus. Tendo os servos de Saul referido estas palavras a Davi, agradou-se este de que viesse a ser genro do rei. Antes de vencido o prazo, dispôs-se Davi e partiu com os seus homens, e feriram dentre os filisteus duzentos homens; trouxe os seus prepúcios e os entregou todos ao rei, para que lhe fosse genro. Então, Saul lhe deu por mulher a sua filha Mical.” (I Sam. 18:20-27)

Quando fica claro que Davi quer se casar com Mical e que, alegremente, providenciará o número de prepúcios filisteus exigido (na verdade, o dobro = 200), Saul fica pasmo. Saul tem certeza que o amor de Mical por Davi (e o dele por ela) acarretará a morte deste quando ele tentar matar esse tanto de filisteus. Uma vez mais, os planos de Saul vão para o espaço. Davi consegue os prepúcios (duas vezes mais) e recebe uma das filhas de Saul como esposa. Ela ama Davi e não está disposta a fazer parte de qualquer complô para matá-lo. Mais do que isto, é ela quem salva Davi de seu pai. Uma vez mais, Saul atirou em seu próprio pé (ou devo dizer furou) tentando matar o ungido do Senhor. Não ouço Saul rindo, mas deve ter havido bem mais do que um risinho abafado nos palácios celestiais.

Ao deixarmos este salvamento, não devemos negligenciar o Salmo 59, que é a reflexão de Davi sobre esta libertação. Embora não ousemos tentar tratar deste salmo em detalhes, duas observações podem ser feitas. Primeira, você perceberá que Mical não é mencionada no salmo. Não que é ela seja de alguma forma menosprezada por Davi, como se não tivesse participado de seu salvamento. Neste salmo Davi não está olhando para a causa imediata de sua libertação, mas para a causa principal - Deus. Assim, Davi louva a Deus por salvar sua vida. Segunda, a descrição de Davi de seus perseguidores soa como se eles fossem gentios, não judeus (ver Sl. 59:5-8). Não ficaria surpreso se os homens que Saul enviou para capturar Davi fossem gentios. Sabemos que ele contratava mercenários (ver I Sam. 14:52). Tais homens não teriam escrúpulos para ajudar a matar Davi, quando os israelitas poderiam ter. Que conveniente é para Saul (um judeu) utilizar esses mercenários (gentios) para se opor ao rei de Deus, da mesma forma que os líderes religiosos judaicos se opuseram a Cristo anos mais tarde. Finalmente, Davi fala dos homens que procuram capturá-lo como mentirosos (Sl. 59:12). Seriam estes homens alguns daqueles que falsamente acusaram Davi diante de Saul? (ver I Sam. 24:9; 26:19)

Um Resgate Religioso: Salvo pelo Espírito ou Pelos Esforços de um Verdadeiro Profeta
(19:18-24)

Assim, Davi fugiu, e escapou, e veio a Samuel, a Ramá, e lhe contou tudo quanto Saul lhe fizera; e se retiraram, ele e Samuel, e ficaram na casa dos profetas. Foi dito a Saul: Eis que Davi está na casa dos profetas, em Ramá. Então, enviou Saul mensageiros para trazerem Davi, os quais viram um grupo de profetas profetizando, onde estava Samuel, que lhes presidia; e o Espírito de Deus veio sobre os mensageiros de Saul, e também eles profetizaram. Avisado disto, Saul enviou outros mensageiros, e também estes profetizaram; então, enviou Saul ainda uns terceiros, os quais também profetizaram. Então, foi também ele mesmo a Ramá e, chegando ao poço grande que estava em Seco, perguntou: Onde estão Samuel e Davi? Responderam-lhe: Eis que estão na casa dos profetas, em Ramá. Então, foi para a casa dos profetas, em Ramá; e o mesmo Espírito de Deus veio sobre ele, que, caminhando, profetizava até chegar à casa dos profetas, em Ramá. Também ele despiu a sua túnica, e profetizou diante de Samuel, e, sem ela, esteve deitado em terra todo aquele dia e toda aquela noite; pelo que se diz: Está também Saul entre os profetas?

Os esforços de Mical para retardar os perseguidores de Davi dão resultado. Davi escapa noite adentro e foge para Ramá, onde se encontra com Samuel e lhe conta tudo o que Saul fez. Então, ele e Samuel deixam Ramá e vão para Naiote. A notícia de que Davi e Samuel estão em Naiote chega aos ouvidos do rei que, então, envia alguns de seus homens para prender Davi. Quando estes homens chegam a Naiote, encontram um grupo de profetas que está profetizando. Samuel está entre eles, presidindo o grupo. O Espírito de Deus desce sobre os homens enviados por Saul para capturar Davi e eles também começam a profetizar.

Não é dito o que estes homens fazem quando estão possuídos pelo Espírito, exceto que profetizam, mas podemos nos aventurar a supor que talvez não estejam muito longe do alvo. Sabemos, com certeza, que eles não prendem Davi ou fazem mal a Saul. Se eles profetizam, é razoável supor que suas palavras incluam o louvor a Deus. Também é possível que profetizem a respeito do próximo rei de Israel. Se estes homens, sob o controle do Espírito de Deus, proclamam Davi como o próximo rei, como podem tomar parte no plano de Saul para matá-lo? Do ponto de vista de Saul, este primeiro grupo de homens está fora.

Saul não aprende muito bem a lição. Não sabemos exatamente que tipo de relatório chega a ele sobre a primeira “companhia” enviada para prender Davi. O texto só indica que “foi dito a Saul”. Se ele é informado de que o Espírito de Deus desceu sobre seus homens e eles profetizaram, ele não capta o sentido da mensagem. Assim, ele envia um segundo grupo para prender Davi. (Temos certeza que, desta vez, ele escolhe homens que não sejam tão inclinados à “espiritualidade”). No entanto, quando este segundo grupo chega, acontece exatamente a mesma coisa com eles. Saul, então, envia um terceiro destacamento, só para que a mesma coisa se repita novamente.

Saul simplesmente ainda não entendeu que seus esforços são inúteis. Se na última tentativa ele disse a si mesmo “agora vai!”, desta vez deve ter pensado: “se quiser algo bem feito, faça você mesmo”. E assim ele chega à Ramá e vai até o grande poço que está em Seco. Lá, ele pergunta onde Samuel e Davi podem ser encontrados. Dizem a ele que ambos estão em Naiote, em Ramá, por isso ele prossegue até Naiote. No caminho, o Espírito de Deus desce sobre o próprio Saul e ele profetiza até chegar ao seu destino.

Deve ter sido um grande espetáculo. Saul, com certeza, estava muito irritado por ter enviado três destacamentos para prender Davi sem nenhum sucesso. Agora, ele está determinado a fazer o serviço ele mesmo. Você pode imaginar o seu humor quando se aproxima do lugar onde estão Davi e Samuel? De repente, o Espírito de Deus o domina, fazendo-o tirar sua túnica e estender-se nu diante de Samuel pelo resto do dia e durante toda a noite.

Saul pretende matar Davi e eliminar a ameaça ao trono? Ele não consegue nem mesmo prendê-lo e, agora, talvez esteja até profetizando que Davi certamente será rei. Saul chega como rei, com toda a autoridade e poder, determinado a realizar seu plano? Agora ele jaz nu diante de Samuel.

A notícia da chegada de Saul e sua conduta inesperada circulam rapidamente. Imagino que as pessoas que ouvem a notícia vêm averiguar e ver por si mesmas. Nu em pelo, Saul não parece tão valentão (perdão pela expressão). Estou mais interessado na questão dos lábios daqueles que vêem Saul neste estado espiritual: “Está Saul entre os profetas?” (verso 24).

Como a chegada e a conduta de Saul podem ser explicadas? Será que todo mundo sabe que ele está procurando matar Davi? Se não sabem, sua chegada e sua conduta são ainda mais misteriosas. Que outra razão haveria para Saul agir como profeta, entre profetas? Nós sabemos. Nenhum homem pode ser controlado pelo Espírito de Deus e executar seu plano demoníaco para matar o ungido de Deus. Eis um jeito de Deus garantir a segurança de Davi. Mesmo quando tenta fazer o serviço ele mesmo, Saul não consegue ter sucesso para impedir o intento de Deus. Como disse o Cristo glorificado anos mais tarde a “Saul(o)” (Paulo, o apóstolo): “Dura cousa é recalcitrares contra os aguilhões” (At. 26:14).

Precisamos observar mais uma coisa neste parágrafo final do capítulo 19: sua semelhança com o incidente ocorrido anteriormente na vida de Saul:

“Então, seguirás a Gibeá-Eloim, onde está a guarnição dos filisteus; e há de ser que, entrando na cidade, encontrarás um grupo de profetas que descem do alto, precedidos de saltérios, e tambores, e flautas, e harpas, e eles estarão profetizando. O Espírito do SENHOR se apossará de ti, e profetizarás com eles e tu serás mudado em outro homem. Quando estes sinais te sucederem, faze o que a ocasião te pedir, porque Deus é contigo. Tu, porém, descerás adiante de mim a Gilgal, e eis que eu descerei a ti, para sacrificar holocausto e para apresentar ofertas pacíficas; sete dias esperarás, até que eu venha ter contigo e te declare o que hás de fazer. Sucedeu, pois, que, virando-se ele para despedir-se de Samuel, Deus lhe mudou o coração; e todos esses sinais se deram naquele mesmo dia. Chegando eles a Gibeá, eis que um grupo de profetas lhes saiu ao encontro; o Espírito de Deus se apossou de Saul, e ele profetizou no meio deles. Todos os que, dantes, o conheciam, vendo que ele profetizava com os profetas, diziam uns aos outros: Que é isso que sucedeu ao filho de Quis? Está também Saul entre os profetas? Então, um homem respondeu: Pois quem é o pai deles? Pelo que se tornou em provérbio: Está também Saul entre os profetas?” (I Sam. 10:5-12)

Não parece coincidência demais que esta expressão encontrada no capítulo 10 seja, literalmente, repetida no capítulo 19? A primeira vez é no início do reinado de Saul. O Espírito desceu sobre Saul como prova de que ele era o rei escolhido de Deus, e também para capacitá-lo a agir como rei. Assim, o coração de Saul é mudado e ele “se torna outro homem” (10:6, 9-10). O Espírito de Deus desce sobre ele quando ele encontra um “grupo de profetas” (10:5, 10). Quando Saul profetiza com os outros profetas, as pessoas que testemunham o fato ficam surpresas e dizem “Que é isso que sucedeu ao filho de Quis? Está Saul entre os profetas?” (10:11) Estes dizeres, então, se tornam um provérbio entre o povo (10:12).

As semelhanças entre os dois incidentes são marcantes, embora separadas por muitos anos. Nos dois casos, o Espírito de Deus desce sobre Saul e ele profetiza com os outros profetas. Aqueles que testemunham este acontecimento ficam surpresos e perguntam “Está também Saul entre os profetas?”. Em nenhum dos casos o fenômeno profético dura mais do que um dia, e depois cessa (muito parecido com aquilo que vemos em Nm. 11:16-30).

No entanto, há também algumas diferenças. O primeiro fenômeno profético acontece bem no início do reinado de Saul. Na realidade, a vinda do Espírito sobre ele é uma evidência de que Deus o preparou para desempenhar seus deveres como rei (compare com Nm. 11:16-30). Parece ser um tipo de credenciamento de Saul como rei de Israel. O segundo e último fenômeno chega no final de sua carreira, depois que lhe é dito que seu reinado chegaria ao fim. Quando Saul profetiza nesta última vez, é mais como um credenciamento de Davi (talvez meio indireto) do que de Saul. É quase como se Deus usasse o primeiro fenômeno como prova de que Saul é o rei e o segundo como prova de que seu reino está próximo do fim. Eis aqui algo para meditarmos um pouco mais.

Conclusão

Alguns podem estranhar porque, no domingo antes do Natal, não deixei de lado esta série em I Samuel e preguei uma “mensagem de Natal”, como já fiz outras vezes. Quando estudei o texto, percebi o quanto é parecido com a história do “primeiro Natal”. Temos Davi, a quem Deus escolheu e ungiu como rei de Israel. O rei Saul sabe que Davi é o rei de Deus e, por isso, sente-se ameaçado, embora Davi não procure tirá-lo do trono para reinar em seu lugar. Cheio de ciúmes, Saul tenta matá-lo e, não importa o quanto tente capturá-lo e matá-lo, seus planos sempre fracassam. Não existe jeito de Davi - o rei de Deus - ser morto por um homem como Saul, ou por qualquer outro. Em certo sentido, podemos dizer que Davi leva uma vida encantada, pois é o propósito de Deus para ele que se torne o próximo rei.

A história do Natal é sobre um outro rei, o “Filho de Davi”, a quem Deus constituiu para governar sobre o povo de Israel. Quando este rei nasceu, os magos do Oriente O buscaram para adorá-Lo. O rei Herodes, junto com o povo de Jerusalém, fica muito atribulado (não deleitado!) porque estes nobres estão à procura do “Rei dos judeus” (Mt. 2:1-3). Ele chama os líderes religiosos judaicos, procurando saber o lugar onde este “Rei” pode ser encontrado. Ele também diz aos magos para avisá-lo quando encontrarem este “Rei”. Ele não faz isto para adorar o Senhor Jesus (como os magos), mas para matá-lo. Herodes tem tamanha intenção de se livrar deste “Rei”, o qual ele acha ser uma ameaça ao seu reino, que mata todos os meninos na área de Belém, na esperança de que o “Rei” esteja entre eles. A despeito de todos os seus esforços, Herodes fracassa.

Como o rei Saul, Herodes não aprende a lição que todos os reis terrenos deveriam saber: que o monarca ungido de Deus, Jesus Cristo, o Messias prometido, não pode ser derrotado ou destruído. Esta é a lição ensinada no Salmo segundo:

“Por que se enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o SENHOR e contra o seu Ungido, dizendo: Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas. Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles. Na sua ira, a seu tempo, lhes há de falar e no seu furor os confundirá. Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte Sião. Proclamarei o decreto do SENHOR: Ele me disse: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei. Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão. Com vara de ferro as regerás e as despedaçarás como um vaso de oleiro. Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos advertir, juízes da terra. Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos nele com tremor. Beijai o Filho para que se não irrite, e não pereçais no caminho; porque dentro em pouco se lhe inflamará a ira.”

Os sábios do Oriente estão certos e Herodes (como Saul) totalmente errado. Ninguém pode derrotar o ungido de Deus. E esse rei é Jesus Cristo. Ele virá outra vez e subjugará os Seus inimigos. E então reinará sobre todas as coisas. Aqueles que se submetem a Ele como o rei ungido e designado por Deus, com Ele reinarão; os que resistirem serão destruídos.

O bebê na manjedoura, Jesus Cristo, é o Messias prometido, o rei que governará sobre todas as coisas. Ele é também o descendente de Davi. Deus não somente designa Davi como o rei de Israel, Ele o designa como aquele do qual nascerá o Rei. Que tolice é Saul tentar destruir Davi. Da mesma forma que Saul cai prostrado e humilhado diante do profeta Samuel, todo aquele que resistir a Jesus Cristo, o rei de Deus, um dia cairá diante Dele e O professará como o Rei dos reis:

“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.” (Fp. 2:5-11).

Esta é a mensagem do Natal. Esta é a mensagem do evangelho. Deus enviou Seu filho para ser o Salvador do mundo. Ele O enviará segunda vez para ser o Rei dos Reis. Todos aqueles que rejeitaram a Jesus como Salvador serão Seus inimigos quando Ele voltar. E todos aqueles que O resistirem agora, um dia cairão diante Dele como o Aquele que os derrotou. Todos aqueles que O receberem agora, como o único meio de Deus para salvação de seus pecados, reinarão com Ele quando Ele voltar. Se Saul nos ensina alguma coisa, é que é uma tolice resistir ao rei designado por Deus. Não vamos cometer o mesmo erro.

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